Poemas, frases e mensagens de Ela

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Ela

Gosto de Sabão

 
Cuidarei da vida
Como sempre fiz

Amores vêm e vão
Como sempre foi

Lavei as garrafas d'água...
Elas ficaram com gosto de sabão

Beberei até passar
E limpar das entranhas
Esse romance de ficção
 
Gosto de Sabão

GALINHAS E PATOS

 
Certa vez, conversava com um amigo na tabacaria, a respeito de sua casa de praia...

Ele me dizia que criava patos e galinhas...

"As galinhas não têm nada na cabeça; se uma vai na frente, as outras seguem atrás".

"Já os patos são muito trabalhosos. Na hora de recolhê-los no terreiro, é um sufoco - voam, correm, berram! E as patas, às vezes, não querem chocar seus ovos; as galinhas chocam por elas".

Quer dizer, então, que você é um escritor, que mora numa casa com cata-vento e cria galinhas obedientes e patos rebeldes...

Depois de refletir um pouco sobre as vantagens de ser pato ou galinha, perguntei:

A propósito, você come suas galinhas?

Uma pausa... E ele me disse:

"Não só como; como saboreei com grande satisfação um pato que me atacou três vezes".

E assim, meu dilema se inicia...

Estariam as galinhas, certas; os patos, errados?

Seriam as galinhas, quietas; os patos, atordoados?

Comentei:

Ao menos, os patos dão trabalho, pra morrer...

Que vantagem haveria andar na linha como uma galinha, se o destino é a panela?

Não seria as galinhas, na rotina das cozinhas, preferência nacional?

Enquanto os patos, tão raros na vida cotidiana, um banquete eventual?

... E o drama evoluia...

Seria eu, uma galinha à mercê da inquietação dos patos?

Não seriam os patos obedientes à sua natureza inquieta?

Homem-galinha, homem-galo, não seriam ambos, patéticos? E por acaso, patéticos, seriam patos éticos?

Mulheres-galinha seriam mulheres obedientes e quietas? Ou metidas a "espertas"?

Pato no Tucupi ou Galinha à Cabidela?

Depois de tantas questões, não chegando a lugar algum, pensei:

Seria eu, por fim, uma pata-de-galinha?

Agora me confundi... E galinha tem pata?

Pra terminar...

Mais vale uma pata na mão, do que galinhas no pé?
 
GALINHAS E PATOS

De um jeito mais divertido

 
Amor proibido
É coisa de louco varrido
Gostar de um desconhecido
Além de tudo, comprometido
Nada disso faz sentido

Coisa de coração atrevido
Quem sabe, tesão recolhido
Um jeito bem destemido
Flechada de um cupido...
 
De um jeito mais divertido

DIZ-LÉXICO

 
Pra quem formou-se em Letras,
Letras

Ao refém da emoção,
Pontuação

Pra quem gosta do enxuto,
Estatuto

Quem escreve em desespero,
Exagero

A quem pensa em cantoria,
Melodia

Ao rico vocabulário,
Dicionário

Cria em dor no coração,
Sublimação

A quem tem velocidade,
Liberdade

Ao amante da ironia,
Anarquia

A quem lê com exigência,
Eloqüência

A quem dá opinião,
Expressão

A quem acha que já sabe,
Mais não cabe

A quem simples faz dizer,
Perceber

E quem manda na rima,
É o de cima

Ao eterno aprendiz,
Sê feliz
 
DIZ-LÉXICO

PECADO

 
Não é espinho que te dou
É sabor
A dor te perfura a língua
Se é amor

O que te faço é um convite
Ao pecado
Se não abre teu apetite
És culpado

Ofereço a ti meu tom vermelho
E meu suco
E enxergas no meu espelho
O teu muco

Eunuco resistes alheio
Ao desejo
E foges feito maluco
Deste beijo
 
PECADO

À Mercê...

 
Decidir,
É pra quem sabe
Ou está querendo saber
Que faço em meio ao impasse
Eu que só quero viver?

Decidir se vou jantar
Decidir o que comer
Saber a hora de acordar
Tirar a roupa, namorar
Se vou beijar, lamber, morder

Que sei eu sobre o desejo
Se desejo não se sabe
Que sei eu sobre a vontade
A certeza, ou a verdade

Se fico mais um pouco
Ou volto para a cidade
Que a vida sorteie o dia!
E faça acontecer

Que me arrebate
A eternidade, o não saber
A infinitude
Que o tempo não me torture
Se não tenho inquietude

E não me queira respostas
Se gosto de não querer

Que sei eu do que não houve?
Eu, que vivo à Mercê...

Se tudo é agora e é hoje
Me leve logo embora
Ou decida o que fazer
 
À Mercê...

