Sonho e neblina
Eu sonho com a liberdade,o vôo
entre a densa folhagem e o sangue ressequido;
O sabor contida no orvalho sem brilho
escorrendo na reentrância do súbito crepúsculo.
Em pensamento a presença constante
na eterna falta que não tolera o sossego;
Arrastando-se na sombra da floresta
capturando minha alma,
todo o amor possivel esgota-se,partido pelo vento frio.
A liberdade em abraço e caro afago;fantasia
na teu dissoluto riso.
Distante minha dor estende-se no leito
até o retorno do sonho,queda livre.
Melancolia
Como definir essa onda de vaga tormenta,
Espiral de languidez e morte
Aspirando atos finais de trágicos emblemas
Nos mausoléus de ermos pensamentos ?
O amor a esse sofrimento evoca
Abortos mal sucedidos de tragédias recentes
Em cicatrizes extensas acima do céu
Percorrendo solitários devaneios.
Selado no túmulo abraçado ao olhar
De incoercível revolta contemplo
O nascimento de chagas nas mãos
Comprimindo inuteis laços corrediços
Que sangram farpas de partidos ossos.
Outono
O sol põe-se apagado na boca mais cálida,
Célere escurece como a carruagem infernal
ao encontro do ultimo vampiro;
Outonal melancolia.
Permito-me fantoche
transfigurado como inseto;
Dolorosamente recolho asas de sonhos
e apenas troco uma morte por outra.
Em um insólito mundo de pares
cada vez mais distantes,sorrindo,
não sendo abençoado o bastante ou maligno
sozinho observo a ilusão distante
apodrecendo ao relento,corpos vazios.
Suicídio rotineiro
Amanhã vira outra hora esgotada´;
o mesmo despertar forçado;
a mesma apatia,o mesmo desprezo;
a insatisfação que não cessa;
as nuvens de poluição.
Tudo vira ontem.
Amanhã virá a mesma hora e seu fim;
o mesmo despertar infeliz;
a mesma apatia raivosa,o ódio guardado;
a depressão que não passa;
o céu que desaba.
Amanhaã virá outra hora desperdiçada;
mas não o despertar incômodo,
tampouco a tristonha apatia,a irmã do desprezo
a insatisfação será colhida na parede imunda
junto a nuvem de fumaça e do cheiro de pólvora
espiral suja do cano que cospe o projétil na minha cabeça despedaçada.
Epiléptico
A face convulsionada pela dor,
sangue que escorre pelos cantos da boca
olhos comprimidos em vista de mais um ataque epiléptico
dão forma e vida a fantasmas e vultos.
Braços contorcidos e mãos trêmulas inúteis,
quem são estes seres que ora me visitam ?
Mudos,observam,em nada ajudam
para logo sumirem em densa fumaça cinzenta.
Rostos marcados pelo fim da vida,
olhos grandes e escuros ou órbitas vazias,
através dos meus espelhos d'alma vejo
sombras moverem-se em volta das mobílias.
Quando o alvoroço cessa
e tranquilo,tento recolocar as idéias em ordem,
ainda tenho o frio na espinha
e o pressentimento,
de que logo terei mais uma visita assombrosa.
Esquecia de tudo após cair no solo
quando vitimado por esta doença misteriosa,
no entanto desde que os assisto aparecerem
me recordo claramente de cada estranho espetáculo.
Olhar para os translúcidos espectros nus,
é valorizar e lutar para continuar vivendo,
para que quando chegue o dia derradeiro
possa ,confortado lembrar que tive bons momentos.
Confuso ?Louco sei que não me encontro,
em obtusas teorias não consigo consolo,
gostaria de me livrar de todo este pesadelo
embora não queira para isso também estar morto.
Monica
Tantalizado martírio, rastejante absorvo cinzas do turíbulo onde são desfeitos restos de ascendência degenerada,
Ínnfimas lembranças vagas da Pátria Lusa,onde tu habitas,
No longo hausto de flébil paixão,cultuada tão distante,
Lágrimas de incontida torva,febril amor.
Gostaria de transpor esses limite de mar profano,
Embora apenas em contemplar-te dedicando minha alma,considere empíreo sortilégio,
Absorvendo a odílica influência da lua em sensibilidade acurada,
Feito talentos funestos e sensuais que detens com maestria.
Minha fronte ebúrnea desmanchada no espelho Cercado pela luzes acesas nas ruínas
Acalentam as sombras que movem-se na solidão,messe de infortúnios e traumas recorrentes,
Estes que apagam-se quando o desejo consome últimas forças e tombado tal Anelliese possuída Busco refúgio no chão onde atiro sangue em profundas pancadas,
Desejando apenas estar ao seu lado antes de finalmente cessar a pulsação desta latejante dor percorrendo braços cansados,
Em veias e artérias desfiguradas na magreza cruamente exposta em penumbra de mortalha erguida.
Diafaneidade fantasmagórica caminha trôpega,
Até o quarto onde o retrato santificado traz alento e deslumbre,
Repousando em tua beleza ímpar,na intemerata singularidade etérea,
Afrodite de cinzentos nuances abençoa-me com atenção de modesta sinceridade quando curvo-me reverente,
diante do amor que floresce,graças a ti rosa sombria de doces palavras,
Posso fugir do abismo colossal,patológico,diagnosticado em voz impessoal,
De surras,anseios decompostos e humilhações
esvaindo-se feito pó de túmulos violados
Quando o Paraíso feito delicado anjo sombrio,Musa gótica de negro vestido,escreve,admirando-me.
