Pequena
Sou pouca e pequena, mas...
ambiciono na estranheza do vazio encontrar o que me faz grande
O que grandemente me molda, me revolve e me faz tornar
à essência do ser primário
Sou sentimento que não se sente,
Quimera, quem sabe, pouco idealizada,
Mas sou-o consciente de que nessa
pouquidão e pequenez
Jamais deixo de ser gente
Vens-me ver na minha desgraça?
Vens-me ver na minha desgraça?
Logo tu que pensas tudo saber!
De facto tem a sua graça
Porque aqui nada há para ver
Chorei uma lágrima agreste
Quando o sol não mais raiou
Mas a dor não é constante
E nem a mágoa ficou
Hoje sou quem não conheces
Quem conheceste não existe
Até parece que te esqueces
que não era eu a pessoa triste!
Se a minha alma
Se a minha alma acalmasse, não se inquietasse!
Se encontrasse em si mesma a capacidade em ser maior!
Se a minha alma se despisse do peso da pele, por momentos,
E transbordasse para fora do casulo!
Se a minha alma sossegasse o coração!
Se seguisse o rumo que vislumbrou do outro lado da montanha!
Se a minha alma relembrasse quem é por momentos
E visse o mundo com outros olhos!
Oh, se apenas a minha alma fosse mais forte do que o que a amarra!
Mas lá insisto eu a puxá-la para a terra, enquanto ela grita
Desesperadamente para chegar ao céu, …
Quiça o rosto triste que vejo refletido na poça, não seja o meu
Mas o dela, amarrada à carne contra vontade, sedenta de liberdade!
Se fosse alma apenas, longe desta carcaça….
.
Caminhos
Caminhos estes que conduzem a nenhures,
Julgamos nós quando a dor é avassaladora e
O diabo nos cobiça a alma.
Tão fácil seria cairmos e deixarmo-nos levar!
Tão difícil é dizer “não” ao desejo!
Que quererei eu mais do que ser feliz,
E sentir a imensidão de um sentimento que me é desconhecido?
Quero-te a ti, mas mais do que a ti, quero o
Que representas:
Um aconchego, um poiso, um descanso.
Quero descansar e não pensar em nada!
Quero limpar o meu corpo da poeira!
Quero despir a minha alma de incertezas!
Caminhos estes que nos conduziram a algum sítio,
Um dia, num tempo,.... Qualquer.
Caminhar
No caminho ascensional, que optamos por fazer, somos um misto e um conflito de emoções. Por vezes, temerários como se estivéssemos sempre prontos para dar a vida no campo de batalha. Mas outras vezes, frágeis como uma criança pequena que se esconde atrás das pernas do progenitor olhando apenas por instantes, com os seus tímidos olhos, com uma curiosidade ingénua.
Não há caminhos fáceis nem respostas dadas à priori! Passamos, inclusivamente, muito tempo a colocar as perguntas erradas, como se olhássemos apenas para a pele e não nos atrevêssemos a olhar para o que se encontra por debaixo dela.
O caminho faz-se caminhando (dizem-me)! Cada um a seu ritmo, respeitando o seu tempo.
Ainda que possa ser doloroso aceitar isto, muito mais doloroso será não aceitar. É o mesmo que tentar apanhar o vento com as mãos. Que tarefa mais inglória!
Por isso é preciso caminhar, caminhar e caminhar... até onde os nossos pés nos conduzam.
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Heróis
A vida é uma estrada e enquanto a percorremos sobre obrigados a enfrentar os nossos maiores medos e receios.
E ao longo da caminhada vamo-nos cruzando com o que mais tememos.
Imaginemos, por instantes, um cruzamento, dois caminhos. O bicho papão surge à nossa direita e nós seguimos em sentido oposto. Caminhamos.
Nova encruzilhada. O monstrinho aparece lá outra vez. Sorri, faz pouco de nós, desafia-nos: "Enfrenta-me."
"Não", respondemos, "tenho medo" ou "não consigo". Fugimos sem olharmos para trás.
E assim continuamos, mas até quando? Até quando nos é permitido fugir, fazer de conta que não existe?
Até quando podemos ignorar e virar a cara?
Ou até quando aceitaremos que sejam essas as opções que tomamos na vida?
O não aceitarmos quem somos...
O não valorizarmos o que temos...
O não enfrentarmos o que tememos...
O estarmos constantemente em modo de fuga...
Que interessa se nos custa muito? Que interessa se enquanto mergulhamos na dor, nos sentimos sozinhos? Que interessa se nos perdemos? Que se interessa se demora a nos encontrarmos?
Que interessa se entre os caminhos não nos veem? Que interessa se ninguém nos ouve?
Que interessa tudo isso se temos pernas para andar, braços para construir, mãos para criar, cabeça para pensar e coração para sentir?
Se temos tudo o que precisamos em nós, por que lamentar o resto?
Que o dia presente seja o dia de vestir a armadura dourada e enfrentar os desafios.
Que escolhamos ser heróis aceitando tudo o que isso acarreta.
Andar em frente, seguir um rumo, dar um passo.... O que virá, o que se segue, o incógnito, a dúvida, podem ser assustadores, mas já não há no passado nada que nos sirva e, possivelmente, haverá muito pouco a que faça sentido nos agarrarmos.
Como dizia Sivananda: "March forward hero!"
https://8alaya.blogspot.com/2017/11/herois.html
Filho do Universo
Senta-te em padmasana…
Mãos sobre os joelhos em chin mudra…
Respira profundamente…
Inspira, sente o ar a encher os pulmões…
Expira mais devagar.
Consciencializa-te de quem és.
És mais do que pensas. És mais do que sentes. Tão mais!
Não és sequer o que pensas, nem o que sentes.
Não és a alegria nem a tristeza.
Não és a dúvida nem a certeza.
Não és a fé nem a descrença.
Um dia lembrar-te-ás de que és filho do universo e não mais aceitarás a dualidade como verdade.
Neste virar para dentro
Na necessidade em agradar, abanas a cabeça mecanicamente em sinal afirmativo enquanto o corpo se contrai até à dor. E se ontem, naquela luta interior que se desenrolou no teu tapete de yoga, te atreveste a abrir o peito, o coração bem vibrante a apontar para o universo, logo hoje o empurras para dentro e o abrigas a manifestar-se apenas no silêncio.
Vivemos em modo ioiô, num ritmo ditado pela batuta da nossa mente.
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Regresso a casa
Somos almas a desfilar, mas preferimos a identificação com a carcaça que molda a nossa imagem. Vivemos entorpecidos pelo medo ou embriagados pela saudade ou extasiados pelo desejo. E queremos sempre qualquer coisa: mais sucesso, mais amor, mais dinheiro, mais bens materiais, mais saúde, mais jovens, mais belos, mais perfeitos,… Ignoramos que estamos a fazer o caminho de regresso a casa e a casa regressamos de mãos vazias. O que levamos é a experiência.
À porta de entrada não passa quinquilharia e o nosso coração é pesado na balança.
Não há vestes, nem plumas, nem ouro. Não há pão para nos encher o estômago nem água para nos saciar. Há aquilo que não se agarra, que não se toca, que não se vê, apenas se sente.
https://8alaya.blogspot.com/2017/09/regresso-casa.html