Desacerto

 
A velocidade do tempo
Dos acontecimentos
O constante atropelo
Do presente
A aceleração contínua
Dos instantes
O novo sempre novo
Ensaie o texto
E na hora
Será diferente
Certamente
 
Desacerto

Mulher sozinha sentada na mesa

 
Estou aqui e só
Poderia ser ruim
Mas é bom, talvez melhor

É bom porque é tranqüilo
É livre, espontâneo
Correspondido

A solidão nos é fiel e leal
Sem caprichos, é só solidão
Misto de fantasia e real

Quem comanda é o humor
O acaso, o incondicional
Pode ser que sim, pode ser que não

Se não espero nada
Não haverá frustração
Expectativa, desacerto, dor

Só há eu mesma
Mulher sozinha
Sentada na mesa

E uma bebida
Que se bebe lentamente
Já que "a pressa é inimiga da perfeição"

Tem pressa
Aquele que espera
Aquele que tem um compromisso

Mas a mim
Pouco importa
O tempo, aquilo ou isso

Pois se nada foi estabelecido
Só existe a incerteza
Aquele todo simples, imprevisto, descabido

Da mulher sozinha sentada na mesa
 
Mulher sozinha sentada na mesa

Fim sem Princípio... Precipício?

 
"..... É um sacrilégio nos destratarmos tão bem ...... "

Ela não lamenta seu destino; sabe que o noivo a abandonaria sem nunca vir a amá-la.
Do contrário, não a largaria mesmo, jamais!
Tão fiéis os amantes, que não se traem... Seriam por fim iguais...
Ela não o deixou... Apenas não foi. O que haveria então pra regressar?
Ela agradece sempre o inacontecido - rico de infinitudes.
Naquela mesma noite em que estranhamente não adentrou o portal, intuía talvez, que o tom negrume de seu ex-futuro marido, não se permitiria misturar-se aos iguais; posto que, não convém...
Assustado, preferiu, diante do espelho, quebrá-lo em pedaços, pra não mais ver.
Agora, solteira e linda, ela permanece, mesmo viúva.
Já ele, amedrontado em possíveis erros, trouxe pra si mau agouro ao quebrar o espelho.
Exatamente há vinte anos, ela não esperou, simplesmente foi até ele, onde permanece ainda vinte anos depois...
Mas ele não percebeu a presença da paz e pôs-se a esperar covardemente pela sorte. Seria esse o azar: esperar covardemente... Pela sorte...
Ela, de cabeça erguida, sabe que seria melhor, e nada quis evitar; nem tampouco ignorou o convite que ele a fez. Ao contrário, sentiu-se honrada... E feliz...
Chegou a pensar que iria, mas sendo ela dotada de poderes de magia, anteviu que ele não iria.
Pois ele fala em retas paralelas, enquanto a vida é curva e sinuosa.
Quando a qualquer momento linhas em ressonância, por querer, ou "sem querer", se cruzam e bailam entrelaçadas por longas eternidades.
Naquele dia, ela quis; quis no outro também... Ele não viu... Anda de fato cansado.
Por isso, a deixa sozinha e permanece crédulo que é ela que não faz a justa passagem, injustamente.
Por algum motivo, ele sempre acha que qualquer perda, é causa dela.
Imagina que ontem ela o deixou e fica desencontrado... Porque, mesmo não mais tão jovem, ainda não se encontrou, pra encontrá-la com vontade latente, esquecido dos dramas de sua mente.
É tão belo o moço com suas lindas rugas e cicatrizes ainda abertas que não curou.
E adia, com receio de magoá-las ainda mais... Enquanto pensa que a velhice por si só, vai sarar as dores.
Ele, em suas lentes transparentes e arranhadas, enxerga algo turvo, e acha que são os efeitos entorpecidos das causas proteladas que não são necessariamente, especiais.
E num segundo instante, fala das virtudes de seus virtuosos defeitos virtuosos, de suas habilidades musicais no toque das palavras...
Precisa convencer a ele mesmo, enquanto fala pra ela.
Pois ela já escuta seu silêncio, que lhe soa puro aos ouvidos. E do mesmo modo, sua ira lhe soa igualmente pura e musical.
Por um momento, ele se toma de luz e fala do que ambos intuíram e das correntes...
Talvez, não saiba a razão delas, mas sente que existem.
Ela, por sua vez, fica em silêncio... Lamentando não conhecerem seus netos tão mimosos a correr pela sala e por isso dorme bem sossegada a ele abraçada aos domingos.
Ela gosta de sua insônia, que provavelmente continuaria mesmo cansada de com ele existir.
Inquieto, incomodado - ele fala do que não deseja sobre seu desejo, como se soubesse tudo o que ela há de sentir...
E ainda ousa falar, como se não bastasse, da verdade do beijo.
Ele não sabe que de fato ela sempre o beijou... Que o que faz a verdade do beijo, é a vontade latente que a ele antevem... Que o desejo do beijo é que faz o beijo beijar... Que sonhando a boca tão perto, sentindo mais perto, e bem perto, só falta mesmo encontrar, pra beijar... Sem falar... Só beijar... E tudo beijar e beijar...
Ele fala da fidelidade das prostitutas - que não beijam seus clientes, apenas os amores...
Ela diz, que há tempos deixou de ser uma, pois o grande amor de sua vida, é o primeiro que passar e simplesmente a beijar... Como são os beijos, quando se deseja... Simples assim... E por isso tornam-se amores... Os grandes amores... Amar é beijar...
A ela, só cabe lamentar... Que ele, com suas correntes e “virtudes”, escondidas sob a ira, só lhe queiram magoar...
E sabe... Que realmente, apesar de não ser assim que ele sente, há de ser assim que mente: só se vê quando se escuta.
De fato, agora ela percebe que o viu equivocado: viu um outro, menos raivoso - aquele primeiro que ia passar, estando tão perto, mais perto que qualquer outro, lhe parecia tão perto, quase podia tocar... Seria o único enfim, que lhe beijaria simples assim...
São seus olhos que veem gritos... Lhe pareciam tão nítidos!
Deve estar cega como ele... Ficou cansada como ele... E velha como ele...
E entorpecida... Vai dormir mais um pouco... Merecia um beijo esta manhã...
Um pássaro que mora com ela, em sua varanda, entrou no seu quarto e a acordou... Pensou que uma boa-nova ele traria... Mas era melancolia...

