Sinceramente...
A professora de Português entrara na sala muito “disposta”. Há muito que ela vinha observando o seu enorme aluno Paixão, de quase dois metros de altura. Ele não queria nada, pensava ela. Sua doce vida compunha-se de tudo: colas, conversas, paqueras, etc, etc –menos estudo!
Como péssima era pouco para qualificar sua situação em Português, o alunão tentou convencer a irmã da professora de Português a defender sua causa perante esta.
Agora, em sala de aula, ele queria saber como iam as coisas. Limpando a garganta e caprichando numa atitude humilde e “sincera”, ele perguntou:
- Vai ter prova amanhã, não é, professora?
- Vai, é?
- Sim, você falou outro dia...
- Se você sabe, por que está perguntando?
- É que... bem... eu... é que eu tinha tirado 2 na primeira prova e 1 na segunda, como a média mensal é 7, é capaz de não dar...
- Pelo menos em Matemática você está ótimo.
- Será que você podia fazer o favorzinho de deixar a prova de amanhã valer pros três meses?
- Paixããããããooo!
- Poxa, Gina, sinceramente, só você que vai ser má?
- Paixããããããooo!
- É que eu conversei com a sua irmã e..., sinceramente, ela disse que ia conversar com você...
- Explique-me por que você tirou 2 e depois tirou 1, e ainda conseguiu faltar a mais de 20 aulas neste curto período?
- Sinceramente, professora, eu sou muito ocupado e moro longe...
- Que??? Você mora ali mesmo, perto da minha casa e eu o vejo frequentemente se dirigindo para o campo de futebol, rapaz!
- Sinceramente, professora, todos os outros professores resolveram repetir a nota.
- Mas eu dei duas provas, dois trabalhos de pesquisas e duas redações; tudo valendo nota para os dois meses passados, mas o que fez o senhor? “precisou” faltar às provas, “esqueceu” de entregar os trabalhos e “não sabia” fazer as redações!
- Sinceramente, professora, foi com muito esforço que eu fiz as provas mais tarde...
- Sim, aí tirou 2 e 1.
- Sinceram..
- Puxa, Paixão, quantos “sinceramente” você já falou aqui?
- Você quebou o galho pro Dilson.
- Ele está servindo no Exército, e mesmo assim apresentou um trabalhinho, você nem isso fez, morando a-l-i.
- Mas e a Roberta?
- Ela estava doente e escreveu uma carta para a Secretaria do Colégio.
- Eu também estava doente, professora, sinceramente.
- Doente? Você passa para o campo de futebol exibindo o maior físico!!!
- Pergunta pro Orlando, ele é que sabe da minha vida...
(A gozação foi geral: Eu, hein! Fiu, fiu, Paixãããoo! Que que é isso, minha gente, vai lááá´!). Acalmados os ânimos, o diálogo prosseguiu:
- Fazer aquele trabalho não ia adiantar nada, professora, sinceramente.
- Como não ia? Até o Gésilo, que é chato pra burro, adorou a nota que eu lhe dei ...não foi Austri?
- É... (respondeu timidamente o gajo).
- Professora, eu precisava muito que você repetisse a nota de amanhã, sabe, sinceramente...
- O que vocês acham (perguntou à turma) devo repetir a nota que ele tirar amanhã?
- É claro!!! (respondeu o Gésilo, que no fundo também suspirava por uma colher-de-chá). Isso mesmo, professora! (apoiou um outro cuja última nota fora 1,5).
Após mais algumas argumentações de parte a parte, a professora resolveu atender ao pedido do aluno, já que “de uma boa conversa ninguém escapa”.
Tres dias depois estava o pobre do Paixão vivendo perfeita “fossa” num canto do Colégio. Aproximei-me e inquiri-lhe da desdita, ao que ele estendeu-me a prova de Português que trazia escrito em vermelho: “Sinceramente, 0,0,0”).
Xenon, o Mentalista
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