Poemas, frases e mensagens de AnaFláviaHeide

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de AnaFláviaHeide

NATUREZA MORTA

 
Quase curado
Quase morto
Arte enferma
Parto caótico
Parte animal
Mero mortal
Melro
Berro
Bezerro
Fundo de balde
Afundo
Respiro
Tetas
Tretas
Ordenho
Ordeno
Fundo do copo
Vomito
Afundo
Fundo de poço
Rolha
Ralho
Galho
Ramo
Muda
Flor
Caule
Calo
Esfrego um pé no outro
Esporão
Bato as asas
Resmungo
Rastejo
Enrosco
Veneno
Vil e pequeno
Pico
Mordo
Mato e morro
Desapego
Desprego
Desapareço e ressuscito
Vôo
Vão
Vai
Vem
Vejo
Vêem
Rasgo
Rompo
Trampo
Tempo
Trovejo
Derramo
Deságuo
Enxugo
Enxame
Enluto
Em luta
Perco
Ganho
Guerra
Queda
Arma
Alma
Bainha
Pesponto
E Ponto

Ana Heide (04/07/2023)
 
NATUREZA MORTA

EXÍLIO

 
Nada mais importa agora
Depois dessa longa espera que se anuncia
Não seremos nunca mais os mesmos
Não serão nunca mais os mesmo beijos
Seremos para sempre muito menos do que éramos
Quando parecia tão razoável acreditar
Em algo fantástico que estaria apenas por acontecer

Não. Não acontecerá nada que mude o rumo dessa prosa
Não haverá nunca nenhuma orquestra tocando ao fundo
Não se juntarão estes destinos
Acredite. Jamais estaremos em paz

Administro dias e noites de ressaca e insônia
Encurralada num beco de emoções
Preciosas demais para serem esquecidas
Dolorosas demais para serem lembradas

Recebo notícias emboloradas
De decisões que não partilhamos mais
Não sei por que insiste em me pedir para estar aqui
Não sei por que ainda não consegui ir embora

Em terras exiladas
Onde só o tempo se apresenta como possível cura
Onde devo aprender a esquecer uma história que nunca aconteceu
Insisto em acreditar em algo fantástico que estaria apenas por acontecer
Ainda que no fundo, bem no fundo
Tenha a maldita certeza de que jamais estaremos em paz

Ana Heide (20/09/2008)
 
EXÍLIO

ENQUANTO VOCÊ NÃO ESTÁ

 
Eu te amo
Por mais que as colinas não se movam
E a lua mantenha sempre a mesma cautela no céu

Eu te amo
Em todas as cores de uma rosa
Até o perder de vista dos arrozais de Saygon

Eu te amo
No frágil vôo de uma mariposa
No incansável esperar de uma gestação

Eu te amo
Porque acredito no que invento
E esqueço tudo num beijo seu
 
ENQUANTO VOCÊ NÃO ESTÁ

VERMELHO

 
Toda terça-feira e toda quinta-feira tenho aula de dança de salão na escola de dança do Jayme Arouxa. Adoro aprender a dançar e, por isso, dificilmente perco uma aulinha sequer. Vou avançando em passo lento, mas sempre avançando. Assim mesmo, um pé depois do outro. Toda terça-feira e toda quinta-feira saio do trabalho sempre na hora do almoço, pego o metrô na estação Cinelândia e em 15 minutos já estou em Botafogo, colocando meus sapatos mágicos de dançar a dois. O almoço sempre fica para depois da aula. Quando o estômago já enconstou nas costas.
Outro dia quando estava indo, ia bem sentado ao meu lado um rapaz vestindo um tradicional jaleco branco. Talvez fosse um estudante de fisioterapia. Talvez um massoterapeuta. Talvez um técnico de laboratório. Médico realmente não parecia. Dali a pouco ele estava lendo seu jornal. E eu, lendo o jornal dele. Discretamente. A viagem transcorria silenciosa até que percebo que meu colega anônimo pega a caneta no bolso do jaleco e hesita um pouco.Tomo um susto. Não. Não seria possível. Será que o cara-de-pau teria coragem? Não tenho mais idade para isso... Vai pedir meu telefone e anotar no jornal? Disfarço. Não. De jeito nenhum darei meu telefone para um qualquer. Será que não reparou a alinça no meu dedo? Eu tenho filhos! Mais respeito! Ainda mais, não era um cara nada cheiroso. Nunca daria meu telefone para um cara nada cheiroso.
Engraçado como podemos pensar tantas coisas em tão poucos segundos. Mas meus pensamentos foram interrompidos porque o homem do jaleco enfim tomou uma decisão. Olhou bem nos meus olhos e perguntou: Você se incomoda em me dizer o nome do perfume que você está usando? É tão cheiroso e ao mesmo tempo tão diferente... Gostaria de comprar um, para minha esposa.
Pois é. Já diria Nelson Rodrigues: Essa é a vida como ela é. Refeita do susto (segundo um adorável professor do meu filho, “susto é sempre culpa”) expliquei para meu companheiro de metrô que o perfume foi um presente de aniversário que ganhei de um amigo (coincidentemente amigo da dança de salão, coincidentemente um massoterapeuta). Vermelho, acho que é o nome do perfume. Acho não. Achava. Porque agora tenho mesmo certeza. Um perfume feito de pitanga. Também acho muito exótico e, ao mesmo tempo, muitíssimo maravilhoso. Brigadinha, Jorge! O perfume que você me deu, já diriam os mineiros, é mesmo um “trem baum”.
Não vou aqui chorar minhas pitangas, porque não quero ficar parecendo para lá de azeda, mas esta história não é mesmo “engraçadinha”!?!?
 
