Hipocrisia
Deixa cair o véu que é teu disfarce;
Revela para o mundo os teus segredos;
Não deixes de sonhar, ainda é tão cedo,
E há muito o que viver quando o Sol nasce!
Atira o corpo ao tempo e vai, sem medo;
Sinta o vento beijando a tua face,
Envolvendo teu corpo em doce enlace
Feito raios de Sol entre arvoredos!
Viva na vida um sonho a cada dia
Pois que sonhar é dádiva divina,
É poder que a razão se não nos tira...
Deixa cair o véu da hipocrisia
Que a vida é uma centelha pequenina
No abismo em que o destino nos atira!
Apaguem-se as Estrelas...
Eu quero o amor devasso e pervertido,
O amor transcendental dos insensatos,
Aquele que nos leva ao suicídio
E como luz nos faz viver de fato!
Eu quero o amor loucura e sem sentido,
Senhor absoluto dos meus atos,
Amar-te ignorando o proibido
E transmutar em nós todos os átomos...
Que em cada beijo teu, nasça uma estrela;
Enquanto em minha vida eu puder tê-la,
Acendam-se mil astros reluzentes...
E quando eu te perder, faça-se o inverso:
Apaguem-se as estrelas do universo
Se eu não puder te amar completamente!
Soneto da Covardia
O que dizer de mim se ando perdido
Mergulhado no mar da solidão
E meus desejos, todos, hoje são,
Escombros de castelos implodidos?
Falar de amores não correspondidos?
Quem há de ouvir lamúria sem razão
Se eu tenho o mundo todo em minha mão
E meu clamor não passa de um gemido?
Tenho o pleno domínio do universo
Nas asas consistentes de meus versos
E nada sei de mim, nem do que sinto...
Só sei que grito ao mundo versos tantos
De amores, ilusões, sorrisos, prantos,
Mas ao falar de mim, apenas minto!...
O Dom de Amar...
Tens da vida os castigos desumanos...
Perdido em maldições, envolto em preces,
É como se em teu coração tivesses
Um abismo colossal de erros mundanos!
Não és de todo mau...E se padeces
Na dúvida infernal, no desengano,
No sofismal mistério dos arcanos,
Talvez sejam os premios que mereces.
E dessa vida a luz que te redime
Dos erros cometidos, de teus crimes,
É a mesma luz que acusa teus defeitos...
Em teu caminho o dom que te ilumina
É o dom de amar, na comoção divina,
De um coração vibrando no teu peito!...
Soneto da Procura
Onde andará a rima que procuro?
Conquanto ando perdido em pensamentos,
A menos que eu consiga tal intento,
Meu verso há de brotar sempre obscuro...
E mesmo que em meus passos inseguros
Eu teime em versejar meus sentimentos,
Minha alma há de vagar de encontro ao vento
Em busca de um abrigo no futuro!
Procuro a rima frágil, pequenina,
A rima mais perfeita que se faça,
Contida em cada olhar que me fascina!
A rima que entontece e que vicia,
A rima que transcende e que ultrapassa
Os limites infindos da poesia!
Metamorfose
Era um silêncio de fuga,
Silêncio de chuva,
Garoa fina, tarde morna,
Verão...
Era um momento de sonhos,
Íris de arcanjos,
Metamorfose!...
O que eu era em verdade
Não sei...
Era um anjo criança talvez
Olhando a vidraça embaçada
Vendo a chuva caindo calada;
Um retrato da minha nudez!
O que eu era?...
Confesso:
- Não sei!
Sol Sem Luz (Soneto Monossilábico)
O Sol, no céu, me dá o tom da luz,
da cor, do som que me vem nu, que traz
na luz do Sol, no céu a cor da cruz
e sem ter dó em luz de dor me faz!
A dor que vem é dom que não faz jus
à cor, ao tom, à luz que tem na paz
e nu me faz à luz do Sol que pus
no céu de dor, e cor, e luz... não mais!
No céu de dor de um Sol sem par, na fé
eu vou, de luz em luz, na dor e sei
que a cor e o tom da luz de dor me vem...
E traz a mão que faz a cor da lei
da dor que vem, e sei que luz não é;
No céu de dor, meu Sol a luz não tem!
Labirinto (Soneto Inglês...)
A humanidade deixa-se, vencida,
Contaminar-se inteira no veneno
Da mesquinhez de um coração pequeno
Ante a grandiosidade desta vida!
Caminha em labirinto sem saída;
O tempo inquisidor, de olhar sereno,
É tempestade intensa ou vento ameno,
É luz e escuridão, cura e ferida;
Mentes insanas e almas pervertidas,
Pedem bem mais, entregam-se bem menos,
Neste mundo feroz onde hoje vemos
A esperança de paz ser destruida!...
A humanidade é escrava de seu ego
E de um egoísmo mudo, surdo e cego!...
Soneto Inglês ou Shakespeariano
Versando básicamente sobre o intelecto, o soneto Inglês consiste de três quadras
com rima do tipo "abba abba abba", seguida por dois últimos versos que também rimam
entre si (aa). Nas três primeiras quadras apresenta-se um longo depoimento, enquanto
que nos dois últimos versos uma breve conclusão é apresentada.
Minhas Batalhas
Luto com as palavras todo dia
Buscando a perfeição que tanto almejo;
- "É uma batalha vã!" - Assim dizia
O mestre dos utópicos desejos!
Em meio às explosões de fantasias
"Drumond" que me perdoe, mas, não vejo
melhor combate em causa da poesia
nem melhor morte que morrer num beijo.
E na utopia dessa luta vã
Como poeta vou toda manhã
Colhendo os louros de cada vitória!
E se as palavras morrem na memória,
Meus dedos no papel, ligeiros tecem
Escritas; e as escritas permanecem!
Em dedicatória solene aos poetas, todos eles, que lutam em prol da cultura mundo afora!...
Dois Lados em conflito...
Eu tenho em mim dois lados em conflito;
Um lado explode em lágrimas sentidas,
Incontroláveis ecos do meu grito
Nos frios labirintos desta vida...
Outro lado de mim é um "deus" aflito;
Tem a imagem nos astros refletida,
O olhar triste perdido no infinito,
E emoções inexatas, divididas!...
Um lado abraça a compaixão da lua;
Vai pela noite , livre, sem destino,
Qual branca nuvem que no Céu flutua!...
É pena que em meus olhos cristalinos
Mora o lado sem cor de uma alma nua
E nem posso sonhar como os meninos!...