Era amor. Era paixão.
Devagar, devagarinho…
Foste entrando sem notar
E assim quase de mansinho
Ganhaste o teu lugar.
Arrumaste nos cantos dores e amores
Foste abrindo o teu espaco.
E onde havia negra magoa salpicaste cores.
E onde haviam nos, tu deste um laco.
E quando olhei de frente,
Quando olhei e quis ver,
Tu estavas diferente
E o amor estava a acontecer.
Aqui , dentro de mim
Onde pensei conhecer ate o que nao via,
Ha frio e calor, emocoes em motim
E forcas boas e mas que nao previa.
Em luta comigo e contigo
Amor, medo e prazer.
A amizade como abrigo
E sem saber o que fazer.
Tornou-se mais forte que vento em furia
Tornou-se mais frio que gelo polar.
Momentos de prazer e luxuria
Misturados com o nosso lado lunar.
E num momento doce,
Proibido e em segredo,
A verdade como uma foice,
As tuas palavras como um torpedo,
Destruiram de uma vez
Qualquer disfarce que conhecia.
E assim em plena nudez
Fiquei com a boca de palavras vazia.
Era tarde demais para nao ser
Era forte demais para nao sentir.
Nada mais tinha a perder
Limitei-me a consentir…
… era amor, era paixao.
Carla Veiga Ribeiro
Simplesmente... Amigo.
E da sombra apareceu a luz
Mais brilhante que aura pura.
De olhar meigo que seduz
De sorriso aberto e com candura
Deixou que sua luz me tocasse.
Perdi o frio na sensação de ternura
Como se de algodão se tratasse
Branco, fofo e todo ele doçura.
Aceitei suas palavras e conselhos
Como sementes de conhecimento,
Em regueiros secos e velhos
Num peito infértil de sentimento.
Mas vingaram como gérmen ágil
Em meu peito como abrigo.
Renasci nesse momento frágil
E por isso lhe chamo amigo.
Eu nao basto
Quero morder os lábios de desejo!
Quero sentir borboletas na barriga,
Quero te ver apenas como te vejo
E não pelo comum: “há quem o diga”…
Quero beijar os teus olhos quando dormes,
Quero cheirar o teu corpo já cansado.
Quero ser eu a comida que tu comes,
O ar que respiras ao meu lado.
Mas querer apenas não basta.
Amar apenas não basta.
Sentir demais não basta.
Beber demais não basta.
O que é preciso então?
Talvez não existir passado?
Se pudesse fazê-lo ao premir botão
Este presente agora traçado,
Seria o futuro que é incerto.
Mas que numa perspectiva presente,
Estaria de acordo decerto,
Com o ideal na tua mente.
Pára de olhar para mim com amor!
Pára de me quereres sem me tocar…
Sou lume agora sem calor
Sou ave selvagem sem voar.
Sou o leite materno à nascença,
Sou a mãe que te cuida e protege.
Vem beber da minha presença
Neste corpo quente que te elege…
… como dono, como vassalo.
Quero-te e odeio-te. Porque é assim?
Ah! Queria tê-lo e abraçá-lo!
Dizer-lhe que é tudo para mim.
Mas não posso, porque não ouve,
Não posso porque não sente.
Não tento, porque não houve
Um passado esquecido no presente.
Um brinde
Brindo à vida e a ti também!
Por amor a ti me entreguei…
Amor de amiga e de mãe,
De amante que apaguei …
… do rol de qualidades
Que a mim adjectivaste.
As palavras são vaidades
Que tu, bem sabes usaste…
Ainda te amo, eu sei…
Também te odeio e te espero,
E nesta taça lancei
Os meus sonhos e desespero.
Veneno com que me deleito
Amargo como o teu amor,
O meu corpo foi o eleito
Para acalmares o teu calor.
Esse fogo que me queima
Sempre que a tua mão me toca,
Momento que ainda hoje teima
Em aparecer e me provoca,
O arrepio revelador
Da mentira que tu és.
Se a tua sede é a minha dor
Sou uva que pisas com os pés.
Intemporal
Suave como carícia de amor,
É teu beijo, quase inocente…
O teu corpo acalma o meu calor,
Êxtase que anseio presente.
Cada gesto com carinho,
Ousei guardar na lembrança.