VERMELHO

DEUS E O ANZOL

 
Algumas coisas combinam,
Outras combinam não:

Papel com caneta
Presunto com melão
Lobo com cordeiro
Café com salmão

Algumas coisas persistem,
Outras insistem em vão:

Chupeta e dedo na boca
Livro e televisão
As águas das corredeiras
Alguém numa multidão

Algumas coisas se perdem,
Outras se multiplicam:

Casaco, lápis e caneta
Sobridade e paciência
Tristezas e alegrias
Criador e suas crias

Algumas coisas nos observam
Outras já foram devoradas:

Deus e tudo que aconteceu
Espelho no elevador
Hóstia e minhoca de anzol
As palavras de um pregador

Algumas coisas têm cura,
Outras fazem morrem de dor

Algumas coisas não vêm,
Tantas coisas se vão

E por tudo que sei
É por tudo que são
 
DEUS E O ANZOL

MAR

 
A vida é repleta de gratas surpresas
E muitas e muitas tristezas
Difícil é não pisar em poças
Difícil é não desmoronar a cada esquina
Quando me acalmo
Duvido deste destino à crayon esboçado para mim

Não sou só eu quem responde pelo outro
Não sou só eu quem responde por mim mesmo
Somos muitos: de muitos cheiros e de muitas cores
Em diversas direções e sentidos opostos
Um universo em constante desalinho
Desapadrinhados
Da esquiva de um
Ao encontro de outro
Sempre

Sou apenas como o mar
Sombrio alguns dias
Gentil em dias par
De nuances diversas e
Em eterna persistência
Alimento de muitos
Sepulcro de outros

Não creio mesmo em Deus
Embora agradecida pela oportunidade de estar aqui agora
Que Ele nos proteja sempre
Amém

Ana Heide
 
MAR

CHUVA DE GRANIZO

 
Depois que morrer
Não quero ser apenas lembrança

Quero ser vento
Para embaralhar cabelo de criança

Quero ser jamelão
E colorir maldosamente o chão em bolotas

Quero embaralhar idéias
Feito um copo de vinho

Desmantelar destinos
Numa paixão fulminante

Quero ser perfume
E me espalhar pelo ar

Ser uma Nossa Senhora imaginária
Dentro de cada pedrinha de granizo

Depois que morrer
Não quero ser apenas lembrança


Não quero que encontrem as páginas de meu diário
E minhas fotografias
E ser motivo de angústia
Ou de conselhos tardios

Quero ser uma conversa informal ao pôr de sol
Uma corrida à beira mar ao amanhecer
Cheiro de Orvalho
Lã de carneiro
Um lugar onde se gostaria de estar
Uma razão a mais pela qual cada um deve intensamente viver
Depois que eu morrer
 
CHUVA DE GRANIZO

ALICE

 
Às vezes olho em volta
E não vejo nada
O essencial não me pertence

Às vezes olho em volta
E me lembro que não sou desse jeito
Do outro lado do espelho
Não me reconheço

Um coelho me olha preocupado
Do canto da página
E me diz que estou atrasada
Muito atrasada
Só eu sei
Só eu sei

Às vezes sou maior do que deveria
Junto os cacos dos vasos e varro os restos para fora da história
Às vezes sou menor do que deveria
E espreito pelas frestas um mundo inteiro maior que o meu

Alice não soube crescer

No castelo da rainha
Não existem verdades, nem meias verdades
Mas na mesa do chapeleiro
Todas mentiras têm cheiro de amor verdadeiro

Das batalhas que travei
Das histórias que nunca contarei
E quantas lágrimas fugiram dos meus olhos covardes
E quanto de mim se perdeu
E quanto de mim se doou
E quanto te amei
E quanto ganhei
E quanto me amou

Numa floresta encantada

Sem heróis, nem vilões

Um coelho ainda me olha preocupado
Do canto da página
E me diz que estou atrasada
Muito atrasada
Mas tanto faz
Desde que esteja feliz

