Poemas, frases e mensagens de rosafogo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de rosafogo

dura lucidez

 
a manhã acende e o sol fulge na cal
branca das paredes, das casas
onde um dia houve vida,
há borboletas alegres abrindo asas,
e uma buganvília perdida.
as rosas vão desprendendo fragrância
por toda a aldeia,
lembro a dourada suavidade da infância,
a tarde morna, a hora da ceia
a vida é um instante
as memórias não morrem
só o tempo ficou distante!
a gota de água que floresceu e caiu
no ramo mais firme da roseira,
era lágrima furtiva, que ninguém viu
a dureza da alma, o final do estio,
chegando à minha beira.

apaga-se o ocaso
e a sombra ameaça
desvanece meu coração atormentado
a recordação me abraça
por perto o canto puro do rouxinol
e o sol, que fulgia nas paredes
brancas de cal
lembram a rapariga airosa, a tal
que hoje envelhece, desde então não vive
e no olhar já nada transparece.

natalia nuno
 
dura lucidez

estranho cansaço

 
fico imóvel como o silêncio
hoje não dou nem mais um passo
como ave na gaiola presa
meu corpo me soa suave
sou parte do tempo,
trago certeza
que ouço o silvo da morte
encurtando minha passagem,
fico sem norte
ainda assim, ascendo da realidade
ao sonho
e fico-me a recordar com saudade
o amor vivo,
a juventude dourada
e a felicidade da jornada

harmonizo palavras para a vida
vou acalmando a desenfreada perda
que me deixa caída.

natalia nuno
rosafogo
 
estranho cansaço

ecos vazios

 
vagueia a memória numa rajada de vento
até ao último suspiro, até ao esquecimento,
restam as palavras que invento.
foi a vida ora tranquila
ora triste e incerta
rotineira, e ainda assim tão fugaz
como vento que me desperta
me atira para parte incerta
de onde fugir, não sou capaz.

final tortuoso, onde deixei de ser
para apenas parecer.
e o vento murmura para si
«lamento mas esta estrada abrupta é para ti»
ecos vazios ao relento
e cá dentro, um perfume de ansiedade
e a bater, um coração de saudade.

nnuno
 
ecos vazios

Acordou em mim lembranças

 
Acordou em mim lembranças
 
ACORDOU EM MIM LEMBRANÇAS

O dia hoje recolheu cedo
Ficou em poucas horas encolhido
Pardacento, apareceu a medo
Lentamente se foi sem se fazer ouvido.
Acordou em mim lembranças
Nas dobras do meu coração escondidas
Meu momento ficou prenhe de esperanças
Fugi de mim, fiquei-me nas horas perdida.

Minha memória o dia desafiou
Levou-me até à minha aldeia amada
Nos fins de tardes invernosas, me deixou
Ao pé de minha mãe fazendo marmelada.
Meu mundo era ali, não precisava de mais nada
Ali se rezava o terço, se teciam conversas sigilosas.
E o Mundo desconhecido, lá fora
Bem longe dali, distante
E sem querer saber da hora!?
Saltei a lareira num instante.

Aninhei-me de mansinho no meu canto
Espevitei o lume que ainda ardia p'ra meu espanto.
Depois, depois tive direito à minha tijela
De café com broa de milho esfarelada
E açucar mexido com colher singela
Ouvi o ranger das telhas, era a trovoada.
A luz da vela tremia
P'la chaminé entrou o vento
Mas ouvi a mesma melodia
Ainda a ouço agora, neste momento.

Acabou o dia, hoje recolheu cedo
Cinzento chorando, sentindo como eu o medo
Amanhã voltará, talvez com mais alegria
E eu lhe contarei a história da minha alma vazia.

rosafogo
 
Acordou em mim lembranças

Procuro o significado

 
PROCURO O SIGNIFICADO

Para o passar das horas
procuro o significado
Palavras me vêem à mente
Trazendo-me sempre o mesmo recado.
Há ainda um Amor orvalhado
E uma saudade premente
Sei porque choro,
Só não sei porque me entrego
No frio dos meus dias
Nas minhas manhãs sombrias.

Ficam as palavras, que não me deixam só
São minha realidade, meu Universo
São o sabor da Vida,também a poeira o pó
Que deposito no fazer de cada verso.