E em pares de décadas, o desencontro evolui à velocidade da luz...
No primeiro, um dia... No segundo, um mês... No terceiro, se vivos - um ano, talvez?

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Um conto de desencontro, um romance de ficção sem ocasião...
 
Fim sem Princípio... Precipício?

MALDITA

 
Revelei a minha face
Mas depois mudei de idéia
Antes mesmo que a vissem
Adiei dela a estréia

Andam lobos à espreita
Trás dos montes, a alcatéia
Sem deixar uma suspeita
Se escondeu a centopéia

Divulguei o meu espaço
De doce depravação
Publiquei meu ser devasso
Me infligi limitação

Já não sei mais o que faço
Pro segredo retornar
Pois sou eu o embaraço
Para aquele que me achar

Minha escrita é maldita
Desafia todo padrão
Não agrada a muita gente
Esse jeito brincalhão

Mas agrada a mim por fim
Fazer verso de antemão
Quem quiser se rir um pouco
É bem-vindo à ocasião

Pois se a vida é dolorida
Não me cabe ressaltar
Desamor, dor e ferida
Outros gostam de cantar

Cada um é o que é
O que sente quer gritar
Vez em quando fico triste
Gosto mesmo é de alegrar
 
MALDITA

Fantasia

 
*Poema narrado em audio*
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Eu me sinto abandonada num altar
Ao mesmo tempo
Sinto-me amante de um casamento
Que eu nem sabia que existia

Esqueceram de me avisar
Deixaram para o último dia
Eu, delicadamente, deixei pra lá
Quando, por dentro, tudo se retorcia

Lancei-me na incerteza, sem pensar
Faz de conta que foi tudo fantasia
De um coração inquieto que vive a procurar
Amor profundo e companhia

Quem sabe, mesmo acordada, vivo a sonhar
Com brincadeira de criança
Pega-pega, esconde-esconde
Vida lúdica, esperança

E mesmo adulta, cheia de agonia
Deixei-me invadir pela lembrança
Da menina romântica, de calcinha e de trança
Que tece na verdade e na alegria
A mais sincera e rara confiança

Vai menina assustada
Ser boba na tua alucinação
Finge que ama, que sofre e que dança
Que nada há de ser nada
Pra aquela que é livre e na vida se lança
Com muito amor e imaginação

Dorme menina
Vê se acredita
E não se deixa ficar aflita
Que se tudo for ruim
Mesmo assim
É fonte de inspiração

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*(Música de fundo: "Le Moulin" - Yann Tiersen)*
 
Fantasia

Um Sol no Peito

 
Minha terapeuta
Prescreveu uma receita
Pra lá de homeopática
Diria, fantástica!
Aplicações subcutâneas
Que de forma instantânea
Me fariam sentir
Um sol no peito!

Não sei se por acaso
Causa, ou efeito
Num certo fim de tarde
E por toda eternidade
De uma noite inteira
Senti que acontecia
O que a bula dizia...
Fui tomada de calor
Numa súbita, incontida alegria

Antiga é a paixão
E ainda inconsequente
Me acorda, novamente
Com perfume de presente
Sendo a paixão fulminante
Síntese da loucura
É por demais angustiante
E também inconstante
No tempo, pouco dura

Assim, quando o dia muda
O sol já não estava no peito
Estava na cara
O olho ardia, a cabeça doía
A mão, quase tremia
E o coração sob efeito
Do silêncio, chorava

Por fim, na despedia
Aquela frase constrangida
Sem jeito
Que saiu em tom de ferida
Sutil, mas sentida
Doída, profunda
Como a morte em seu leito
Não entendida
Incisiva e aguda
"Foi tudo, quase perfeito!"

