cegou-me o sol
o sol pousou-me na boca e trouxe-me palavras
grávidas de saudade,
os pássaros cantam em mim ao desafio,
e o rio corre no tempo há uma eternidade
as águas levam-me os pensamentos nas dobras do vento...
a manhã abriu, e as cigarras exercitam-se em pulos
nas sardinheiras,
soltando a voz em cantorias
querendo ser as primeiras
a lembrar-nos a liberdade dos dias.
sem medo de quebrar,
corro rumo à esperança
sinto no corpo e na alma o querer
ser sempre criança,
e com meus olhos o céu abarcar
retirar deles o nevoeiro,
e no braseiro dos meus sonhos
continuar a sonhar.
assim se foi a viagem,
hoje estou em repouso
com as memórias na mão,
então, escolho a solidão, e ouso
balouçar-me nas nuvens até de madrugada
caio na noite e esqueço a pele enrugada.
cegou-me o sol, a flor em mim secou
soprou-me o vento chegou Dezembro
dói-me olhar a lua cheia e no pensamento?!
já de nada me lembro!
natalia nuno
ainda é meu tempo de viver...
parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo, e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.
natalianuno
longo caminho
esta minha vida inteira
é agora um céu de sóis furtivos
sem constelações alegres
nem sonhos vivos.
trago os sentidos sobressaltados
numa inquietude que me arrasta
para uma obscura solidão,
turva a minha visão
e leva-me p'la mão.
faz-se sentir o peso dos dias
não é fácil deter o tempo fugitivo
nem o desassossego que ferve
em meu coração,
e assim vivo
com labareda que me cega
e o esquecimento já me pega.
já não sei, se é o tempo que me ensombra
ou a mente que não quer recordar,
ou os anos sombrios que descendem
sobre a minha orfandade
em momentos de saudade.
natalia nuno
Sou Poeta sim porque não?
SOU POETA SIM PORQUE NÃO?
Levanto um muro e fico só?
Tanto que poderia dizer-te!
Mas de mim não tenhas dó,
Que hei-de sempre querer-te.
Hora a hora Deus melhora
E o dia hoje me é vantajoso
Em meus versos digo na hora
Bate meu coração!Bate corajoso.
A Vida é este palco
Onde sou o que quiser
Mas nada nem ninguém acalco
Na estrada que percorrer.
Se sou isto e sou aquilo?!
Não sou eu imitação!
Meu caminho, vou segui-lo!
Atrás do muro não fico não.
Sou testemunha, vejo tudo!?
Estou no palco, faço feitiço
Finjo ser cego e mudo
Censura, não me importo com isso.
Tenho registo de memória
Sou Poeta e até fogosa
Conto p'ra todos a minha história
Sou *Poeta e também rosa.
rosafogo
Afinal cheguei à conclusão que sou mesmo Poeta.
Me desculpe quem assim não achar.
Poeta nas nuvens
POETA NAS NUVENS
O poeta é uma espécie de doido varrido
Vive e morre cantando dores sem cura
É como um mendigo esquecido,
Feliz, eleva a sua musa às alturas.
Canta a tragédia, vive suspirando
Às vezes não cala a sua indignação
Dia após dia se resignando
Repetidamente se apodera dele a emoção.
Chora e soluça, também sonha, sonha...
O Poeta é um sonhador sem vergonha!
Delicia-se a sonhar, carícias e doçuras
Às vezes sente-se ave acorrentada
Outras solta-se nas alturas,
Ou fica errante p'la estrada
É veloz, tem asas de condor
Tudo ama, tudo o cega, vive de amor.
O Poeta cria seu Mundo à parte
Não se conforma em perder
Com muito engenho e arte!?
Escreve de manhã ou ao anoitecer.
De voz clara fala de outrora
Da distancia infinda, lembranças!?
Fala da flor que murcha agora.
Fala da velhice e da mocidade
Fala dos sonhos, das esperanças
E porque sofre fala também da saudade.
Murmura suas preces sem pausas
Na esperança de respostas receber
Suspira amargurado, indiferente às causas
De tudo julgar ter... e nada ter.
Canta seu Deus, e a Natureza
É fanático p'la liberdade
Mas no seu coração vive a certeza!?
De que um dia morrerá de saudade.
Tem sempre saudades dum bem
Seu coração é de criança sem maldade,
Mas só desse bem lhe vem,
A Poesia com vontade!
Desfia seu rosário em ritmo lento
Finge que a linguagem não é sua
Retém lágrimas ou sorri a cada momento
Imerge da tristeza, e também amua.
Não pára de saciar sua sede ardente
Como um rouxinol, cantando, cantando...
Nas alturas celestes se deixa voando.
Ora se sente ninguém, ora se sente gente.
rosafogo
Poema surgido durante esta viagem, um pouco nas nuvens, mas fi-lo e dedico-o a todos os poetas,
que o venham ler.
Olá aos amigos de quem já tinha saudades.
Um abraço a todos, estou de volta.
Nas àguas me vou deixando
NAS ÁGUAS ME VOU DEIXANDO
As águas correm a um rítmo lento
Em meu rosto regatos, lugares, momentos.
Nelas vivi meus dias ontem e hoje
Lembro e estremeço, já a vida foge.
À volta deste rio tudo flui
Lembrando o que hoje sou e o que ontem fui.