Pó para onde meu corpo escorrega
Já me deixo ir,de mim faço entrega.
É esta a minha realidade.
No passar das horas, este tempo me pega
Me leva p'ra onde não há regresso
Só a saudade!
Então estrelas serão minha companhia.
A ti Vida já nada te peço
Já tão pouco te pedia?!

rosafogo
 
Procuro o significado

Baloicei a cadeira .Adormeci!

 
Baloicei a cadeira .Adormeci!
 
BALOICEI A CADEIRA. ADORMECI!

Não há caminho de volta
Uma hora mais e o Sol se vai
Ao longe a lua e a minha alma se solta.
Na monotonia, já cai.
Meus pensamentos fazem a travessia
A noite vem e cai o dia.
Foi como um pássaro que voando,
este dia, que a noite traz?!
Assim me fosse deixando,
Sem descanso, de relance, fugaz.

E assim a vida é como fio de cascata
Hesitante, ora de ouro, ora de prata!
Vou-me deixando embalar...
Hoje? Meu pranto não foi além dum soluço
Com sabor a passado, fiquei a recordar.
Em mais um sonho me debruço.
Fechei os olhos, baloiçei a cadeira
Bamboleei o pensamento devagarinho, devagar.
Até que chegou o momento em que à lareira
Ao colo de minha Avó,o frio chegou a passar
Chega o eco da sua voz aos meus ouvidos
Ainda sinto o calor dos seus braços
Ritual adormecido nos meus sentidos,
Retido na escuridão do meu espaço.

Enquanto meu coração bater
Esta lembrança, vou reter!
Este caminho está sem volta!?
Minha alma já se solta.
A meninice ficou para trás.
Hoje? Passou o dia,
por cima do meu ombro, fugaz!
Me encolhi...
Baloicei a cadeira, adormeci.

rosafogo
 
Baloicei a cadeira .Adormeci!

agora que o sol se pôs

 
o tempo sequestra suas asas e algema o sorriso, os sonhos fazem-se nela silêncio, e a saudade faz-se grito...despe-se de Maio, veste-se de Outono, e os olhos secam...aos ombros carrega a tristeza, e na poesia fala de esperança que ainda lhe resta feita de retalhos...alimenta no peito gaivotas, lembranças que vão e voltam trazendo saudade de si, assim, nesta amarga condição vê chegar o frio à vida e o vazio à mente e ao coração... o corpo de garça abriu e fechou em flor, traz recordações presas às raízes da memória em conflito com o presente, e a idade sabe de cor, embora Janeiro faz por esquecer o ano inteiro, da sua boca rebentam palavras de cor outonal, navega em dois rios, num deixa-se levar pela trama do tempo, e no outro pega nos remos e rema contra a maré com fé, enquanto o coração estremece e, ainda que nada regresse volta sempre ao lugar do sonho sem ousar despertar... cansada da viagem, perdida desse rasto de si, olha a imagem e como louca ri...

natalia nuno
 
agora que o sol se pôs

NEGO QUE TE AMO

 
NEGO QUE TE AMO
 
Nego que te amo obstinadamente
Nego que te quero à boca cheia
No meu olhar o amor é transparente
E meu coração ao teu se enredeia.
Como é ingrato envelhecer!
Ver-me nos teus olhos e sentir
Que sou água que corre por correr
Não aquele rio de verdade
Que se perdeu no tempo e é saudade.

Nego que te amo arrebatadamente
E o tempo já não sorri pra mim
Trago sede do amor de antigamente
Que enchia os corações de odor a jasmim.
Agarro-me à lembrança do teu rosto
E meu coração ainda vibra e clama
Para mim o amor é ainda uva em mosto
Há fogo nas entranhas de quem te ama.

E a vida é chuva derramada no olhar
É noite em mim, apagada a esperança
Já os sonhos partem do cais, deixei de sonhar!
Sonhos são apenas minhas relíquias de criança.
Cantam nas minhas mãos melros em liberdade
Encandeio-me no sol que me queima
Meu pensamento fica inacabado
Só a saudade,
teima,
Neste amor engendrado

Nos teus braços,
ficou tudo o que sonhei
Ainda sigo teus passos
Deste amor não me libertei.
Vou lembrando-te, entre os aromas da tarde
E de pés descalços corro na saudade.

rosafogo
natalia nuno
 
NEGO QUE TE AMO

Para quem escrevo?