Ana Heide (08/07/10)
 
ALICE

NA ESCURIDÃO DA NOITE

 
Na escuridão da noite
Faz tanto tempo e nada em mim se altera
Ora me rendo, ora lhe prendo
Não desafio mais a ordem que aqui se anuncia
Seja (isso) do jeito que for
Seja (você) do jeito que é

Na escuridão da noite
Quando não puder mais lembrar
Quando estiver alforriada
Quando enfim for condenada
Andarei aonde o vento me soprar
Com as verdades que tomei de você

Na escuridão da noite
Quando me faltar o sono
Quando me faltar o chão
Quando o amor falar mais alto
Enquanto eu ainda estiver sussurando
Talvez então, somente então,
Esteja novamente sozinha
 
NA ESCURIDÃO DA NOITE

LABORATÓRIO

 
BALA PERDIDA
Às vezes penso em trocar de alma
Com algum passante
E sentir suas saudades,
suas dores e seus amores
Talvez um exílio me ensinasse a beijar o chão
Ao descer do avião

FÔLEGO
Engrisalhamos
Atores em cartaz para breve temporada
Alguém para não encontrar pelo resto da vida
Estranho essa pressa em se despedir
Estranho não ter pressa
Pra que sair?
Por quem ficar?
Algumas pessoas não vão mais ser encontradas
São como dias riscados de um calendário
Mas ainda assim me pego pensando nelas
E se um dia ainda pensarão em mim

Ana Heide (30/06/08)
 
LABORATÓRIO

TATÚTA

 
Algumas coisas vão embora bem devagarinho: feito o doce do chiclete
Outras vão no susto
Num rompante nervoso do tempo
No virar de uma carta
No rasgar do papel
Um espirro e você não está mais lá
Ainda pequena chorava e minha mãe me dizia que tinha um céu só para os cachorrinhos
E eu chorava mais
Eu coleciono mortos
Muitos mortos
Não me doem
Trago todos adormecidos
Não me doam
Sinto muito por tudo que calei
Por tudo que senti
Por tudo ser vão
Por não restar nada de quem tanto se amou
Fora as lembranças
Malditas lembranças
E a culpa de não ter feito diferente
Ou de poder ter feito tudo diferente
Mas sempre abraçar o inexorável

Ana Flávia Heide
Em 18/02/2022
 
TATÚTA

DO LIVRO DAS PERGUNTAS DO NERUDA

 
Que praguejam as maritacas quando voam distraídas?
Com que sonham as formigas durante a corredeira?
Que pode fazer a preguiça ter pressa?
Quando o peixe deita para descansar?
Sente o morcego inveja das asas dos passarinhos?
Gosta a porca do perfume do porco?
Por que nem mesmo os peixes beijadores se beijam?
A pata passa o dia contando e recontando seus patinhos?
Gostaria a vaca de comer seu queijo?
Por que os esquilos estão sempre tão estressados?
Por que as cigarras só se desenterram na hora da extrema unção?
Quanto medo sente a zebra ao beber água do rio ao lado do leão?
Quem acaricia o filhote de jacaré?
Por onde passeia o lobo, pode pastar o cordeiro?
Quem pode achar engraçadas as piadas da velha hiena?
Por que o papagaio não diz logo o que pensa?
Como o golfinho pode mamar embaixo d´água?
Quem ensina o caminho às andorinhas?
Por que não desiste de uma vez a galinha de tentar voar?
Sente o gavião pena dos pintinhos que devora?
Morrem de frio os pinguins?
Percebem os ursos polares que começam a derreter as geleiras?
Têm medo as lagartas da hora de virar borboleta?
Quereriam as borboletas poder virar flores?
Por que os gatos, só os gatos, têm 7 vidas?
De que são feitas as baratas para terem conhecido os dinossauros?
Sente falta da terra firme a tartaruga?
Quem pode garantir que o cão que ladra também não vai te morder?
Por que a maré nem sempre socorre as baleias encalhadas?
Acreditam os coiotes que a lua escuta seus uivos?

Se não somos só nós por nós mesmos, porque tantas vezes nos sentimos tão sós?
 
