Poemas, frases e mensagens de MarioC

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de MarioC

O percurso para o teu coração

 
Tentei códigos, procurei chaves
Para encontrar maneira de subir
Dei pontapés, retirei entraves
E, ainda assim, não consegui ir
A essa escada que esconde um portão
São as portas do teu coração!

Esforcei-me mais e lutei arduamente
Enfrentei o seu guardião
Corri para a escada, finalmente,
Mas escorreguei p’ro meio do chão…
Foi o guardião que me puxou!
Disse “Só alguém especial entra aqui
Mas este coração pode pertencer-te a ti”
“Como?”, pensei eu dorido
E cansado de tentar.

Com um salto, percebi:
Que só precisava de outro caminho.
“Mas e o guardião?”, temi,
“Embriago-o com algum vinho!”

E assim, avancei destemido
Procurando o coração,
Ignorei o forte gemido
Do embriagado guardião!
Subi as escadas, lentamente
E descobri que era verdade
Aqueles eram, realmente,
Os degraus da amizade!

Cheguei ao topo; porta fechada
Pensei: “Terão as chaves sido roubadas?”
Mas vi que não havia fechadura…
Teu coração era uma armadura!
Imaginei, e descobri sozinho
Que nas portas do teu coração
Só com amor e carinho
Vou ganhar tua paixão.

Porque entre o guardião e o interior
Cria-se uma tal amizade
Que, se algum dia surgir amor,
Nos trará a felicidade!
 
O percurso para o teu coração

Pouco, mas tudo

 
Já corri, mas já andei
Já sorri, e já chorei
Já ganhei, mas já perdi
Já odiei aquilo que senti
Já tentei esquecer amores
Já por isso sofri horrores

Já convidei, fui convidado
Já olhei e fui olhado
Já perdi grandes oportunidades
Já senti tantas saudades…
Já toquei, já fui tocado
Já rejeitei e fui rejeitado

Já dormi e acordei
Já vivi o que provoquei
Já tive alívio infinito
Já amei alguém bonito
Já me apaixonei por tua cara,
Enxerguei essa beleza rara

Desde pequeno que aceitei
Aquilo que o destino me negou
Nunca por tais terras fiquei
Imitando aquele que errou
Errou, em toda a verdade
Logo pensando que o amavas
Amor, esse, que sempre lhe negavas…

Já beijei, já fui beijado
Já abracei e fui abraçado
Já fui traído, mas também traí
E com certeza disso me arrependi
Já roubei, e fui roubado
Por um coração, que estava a meu lado

Já magoei, já fui magoado
Já lutei por algo errado
Já perdi um amigo autêntico
Já fui poupado, já fui excêntrico
Já desiludi, fui desiludido
Já fui um espírito perdido

Já agradeci, e fiz um favor
Já andei quilómetros por amor
Depois disto, perguntas tu e sorris:
“O que te falta para ser feliz?”
E eu respondo com tom gelado
“Falta-me por ti, ser verdadeiramente amado!”

Gostaria que este poema nao fosse somente lido, mas pensado...
 
Pouco, mas tudo

Poemas vazios

 
Meus poemas são vazios
Não têm cor, ou essência.
São gotas, e mesmo rios
De um mar em evidência.

Sem mensagem nem pensamento
Têm apenas um objectivo:
Querem criar um sentimento,
Torná-lo em algo altivo.

Não têm nada para decifrar.
Apenas querem existir!
Só desejam poder deixar
Alguém triste a sorrir.

São simples, sem ocultismos
Dizem apenas o que querem
Dão lugar a altruísmos
Altruísmos que, por vezes, ferem

Não são dedicados à cabeça
E carregam consigo um senão:
Se a lê-los alguém começa
Tem que ler com o coração.

Mas se quem lê não o usar,
Nem vale a pena começar…
 
Poemas vazios

Às vezes precisamos de alguém

 
Às vezes precisamos de alguém...

