Dorme meu menino jesus
tu és a efémera pétala,
a flor que desabrocha nos meus braços,
rebento de vida que fura a terra,
bebes no meu peito salvação,
...
mas frágil,
singelo,
único,
...
teu corpo nu,
não tem macula,
não tem mal,
nem maldade,
...
tu és,
por ser,
por ti,
por nós,
...
eterno
Luna
a lua destaca-se no breu do céu,
e uma luz quente e difusa,
...
aqui estou eu no fresco da noite,
o fumo do cigarro perde-se na escuro,
ao meu lado um lugar vazio,
...
ainda sinto o calor da tua mão,
nessa timidez tacanha,
...
um arrepio de frio percorre-me a espinha,
vou me recolher,
...
teu olhar fica la fora
no brilho das estrelas,
teu cabelo ondulante confunde-se na aurora boreal,
teus beijos fusão nuclear duma estrela pujante,
teus abraços percorrem o espaço e o tempo como raios cósmicos,
há um buraco negro no teu ventre que me consome ate ao horizonte,
...
estrela cadente
Quando eu morrer
Quando eu morrer,
deitem as cinzas junto ao chilrear dos pássaros,
que as pétalas da amendoeira em flor,
possam cair sobre a minha face,
que o sol escaldante queime a minha pele,
que os pingos da chuva mantem a minha sede,
quero pairar nos feixes de luz
que deslizam das copas das arvores,
quero contemplar as borboletas nos seus voos delicados,
regozijar-me com as cores das suas azas,
ficar na sombra, esperando que o calor passe,
cobrir-me pelo manto de flores primaveris,
poder sentar me a beira do riacho,
escutar o deslizar das aguas,
...
viverei assim para sempre,
e assim me podeis recordar,
As tuas pestanas
São como guardiões espadachins,
guardam os portões da tua alma,
como setas negras entrelaçadas,
vagueiam ao sabor do teu olhar,
a mim, parecem-me acenos,
acenos cheios de ternura,
inocentes,
escorrem até min
pelo brilho do teu olhar,
O teu cheiro
desmancho a fatiota,
e sinto o teu cheiro na minha camisa,
rebolo-me no leito e lá estas tu,
ajeito a almofada...
e vislumbro o teu cabelo esgrelhado,
os meus dedos percorrem o lençol,
teu ventre,
dou voltas na cama,
abraços,
acordo no meio da noite,
teus olhos,
...
sonhei,
que estavas ao meu lado,
noite
a luz morna da lua jaz no chão,
as sombras alongadas,
esbatidas pelo escuro da noite,
abraçam-me,
...
ouço os grilos,
uma coruja lá longe,
...
pontos de luz iluminam o céu,
no seu tremelicar característico,
constelações,
a via láctea,
o frio da noite,
...
volto para os teus braços,
aconchego-me no teu ventre,
deixo-me ficar,
no calor da noite.
Vazio
e a tardinha que mais te recordo,
a tua silhueta no luz fusco,
sentada no paial,
enquanto as primeiras estrelas galgam no céu,
e assim que apareces nos meus sonhos,
teu rosto tem sempre um sorriso,
por vezes estendes-me a mão
e abraças-me,
são tão longínquas estas memorias,
pergunto se serão verdadeiras?
Que ferida ficou por sarar,
no amanhecer da vida,
é sempre o vazio que me move,
o vazio deixado por ti,
almas perdidas
meu amor,
minha alma perdida nos confins do espaço e do tempo,
quem me dera fazer-te companhia,
mas não tenho coragem de por termo a esta dor,
...
sei que te vou encontrar,
sei que me esperas,
...
mas não estas só,
não tenho inveja,
também um dia farei parte de ti,
do espaço,
e do tempo,
amo-te!
Finjo
Finjo que ainda te sentas ao meu lado,
nesse ritual vazio e macabro,
de por o teu prato e o teu garfo,
mas o teu vazio,
e maior que o teu corpo,
teu vazio e um gemido a cada canto,
e um vento frio,
uma brisa de setembro,
que adivinhando o inverno,
ah...quem me dera ter como manta o teu abraço,
não partiste,
ficas-te,
colada as paredes,
nos recantos da casa,
no canto do sofá,
no perfume do lençol,
nos ecos da tua voz,
…
la fora as pétalas das flores caem,
…
talvez me tenha esquecido de rega-las!
não importa o vento levá-las-á,
o ultimo copo de vinho
enquanto bebo o ultimo copo de vinho,
teu corpo surge numa silhueta difusa,
...
agora ja sabes o meu segredo,
bebo mais,
e parece que te tenho nos meus braços,
consigo recordar-me do teu cheiro,
o teu arfar vem a mim como o barulho das ondas no horizonte,
...
raios me partam!
se Deus existe,
se ele pensou mesmo em nós,
porque não será o melhor premio,
que ele nos deu,
se não amar,
amar,
amar,
e ... ter-te,
sim!
quando o teu cheiro,
o teu sorriso,
as tuas formas delicadas,
os teus movimentos,
tu,
tu,
te esvais aos meus golpes,
para ressuscitares depois
no emaranhado das almofadas,
na languidâo do corpo pós êxtase,
...
juraste-me amor!