DO LIVRO DAS PERGUNTAS DO NERUDA

DESISTÊNCIA

 
Amo você há tanto tempo
E você nunca me vê
Sempre capaz de atravessar desertos
Sem notícias minhas
Enquanto sou feito peixe
Não sobrevivo fora d´água

Amo você há tanto tempo
E estou sempre sozinha
É você quem traz consigo as verdades
Mas você é ninguém importante
Você não está, você não dá, você não vem
Você não me ama

Assim é que não percebendo o outro da mesma forma
Não partilhamos os mesmos sonhos
Não partilharemos o mesmo futuro
E, cada vez mais próximos,
Estamos ficando cada vez mais distantes
Ainda que sempre ao alcance do desejo inconteste do outro

Mais amigos do que fomos antes
Mais amigos que amantes

Não sei se agora tenho um motivo real para partir
Não sei se enfim encontrei um motivo por que ficar
 
DESISTÊNCIA

NÃO ME IMPORTO

 
A verdade é apenas uma questão de perspectiva
A saída está alguns passos de distância
É só seguir as luzes de emergência que automaticamente se acenderão quando tudo mais se apagar
Intimidade é apenas oportunidade
A coragem, esta sim, é um prato que se serve frio

Se alguém me procurar, diz que no momento não posso atender
Afinal quem você pensa que é
Para decretar assim o fim do mundo
Se alguém me procurar diz que no momento não posso entender
Cremação em fogueira de vaidades
Quem você pensa que sou

Reza a lenda que nenhum remédio há para despedidas
Os cachorros costumam morrer nas soleiras das portas do abandono
Os gatos costumam encontrar o caminho de casa a léguas de distância
Os pombos também
Se conselhos não fossem uma forma tão cruel de desautorizar um homem a falhar...
Cada um com seu cada qual
Noites embriagadas, lençol de tergal

Caprichos
São apenas caprichos meus
Se não ministro veneno, também não entrego antídotos
Tarja preta
Você quem não leu, estava bem escrito em letras muitíssimo pequenas
Ao pé da bula
Quem não me conhece que te compre