E entre a porta do carro
E o portão da rua
Lembrei de Mercê!
Aquela teimosa
Que no peito tem a lua
E que fingindo não saber
O que vai acontecer
Vive a fantasia
Mesmo se a realidade
Sem piedade
Na luz do dia
Lhe acorda fria, nua e crua
 
Um Sol no Peito

SENTIDO

 
Ela ia...
Apenas passava
Enquanto tudo insistia
E nada mudava

Passou ano, mês, vida
Quarta, domingo, sexta
Cada hora, todo dia,
Meio tonta, meio besta

Por um fio, ela ia
Ia perdendo o sentido
Que já não se sabia
 
SENTIDO

É fonte de inspiração...

 
Se algo transparece inevitavelmente, que ao menos fique no plano do inevitável – aquilo que não se pode evitar. Pra que então, virar assunto, em mesa de café, bar? Por que uma mulher não pode inexplicavelmente... Se apaixonar? Se de fato, a única liberdade que temos, é criar, imaginar, fantasiar... Hábito totalmente inofensivo a terceiros... A não ser pelo fato de incomodar... Uma simples mulher sozinha e livre, se apaixonar; sem uma razão, compreensão, idéia do que possa ser, além da paixão. Não importa se o amor é proibido, que seja então! Nem por isso deixa de ser fonte de inspiração. E não é isso o que importa? Essas coisas, não se escolhe... Batem na porta! Se não tivermos olho mágico, abriremos primeiro, pra só então ver quem é... E não é isso o que se quer? Se virmos antes, vamos querer depois?

Penso, observando a mim, que coisas desse tipo, paixões arrebatadas de vontade sem explicação, vêm de muito longe, uma experiência ancestral. Não diria primitivo, pra não parecer rústico, bruto, não evoluído, original; diria refinado, sofisticado, sutil, complexo... Místico, principal! Ondas magnéticas sintonizadas em freqüências elevadíssimas, a despeito da razão, provocando múltiplas sensações, percepções e por que não dizer, êxtases, satisfações! Que fazem a pele amaciar, o corpo mover-se em curvas, o coração pular e nem pular, pois quando é proibido, nem é aflito; é só um segredo, um sonho, em plena realização.

Quem sabe a física quântica, a antropologia... Quem sabe, o tarot, o I Ching, a quiromancia... Ou então, Platão, a filosofia... Talvez meu cardiologista, meu analista... Um radiologista!
Possa dar cabimento, lógica, entendimento, pra essa intensa experiência, que mesmo que o tempo passe e ainda com toda a ciência, não se encontrou uma explicação!
 
É fonte de inspiração...

ACELERADA

 
Sou muito sensível ao externo
O que me faz caminhar
Em velocidades aceleradas

Sinto-me
Constantemente atropelada
E ajo atrapalhada

O que termina atrapalhando
E eu, atropelando
 
ACELERADA

Hora Exata

 
Você tinha que vir
Que eu inquieta estou aqui
E sem saber, te espero

Nem sei se a hora é esta
Mas você tinha que vir
Pra sentir do que se trata

Se é verdade que te quero
Se cheguei na hora exata
Ou se surgi só pra partir

Por isso,
Você tinha que vir
Só pra me ver, ou confundir
 
Hora Exata

LÚDICO

 
Escrever, pra mim
É desde muito cedo
Um exercício lúdico
Necessário, essencial

Uma maneira brejeira
De sublimar a realidade
Numa grande brincadeira

É a lembrança da criança
Na mais remota infância
É trazer a fantasia
Para um mundo tão real

E as pessoas por teimosia
Limitação, ignorância
Querem ler poesia
De um modo convencional
 
LÚDICO

Voa Urubu, voa!

 
Urubu, que voa, que passa
Não é nenhuma ameaça
Não caça, nem traz desgraça
Seu banquete é de carcaça

Nem imagina o quanto a garça
Sendo ela uma devassa
Aprecia o voo da raça
Que não cala na mordaça

Tua cor negra não é falsa
Com a mentira faz pirraça
O teu canto em arruaça
Denuncia toda trapaça

E em linhas cheias de graça
Enrijece no outro a couraça
Assola o medo da massa
Engaiolado na vidraça

Como pode a bela garça
No destino da vida que traça
Não brindar desse vinho na taça
Ao te ver voar sobre a praça?
 
Voa Urubu, voa!

Ela