 
Olho-me ao espelho e
a interrogação fica na boca
porquê esta pressa louca?
Há sempre uma hora a morrer
um dia a desaparecer
e eu aqui entre os outros
julgando-me forte
olho as minhas pegadas sobre a terra
caminho, sonho
e esqueço a morte.

E escrevo para quê?
E para quem escrevo?
Certamente para quem lê!
E para quem não lê,
e todos são uma multidão.

Para ti, são as palavras
que sem quereres lê-las
te vão entrando no coração,
se não te forem indiferentes
terás a minha gratidão
gratidão dum
coração que não pára
como o mar,
pois há nele memória e solidão,
enquanto o poeta caído
continua a sonhar...

Escrevo a palavra quotidiana
e o que digo é pouco ou nada
falo do tempo e da saudade
nesta língua por mim amada.

natalia nuno
rosafogo
 
Para quem escrevo?

um poema atrás do outro

 
Reuni coragem
deixei de implorar, de chorar
não vou deixar de lutar
até ao fim
se a morte me aguardar
pois que aguarde...
Ter medo não faz mal
ter medo é tão natural,
o coração bate no peito
como pássaro preso numa gaiola
mas eu não peço esmola
hei-de morrer com dignidade
todos morremos mais cedo
ou mais tarde
essa é que é a verdade.

O entrechocar de ideias
me revigora
às vezes preciso duma oração
um poema atrás do outro
até chegar a hora.

Às vezes também me estremece a mão
quem sabe se este dia é o último?
Em remoinhos de vento
trago o pensamento
como uma tempestade
onde se precipita a saudade.
Seja até que Deus quiser
a vida é como o vento de nortada
com a força que me levará cansada
ofegante.

A morte... aproveitará o instante.

natalia nuno
 
um poema atrás do outro

cegou-me o sol

 
o sol pousou-me na boca e trouxe-me palavras
grávidas de saudade,
os pássaros cantam em mim ao desafio,
e o rio corre no tempo há uma eternidade
as águas levam-me os pensamentos nas dobras do vento...
a manhã abriu, e as cigarras exercitam-se em pulos
nas sardinheiras,
soltando a voz em cantorias
querendo ser as primeiras
a lembrar-nos a liberdade dos dias.

sem medo de quebrar,
corro rumo à esperança
sinto no corpo e na alma o querer
ser sempre criança,
e com meus olhos o céu abarcar
retirar deles o nevoeiro,
e no braseiro dos meus sonhos
continuar a sonhar.
assim se foi a viagem,
hoje estou em repouso
com as memórias na mão,
então, escolho a solidão, e ouso
balouçar-me nas nuvens até de madrugada
caio na noite e esqueço a pele enrugada.
cegou-me o sol, a flor em mim secou
soprou-me o vento chegou Dezembro
dói-me olhar a lua cheia e no pensamento?!
já de nada me lembro!

natalia nuno
 
cegou-me o sol

ainda é meu tempo de viver...

 
parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo, e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.

natalianuno
 
ainda é meu tempo de viver...

longo caminho

 
esta minha vida inteira
é agora um céu de sóis furtivos
sem constelações alegres
nem sonhos vivos.
trago os sentidos sobressaltados
numa inquietude que me arrasta
para uma obscura solidão,
turva a minha visão
e leva-me p'la mão.
faz-se sentir o peso dos dias
não é fácil deter o tempo fugitivo
nem o desassossego que ferve
em meu coração,
e assim vivo
com labareda que me cega
e o esquecimento já me pega.

já não sei, se é o tempo que me ensombra
ou a mente que não quer recordar,
ou os anos sombrios que descendem
sobre a minha orfandade
em momentos de saudade.

natalia nuno
 
longo caminho

Sou Poeta sim porque não?

 
Sou Poeta sim porque não?
 
SOU POETA SIM PORQUE NÃO?

Levanto um muro e fico só?
Tanto que poderia dizer-te!
Mas de mim não tenhas dó,
Que hei-de sempre querer-te.

Hora a hora Deus melhora
E o dia hoje me é vantajoso
Em meus versos digo na hora
Bate meu coração!Bate corajoso.
A Vida é este palco
Onde sou o que quiser
Mas nada nem ninguém acalco
Na estrada que percorrer.