E me atiraste enfim a primeira pedra
 
NÃO ME IMPORTO

CASAMENTO NA FAMÍLIA

 
Há muito tempo não ia a um casamento…
Primo Gustavo é filho da Eliane, prima de minha mãe por parte de mãe. Assim, sendo a prima uma autêntica parente em quarto grau (porque a gente tem que contar de parente a parente, grau por grau, até o ascendente em comum e descer pelo outro lado), o Gustavo é meu parente em sexto grau. Algo próximo a um parente distante que costuma te ligar toda noite de Natal. Tudo bem, primo Gustavo é algo um pouquinho mais longínquo que isso, porque não me lembro de nunca tê-lo visto na vida e também não lembro de termos nos falado em nenhuma noite de Natal. De toda forma, ter ido ao casamento dele não foi um crime tão grave assim. Primeiramente, e antes de qualquer outra coisa, porque fui convidada. Em segundo lugar, porque costumo encontrar a mãe e o pai dele, que têm um sítio em terras contíguas à Fazenda da Vargem, toda vez que estamos por lá.
Primo Gustavo, de rabinho de cavalo e tudo, estava a cara do Lucas Lima, namorado da Sandy (& Júnior). Mas não ia adiantar contar isso para ele, porque ele mora há seis anos nos Estados Unidos e está aqui só de passagem, para celebrar o casório e voltar são e salvo para terras alienígenas.
A noiva do Gustavo, chamada Kim, era (e digo era porque agora já ascendeu na escala social dos afetos: agora já é esposa) uma americana baixinha, gordinha, bonitinha e sestroza. Kim é muito simpática mesmo, independendo de legendas. Imagino que daqui a uns dez anos e dois filhos depois, primo Gustavo não vai mais saber quando ela estiver em pé ou deitada. Kim vai virar, pode se dizer assim, um quadradinho perfeito. Mas isso é maldade de anoréxico, só pode ser.
Kim veio com a simpática família americana à qual pretence. Sua mãe é uma senhora muito simpática. Seu pai, além de simpático, dança muitíssimo bem. Sua irmã mais velha, e mais magra também, dança igualzinha a Kim. Seu irmão mais velho (que veio com a esposa que só podia ser gordinha também) parece um miliquinho americano típico de películas bélicas. Nenhum deles sabia sequer suspirar em português. Talvez por isso sorrissem tanto.
A casa de festas fica no pé do Alto da Boa Vista. A cerimônia foi um tanto íntima. Perto de 50% dos participantes do evento não puderam comparecer por questões geográficas. De toda forma, acho que tinha um bom bocado de americanos infiltrados naquele evento matrimonial.
A cerimônia foi ecumênica, mas o encarregado pela liturgia não tinha intimidade com a oratória e não conseguiu ultrapassar o conhecido território de que a aliança tem o formato redondo pois o círculo representa a eternidade: não tem começo, nem fim. Ora bolas, todos sabemos que as alianças são redondas apenas porque nossos dedos não são quadrados…
Um amigo do meu primo Gustavo fez um discurso e, na falta de legenda, traduziu para os convidados importados parte a parte. Até que o discurso do rapaz começou bonitinho mesmo. Começou falando sobre uma lei da física: a lei da ação e da reação. Falou (e eu já nem me lembrava disso mais) que quando a gente anda, a gente empurra a terra para baixo e para trás, e que a terra empurra a gente o mesmo tanto para cima e para frente, mas como a massa da Terra é muito, muito maior que a nossa, a gente anda e a terra permanece, na língua do nosso ministro Magri, imexível. Gente, a essa altura eu estava pronta para ser surpreendida positivamente. Bem, aí o texto ficou todo enrolado e no final das contas estávamos sendo convencidos a unirmos todas as pessoas do mundo num único continente e pularmos todos ao mesmo tempo para ver se alterávamos por um infinitesimal segundo o movimento do nosso planeta azul. Boiei.
Depois foi a vez do irmão da noiva falar: aquele que saltou para fora da tela de Platoon (tal qual a Cecília/Mia Farrow no filme “A Rosa Púrpura do Cairo” do Woody Allen). Este discursou em inglês mesmo, depois de umas breves palavras em um português arrevezado, mas emocionante (e emocionado). O amigo do meu primo Gustavo foi quem traduziu o texto parágrafo por parágrafo novamente. Este rapaz americano também não sabia para onde ia o texto que o levava. Resolveu falar sobre formas de amor. Teve um momento em que falou sobre o amor da mãe que rasgava o seio para dar leite ao filho durante a seca. Rasgar o seio, em qualquer lingua, é uma figura que me esquarteja a alma poética. Em outro momento falou sobre a mulher que aprovava que seu marido – que tinha perdido a memória sei lá porque cargas d`água – se casasse com outra mulher, por quem ele tinha se apaixonado, uma vez que não se lembrava mais da esposa, nem da vida que tinha tido com ela. Até o Martin Luther King esteve presente no texto para tentar salvar a mensagem. Mas desta vez não só eu boiei, como o texto naufragou. A única parte bonitinha do texto do soldadinho foi um texto de Shekespeare.
“De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.”
A cerimônia também teve direito a um minuto de silêncio. Durante este tempo tivemos que permanecer com a mãe esquerda em posição “Hey, Hitler!” desejando felicidade aos noivos. Que mais poderíamos desejar, se estávamos ali para isso mesmo!? Não entendo…
Finda a celebração, seguimos para o coquetel que era ali na mesma casa aconchegante onde foi realizada a cerimônia. Escolhemos uma mesa pertinho da piscina (enfeitada de flores e palmas). No telão estavam sendo projetadas fotos dos amigos e da família dos noivos. Interessante observar que duas pessoas da mesma geração em países diversos vivem sob conceitos fotográficos tão diferentes. Uma foto oficial de uma escola americana é (e sempre será) uma genuine foto oficial de uma escola americana. Isso é o máximo! Outro aspecto interessantíssimo é que o gato Garfield mora mesmo é lá nos Esteites, mais exatamente na casa da Kim. Gato igual àquele não mora em terras tupiniquins.
Não estávamos derretendo, nem congelando. Nossas roupas ficaram na medida certa (em todas suas possíveis acepções). Não estávamos faltando, tampouco sobrando. Acabei usando meu xale de cabelo (que é como costumo chamá-lo porque tem longos fios pretos) que era a única graça do meu indefectível calça/tomara-que-caia pretos.
O primeiro garçon que se aproximou da nossa mesa era uma simpatia em pessoa. E todos os demais que nos serviram depois também pareciam felizes em estar trabalhando naquela festa num sábado à noite. Pareciam militantes do PT em dia de passeata nos áureos tempos do “Fora Collor”. O vinho era branco, mas no final das contas, era vinho. Adoro vinho! Ainda que pouco entenda dele. Os salgadinhos estavam perfeitinhos como devem ser. E os docinhos e o bolo, que foram servidos no final do serviço, me fizeram perder outra vez de 5 a 0 (com direito a uma meia fatia de bolo aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo).
Meu primo Gustavo inaugurou a pista dançando um tango com a Kim. Depois disso, as meninas dominaram a pista. Meu bom Deus, quanta mulher no salão! Superada a fase do tango e do tecno. Uma vez que o DJ pareceu enfim sorrir para mim e botou para tocar um soltinho, resolvi dançar também. Fiquei de olho num rapaz que me pareceu ter feito aulas de dança de salão (e por sinal era o tal amigo do primo Gustavo que discursou no púlpito durante a celebração). No espaço democrático dos bailinhos do Jayme Arôuxa, dançar com outro homem não tira de ninguém um naco, tampouco a boa reputação. Pensei em chamá-lo para dançar comigo para rodopiarmos sob o globo de luz, mas sob os olhares de censura da minha cunhada, fiquei inibida, e assim perdi a oportunidade de não me sentir uma tia velha no meio do salão.
Depois o DJ cansou do soltinho básico e tocou aquelas tradicionais músicas americanas de discoteca: “It’s Raining Man”, “YMCA” e “I Will Survive”. Neste momento descobri que os americanos também dançam algo próximo à nossa tão conhecida e vizinha “Macarena”.
Os noivos distribuiram óculos, chapéus, écharpes, pulseiras e colares de neon aos convidados dançantes e umas moças distribuíram Havaianas cor-de-rosa para as meninas descerem dos saltos.
A esta altura já estava quietinha na minha mesinha conversando com a Ana Maria, que é tia do primo Gustavo e também prima da minha mãe (que assim sendo, e sendo assim, é minha prima também). Conversa vai. Conversa vem. Quem se aproxima da mesa? O tal rapaz com quem queria ter dançado. Ele abraça a Ana Maria. Aí minha cunhada começa a rir, como se meu crime (?) não tivesse sido tão grave assim: afinal, além de ter 13 anos a menos do que eu, o rapaz com quem eu queria ter dançado, também era meu primo. Como se tudo isso não fosse suficiente, Primo Carlos tem justamente o mesmo nome do meu irmão, o que para psicologismo da minha cunhada tinha implicações severíssimas. E fez com que ela e o vinho que tinha degustado ficassem rindo zombateiramente de mim.
Primo Carlos era muito mais desconhecido meu do que o noivo e primo Gustavo era. Afinal de contas, primo Gustavo muito parecia o Lucas Lima, e este eu já tinha visto nas revistas Caras muitas vezes na vida, no salão da minha manicure Ademes.
Que mais podia fazer, depois de ter tentado alegar minha inocência para minha cunhada e não conseguir por um segundo sequer demovê-la daquele seu olhar “sei bem o que você deve estar pensando quando pensa em tirar um homem desconhecido para dançar com você…” senão contar tudo para meu primo Carlos e falar que ele tinha sido “aquele que foi sem nunca ter sido” meu par dançante no salão. Primo Carlos ficou só sorrisos com aquela história sem pé nem cabeça e disse que fazia aula no Carlinhos de Jesus. Mas a tribo das Havaianas cor-de-rosa, a esta altura do pileque, já estava até dançando Xuxa com as Havaianas penduradas nas orelhas. Primo Carlos prometeu que dança comigo de uma próxima vez. Foi então que aproveitei que meu primo Bruno estava presente e decretei que dançaríamos na festa de casamento do primo Bruno. Que com 18 anos, um pé na PUC e outro na UFF já jurou que não casa tão cedo não.
Mas quando a Kim jogou o buquê as meninas casaidoiras estavam todas lá, afoitas e aflitas, esperando ganhar o grande prêmio. Primo Bruno dessa vida ainda não sabe mesmo de quase nada.