Uma pessoa que nos mostre a razão
Ajude a distinguir amor, de paixão
Nos diga o que é certo ou errado
E nos devolva o conforto roubado

Que simplesmente escute o impossível
Compreenda o incompreensível
Não pense, não fale, nem julgue o que dizemos
Mas nos ajude a dar valor ao que temos

Uma pessoa…

Que queira demonstrar o quanto nos ama
Ensine que o coração às vezes se engana
Que nos diga o quão maravilhosos somos
Mesmo nos odiando pelo que já fomos…

Alguém que seja duro e nos diga a verdade
Nunca tenha medo da realidade
Que seja o nosso escudo protector
E como espada empunhe um grande amor

Que nos toque a alma
Nos embale o coração
Não perca a calma
Não nos diga que não

Uma simples pessoa…

Alguém que te embale a tristeza
E a faça adormecer
Que te arranque um sorriso
Que te obrigue a amadurecer

Mas por vezes falta-nos alguém
Que nos ajude a levantar
Nos ame pelo que somos
E nos ensine a amar…

Perguntamos a nós próprios:

Será que existe mesmo alguém
Ou só nos temos a nós?
Porque é triste não ter ninguém
Neste mundo tão feroz.
 
Às vezes precisamos de alguém

Almas

 
Há em mim coisas que queria mudar
Há em mim coisas que queria manter
Mas, no fundo, a verdade
É que tudo o que quero mudar, mantenho
E tudo o que quero manter, mudo…
Porquê?

Às vezes, é estranha a forma
Como, dentro de um único corpo,
Podem habitar tantas almas,
E nenhuma ser melhor que a outra

É estranho como o certo e o errado
Se misturam dentro do ser
E formam uma mistura a que chamamos:
Humanos.

É estranho como o seguro e o inseguro
Batalham numa guerra sem fim
Usando o cérebro como campo de batalha
E o coração, inocente, como arma.

É estranho como, por vezes
Aquilo que mais odiamos,
é o que tendemos a ser
e não conseguimos mudar isso

É estranho como acabamos por sofrer
Seja qual for o caminho que escolhemos
E dizemos que o sofrimento nos faz crescer
Mas, se é para estar sempre a sofrer,
Porque crescemos?

E de um momento para outro
Conseguimos criar em nós
Mais uma alma
Diferente das que já tínhamos
Porque, as que temos, não chegam

Mas o mais estranho é sem dúvida
O facto de haver tantos, com tantas almas
E tantos outros
Sem nenhuma.
 
Almas

Quando o tempo não chega

 
Quando o tempo não chega
A distância nos separa,
Uma tristeza navega
Meu coração te sente, e pára!
Coração que é meu, mas sozinho
Por ti puro e verdadeiro
Ao qual tu mostras caminho
Onde pertences em primeiro…

Olhos brilhantes, a amêndoa bordados
Trejeitos de menina escondidos
Lábios finos, pela timidez escudados
De meus beijos, em tempo perdidos.
Bochechas? Essas espelham a verdade
Que se esconde no coração
Mostram tudo, deixam saudade
Dessa tua perfeição.

No calor de um olhar
Está tudo aquilo que sentes
Quando olhas para o mar
Me alcançam teus olhos quentes.

Com a ternura do teu abraço parti
Foi tão pouco, mas tão forte
Quero que saibas: contigo entendi
Que na vida tenho sorte.

E por fim quero agradecer:

Pelos momentos que passámos
Pelo que disseste, e deixaste por dizer
Por aquilo que alcançámos
Pela esperança que, em mim,
Fizeste nascer.

Quero pedir desculpa se errei!
Em tudo aquilo que tivemos
Amizade ou algo mais, não sei…
Só interessa que nos conhecemos.

E se algum dia eu te esquecer
Então, acabei de morrer…
 
Quando o tempo não chega

Dentro de ti...

 
Dentro de ti guardas vida, agora
És tanta mas sentes tão pouca
Guardas a realista e a sonhadora
Que de tão lúcida parece louca

Guardas cavernas e montanhas
Os teus altos e baixos na vida
Humilhações, grandes façanhas
De uma amante com alma ferida

Guardas vida, guardas morte
És pioneira na tua caminhada
Tens azar, mas tens a sorte
De poderes estar errada

Guardas felicidade e a tristeza
Por teres o mundo a teus pés
Fá-los viver na incerteza
De que nunca vão saber quem és

Enfim, guardas tudo, mas nada é teu
O que já foi, tu deitaste fora
Não vês que quem te amou morreu?
E o que queres dizer agora… ?