Se sou isto e sou aquilo?!
Não sou eu imitação!
Meu caminho, vou segui-lo!
Atrás do muro não fico não.
Sou testemunha, vejo tudo!?
Estou no palco, faço feitiço
Finjo ser cego e mudo
Censura, não me importo com isso.

Tenho registo de memória
Sou Poeta e até fogosa
Conto p'ra todos a minha história
Sou *Poeta e também rosa.

rosafogo

Afinal cheguei à conclusão que sou mesmo Poeta.
Me desculpe quem assim não achar.
 
Sou Poeta sim porque não?

Poeta nas nuvens

 
Poeta nas nuvens
 
POETA NAS NUVENS

O poeta é uma espécie de doido varrido
Vive e morre cantando dores sem cura
É como um mendigo esquecido,
Feliz, eleva a sua musa às alturas.
Canta a tragédia, vive suspirando
Às vezes não cala a sua indignação
Dia após dia se resignando
Repetidamente se apodera dele a emoção.

Chora e soluça, também sonha, sonha...
O Poeta é um sonhador sem vergonha!

Delicia-se a sonhar, carícias e doçuras
Às vezes sente-se ave acorrentada
Outras solta-se nas alturas,
Ou fica errante p'la estrada
É veloz, tem asas de condor
Tudo ama, tudo o cega, vive de amor.

O Poeta cria seu Mundo à parte
Não se conforma em perder
Com muito engenho e arte!?
Escreve de manhã ou ao anoitecer.
De voz clara fala de outrora
Da distancia infinda, lembranças!?
Fala da flor que murcha agora.
Fala da velhice e da mocidade
Fala dos sonhos, das esperanças
E porque sofre fala também da saudade.

Murmura suas preces sem pausas
Na esperança de respostas receber
Suspira amargurado, indiferente às causas
De tudo julgar ter... e nada ter.
Canta seu Deus, e a Natureza
É fanático p'la liberdade
Mas no seu coração vive a certeza!?
De que um dia morrerá de saudade.

Tem sempre saudades dum bem
Seu coração é de criança sem maldade,
Mas só desse bem lhe vem,
A Poesia com vontade!

Desfia seu rosário em ritmo lento
Finge que a linguagem não é sua
Retém lágrimas ou sorri a cada momento
Imerge da tristeza, e também amua.
Não pára de saciar sua sede ardente
Como um rouxinol, cantando, cantando...
Nas alturas celestes se deixa voando.
Ora se sente ninguém, ora se sente gente.

rosafogo

Poema surgido durante esta viagem, um pouco nas nuvens, mas fi-lo e dedico-o a todos os poetas,
que o venham ler.

Olá aos amigos de quem já tinha saudades.
Um abraço a todos, estou de volta.
 
Poeta nas nuvens

Nas àguas me vou deixando

 
NAS ÁGUAS ME VOU DEIXANDO

As águas correm a um rítmo lento
Em meu rosto regatos, lugares, momentos.
Nelas vivi meus dias ontem e hoje
Lembro e estremeço, já a vida foge.
À volta deste rio tudo flui
Lembrando o que hoje sou e o que ontem fui.
E na paisagem secular?!
Profundo o tempo, tempo singular.

Desço a encosta e agora me sento
Neste fluir, já tanto me esqueço
Meus esquecimentos, águas frias, onde arrefeço.
Correm no meu rosto águas profundas, rugas...
Onde o tempo se inscreve e está presente
E nada consente, daqui já não há fugas!
É isto que o meu coração sente.

Quem se atreve a duvidar do que sinto?
Das coisas tristes, sentidas, afectuosas que digo?
Só mesmo o tempo, mesmo sabendo que não minto.

O silêncio é a medida do tempo vivido
Nesta paisagem à volta do meu rio,
Tudo é melancólico e o tempo recolhido.
E eu já renuncio!
Surgem gotas de esquecimento,
Esqueço até de lembrar,e é tal o emaranhamento,
Que fico sem palavras e o futuro sem sentido.
Perdido lá adiante onde a luz é incolor
Já não domino, vou e afogo-me na dor.

Como confiar na corrente?
Onde havia água transparente?!
Agora me tolho de medo fico sem liberdade.
Me nega até a dignidade.

De súbito, um desejo em mim de acalmia...
Quem sabe?! Amanhã seja outro dia.

rosafogo

Hoje tive uma surpresa que me pôs a chorar de alegria, uma amiga poetiza e boa declamadora, me enviou uns poemas meus, por ela declamados. Já os
coloquei aqui em vídeo no perfil os amigos podem ouvir, eu acho que estão uma maravilha.
 