Ana Heide (22/06/2008)
 
CASAMENTO NA FAMÍLIA

LUA DE MEL

 
Digo para todo mundo que Pituca é a cadelinha mais maravilhosa do mundo. Seu único defeito é que, se dorme em qualquer outro lugar da casa que não o banheiro do quarto de empregada, invariavelmente faz xixi e cocô atrás da porta da cozinha. Mas Pituca não tem nenhum outro defeito não.
Pituca é dócil, dorme a noite inteira sossegada, acorda depois de todo mundo, brinca feliz com a nossa gatinha Maria Chica e com os meninos, quase não late, quase nunca morde (só se alguém mexe nela enquanto ela está comendo) e tem as pernas curtas, o que a impede de subir em cima da minha cama e da cama dos meninos (mas não a impede de subir no sofazinho ao lado do piano).
Sempre sonhei em cruzar a Pituca. Quando estava prestes a proporcionar o matrimônio para minha cadelinha, no segundo semestre do ano passado, chegou aqui em casa a nossa gatinha Maria Chica que, de novembro a junho, foi o centro das nossas atenções por conta dos diversos acidentes e problemas de saúde que apresentou (mas esta é uma outra e antiga longa história). Agora que Maria Chica tinha vingado na face da Terra, tinha chegado finalmente a hora da Pituca namorar.
Nos últimos meses procurei e procurei por um poodlezinho preto de boa família, que fosse um pouquinho menor que a Pituca, para o matrimônio. Conversa vai. Conversa vem. Uma funcionária do INSS me disse que tinha duas poodles fêmeas e que a filha tinha um poodlezinho cinza (metricamente compatível). Aline é muito simpática e resolvi fazer negócio com ela.
Agora só faltava Pituca entrar no cio. E a gente reparar. Pituca tem um tipo de cio chamado cio silencioso. Ela se lambe tanto quando entra no cio que não pinga uma gotinha sequer de sangue pelo meio da casa. Eureca! Comprei dois panos de chão brancos e passei a colocar sempre um, sobre o tapetinho do banheirinho de empregada (onde a Pituca costuma dormir). Um belo dia Pituca entrou no cio.
Este final de semana inventei esta história. Peguei a babá dos meninos, a Cláudia, os meninos e a Pituca. Coloquei todo mundo dentro do meu carro e rumamos para o Andaraí. Para buscar o noivo. Como estava preocupada de a Pituca comer o noivo antes da noite de núpcias, liguei para a veterinária dela e perguntei se podia dar Maracujina para a Pituca para aliviar a minha tensão. Meu filho mais velho desceu para comprar o remédio na farmácia (com uma pequena ajuda da Claudinha para atravessá-lo na nossa rua (que não tem sinal). Vinte e cinco reais. Toda paz tem seu preço.