É tarde demais…
Pois não há ninguém para te ouvir.

Heads up 
 
Dentro de ti...

A tua vida num livro...

 
Se contasses num livro teu
Tudo aquilo que já viveste
Tocaria, algures no céu,
O volume do que escreveste.

Personagens lindas, ou nem tanto.
Enredo por vezes surpreendente.
Houve ocasiões de encanto
Que ficaram na tua mente.

Escritas pela caneta da esperança
Que sabe bem daquilo que trata.
Por isso, pede sua vingança
De uma existência tão ingrata.
Letra inclinada, vida tremida
Que nunca te mostrou a paz,
Mas se ela pensa que tem saída
Engana-se, pois aqui estás!

Capítulos longos, já terminados
São tempos perdidos na imensidão.
Momentos felizes, um dia roubados
A alguém que viveu na escuridão:
Foi tua pessoa de outrora,
Quem de muito já se arrependeu!
Mas levanta-te e pensa: “Agora,
Quem escreve meu futuro serei eu”.
 
A tua vida num livro...

Insignificância pura

 
Insignificância pura, esta que sinto
Como uma maçã no meio de um pomar.
Excepto que eu já caí e vejo as outras,
Lá em cima,
A crescer cada vez mais. E eu aqui
No chão sem conseguir subir
Nem crescer… Nem ser…
Sinto que por dentro estou cada vez mais podre
Como se tivesse em mim todo o doce do mundo,
Que é todo o amor que tenho p’ra dar,
E de repente secasse cada vez mais
À medida que o Tempo passa
E que eu passo pelo Tempo.

Sinto uma tremenda solidão. Tão grande
Não no mundo, mas no que ele me dá, e
Naquilo que sou dentro dele. Tão grande,
Tão maciça que nela cabem todos e tudo
E mesmo assim nada me faz companhia. Porque
Por mais acompanhado que esteja por fora,
Estou sozinho cá dentro, e é cá dentro que o que há
É como se não houvesse.

É cá dentro… É cá dentro que tudo nasce,
E onde tudo acaba por morrer. É cá dentro que nasce a inspiração
Para ajudar os outros. E morre a inspiração para me ajudar a mim.
É cá dentro que nasce a esperança do melhor
Mas é cá dentro que ela morre, a cada dia que passa
E que não encontra o prometido. O prometido
Que desejo dia e noite, e luto, e arranco com força.
O prometido que os outros cumprem, mas que
Em mim apenas é prometido.

É cá dentro que está a solidão que ninguém completa,
A tristeza que ninguém entende,
Os pensamentos que todos julgam insanos,
O desejo que se diz ser banal,
A visão do mundo que ninguém Vê.

Porque é uma bênção ser cego, e ignorante
Mas não ver a cores o mundo que se esconde,
Num olhar ou num gesto,
Não reparar nesses pequenos pormenores,
Em que o amor se revela
É morrer, não é estar vivo.
 
Insignificância pura

Estrelas no mar

 
De que serve ter o mar
E possuir no seu espelho as estrelas,
De que serve poder olhar
Se não podemos sequer vê-las?

De que serve a ambição
Que esconde em si o sonho
De que serve o perdão
Na amizade que encontra o chão
Se o futuro não é risonho?

De onde vem o poder da chuva
Que lava as lágrimas do amor?
Porque de tão doce que está a uva
Já perdeu o seu esplendor.

Porque se apaixonam amigos
Não dois, mas um deles só,
P’ra se tornarem inimigos
E descobrirem a amargura
De amar alguém que perdura
No ponto que outro ultrapassou?

Porque disfarçam aqueles que amam
Lutando pelo impossível
Sabendo que as Ninfas tramam
E as teias do tempo reclamam
O seu amor incompreensível?

Porque ama o amigo ingénuo
Com todo o seu coração
Destruindo o que é efémero
Destruindo tudo em vão?

