E porque não?
Percorri todo este caminho
Nunca olhei para trás.
Porque te sei aqui,
Como soube outrora, sempre.
E porque não?
Seguir-te-ei, porque sei-te aqui,
Como soube outrora.
Segues numa linha ténue.
Procuras o medo em vão,
Porque tu pregas,
Num silêncio mordaz.
Em vão me escondo dele,
Porque eu calo
Num grito incapaz,
De mais e de ti.
Seguir-te-ei, sempre.
Porque sei-te, como sempre soube,
Aqui.
Vive outra vez! - uma revolta social.
Acordas todos os dias àquela hora,
Aquela que mais ninguém conhece,
Aquela que para os outros
Existe na horizontal.
Retomas rotinas, bacocas,
Fatídicas de repetição.
Segues os dias sem novidade,
Sem nada de novo.
Existe um estendal.
Nele estendes os dias,
As vivências dos outros,
Que se despem de vaidade,
E se vestem da vontade,
Das rotinas que tu desprezas,
Porque te despiram,
De desejo e de saudade.
Grita mulher!
Mesmo que em segredo...
Amo-te em segredo.
Porque em segredo te sinto.
Não digo a mais ninguém,
Porque custam as palavras.
Soletro os dias,
Em sentido único.
Escapam-me os medos
E submeto-me ao silêncio.
Não digo o que penso
Sequer penso o que digo
Mas em segredo penso
Em continuar a sonhar.
Sopra-me ao ouvido
Palavras de alento.
Rasga-me o peito
Sem pudores maiores.
Usurpa as palavras
Porque te pertencem.
E liberta-as
Para alguém as adoptar.
Não grites, sussurra.
Apenas se sentires,
Ama-me.
Mesmo que em segredo.
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Hoje acho que vou ser feliz.
Partilho vivências, construções diárias de tudo o que me atropela.
Hoje fui atropelado.
Por um sol descontextualizado.
Por uma brisa que não é daqui.
Hoje fui atropelado e permiti-o!
Acordei feliz, sem pressas, sem rodeios, sem tons de cinza.
Percorri os meus passos,
E redescobri-me!
Olhei o céu e o canto voava, alegre.
Então voltei a um lugar comum,
Que me prende mais que o aceitável.
Obriguei-me a pensar, a sentir.
Mas hoje não quero!
Neste momento não quero.
Neste momento limito-me a escrever,
Sem sentidos, sem preciosismos.
Apetece-me enumerar tudo que penso,
Sem emendas, sem retornos.
E é o que vou fazer,
Quando me sentir feliz.
Não lamento o que escrevo, antes o que penso,
Mas prendo-me às ideias, porque os ideais já foram.
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És linear. Ainda assim, amo-te.
Por entre tamanhas sinuosidades
És linear.
És o que vejo.
Vejo o que cantas,
Porque sou o que escuto.
Tu não me levantas
Mas sabes que luto
Por ti
Por mais ninguém
Porque só por ti
Nada me detém
Desta vontade de mais
De pura ilusão
De sentimentos reais
De um pedaço de chão.
O vento leva-te
E mata a lembrança.
O sonho devolve-te
E eu retomo a dança.
Num fôlego audaz
Que de fraco se apaga.
(Talvez seja fugaz
Ou talvez ele te traga.)
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Compõe e encanta.
Vives em sonhos que te atormentam os dias.
Sonhas viver-te, ser-te e encontrar-te.
Flutuas, em realidade, paralela ao que te prende.
E prendes-te a realidades passadas, por ultrapassar.
Grita! Canta! Desafina e incomoda os demais!
Cansa-me ver-te agonizar.
Cansa-me ver-te em altares, imaculada em imposição.
Olhas sem horizontes, porque te encravaram espinhos.
Viraste rosa perfeita e sentiste o aroma da dor.
Arrancaram-te da terra e fizeram-te arranjo...
Parte pratos, parte prantos, parte para outra!
Compõe um sorriso e canta-o, encanta-o e deixa-te encantar.
Estou aqui…
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O meu avô é velho.
O meu avô é velho, antigo, idoso.
Acumulou vidas, de estórias de uma história sem intervalos.
Acumulou vidas, emoções.
Trilhou caminhos de um saber atroz.
Ser velho é saber mais.
De um saber que não se aprende nos livros, mas que tantos livros deu. Livros editados num papel que só o velho sabe ler.
Ser velho é falar de cor, numa certeza de pleno e paixão. É ser índice, conteúdo, bibliografia e valor.
Ser velho é olhar e verdadeiramente ver, com a certeza dos sábios e a sinceridade dos infantes.
É, mais que o acumular dos anos, o preservar de imagens e sons que a Terra cantou.
É virar páginas numa leitura certa e ludibriante na diagonal.
É delinear cada curva que a vida impôs, na expressão sincera de uma ruga, na voz da objectiva que um dia se apagará de cansaço e dor.
Quantas imagens passaram por este olhar?
Quantas palavras romperam estes lábios?
Quantos sussurros beijaram estes ouvidos?
Quantos aromas invadiram este nariz?
Quantos soslaios arrombaram esta pele?
Estima,
Por este livro antigo, que afinal,
É apenas velho.
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