Para a confusão ficar mais engraçadinha, liguei para minha mãe e falei que do Andaraí seguiria para a casa dela, para ela conhecer o noivo da Pituca.
Quando fui buscar o Mike no Andaraí não quis nem tirar a Pituca do carro. A minha idéia era pegar o cachorrinho antes que a Aline visse que ele corria risco de ser devorado, mas a Aline pediu para entrar primeiro com a Pituca na vila onde ela morava.
Segurei a Pituca no colo enquanto o Mike se aproximava pensando que ela poderia querer mordê-lo. Aline falou para que eu demonstrasse confiança e deixasse Pituca conhecê-lo no chão.
Foi amor a primeira vista. Pituca e Mike se enroscaram e tentaram namorar várias vezes. O jovem cachorrinho estava afoito (Pituca é linda!) e babava (e como) em cima dela, mas não conseguiu completar a tarefa (se é que você me entende...).
Peguei entaum o noivinho, um saquinho de ração e rumamos para a casa de minha mãe. Para um segundo tempo.
Minha mãe não tinha gostado muito dessa idéia, mesmo quando falei que iríamos deixar os pombinhos namorando e iríamos todos almoçar fora. Minha mãe não queria que a casa dela virasse Motel. Mas fomos para lá com os cachorrinhos mesmo assim.
Como minha mãe é muito fofoqueira, tinha contado para a minha cunhada que estávamos indo para lá. Então no pequeno apartamento da mamãe estávamos: Minha mãe, minha cunhada, eu, Cláudia, meus dois filhos, meus sobrinhos, Pituca (a noiva) e Mike (o noivo). O "namorido" de minha mãe não foi (até porque não cabia mais ninguém), mas falou para minha mãe colocar um edredon novo na cama dela, para receber os pombinhos.
Saímos para almoçar e deixamos Mike e Pituca aos cuidados da Claudinha. Mike exausto. Tentando. Suado. Babando. Pituca cada vez mais esnobando o pobre coitado.
Quando voltamos do almoço, a casa de minha mãe estava tão cheia que nem um coelho haveria de conseguir concentração para se reproduzir naquele tipo de cativeiro. Mas Mike continuava tentando.
Minha mãe insistia em chamar Mike de Miguel. Eu, por minha vez, chamava o de Tyson (para não esquecer que o nome dele era Mike). Depois achei que o Mike tinha mesmo era cara de Xavier (falando assim: RRRRavier). E Mike não estava nem aí por qual nome estávamos o chamando: só pensava em namorar Pituca.

Pituca em poucas horas já tinha se desiludido completamente com o Mike. Estava irritada com a falta de preliminares e resolveu ficar mesmo é com dor de cabeça. Mike, inconformado, vinha latir para o meu lado, como que solicitando que intercedesse a seu favor. Engraçadíssimo. Mike foi absolutamente expressivo. Aquele cachorrinho é muito inteligente, apesar de não ser tão bonitinho quanto a nossa Pituquinha. Mike é cinza, tem as pernas compridas e uma cara de fuinha. Não troco um pelo outro não.
No final da tarde resolvi voltar para casa: com meus bípedes e meus quadrúpedes. Aqui em casa os cachorrinhos haveriam de ter mais privacidade.
Pituca resolveu não dar mais confiança para o pobre do Mike a partir de então. Estava a fim mesmo era de discutir a relação. Mas Mike é brasileiro: Não desiste nunca. Passou a noite inteira atrás da Pituca e a Pituca rosnando e avançando nele. Passei a noite de orelha em pé, com medo da Pituca machucar o Mike ou do Mike machucar a Maria Chica - que, por sua vez, não saiu de baixo da minha cama depois que constatou que existia no seu mundinho outro cachorro além da Pituca.
Domingo amanheceu e tinha passado outra noite sem dormir direito. Uma hora levantava para soltar os cachorrinhos pelo meio da casa. Outra hora prendia um na área e soltava outro (ou prendia o outro e soltava o um). Tentei até prender os dois: um cárcere do amor. Nenhuma combinação deu certo. Mike estava sempre insatisfeito. Passei a noite limpando xixi do Mike pela casa inteira. E cocô também. E sangue da Pituca que agora pingava pelo chão.
Pituca não ficava mais em pé. Resolveu o problema. Passou o resto do tempo sentada. Com cara de pobrezinha. Queria definitivamente o divórcio. Custasse o que custasse.
Acho que dessa vez desse mato não sai mesmo coelho, muito menos cachorrinhos...
No final do domingo devolvi o Mike, desolado, desencorajado e frustrado. Vou esperar o cio da Pituca acabar e pegá-lo novamente no final do dia. Disse a veterinária que a cachorrinha costuma aceitar melhor o cachorrinho no finalzinho do cio ou assim que o cio acaba de acabar. Disse também que não é normal a cachorrinha cruzar logo que conhece o cachorrinho. Não é normal e certamente não seria típico de uma moça de boa família, não é mesmo!?
Estive pensando melhor... Deveria ter dado a Maracujina é para o Mike. Pituca deveria ter tomado uma taça de Champagne.

Quando deixei Mike na vila onde mora, aos cuidados da irmã da Aline, ela colocou o pequenino no chão e falou para ele ir para casa. Mike (sem brincadeira) deu uns passos em direção a sua casa e voltou correndo para mim, se enfiando entre as minhas pernas. A irmã da Aline ficou meio constrangida. Estava segura de que ele estaria feliz em estar de volta. Daqui a pouco Mike vai esquecer esta aventura amorosa (já deve até ter esquecido). Mas quando chegamos em casa Pituca bem tinha posto a vassoura atrás da porta.

Ana Heide (19/10/08)
 
LUA DE MEL

KARESANSUI

 
Uma pedra lançada ao mar
Não se despede

Uma pedra lançada ao léu
Alguém machuca

Uma pedra ao sopé da montanha
Apenas mais uma pedra

Uma pedra que te dou
Um compromisso

Uma pedra em mim
Um caso clínico

Uma pedra a mais que se come
Traz a vitória

Uma pedra em água salgada
Um breve refúgio

Uma pedra numa panela
Virando sopa

Uma pedra por cima de outra
Constrói um muro

Uma pedra errada que se tira
Derruba a torre

Uma pedra que se pisa em falso
Engessa um pé

Uma pedra no seu caminho
Pequeno detalhe

Uma pedra no meio de um rio
Desvia um curso

Uma pedra
Apenas uma pedra num campo raso de areia
Um jardim de pedras
Karesansui
 
KARESANSUI

ENCANTAMENTO

 
Quem sabe um dia crio asas.
Asas encantadas. Eu alço vôo.

Quem sabe um dia rasgo o texto.
E improviso.

Quem sabe um dia eu não me importe.
Já mais nem goste.

Quem sabe um dia.

Quem sabe um dia eu seja sábia.
E talvez sorria.

Quem sabe um dia escreva um conto.
Que inspire encontros. E ousadias.

Quem sabe um dia esteja pronta.
Para um outro dia.

Quem sabe um dia.
 
ENCANTAMENTO

ANIVERSÁRIO

 
Às vezes tenho certeza que me amas
Assim... Quando me pego distraído
Seria esta certeza que me libertaria a alma
Outros dias, entretanto, estou sóbrio
Posso escutar o ranger das portas
Ameaçando por vez selar nosso destino

Às vezes penso que sou um engodo
Não sou quem penso que sou
Não sou quem aparento ser
Tivesse uma oportunidade, te transformaria em pedra
Contemplaria minha vitória
Te decifraria e esta história encontraria um fim

Às vezes pensou que sou enganada
Estou possuída por algo que não tem explicação
Que se justifica na medida em que me possui
E me possui porque é o motivo intrínseco da minha existência
Tudo isto é parte integrante de mim agora: em luta e em luto
Não atenua, não mata, não cura

Assim é que pelos motivos mais egoístas
Assim é que pelos motivos mais altruístas
Esbravejo e me alimento
Deste amor

Heide (03/10/2008)
 
ANIVERSÁRIO

ÁBACO

 
Rasgo as páginas ao final de cada dia
Destes tempos sombrios que
Os ventos tardam em levar embora
Reconheço que tens medo
Reconheça que me apavoro
Os dias devoram nossa história
Revoltam, revolvem, retornam
Atuamos, oscilamos e reagimos
Em mesma intensidade
Por motivos diferentes
Somos feito joio e trigo
Únicos ao afagar da mão
Avessos ao paladar da boca
Não somos nós a segurar a caneta
Não estaremos nunca seguros
Espero encontrar alguém
Nas ruínas do destino
Ao findar desta batalha
Alguém para afagar minhas mágoas
Alguém por quem recomeçar
Quisera eu
Quisera fosse você

Ana Heide (10/10/2008)
 
ÁBACO

Todas as minhas obras são
registradas na Biblioteca Nacional
e protegidas pela Lei 9610 de 19/02/1998