Pele sedosa, pêlo de arminho,
Tesouro guardado como criança.
Segredo escondido,
Mas nunca contido!
Magia que meu corpo enlaça…
Rendida á doçura em partilha,
Amor como mar numa ilha
E o tempo que por nós não passa.
Hoje sou rebelde
Hoje não me sinto eu.
Sinto o pulsar de outra pessoa…
De uma rebelde que saqueia o que é meu
E a quem a beleza atraiçoa.
Rouba-me tudo o que tenho, a minha riqueza
E o que conheço como real.
E isso pode ser também a minha fraqueza,
Pois está á mercê do que é banal.
Solidão...
Ela arrasta-me por essa vida sem me largar,
Num colete-de-forças ocultas, sem culpas nem temores.
Ah! Como eu queria a liberdade e se de mim a pudesse afastar,
Criaria uma revolução, agitaria mares e da terra faria tremores.
Exibia a bandeira da vitória
Por cima de todos os meus azares.
Esse seria o meu dia de glória!
Gritaria então, o teu nome perante quaisquer olhares.
Sou louca, alucinada e sem tino.
Mas por ti faria tudo isso e muito mais.
Pois felicidade, é o que desse dia imagino,
E dele não iria abdicar jamais.
Por fim, estofaria o coração com a tua graça,
Convocaria o povo e a armada.
Ergueria os braços no meio da praça
E diria: Meu povo, a solidão foi derrotada!
Flor entre as flores
Viciada em romances fugazes,
Passei anos embriagada.
Pensava sermos audazes,
E eu vivia apaixonada.
Em mim se aninhavam,
Na esperanca de terem mais.
Mas o pouco que caminhavam,
Andavam sempre demais.
E quando me julgava sobria,
Livre de amores e dores
Sendo apenas eu propria,
Uma flor entre flores…
Sem parelha ou similar,
Sem sombra ou erva daninha,
Uma brisa fresca de ar
Levou a certeza que tinha.
E tu amor, fresca brisa de ar,
Gelaste ser de petalas ageis
Envergonhaste flor com teu olhar
Desnuda em movimentos frageis.
So, procurei o sol e seu abraco,
Que teima manter-se escondido.
Na sombra escondo meu cansaco,
A espera, sobria… de amor contido.
Uma história de amor
Adoro,
Quando sorris e trazes a força
Que preenche o meu dia.
Quando me despes de preconceitos
E me olhas vestida de paixão.
Lembro agora,
Quando por magia o acaso como cúmplice
Protegeu o nosso segredo.
Ou quando o teu silêncio de visita ao meu passado
Me traz notícias do teu medo presente.
Sei que te amo,
Quando no Inverno do teu estar
Encontro o calor do meu ser
E transformo na paixão que tentei esconder.
Quase enlouqueço,
Quando me tocas com o olhar
E quente de ternura,
Derreto sem medo o meu pudor.
Quando por magia
Levas o meu querer até ao limite…
Ou quando me perco na doçura do teu beijo
Que agora sentirei apenas quando o sonho o permitir.
Desse sonho não irei querer sair,
Mas sou contrariada pela razão.
Não verei verdade no meu sorrir
Nem sentirei nas minhas, a tua mão.
Ao meu lado terei o vazio e o fulgor dessa paixão.
Como companhia, a saudade e uma vontade meritória,
De um dia viver mais, do que o prólogo da nossa história.
Escrita pelos deuses, secreta e protegida,
O mais belo conto de amor
Por ser afinal a nossa vida.
Meretriz
Caminhou pela areia fina
Em direcção ao mar e seu abraço
No céu, a lua cheia que ilumina
Traz amor consigo, no regaço
Que fará agora com ele?
Já não é dela, não lhe pertence!
Por se dar a esta e àquele
Sua pureza já não convence.
Essa pureza, a traz no peito
Que é grande e hospitaleiro.
Nunca conseguiu grande feito
E seu coração é um estaleiro.
Nele aportam homens feridos, sem tino
Ávidos de algum conforto e prazer
Não é nela o seu destino
Ela é porto de abrigo e lazer
Mas hoje quer ser menina casta
Nega-se a quem dela precisar.
Esquece a sua vida tão gasta
E assim, seu amor, só o dará ao mar