Amor Silvestre...
É de olhos fechados que estendo a mão e te procuro na quieta madrugada dos meus sonhos.
A sós vagueio sobre os cheiros unicos da noite, entre cortinas de estrelas, paisagens de luas e encantos que passam por mim nas asas das mariposas. É com os sentidos despidos e a essência descalça, que me dou a ti em janelas abertas de paixão.
No fundo de mim, encontro vestigios de ti como tatuagens de mil cores que acendem o misterioso indigo do céu ainda escurecido. Caminho entre o mistério de clareiras de Amor e florestas secretas de emoções raras. É no sabor da tua boca que bebo a pureza das águas dos rios que correm nas linhas das tuas mãos.
Do brilho dos teus olhos, colho cumplicidades silvestres que tombam maduras como abraços teus, na vereda que me leva ao pomar do fruto proibido.
É na maciez da erva orvalhada que procuro a tranquilidade refrescante do silêncio nocturno, que a tua pele me dá,quando toca e beija a minha!
Amanhece o sentir profundo que me dás, estendo a minha mão e não encontro o calor da tua...
Serena como a aurora que acaricia a despedida da noite, ofereço um sorriso á saudade...sei que os sonhos são assim, quando abrimos os olhos...já lá não estão!
Misteriosa
Lá vai ela,
Prostituta do tempo,
Vende-se ao segundo que passa
Caminha, sozinha e descompassada
Um passo á frente do horário previsto
A eternidade, leva-a nos olhos,
Esquecida do Amor que deixa lá atrás
Nos pés, calça o enigma do imprevisto
E nos cabelos leva o perfume da flor do acaso
Sai á rua mascarada de boas intensões
Tenta quem a olha e cativa quem a quer agarrar
Quando sente que o desejo a persegue
Perde-se entre um segundo e o outro
Foge do tempo, e o tempo foge dela
Apressa o instante das horas tardias
Falta ao compromisso marcado
Atrasa-se nos quartos da espera...
Com o desconhecido do momento
Sedutora, passeia-se nua
Percorre a calçada do costume...
Na rua,
Todos sabem o seu nome...
Chama-se Vida...
Lês-me...
Alva folha de papel que sou, na fragilidade efémera de uma carta, que o tempo escreve, deixo a pena acariciar-me, abrir estradas de sentimentos, que não te escondo, mesmo quando, no teu silêncio, oiço a tua voz e relembro momentos.
Fecho-me em mim e remeto-me a ti, num envelope de seda, de mim perfumado, onde solto palavras de sonhos, magias inventadas noutros tempos, quando os contos de fadas te encantavam. Sinto-te sorrindo, quando as tuas mãos me tocam, me abrem de mansinho, e me lês, quando os teus olhos de anjo param no tempo e me olham para além do que eu consigo ver, sinto-te voar comigo no céu do nosso mundo, na leveza dos sentidos que tentas esconder e decifrar, ao mesmo tempo que me apertas junto ao peito e me guardas juntinho a ti.
Surreal...
emoções amordaçadas
desejos que choram
(oiço)
lágrimas azul mar
sal da onda que perfuma
(fico)
paisagem de silêncio
chuvisco quente por dentro
(deixo)
olhos afogados
céu de rosto à deriva
(suspiro)
Nada
Em nada existo
Nas manhãs descalças...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Desperto entre dois breves pestanejares diferentes
Espreguiço o lado nocturno
e deixo entre lençois a luz do dia
Não é a linha infinita do horizonte
que impede o despertar completo,
É o nevoeiro turvo que me rouba o chão
onde quero pôr os pés
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Esfrego os olhos entreabertos mas ainda durmo
Bocejo a rotina estremunhada
e sinto o descompasso
Não é o meu corpo que ainda dorme,
nem a minha alma que ainda sonha
É uma face conhecida que se desconhece
na violência do acordar
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
Abro as cortinas dos planos e só quero o imprevisto
É no espelho que procuro apoio
para me encontrar com o mundo
Não sou eu!
Não sou o reflexo frio que recebo nem sou quem o olha
Vejo um ser estranho que finjo não conhecer
nestes amanheceres de chão frio
...
Nas manhãs descalças acordo pela metade
...e não me conheço!
Apresento-me cordialmente ao dia
e faço-me acompanhar da noite
Protejo-me da constância
para não perder a inconstância que ainda dorme
Não percebo se acordo, se durmo,
se vagueio sonâmbula em passeios virgens
...
Nestas manhãs descalças não saio do sonho
Fujo de mim pelo eco das ruas
Partiste...
De cabelos ao vento, vislumbro o mar revolto nas rochas morrendo, penso em ti.
És o mistério de um paraíso remoto, de memórias pintadas com a limpidez de céus azuis, que se reflectem neste chão virgem, abandonado aos meus pés, cansados de tanto te procurar.
