ORGASMO DO OLHAR...
ORGASMO DO OLHAR
DE TI NÃO QUERO O CORPO, AMOR DIVINO
AZUL P’RALÉM DO CÉU QUE NÃO S’ALCANÇA
APENAS UM DEGRAU DO TEU DESTINO
NO VERDE DESTA ESCADA D’ESPERANÇA.
A BRISA Q’ENTARDECE EM TEUS CABELOS
HÁ MUITO QUE SOPROU NA MINHA ALMA
Q’ESPERA E DESESPERA DE QUERÊ-LOS
P’RA SEMPRE NESTE AMOR QUE PERDE A CALMA.
ENCONTRO NOS TEUS OLHOS QUALQUER COISA
AO TOQUE DA SAUDADE QUE ME POISA
NO COLO QUE NÃO SABE EXPLICAR...
UM RASTO A CHEIRO E BRILHO QUE DESLIZA
NOS SEIOS QUE TRESPASSAM A CAMISA
PERDIDOS NO ORGASMO DO OLHAR!
AMAR E NAVEGAR
Queria dar a mão, prender o tempo
Perder-me nos recantos do abraço,
Sentir o teu perfume em fogo lento,
Mais e sempre mais e passo a passo...
Queria mergulhar na noite dentro,
Ao fundo mais profundo de teu ser,
E Ter-te sempre e mais por um momento,
Até amanhecer...
Queria desprender o meu desejo,
No vento que sussurra ao teu ouvido,
Mas do silêncio arranco só um beijo,
Queria, mas não digo...
Queria ser a luz dessa candeia,
Que brilha na sereia de teu canto,
Recanto de teu sonho em maré cheia,
E dar-te sempre muito e mais e tanto...
Queria ser navio de teu mar,
Prender-me nas amarras de teu porto,
revolto no balanço de teu corpo,
Amar e navegar,balanço amor e mar,
Amar e navegar,amor e balançar...
AOS LUSO-POETAS
Portugal, Brasil, Angola e a Guiné,
Moçambique, Cabo Verde, Timor e S.Tomé...
Um puzlle de cheiros e sabores que a língua fundiu num arco-íris...
Bendita a auto-estrada dessa ponta de Sagres em direcção ao mar... e benditos tantos dos luso-poetas, -- autênticos marinheiros das palavras que se bordam ao vento, por saberem transformar o farol das nossas dúvidas neste oceano imenso de certezas...
Daqui, debruçado do penhasco onde me deito, avisto ao longe o cais que transborda poesia nos porões das naus inundadas de sonho... dessa alma lusa abalroada das palavras que os transportavam para o infinito...
Heróicos poetas que eternizam a rota dos marinheiros em direcção às estrelas...
...Não navegaram saveiros
Mas têm o corpo de sal
E a alma dos marinheiros
Q’escreveram Portugal...
O meu abraço para todas as estrelas desse Universo que torna mais azul o céu da Poesia...
MAR,SEMPRE SÓ MAR
MAR,SEMPRE SÓ MAR A COMANDAR
ESTE ETERNO AMOR DE ÁGUA E SAL
MAR, SEMPRE SÓ MAR NO TEU OLHAR
DOS AMORES QUE BANHAM PORTUGAL...
IR, SEMPRE PARTIR NO DESALENTO
DE TER FÉ EM DEUS E O PENSAMENTO
VIRADO P´RÓ MAR QUE SEM DESTINO
FAZ DESTE PAÍS RIO MENINO
LEITO DESSE SONHO EM QUE ME DEITO
ROSA FEITA INFANTE AMOR-PERFEITO
DESTE ETERNO QUERER E ACREDITAR
NO MAR, SEMPRE ESSE MAR QUE RASGA O PEITO...
CANTO DE CAMÕES Q´ESCREVE O GRITO
VIVO DAS PAIXÕES ALÉM DO MITO
SOMOS PORTUGAL DEPOIS DO MAR
MUITO PARA LÁ DO INFINITO...
MAIS INFINITO QUE DEUS...
MAIS INFINITO QUE DEUS
Deixa que dê uma flor
Antes que a noite se acabe
Deste fogo que nos arde/
Enquanto dure a paixão
Nunca me digas que não
Mesmo que seja verdade./
Óh meu relógio sem tempo
Mais infinito que Deus...
Enquanto dure a paixão
Nunca me digas adeus/
Óh meu relógio sem tempo
No tempo dos olhos meus.