É estúpido amar demais
Amar-se quem já se conhece
É estúpido lembrar os tais,
Amigos que nunca se esquece.
É estúpido nadar nas ondas do mar
E desejar chegar às estrelas
Quando de lá nos está a observar
A traidora Afrodite, envolta nelas.
 
Estrelas no mar

Tem esperança...

 
Podes ter feridas pelo corpo todo
Podes ter dores sem razão
Podes até mesmo viver no lodo
Mas não tens dores como as do coração

Piores que mil facas nas costas
Pior do que furar o joelho
É ver a pessoa de quem gostas
Sabendo que é um reflexo no espelho

São dores que não queres partilhar
Quando pensas que a culpa é tua
São dores que te vão ensinar
Que a vida é uma grande rua

Apesar de doer mais que tudo
O tempo tem poder de curar
Pois mesmo quando o sofrimento é mudo
Existe sempre alguém para te amar

"Não te preocupes, se fores invisível
Pois um dia alguém vai acordar
Vê que contigo é mesmo possível
E por ti irá lutar"

Heads up :)
 
Tem esperança...

Já alguma vez tiveste medo...

 
Já alguma vez tiveste medo…
De olhar-te no espelho,
Descobrir que não te conheces,
Veres que já estás velho,
E que não és quem pareces?

De amar alguém de verdade,
Morrer sozinho no meio do nada
E nem sequer deixar saudade,
Pois só percorreste metade da estrada?

Já alguma vez tiveste medo…
Que um medo teu se realizasse,
Ou a vida te pregasse uma partida,
Uma linda donzela roubasse
Teu coração e a tua vida?

Porque todos nós temos medo…
De ficar sozinhos no mundo
Do que conhecemos, e do desconhecido
Não darmos o nosso melhor, pois no fundo:
Todos somos pessoas
E todos nós temos um segredo
Mesmo que más, ou boas
Tememos enfrentar o medo.
 
Já alguma vez tiveste medo...

Conselho de amigo

 
Com uma grossa lágrima lavas a tristeza,
Que os amados te causaram de repente,
E invocaram com alguma aspereza,
Por em ti não acreditarem, simplesmente.

Lágrima de tristeza, solidão e desalento
Que expulsas dos olhos com tanto ardor
Pois para ti o mundo caiu neste momento
Quando duras palavras destruíram seu esplendor.

Sentes desamparo, abandono em verdade
Pois no coração ficaste ferido
Por vezes palavras deixam saudade
Do que um dia foi, quem te era querido

Mas olhando à tua volta entendes
Que a vida é muito mais do que o agora
A perdoar então aprendes
Pois os que amas um dia vão embora

Decidido, voltas a erguer a mão
E fazes promessas imortais
Pois aqueles que ferem teu coração
Um dia verão o quanto são banais

Por fim, deixo um conselho de amigo:

Ergue a cabeça e luta pelo que tens
Não olhes aonde vais, mas sim de onde vens
Acredita em ti próprio até ao fim
Pois caso contrário, ninguém o fará por ti.

Um poema de auto-ajuda. Quando estou mal, encontro em mim um amigo.
 
Conselho de amigo

Está na altura!

 
Está na altura de levantar a cabeça!
Enfrentar o futuro,
Independentemente do passado.
Lutar pelo que queres,
Conformar-te com o que não tens,
Desistir do que é impossível,
E dar valor ao que é teu hoje.

Está na altura de seres tu!
Não interessa quem sejas…
Parar de tentar ser outra pessoa,
Sem tristezas ou lamentos,
Porque a vida é como é!
E por mais que te queixes da chuva,
Não é isso que a fará parar.

Está na altura…
E mesmo que ainda não esteja,
Quando ela chegar,
Assegura-te que estás preparado para melhorar
 
Está na altura!

Sentido da vida

 
Todos já chorámos a perda de alguém que tanto amávamos, mas sabíamos que essa pessoa só morreria quando a esquecêssemos.
Todos já lutámos por algo que queríamos, mas não precisávamos.
Todos já sentimos a solidão bem de perto, mesmo rodeados de gente.
Todos já fomos desiludidos sem querer, mas também fizemos sofrer, desiludindo.
Todos já fomos bons e maus, lutadores e cobardes, felizes e infelizes, mas acima de tudo perguntadores, curiosos.

