Praga de gafanhotos
Praga de gafanhotos
Praga de ambição
Infestaram o mundo
Já sem salvação
A peste anda direita
Nada lhe escapa
Tudo lhe serve
Nada lhe resta
Praga de gafanhotos
Praga das pragas
É vil é esperta
Parece correcta
Estupidamente acentua
A sua marca o seu fim
Mas mesmo assim
Alastra vaidosa sedenta
Sinais negaram
Cruéis se tornaram
Os sábios avisaram
Os sábios se mataram
Num inferno o éden ficou
Nas labaredas os profetas
A arder as letras
Na sombra as baratas
Poucos escaparam
Mutantes nojentos
Animais canibais
Não sabem falar
Mas sabem matar
A roda não pára
Infecta
Licinio
Gênero feminino
São as mulheres que coloram o mundo
São as mulheres que asseguram o futuro
São as mulheres que me fazem sonhar
São as mulheres que me fazem sofrer
São as mulheres que não consigo entender
São as mulheres que me fazem crescer
São aquelas que não consigo agradar
Uma mulher linda é um encanto
Um fascínio
Um tesouro por abrir
São lindas vaidosas inteligentes teimosas
Para mim se não são assim não são mulheres
São fêmeas
Licinio
Mijo
Saio sozinho da taberna
Nem bebi muito
Pouco mais de um litro e meio talvez
A vontade de urinar só me dá depois de sair
Vem mais rápida que a sede
A pé sigo em ruelas estreitas
O chão brilha da chuva
As paredes em redor torcem-se para cair
E a agonia de mijar já me controla o cérebro
Aguento para escolher o sitio certo
E no meio duma ladeira
No meio de uma valeta
No meio do trajecto
No meio da rua
No meio das estrelas
Tiro o órgão adormecido
Que canaliza da bexiga
O excretado dessa noite
Acerto num poste que imóvel fica
Aquecido erodido fedido por mim
Polui-o a via publica
Arrasto o saibro caído
Nutro com amoníaco as ervas
Com o mijo que me evade o corpo
Adoço com sal as baratas das gretas
Marca suja deixo minha
No meio da cidade mijo
Mijo pra sociedade
Licínio
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Título
Não preciso de esquema
Não preciso de nada
Não preciso de tema
Não preciso de motivação
Não preciso de papel
Não preciso de mais ninguém
Só preciso de ti
Preciso de continuar assim
Preciso de viver
Preciso de sentir o poema da vida a brotar
Preciso de sofrer por não conseguir mais gritar
Preciso da corrente da terra que me nutre
Preciso do cão que me ruge
Faz-me mais alto
Deixa-me olhar-te
Quero ajudar a tua dor
Quero ter-te ao pé de mim
Não me digas não
Licínio
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Estrada
Na estrada eu vou
Azul é o tapete e o céu
Ninguém me pará
Todos me ultrapassam
Sinto as cores e os cheiros
Que me golpeiam como beijos
As terras ao lado sofrem
Por serem vistas e não pisadas
Corvos abutres
Esperam a sorte
Esperam a morte
O tráfego em nós se desdobra
Em filas se afunila
Até os barcos vorazes me alcançam
Me acompanham e me fogem
Em rotundas manhosas erro o destino certo
Tantas vezes pretendido e atingido
O sol levantou-se e já caiu
E eu ando
Vivo andando
Sempre em frente
Sempre depressa
Sempre em dúvida
Licínio
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