Deixa que dê uma flor
Deste beber gota a gota
Passo a passo, boca a boca/
Enquanto dure a paixão
Óh muro branco gravado
Nas memórias do meu fado.
Dedicado ao meu eterno amigo Jorge Amado Vinicios de Morais... SÁRÁBÁ!!!
OS OUTROS 364 DIAS...
ANA MAIS SÓ
Ana Maria
Acorda sem fantasia
Mais cedo que o próprio dia
Q’espreguiça a madrugada.
Foi mãe menina
Filha da guerra e da seca
Sem tempo de ter boneca
Quanto mais de ser casada.
Ana Maria
Lava a cara na panela
Sempre limpa da miséria
Que não sobrou do jantar.
É sua sina
Dos tempos de pequenina
Ver estrelas na janela
Sem tempos para sonhar
Já deu a mama
Aos dois filhos mais pequenos
Que do consolo serenos
Dormitam na capulana.
E junta ‘imbambas’
Ainda o sol é só um fio
Porque já crescem machambas
Do outro lado do rio.
Batata doce, rama verde, mucapata
Milho para encher a lata
Já batido no pilão,
Barriga cheia é sinal de alegria
Que traz boa companhia
P’rós lados do coração.
Pau de gengibre, cana doce, mandioca
Peixe seco, massaroca
Qualquer pinga p’ra beber
E à noite a dança traz feitiço e da bonança
Mantos verdes d’esperança
P’rá Ana poder viver...
Ana Maria
Cada ano mais pesada
Da barriga e da enxada
D’escavar num céu azul
Vive o desnorte
De chover melhor a sorte
A cada golpe de cava
Que morde da raiva o pó
Ana Maria,
Cada vez Ana mais só...
(Inhanguluê/Quelimane/Moçambique, 7 de Abril - dia da mulher - de 199...)
O hospital era longe e o teu menino queria nascer por entre os corredores da picada desse quarto de meu jeep, com enfermeiros feitos de improviso e amor.
Ana das marrabentas destilada com sura até de madrugada, para esquecer (dizias tu...) a guerra doutros filhos nascidos em hospitais mais a sério...
Ana das Anas, verdadeiras mulheres que no coração de Moçambique por essa Angola fora...serão sempre magestosos imbondeiros das raízes que nos falam de amor e a quem dedico, na inspiração do meu canto, os 364 dias que vos sobram... por direito ao descanso!
Provavelmente ainda não existe uma Internet na ponta da enxada dessas mãos que te calejam a sina... Mas continuas a ter a musica do Xirico, o sol espreguiçado no Ìndico desses fins de semana que te marrabentam a alma e a ternura eterna desse menino que “TE QUIS”nascer...
Que o vento te sopre para sempre o meu abraço...
Na curva do pensamento
Minhas caravelas são
Sonhos que partem do peito
Marés que vêm e que vão
Ao sabor deste meu jeito
Moinhos de D. Quixote
Que navegam com o vento
Entregues à própria sorte
Na curva do pensamento
Conheço as vagas do mar
E quem morre de sonhar
Para lá do horizonte,
Mas não consigo o olhar
Que queria navegar
Quando vens de ir à fonte...
Paulinho
O PALCO DA TUA VIDA
O palco da tua vida
Feito de luz, som e cor
É de todos, por seres diva
E de ninguém, meu amor
Óh minha espécie de vinho
Qu´embriagas o caminho
Dos fados da nossa gente,
O palco da tua vida
Quando te vestes de diva
É palco d´eternamente
Mas de ti quero primeiro
Os bastidores por inteiro
Onde navega o teu ser,
Depois de despida a musa
Quando trocas de blusa
Para vestir a mulher
Desse teu palco de vida
Tão pequeno para a voz
Onde cantas, minha querida
O que vai dentro de nós…
PRENDINHA DE NATAL...
Era dia de Natal
E a fidalguia afinal
Que também tem coração...
Convidou para jantar
Dois pobrezinhos sem lar
Mas com prévia condição:
A tosquia no barbeiro
Depois de banho ribeiro
Com muita espuma e sabão,
E um fatinho domingueiro
Sem remendos no traseiro
Para tal ocasião...
Eterna sabedoria
No pobre que desconfia
Do repasto divinal...
A grandeza da esmola
Na vida de dura escola
É um bem que cheira mal!
Comer para todo o ano
Só num dia, é puro engano
Mesmo em tempo de Natal...
E os pobres na cozinha
Receberam de prendinha
A puta d’um avental!