Porém, há uma pergunta que nem todos nos fizemos ainda: qual o verdadeiro sentido da vida?

Quem nunca pensou nisto, talvez ache que não existe um. Mas aqueles que o fizeram – grande parte deles – não sabem responder. O mistério permanece impossível de resolver, portanto. Eu, porém, respondo com mais uma pergunta:

Quantas vezes só descobrimos a verdadeira lição que uma história nos quer ensinar quando chegamos ao fim? A resposta é: nenhuma, praticamente. Tudo tem um princípio, um meio e um fim. Cada uma das fases tem o seu propósito, seja para nos ambientar no seu mundo, conhecer personagens novas ou desenvolver laços que nos marcam. O fim de uma história, em particular, tem um significado muito específico: fazer-nos pensar no que já aconteceu e aprender com isso.

E assim é a nossa vida, uma história vivida por nós em que só vamos aprender o seu verdadeiro significado já perto do final. Um dia, muitos de nós vamos olhar para trás e sentir que não fizemos nada do que desejávamos; escrevemos mal a nossa própria história. Nessa altura sentiremos o mundo a abater-se sobre nós, a culpa que nasce, a lágrima que cai e a raiva que desperta.

Outros, pelo contrário, morrerão orgulhosos por terem tido uma vida cheia de significado e expressão na qual realizaram os seus sonhos, fizeram pessoas felizes e, no geral, também o foram. Em cada uma das fases aprenderam aquilo que deviam, e agora não sabem tudo, mas sabem mais. Esses, sim, aprenderam o verdadeiro sentido da vida:
Vivê-la desde o inicio para sentirmos orgulho no fim.
E é assim, com o fim deste texto, aprendemos a lição que pode, facilmente, mudar a forma como vemos as coisas.

Resta saber:

Qual dos dois tipos de pessoa seremos nós, no final?
 
Sentido da vida

Palavras Vãs

 
Ouves as palavras que a vida sussurra.
Palavras vãs, que a morte procura
Fugindo sem fim à solidão
Que sempre tens no teu coração

Observo de longe enquanto lutas
Por um lugar neste mundo de disputas
Onde amigos que antes eram verdadeiros
Te traíram, para serem os primeiros

Toco, sem saberes, teu pensamento
Que nesta vida se tornou tormento
Encontro lá dentro o desejo
E descubro que tudo o que queres
É um beijo.

Não um daqueles sem jeito
Mas um que te encha o peito
Te faça esquecer a tristeza presente
E viajar longe da tua mente

Mas ao abrires os olhos descobres
Que tudo não passa de uma ilusão
Que nunca beijos são tão nobres
Nem fazem feliz teu coração
 
Palavras Vãs

Há coisas que não se dizem...

 
Há coisas que não se dizem, sentem-se simplesmente.
Coisas que vão para lá daquilo
Que o olhar comum pode alcançar;
Coisas que não se tocam, mas nos tocam;
Que quando os ouvidos procuram,
Desistem, indignos de algo tão belo;
E se o olfacto tentar captá-las,
Esquece a sua verdadeira essência;
Mesmo quando o paladar almeja degustá-las,
Adormece na sua inocência;
Coisas que se revelam algo maior,
Algo que nenhum dos cinco pode sentir
Algo que é amor;
Não se pode exprimir.

Porque amor é sentido,
Na intensidade de um olhar invisível;
No silêncio de um sussurro inaudível;
É algo que podemos tocar, sendo intocável;
É um cheiro tão puro, que não se fareja;
E que um beijo ingénuo vai entregar
A um coração, numa enorme bandeja.

Falam de um sexto sentido:
Usar o coração para amar e sentir-se amado.
Muitos, já não o têm,
Mas todos nasceram com ele.
Se o perderam? Sem dúvida…
 
Há coisas que não se dizem...