Nas àguas me vou deixando

Memória dum tempo ído

 
Memória dum tempo ído
 
MEMORIA DUM TEMPO ÍDO

Já choram de novo os beirais
Me embalo com o seu choro
A solidão pesa demais
Por um dia de sol imploro.
Cai a chuva como pranto
Desesperada no chão
Também o meu desencanto
Açoita o meu coração.

Já choram de novo os beirais
Lágrimas do céu em desespero
Cantam os pássaros seus ais
E eu à Vida que tanto quero.
Não levo pressa de chegar
Quem sabe numa madrugada molhada
Ou quando o tempo amainar
E a Vida p'ra mim fôr nada.

Já não choram mais os beirais
Se calam em descanso merecido
Já são memória nada mais
Memória dum tempo ído.

Agora sou eu quem chora
Porque já se encurta a Vida
Meus sonhos foram embora
Ando de sonhos despida.

rosafogo
 
Memória dum tempo ído

tenho sede de tempo...

 
tenho sede de tempo,
cai a tarde
como fruta madura
e à distância cantam os pinhais
o sol já não arde,
tocam os sinos dando sinais
e eu aqui oculta pela bruma
lembrando tudo,
tanta coisa uma a uma.

lembro o caminho da nascente,
com os risos de então
lembrança sempre presente
que não rejeito...não!

quero ser criatura
de alegria,
trazer à minha noite o luar
e eu e tu ser um só rio
a desaguar no mar...
extingue-se mais um dia
entre matizes amarelos
tenho sede de tempo
dum tempo primaveril
aquele que me vestia
a alma
e não este, que é prisão
e me corrói o rosto,
e esvazia o coração.

dá-me a mão,
vamos caminhar mais agéis
viver mais intensamente
onde o limite seja o céu
só tu e eu.
por algum tempo havemos de ignorar
o que de nós se perdeu
vivamos mais outro dia,
antes que a noite venha perturbar
ergamos nossa rebeldia

e quando a morte vier
num outro dia qualquer
pairando como um gavião,
sobre nós,
dá-me a tua mão
quando já nada haja para crer,
resta em mim a credulidade...
ainda assim vou sentir a doçura
da tua mão
na minha mão,
e levarei dela saudade.

natália nuno
rosafogo
 
tenho sede de tempo...

se me entendesses...

 
A sair de mim teimam
estas palavras que me atiçam
e queimam
deixo-as em versos,
incertos, como a brisa
ao fim do dia, na hora derradeira
são canto saído dos lábios,
palavras sonho duma
vida inteira...
Palavras que me ocorrem
canto de sonhos que não morrem.

Como queria que m'entendesses
sem palavras
como eu entendo o mar
apenas com o olhar
que m'entendesses como os pássaros
que me cantam
como a flor que se abre no campo
ou como a água que brota da nascente
sem palavras, apenas com o sorrir
somente...
Correria então a dizer-te
que é fogo incandescente
o meu amor por ti.

Sem palavras, tudo assim
simples como vôo de rouxinol
abrigar o amor no peito delicadamente
alcançar manhãs vindouras
e novos amanheceres
e sem palavras, renovar
a arte do prazer.

natalia nuno
rosafogo
 
se me entendesses...

Abraço

 
Abraço
 
ABRAÇO

Tento decifrar a Vida
À hora do Sol no poente
Poesia na aragem perdida
Saudade, bem estar, dentro da gente.
Lembro a frescura do rio onde me banhei
E o colo terno onde me aninhei.
Andam em revoada aves p'los ares
Aos meus ouvidos palavras fazem toada
Poesia nos meus choros, nos meus cantares
Para quê estar com a Vida magoada?

Vou minhas poesias joeirando
Nas lágrimas dos olhos e minhas fontes latejando.
Meus versos têm Poesia!
Posso até esquecer a métrica!?
Mas meus versos têm Poesia!
E será sempre verdadeiramente poética.
Não sei da mecânica da palavra, não!
Mas sou poeta de coração.
Dou-me a cada verso, deixo de mim um pedaço
E com este poema inteiro,
meus Amigos vos abraço.

rosafogo
 
Abraço

Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe