Chovem pingos de silêncio na palma da minha mão
Os ventos apagam o aroma
do meu respirar.
Silenciam os passos na estrada
que atravessa o mar de suspiros
das lindas sereias encantadas.
Os olhos, cor de avelã , chegam ao horizonte
onde tudo se espraia sem o som afinado
das vozes das fadas cor de rosa.
O verso deixa de dedilhar as palavras,
deixando a musica do poema em pausa profunda.
Chovem pingos de silêncio
na palma da minha mão, e eu calo as letras…
Solitude
O caminho é olhar o sol e sorrir
sentir a vida da Baía
e mergulhar no horizonte.
As pontes
crescem à tua volta e danças
driblando o abraço
escoltando apenas o teu sentido.
Escolhes remar até à foz
na plenitude da tua harmonia.
A felicidade constrói-se
com a nossa liberdade, justa ou mesmo injusta.
(Não se sabe onde a terra voltará a tremer)
O caminho
é sentir o sol dentro de nós e sorrir.
Apreciar cada momento
e sabermos quem somos.
É quando se janta lentamente
sem pensar na sobremesa.
É colher na pele a frescura do mar
em vez do arrepiar dos beijos e do roçar dos corpos.
Deambular uma taça de Chardonnay e viver no teu olhar.
Paz é o meu nome do meio.
Eu
Existe uma terra feita de abraços, bem no meio de um caminho longo onde o sorriso é a ponte que une as palavras. As viagens não são mais que o amanhã em forma de lua cheia. Tudo vai e tudo volta num arredondar de um verso sem fim. É de peito cheio que o barco tende a não atracar, envolvendo o mar no poema. A esperança sopra a vela que beija o calor do sol. Estendo, feliz, o meu corpo na areia e adormeço ao som do cantar das mãos que escrevem sobre as ondas, deixando-me ficar, como título escasso deste texto.
Cantares
Quisera eu, fossem tuas mãos
A moldar-me o corpo do poema
Trilhando caminhos de solidão
Pela pele que suspira em fonema
Breve é a luz onde me deito
Escorrendo secretos desejos em flor
Travando-me nos lábios o beijo
Cantando versos ao meu amor
E pela embriaguez do aroma
Com a organoléptica em euforia
Analiso-te em frágil redoma
Traçando-te em discreta harmonia
Lágrima
Nasces
do crepúsculo
do meu olhar.
Lanças-te
pela escarpa,
triste,
da minha face
e vais…
…ao encontro
da enseada da memória
onde te aninhas
e fortaleces.
Podes luzir
no silêncio
….
ou rebentares
na escuridão
do sentimento.
As mãos acolhem-te
porque a alma ausentou-se,
por tempo incerto.
O teu poema
Salta a vontade
de morder as sílabas
que se encavalitam
em poema,
dengoso mas sério.
Afasta-se
desenfreadamente
de um texto
incomodando-o e provocando-o.
Rasga-se na quadra,
em dois,
o número dos encantos
ou de tantos outros prantos,
que chora
e engorda de sonhos
aquele que vai no engodo
mas não é louco de todo…
ah poeta de mil cores
de carnes e dores
que magoam, mas entoam,
a desgarrada medida
de uma mentira sentida
(mas por si, já falecida)
ah poeta como te cheiro
em cada letra em cada seio
como sorvo aquela frase
trazendo as asas de uma ave
em brisa de verbo aliciar
(mas que não deixou de voar)
Provo eu cada pedaço teu
por uma lágrima que me nasceu
…
ah Poeta,
o teu poema, em mim, renasceu
Porque hoje dói-me o peito
Percebo o olhar
de alguém
que já permaneceu
num beijo teu.
Entendo o silêncio
de alguém
que já te sentiu na carne.
Também eu
trago um beijo teu
pendurado nos lábios.
Pegas no pé
do cálice dos sentimentos
e agitas
absorvendo os aromas que desejas.
Construíste uma árvore
feita de troncos frágeis
onde sacias a sede do prazer,
escolhendo tu a fonte amante.
É para lá que vou,
mas ausento-me do teu olhar
porque hoje dói-me o peito.
A cada ciclo da lua
Deste sangue que me escorre da alma,
desta dor que se enlaça à carne,
provocando-a,
devorando-a…
Fica um segmento de vida
pendurado num tempo que jamais retorna.
Palpita-me que o pensamento fugiu
à vontade de ficar.
Que as cordas
que tocam a voz aposentaram-se
cansadas de gemidos silenciosos
e de gritos que se recolheram
à chegada da dor.
Para que não deixe o corpo morrer
injecto-me de palavras
que me enchem o peito de ar
e brilho nos olhos.
Só o oxigénio de um poema me faz renascer.
Só o chão feito de roldanas aguçadas
faz mover as frases compostas de esperança,
não esmorecendo o sorriso.
Por vezes também vens, atenuando-me a dor
ao embriagar-me os sentidos.
Vou rasgando devagar o tempo.
Vou alimentando aos poucos
o futuro que já se adivinhou,
tentando me convencer que o sol vai lá estar,
mesmo em céu encoberto e frio.
Cego-me sempre,
ao nascerem-me lágrimas rosadas, a cada ciclo da lua.
Amar sem tempo
É neste afecto desmedido
que me encosto ao devaneio
e sonho o luar a beijar-me os sentidos.
Existe um horizonte
que nos separa das lágrimas.
Existe um querer
que nos junta em constelação
e nos faz brilhar a alma.
Gostava que fosses céu
e eu serra despida ao sabor do teu desejo.
Gostava de ser rio,
correr no leito do teu corpo
e amar-te sem tempo.
A foz será sempre o encontro dos teus lábios.
Neste quarto
Neste quarto onde me reservo, como garrafa esquecida em cave escura, tenho por companhia um pedaço de sol alojado no meu peito. Entre nós tudo é claro e sincero, deixo as mágoas ausentarem-se, ficando assim só, com a minha solidão quente. Basta-me a cor azul estampada nas palavras, basta-me a esperança do verso que escolhi. Tudo é tão fácil quando toco as folhas, vermelhas de cansaço, das videiras que em fileira me acompanham o pensamento. Tudo é tão fácil quando abro a janela à vida que me procura, entrando sem pedir licença e me arrastando de encontro à parede degustando-me a alma sem qualquer pudor. Por vezes, retiro a rolha da garrafa onde me encerro e entorno-me tentando chegar ao horizonte que trazes nesses teus olhos felinos. Deito-me em terra molhada junto ao teu corpo de pêlo quente e sedoso. Aninho-me e deixo-me adormecer. As asas do sonho levam-me a terras onde nunca fui, levam-me à lua do teu céu onde te rodeias de gaivotas que te gritam e te encantam, enquanto eu me perco no areal imenso do teu corpo. Com a aurora despeço-me, deixando os teus lábios húmidos, recolho o horizonte e acordo deitada só, na cama deste quarto onde me reservo.