Sonho com beijos que jamais terei em tons delineados com volúpia soturna,
Inerente a toda aquela que porta qualidades únicas
concedendo motivos de veneração,
Em edênicos momentos que valeriam por cada minuto,
transcedendo a eternidade e qualquer outra dádiva,nada pode mesmo comparar-se,
Penso que teus braços aconchegantes e carinho tornariam suaves os prantos de minhas tantas chagas,em miríades de romances transmutados na colossal dedicação e afeto,
no mais idealizado e real,intenso sentimento,amo-te!
Quando a última chama sumir nas trevas de depressão e agonia,
Lembre-se de mim como aquele que sacrificaria infinita existência
para estar próximo, ainda que por parcos momentos
sorvendo graças e felicidade irreprimível em teus lábios,
Glorioso feito ascensão de Satan reconquistador abatendo arcanjos covardes,
E declarando esta paixão a maior das virtudes.
Suicida mergulhado na rejeição amorosa
Longo foi o dia em que a conheci,
Uma nova existência no esto de luxúria ascendeu meu coração de anjo,
Festonadas e sátiros brincavam com teus cabelos e nada mais
Além da paixão que corrompeu o delírio no páramo enlanguescido do particular universo.
Uma luz que difundiu-se nos olhos dos cegos e sacrificados infantes,
Nos sinos que dobravam o lamento fúlgido Retumbando no interior das estrelas da morte
Sou um novo cadáver esperando pela teu último carinho,uma palavra,
Acima da cruz o sepulcro estende-se no corpo alabastrino distante do céu.
Obnubilação não concretizada do entorpecimento amoroso.
Lágrimas que engolem o rosto com mãos trêmulas que sangram,
Apaixonado jamais um anelo devorou qualquer outra motivação lúgubre
Além de estar apodrecendo no caminho do desprezo.
Certas noites infinitas podem zombar de nossos desejos
e o suicida que escapa da espiral raivosa do vazio pode novamente sofrer com o fim da esperança.
O morto que sonhava
Reacendi a chama fulgidia de paraíso iluminado,
Agarrei-me ao teu sorriso e esperançoso sobrevoei distantes paragens,
Quando cadáveres de olhos revirados com seus reflexos vítreos embaçados
Revelaram o porvir incerto de sonho novamente irrealizável.
Tropecei em doenças de catarses não planejadas,
Mas não permiti que levassem teu olhar de beleza serena,
Inesgotável fluxo de magníficos desejos tão inocentes,
Neste amor que sobrepuja qualquer obstáculo patológico.
Distanciando-me cada vez mais,isolado em profunda depressão,
Apodreçendo longe no vazio de escuridão e amnésia,mistério e morte
Fincando minhas garras nos vincos da muralha de miséria e dor,
Tento galgar barreiras espirituais em suas evocações físicas.
Recuso-me a deixar este sentimento tão único,
De todas as lembranças que esta permaneça,
Ainda que desponte o total entorpecimento esmaecido no horizonte de frustração
O luar suave encobrirá toda derrota
reforçando a paz que há na tua realeza Apaixonante.
Como a noite das antigas terras encantadas
Dos cantos de sereias e tritôes em batalha,
Quando a natureza deliciava-se no próprio esplendor majestoso,
Aos passos de anjos na verdejante paisagem.
O enterro do vampiro
Quando o último resquício de luz sorve a lágrima
no crespúsculo a sombra descansa eternamente,
Quando a derrota vislumbra o próprio corpo que apodrece no abandono
A solidão não busca outro destino.
A fronte lívida do vampiro freme de encontro a lápide,
Estrela infinita abençoa seus pecados,
Paixão tece o outono do relapso caminhar,
Estou além daquele antigo sonho letárgico.
Órbitas vazias contemplam o alto sem alento,
Uma prece finda entre flores silvestres a despedida,
Parte o vampiro com moeda nos lábios ressecados,
Tecido finalmente decomposto.
Rosa sombria
Uma rosa sombria é tudo que desejo,
Languescente calvário de carinho mórbido
Longe repousam em túmulo desconhecido meus ancestrais, os odeio,
Partilho apenas a saudade do Porto, nostalgia de tempos não vividos
De profundos anseios jamais realizados.
Amor que envolve pensamentos cálidos
Voltando-se para a contemplação do crespúsculo,
A mãe clama com pássaros profetizando augúrios
Desejos incendidados e sensuais delírios
Como gostaria de estar ao teu lado,flor de Poeta escolhida.
Mar infinito traspondo corações e febris paixões
Mãos entrelaçadas e beijos em pensamentos,
Tua pele alva serena sobre o plenilúnio
Fiel deidade pagã,toma minha alma em teus braços
Oferta o recanto de coração alentado,
Aflorando doces sentimentos que entorpeçam meu pranto.
Claustro vampiro aguardando a estadia eterna em cova rasa,
No luto dos que restam apenas tétricas chagas fechando-se sobre meus olhos,
Rosa sombria em fervor reconhece o clamor intemerato,
Guarda-me em teu carinho velando pelo ébrio de sangue infausto,
Apaixonado noctívago absorvendo palor de existência fúnebre.