Esqueci-me do que sou, e já não sei o que procuro, deambulo por aqui, perdida numa ilusão apenas minha. Respiro a energia do Sol, que alimenta o derradeiro caminho que as minhas mãos demandam, quando se entranham na areia fina, em busca de ti.
Nesta doce saudade com cheiro a maresia, os pensamentos são feitos de sal, temperam a melodia das ondas, que se desfazem nesta praia de tantas lembranças.
Aqui, não consigo deixar de te sentir, mesmo quando sei, que nada mais poderás ser, senão as pegadas de uma solitária gaivota, que a maré-alta já apagou há muito…
Ausência...
Saudade
É Amor que tenho em mim
Para te dar
Aguardando o aconchego
Dos teus braços
Em cada sonho
Que o tempo torna real
Em nós...
Sonho...
Deitei-me contigo num sonho feito de Luz, onde tu, eras a própria luz, abandonei-te antes de te ver chegar, esperei-te de beijos guardados e abraços encadeados quando sabia que não vinhas, não te quis olhar, não te dei a mão, mas recebi-te nos braços, fechei os olhos, mas não selei os lábios, beijei-te, abri a alma, e amei-te intensamente, perdi-me em ti, chorei a ausência de mim, e voltei a encontrar-me mais feliz ao teu lado, quando um dia pisámos o mesmo jardim, quando me deste a mão e eu não tive medo, quando abri os olhos e descobri que é teu, o olhar com que sempre te sonho, quando me deito e, faço amor contigo, nos meus sonhos acordados…
Pura Magia...
Enfeitiçados pelas saudades, corremos um para o outro, o céu abraça a terra e a linha do horizonte dissipa-se, estremecemos quando o nosso olhar se toca, e revivemos as sensações já perdidas nas brisas campestres, mas guardadas na alma.
O brilho de prata e ouro, que nos demos um dia, intensificou-se com a distância, nas nossas mãos entrelaçadas, sentimos fluir uma sintonia cósmica que não se explica, contemplamo-nos sorrindo e fechamos os olhos enquanto nos amamos assim, sem nos tocarmos, saciando a fome do corpo, apenas com o calor que emana da nossa pele.
Os lábios, entreabertos, sedentos, esperam-se, tremem, desejam-se, e entregam-se ao tão esperado toque mágico, a tal carícia doce e perfumada, que nos abre as portas do Paraíso, o beijo nosso, que tanto desejámos na imensidade dos dias que o calendário não marcou, porque para nós, o tempo não existe, temos e teremos sempre a eternidade a nosso favor…
Crónica de um verbo por conjugar
Invade-me uma cegueira, um olhar para dentro, insano, demente, avesso a mim mesma. É nevoeiro pacifico por fora, massacre interior que esconde tempestades de implacáveis agulhas afiadas.
Refugio-me entre a dor e o prazer que se adentra na pele. Intensidade de sentir, de chorar, de viver na fronteira de tudo o resto. Incompletos tempos perdidos, misto de madrugadas infindáveis em dias que morreram antes de vividos. Intermitente mistura de manhãs de sol com longas noites de insónia apertada. São vendavais de sensações que me fustigam a doçura da alma. Curam-me, adoecem-me. Adoecem-me e curam-me. Não será incerteza o nome deste frio que me chega aos ossos. Não será contentamento o sorriso que escondo no lado de dentro dos lábios. A dúvida não me veste, nem sequer é o apelido que assino.
Serei eu mesma, sem véus, toda a metáfora criada por detrás da paisagem de mil cores que sou, ora em pinceladas ténues e delicadas, ora em pinceladas firmes e dolorosas de outras tantas mil cores por inventar...
Pinto-me quente, ardente pôr do Sol de Agosto e sinto-me furacão sem tocar o horizonte. Pinto-me fria, fresca água translúcida, sinto-me fogo espesso, envolvente e avassalador. Pinto-me eu e sou apenas eu... um pouco mais do que me pinto, um pouco menos do que me vejo...
Não é incerteza, esta fina fronteira de emoções que derrubo num simples suspiro!
Ah...!! Atrevia-me a chamar-lhe medo se coragem fosse o meu nome, mas não é...!
Desconheço-me no encontro. Desencontro-me no que conheço. Emano trovoada, chuva torrencial de pensamentos por apagar. Desenrolo-me e enleio-me em mim mesma, leio-me novelo de alma com tantos começos e tantos fins como goticulas minusculas e acutilantes tem o nevoeiro pacífico onde enganosamente me refugio... As impiedosas e certeiras agulhas são as minhas contradições mais-que-perfeitas conjugadas no gerúndio caos que me faz ser mais eu, cada vez mais longe, cada vez mais perto de uma meta sem hora marcada para chegar.
E como doem as picadas no trespassar da máscara...!
Como doem...!