Mundo ao contrário

 
Mundo ao contrário
 
Esta história aqui contada
Mostra a atitude de alguém perdido,
Achou que suas virtudes
No amor fariam sentido.
Ela estava desesperada
Por ver seu amor deitado
Naquela cama, no nada!
Estava em coma, estava acabado…

Mas, do inicio:

Quando um dia a conheceu
Elogiou seu valor crescente
Foi então que entendeu:
Seu defeito era inocente!

Foi numa manhã de felicidade
Que percebeu que a amava
Pois tão grande bondade…
Seu coração não aguentava!

Numa tarde amena
A calma dela, persistente
Assistiu, serena
À tristeza na sua mente.
Tudo fez para o ajudar
Pois era uma calma tão pura
Que acabava por acalmar
E lhe mostrava a sua cura.

Era sorte tê-la encontrado
Viviam felizes, como desejavam
Mas o destino tinha reservado
Uma tristeza que nem sonhavam.

Então, a tragédia aconteceu:
Um acidente violento os separou.
“Lamento tanto não ter sido eu
Quem nesse coma acabou!”

“E hoje, a cada momento
Choro por ti, és o que me resta
Quero mostrar meu sentimento
Pois sem ti a vida não presta.”

”De todos os elogios que me fizeste
Houve um defeito que sobrou:
É verdade, odeio pedir desculpa
Foi nisso que tudo falhou…
Mas em nome do que ainda sinto
Vou ultrapassar a dificuldade
Acredita, amor, não minto
Quando digo que tenho saudade.”

Pegou-lhe na mão e chorou desesperada
Pediu desculpa por estar tão acabada.
E num momento de tanta dor
Acordou, de repente, seu amor.

“Acordei pois senti tua força
De lutar contra ti, feroz.
Aceitaste o teu defeito por mim
E isso fortaleceu-nos a nós.”

“O facto de nunca te desculpares
Torna tudo mais especial
Pois quando realmente o fazes
É sincero, e é real.”

Nessa altura, ela percebeu:

Por vezes, não contam virtudes
Pois até essas podem enganar
Contam apenas atitudes
E a força que temos p’ra amar.
Porque o nosso maior defeito, afinal
Também pode ser uma virtude
Aos olhos de alguém especial.

Defeito é palavra injusta.
Pode ser usado com o coração.
Pois mesmo que seja um defeito,
Vai ser visto como uma paixão.
 
