Sorriso raso
Ao cair da vida o amor me faz descaso
E a felicidade aos poucos se dilui
À face forjada de um sorriso raso
A dor imensa no peito se conclui
Vejo-me como o sol em pleno ocaso
Aquele brilho de outrora, levemente diminui
Mais triste que angústia é saber que não aprazo
O amor infelicita-me, o desgosto me anui
E esse meu sofrer, que triste, ora extravaso
É todo o porquê exato que me alui
Mas, se no amor pudesse por acaso
De novo ser amado... Se é que um dia fui.
Invento
Invento versos de amor que não sinto,
Falo do futuro e só conheço a saudade
Dos meus momentos sucintos
De felicidade
E em mim há algum contentamento
Nessa vida abatida de vaga mocidade
São os versos de amor que invento
De felicidade
Aprendi, assim, que hoje a vida
É morte amanhã e que é verdade
A tristeza ou outra coisa parecida
De felicidade
Fazem-se quando invento. Às vezes minto
Invento versos de amor que não sinto.
A Família Brasileira
Era uma vez uma linda família de sobrenome Brasileira.
Era composta por nove pessoas:
Brasil e sua esposa Riqueza e seus filhos
Ninguém, Alguém, Nóstôdos, Violência,Desemprego, Fome(que não morava com eles) e Esperança.
Certo dia, cansada da vida depreciável que tinha a Riqueza foi embora e levou a filha mais nova a Esperança.
O Brasil ficou muito triste...
Nóstôdos, vendo o Brasil solitário e magoado, resolveu lhe dar um presente.
Então ele chamou Alguém e perguntou:
- O que eu dou pro pai?
E Alguém disse:
- Por que você não dá um burro para ajudar na roça?
-Boa idéia! Mas onde eu consigo um burro?
- Em qualquer lugar.
Não demorou muito para que ele encontrasse muitos burros em seu caminho, mas, ele tinha de escolher um para dar ao Brasil.
Nóstôdos pensou, pensou, até que escolheu um burro.
Com o presente, Brasil ficou muito contente e empolgado...
- Como eu vou chamar esse burro?
E Alguém falou:
-Por que o senhor não o chama de Lula?
- Muito bom nome meu filho, é assim que o burro vai ser chamado, Lula.
Com o novo burro tudo melhorou: a Violência foi para escola,
Ninguém ganhava muito dinheiro,
A Fome voltou para casa,o Desemprego cresceu forte como nunca,
Alguém ficava muito feliz, enquanto Nóstôdos alimentava o burro.
E é assim há vários anos.
Nesse meio tempo, Brasil encontrou um novo amor, a Miséria, e resolveu casar de novo. Tudo prosperou na família Brasileira...
Ouvi dizer que a Riqueza também casou de novo com um europeu e a Esperança de saudades faleceu.
O mais triste do mundo
Meus olhos tristes, tão profundamente
Ainda choram e cada vez mais fundo
A solidão abraça-me. Quem entende
Que sou, assim, quem sabe, o mais triste do mundo?
Em uma dor, talvez, que aos olhos não se meça
A angústia sem fim no peito se avoluma
Em avanço feroz, a mágoa já não cessa.
Esse meu sofrer se viu, em época nenhuma
Tira-me a vida e, eu tanto mesquinho
Consternado choro, num culto de saudade
Ao sepulcro do amor que me deixou sozinho
Esperando à vida tudo, menos a felicidade.
Doação
Dilatava-se o peito em tristes frestas
A lacrimar uma plena solidão,
E o amor perenal em ingenuidade
Levou embora toda desesperação
Levou as dores mais funestas
Em seu dulçor mister de paixão.
Trouxe-me sentimentalidades,
Calma, encanto, enleio, sedução...
Trouxe-me aventuras, trouxe estas
Afáveis manhãs, no escuro, seu clarão,
Trouxe-me muito mais vivacidade
Muito mais alegria e emoção.
Contudo, quando tudo se fez festa
Adeus me disse, sem nenhuma explicação
E eu no inicio de mais infelicidades
Preparo minha vida a uma nova doação.
Amar, em suma
Nesse pôr do sol que encerra mais um dia,
Célere vem deserta, a sombra que consola
Este peito isento de paz, de alegria,
E, assim triste, declino à dor cedo imola
Se já depois do ocaso, à luz quase apagada,
Num desespero sem medida, arfa o coração
Que horrível dia – transbordando nada
Em vão vivido! Ai! Que desilusão!
Há, então somente, pranto em vez de riso
E as tantas desventuras, caem de uma a uma
Vêm-me à míngua, sem qualquer aviso
Desgraçada vida eu te direi! Amar, em suma.