E na paisagem secular?!
Profundo o tempo, tempo singular.
Desço a encosta e agora me sento
Neste fluir, já tanto me esqueço
Meus esquecimentos, águas frias, onde arrefeço.
Correm no meu rosto águas profundas, rugas...
Onde o tempo se inscreve e está presente
E nada consente, daqui já não há fugas!
É isto que o meu coração sente.
Quem se atreve a duvidar do que sinto?
Das coisas tristes, sentidas, afectuosas que digo?
Só mesmo o tempo, mesmo sabendo que não minto.
O silêncio é a medida do tempo vivido
Nesta paisagem à volta do meu rio,
Tudo é melancólico e o tempo recolhido.
E eu já renuncio!
Surgem gotas de esquecimento,
Esqueço até de lembrar,e é tal o emaranhamento,
Que fico sem palavras e o futuro sem sentido.
Perdido lá adiante onde a luz é incolor
Já não domino, vou e afogo-me na dor.
Como confiar na corrente?
Onde havia água transparente?!
Agora me tolho de medo fico sem liberdade.
Me nega até a dignidade.
De súbito, um desejo em mim de acalmia...
Quem sabe?! Amanhã seja outro dia.
rosafogo
Hoje tive uma surpresa que me pôs a chorar de alegria, uma amiga poetiza e boa declamadora, me enviou uns poemas meus, por ela declamados. Já os
coloquei aqui em vídeo no perfil os amigos podem ouvir, eu acho que estão uma maravilha.
nau que no mar se agita
os poemas passam neste mar da vida
como naus perdidas na bruma
tal como a minha vida que se consumiu
e em meus olhos adormecidos, coisa alguma,
agora que o tempo sepulta tudo o que me iludiu
hóspede de mim mesmo é a nostalgia
reclamam de mim os sonhos que não levei
avante
e a tristeza de tê-los abandonado, um dia
já distante.
o papel vazio toca o meu coração
nele vislumbro um milagre incerto
os pássaros pressentem esta minha solidão
e vão-me cantando hinos d' amor, por perto
contam-me minhas vitórias de criança
em sonhos de luz e fragrância,
choram agora os orvalhos nos trevos
- que deixei à distância.
natalia nuno
rosafogo
NEGO QUE TE AMO
Nego que te amo obstinadamente
Nego que te quero à boca cheia
No meu olhar o amor é transparente
E meu coração ao teu se enredeia.
Como é ingrato envelhecer!
Ver-me nos teus olhos e sentir
Que sou água que corre por correr
Não aquele rio de verdade
Que se perdeu no tempo e é saudade.
Nego que te amo arrebatadamente
E o tempo já não sorri pra mim
Trago sede do amor de antigamente
Que enchia os corações de odor a jasmim.
Agarro-me à lembrança do teu rosto
E meu coração ainda vibra e clama
Para mim o amor é ainda uva em mosto
Há fogo nas entranhas de quem te ama.
E a vida é chuva derramada no olhar
É noite em mim, apagada a esperança
Já os sonhos partem do cais, deixei de sonhar!
Sonhos são apenas minhas relíquias de criança.
Cantam nas minhas mãos melros em liberdade
Encandeio-me no sol que me queima
Meu pensamento fica inacabado
Só a saudade,
teima,
Neste amor engendrado
Nos teus braços,
ficou tudo o que sonhei
Ainda sigo teus passos
Deste amor não me libertei.
Vou lembrando-te, entre os aromas da tarde
E de pés descalços corro na saudade.
rosafogo
natalia nuno
Para quem escrevo?
Olho-me ao espelho e
a interrogação fica na boca
porquê esta pressa louca?
Há sempre uma hora a morrer
um dia a desaparecer
e eu aqui entre os outros
julgando-me forte
olho as minhas pegadas sobre a terra
caminho, sonho
e esqueço a morte.
E escrevo para quê?
E para quem escrevo?
Certamente para quem lê!
E para quem não lê,
e todos são uma multidão.
Para ti, são as palavras
que sem quereres lê-las
te vão entrando no coração,
se não te forem indiferentes
terás a minha gratidão
gratidão dum
coração que não pára
como o mar,
pois há nele memória e solidão,
enquanto o poeta caído
continua a sonhar...
Escrevo a palavra quotidiana
e o que digo é pouco ou nada
falo do tempo e da saudade
nesta língua por mim amada.
natalia nuno
rosafogo
um poema atrás do outro
Reuni coragem
deixei de implorar, de chorar
não vou deixar de lutar
até ao fim
se a morte me aguardar
pois que aguarde...
Ter medo não faz mal
ter medo é tão natural,
o coração bate no peito
como pássaro preso numa gaiola
mas eu não peço esmola
hei-de morrer com dignidade
todos morremos mais cedo
ou mais tarde
essa é que é a verdade.
O entrechocar de ideias
me revigora
às vezes preciso duma oração
um poema atrás do outro
até chegar a hora.
Às vezes também me estremece a mão
quem sabe se este dia é o último?
Em remoinhos de vento
trago o pensamento
como uma tempestade
onde se precipita a saudade.
Seja até que Deus quiser
a vida é como o vento de nortada
com a força que me levará cansada
ofegante.
A morte... aproveitará o instante.
natalia nuno