Mundo ao contrário

Força do Destino

 
Gritos exasperados ecoavam por montanhas e amontoados sem que ninguém os pudesse ouvir. Provinham de uma discussão tão antiga que até já o próprio Tempo se esquecera de quando tinha começado. Era a eterna luta entre a Força e o Destino que já nem a Razão acompanhava. Mesmo a Paciência já desistira de esperar que a Compreensão lhe dissesse o porquê de tanto alarido, que não levava a lado algum.
- Já disse muitas vezes e volto a dizer: Eu, Destino, não preciso de ti, Força, para acontecer! O que está escrito, escrito está! – Exclamou mostrando uma das suas muitas caras; por vezes conseguia ser muito falso e inconstante.
A Força – também reconhecida como Perseverança, Teimosia ou Esperança – estava indignada com aquilo, mas não ia desistir:
- Pois claro que precisas! E enquanto as forças não me faltarem vou continuar a tentar provar-te que estás errado!
- Errado? Eu sou o Destino! Sei tudo o que vai acontecer! – Gabou-se ele com arrogância. Era certo e sabido que este e a Justiça frequentemente se envolvidos em confrontos pela falta de equidade nalguns dos seus actos.
- Mas também te podes enganar! – Teimou a Força.
A Preguiça, sonolenta, deitada num sofá, fez sinal à Manipulação e proferiu bocejando:
- Vá, faz qualquer coisa que tenho sono e já não os posso ouvir. – Até nas palavras poupava. Geralmente eram pequenas e poucas.
A Manipulação pensou por alguns minutos e depois disse:
- Já sei! Tenho um plano...
Dessa forma a Força aproximou-se e as duas cochicharam durante horas a fio para conseguir enganar o Destino.
- Vou-te provar que estás errado! – Exclamou a Força, toda sorridente, quando voltou com passos energéticos.
- Então fá-lo! Não te esqueças, eu sou o Destino e já sei onde isto vai acabar! Não há nada que me surpreenda, excepto a brincadeira que a Surpresa me preparou no outro dia.
A Força pediu, de imediato, ao Destino que a seguisse.
Caminharam os dois por vales e montanhas, desbravaram florestas, seguiram trilhos marcados e atravessaram desertos. Por fim, a Força apontou para a frente e disse, entusiasmada:
- Aqui está a prova!
- Uma cidade? Estás a dizer que a prova de que é preciso força para cumprir o destino é a raça Humana? – Riu-se ele. – Não sabes como são fracos?
- É aí que tu te enganas. - Contrapôs a Força com um brilho nos olhos.
- Então vamos fazer um jogo…
Aproximaram-se de uma escola primária à procura de crianças. A Força sabia que a batalha estava ganha; era nos mais novos que repousava maior esperança.
Durante dias a fio observaram o comportamento de algumas crianças. Todas pareciam diferentes entre si, mas o Destino nunca estava satisfeito. Resmungava para consigo que tinha de ser o miúdo perfeito.
Certo dia, ele encontrou o que procurava. Aproximou-se de uma criança e revelou-se, dizendo:
- Olá rapaz. Eu sou o Destino.
A criança olhou-o com indiferença.
- E eu sou o Pai Natal. – Respondeu com desprezo.
A Força limitou-se a ficar no silêncio. Tinham observado a maneira como aquela criança estava na vida. Era mimada e estava habituada a que nada lhe faltasse. Roupa de marca, facilmente influenciada por modas, tinha uma atitude arrogante para com os outros miúdos… O seu ar emproado combinava com o olhar de desdém que deitava ao Destino, como se o desse por garantido. Estranho era que ele parecia ser o mais respeitado ali dentro e todos os outros queriam ser como ele, apesar da sua crueldade.
- Ai sim? Então quero fazer um jogo contigo, Pai Natal. – Continuou o Destino ignorando o facto de que a criança lhe tinha voltado as costas. – Tens um destino terrível, mas ofereço-te a oportunidade de o mudar, se responderes correcto a um enigma.
Isto interessou à criança. Ficou subitamente atenta, certamente esperando causar impressão no Destino. Tão novo e já tinha aprendido a ser presumido.
- E qual é o enigma? – Inquiriu.

Mesmo que não queiras, tu tem-las.
Elas mostram-te o que está acabado
Mesmo que não queiras saber
Observa bem, pois está aqui dado.
Responde certo e tens mais uma,
Ignora e também a terás.
Ainda que tudo fique para trás
Sempre contigo esta levarás.

- Isso é mesmo estúpido! – Exclamou a criança, enfatuada. Apesar de tudo, ambos sabiam que o menino ia conseguir. Uma das razões pela qual tinha sido escolhido era a sua inteligência grandiosa.
Após cerca de cinco minutos a reclamar e a queixar-se do enigma feito pelo Destino, a criança olhou para a Força com desdém e disse:
- Ei, vê lá se me ajudas! Afinal serves para quê?
No entanto a criança não estava a usá-la, apenas tentava assustá-la como fazia com os meninos da sua idade pois não a encarava como um valor.
Mais cinco minutos volvidos, o rapaz ainda continuava a queixar-se. O tempo passou e o Destino começou a perder a paciência para com aquele miúdo mimado. Incrível como continuava a ignorar a Força. Por fim, lá deu a resposta:
- Que enigma mais estúpido. Tem aí a resposta! Memórias.
- Muito bem, está certo. E agora, o que queres para o teu futuro? – Perguntou o Destino batendo o pé, triunfal.
Ouviram os pedidos do rapaz – brinquedos, principalmente – e foram embora.
- Vês? Eu disse-te! Esta é a prova que não é preciso força para se cumprir o destino. Lamento, mas perdeste minha cara amiga.
Mas a Força não se deixou enganar; o plano estava a correr exactamente como combinado com a sua grande amiga Manipulação.
- Isto ainda não acabou. – Asseverou.
Desta vez foi ela quem procurou por um menino. Demorou mais do que pensava. Precisava de um miúdo que fosse exactamente o oposto do anterior. Encontrou-o sentado a um canto, a desenhar. Roupas humildes, atitude discreta e simpático para com aqueles que o rodeavam. Não se achava superior a ninguém, adorava poder ajudar quem lhe pedisse mas, surpreendentemente, os outros miúdos pareciam não gostar tanto dele – ou pelo menos não o respeitavam da mesma maneira. Mas ele não se importava. A única semelhança que tinha com o primeiro era a extraordinária inteligência.
- Agora faz o mesmo com esta criança. – Pediu a Força.
O Destino aproximou-se dela, relutante e sem entender o porquê daquilo.
- Olá rapaz, eu sou o Destino.
- Olá Destino, eu sou o João – Apresentou-se num tom harmonioso, desenhando uma vénia educada.
- Quero fazer um jogo contigo. O teu futuro é negro. Se acertares neste enigma podes mudá-lo e escolher aquilo que queres.
- Certo. Então e qual é o enigma?
Mais uma vez o Destino recitou a charada e ficou à espera que o rapaz começasse a resmungar. No entanto, a atitude deste foi muito diferente. Em vez de praguejar ele aceitou de bom grado o desafio e, por fim, olhou em volta.
- Olá Força! – Disse estendendo a mão e agarrando na dela. Não demoraram mais que três minutos para resolver o enigma do Destino.
Surpreendido, este disse:
- Muito bem, conseguiste resolver o enigma. Agora escolhe o teu futuro.
O rapaz apenas fez três pedidos:
- Uma família, felicidade e amigos verdadeiros.
O Destino acenou com a cabeça e desapareceu com a Força.
- Notaste a diferença? – Perguntou ela. – Ele reconheceu-me logo e usou-me para descobrir o enigma.
- Mesmo assim eu ganho.
- Mas… porquê? – Insurgiu-se a Força, furiosa.
- Porque o futuro deles é igual. Eu menti, não vou alterar nada. Ambos estão destinados a acabar na miséria e sozinhos. E tudo isto prova que eu não preciso de ti, claro. – Concluiu, de narizinho no ar.
Com um sorriso de orelha a orelha, a Força mostrou-lhe o futuro das crianças.
A primeira sempre fora rica. Ao longo da vida tivera amigos – ainda que por interesse –, uma família que o transformou num menino mimado e com dinheiro, muito dinheiro. Até um dia em que o Destino lhe esticou o pé. Foi nesta altura que ele não reconheceu a Força nem a usou para se levantar. Acabou os seus dias infeliz e sozinho, tal como previsto.
Já João foi diferente. Sempre vivera sem nada. Fora criado pelos avós, vivia na pobreza e nunca tinha sequer recebido presentes no Natal. No entanto, mantinha viva a esperança de que um dia tudo iria mudar. E mudou. Quando o Destino lhe pregou uma rasteira, João não se contentou em perder o que mais amava e usou a Força de novo para conseguir ultrapassar tudo. Acabou a sua vida feliz e com a família que sempre sonhou à sua volta. Ao seu funeral foram dezenas de amigos verdadeiros que sempre o tinham estimado muito.
O Destino estava de boca aberta.
- A diferença está na educação. Quando temos tudo é muito fácil ter mais alguma coisa sem fazer nada. Por isso é que o primeiro rapaz não me reconheceu. – Explicou a Força. – Já quando não temos nada é difícil fazer alguma coisa para ter tudo. Mas o João não desistiu e conseguiu porque sempre foi educado a lutar pelo que queria. A culpa disto é dos pais, que sempre mimaram muito o primeiro miúdo; ele não ficou preparado para a vida. O João ficou tão bem preparado que conseguiu até mudar o seu próprio destino.
- Então… eu não tenho razão? – Apercebeu-se o Destino, acometido.
E foi assim que o Destino aprendeu uma lição: é muito fácil deixarmos que o futuro chegue até nós. Difícil é utilizar a Força para o moldar. E é de acordo com isto que devemos educar as nossas crianças.

“ Se o Destino estivesse escrito, a Esperança não tinha sido inventada…”
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Força do Destino