Estrela primeira
Brilha no céu a estrela primeira.
A mãe,
a irmã,
a amante,
a guerreira.
Que ofusca os olhos
e ilumina as escuridões
das estradas do sem-fim,
as escuridões
que nos buscam e cercam pelas vielas
de medo e solidão,
as escuridões
que nos afligem a alma
e sufocam os gritos
de liberdade.
Brilha no céu
e não se cansa
a estrela primeira...
Luta com a morte
buscando a vida
esquecida nos confins
do mundo,
nas ruas escuras
das cidades-fantasmas,
nas vielas esquecidas
da memória ignorada.
Brilha no céu
a estrela primeira
revelando que as dores
não são privilégio
de alguns,
não matam só quem amamos,
não ferem só o nosso coração.
Nos esbofeteia com a realidade,
a estrela primeira.
Ela que procura paz na escuridão,
encontra jardins
e caminhos abertos à esperança
nos escombros,
persistência na desesperança,
renascimento no aparente fim.
Brilha a estrela primeira
a mãe,
a irmã,
a amante,
a guerreira,
a luz que não nos permite morrer
de auto-piedade.
A nossa mãe verdadeira.
A esperança.
Coisa estranha...
Coisa estranha essa vida da gente,
tantos erros...
tão poucos acertos...
tantas tentativas,
tantos fracassos...
É como se numa valsa celeste
alguns anjos trocassem os acordes
para que trocássemos os passos!
Tear
Carrego em mim o brilho intenso
de muitos sóis,
de fins de tarde,
de sabedorias
colhidas em muitas vidas,
de ternuras de amores e sonhos.
Carrego em mim a incerteza
da eternidade da bruma dos tempos,
dos verdes prados estrelados de flores,
de terras cujos mistérios tentei desvendar,
das águas de rios, fontes, cascatas,
onde minha alma banhou-se,
dos mares que me levaram,
aos infinitos segredos que quis ocultar.
Carrego uma infinita
e intensa vontade
de viver sempre e entregar-me sempre
e desnudar-me sempre,
desfazendo os nós do fio que tece
os caminhos da vida.
Alinhavo encontros, despedidas,
teço idas e vindas,
lágrimas e sorrisos.
Nesse tear invisível da minha efêmera
eternidade
cada nó desfeito tem o mesmo amor
que os bordados tecidos...
Carrergo um tanto de esperança
que me abastece de coragem
quando preciso refazer as formas.
E brotam lágrimas...
E surgem soluços...
E rasgam meu peito gritos de dor
e risos...
Pelas sinuosas linhas deste tear,
estradas se formam
e nelas bordo minha vida...
Beijo
Quando teus lábios tomam os meus
inicia-se uma canção calada
de suspiros e carícias.
No rimar de nossas bocas
a música mais linda é o silêncio da entrega...
Quadras em canção I (ou brincando de fazer rimas)
A noite chega de manso,
cantiga de sonho e vento,
serpenteando em minha mente,
a acalentar sentimentos.
*****************************
A estrelá tão só, lá no alto
e o vento a assobiar, cortam a alma,
só o calor dos teus braços
o frio do meu peito acalma!
******************************
O vento à noite, é cantiga
de acordes quase irreais,
que vai dedilhando ao acaso,
canções de amor e de paz!
******************************
Se um dia o vento extinguir,
e o brilho da estrela apagar,
meu mundo só terá sentido,
se eu tiver você para amar...
******************************
Tão negra e tão longa é a noite...
Me sobram dores no peito,
na alma, anseios de espera,
nos olhos, choros de alento...
******************************
Vento forte, sopra minha alma,
E leva esse amor que hoje guardo,
aliviando o meu peito,
desse sofrimento amargo...
*******************************
se relembrar fosse alívio,
para a saudade de alguém,
não chamariam saudade,
a dor de lembrar de alguém.
********************************
Sobre... saudade *
Se desse pra envelopar um abraço,
mandá-lo pelo correio e
sentí-lo por inteiro...
Juro, não existiria mais saudade,
nem dor de amor,
nem choro contido.
Melhor ainda se desse
para envelopar doces afagos,
beijos apaixonados,
suspiros enormes...
Se desse...
Não se morreria mais de amor,
nem se choraria mais sem saber porquê...
* Escrito em 1999
Espelho
Inventa-te a cada instante
e liberta a criança que tens em ti.
Não sois máquina.
Sois um anjo disfarçado,
ser celeste envolto de humanidade.
Reinvanta-te a cada dia,
e ao abrires teus olhos pela manhã,
saibas que o dia não está começando
pois ele é o sempre de teus medos,
de tuas dúvidas, de teus sonhos.
Refaz-te para teu dia cheio de vida
no acolhedor universo da fantasia,
ao som de uma risada,
ao imitar-te e imitar os outros,
ao abraçar-te e distribuir abraços.
Inventa-te a cada instante.
Criança é o que sois...
Guardada no teu relicário-coração
escondida bem no fundo do peito.
Mostrai ao mundo que existes!
Pois não precisas nem de ordem ou ocasião
para seres vista e amada...
Borboletas
Borboletas voam
Entre girassóis...
Irreverentes pétalas
Jazem nos lençóis
Onde, na tua boca, pousei um beijo.
Partilha
Partilharei contigo
a dança do meu sonho mais querido,
enlevado pela brisa
que me aconchega ao teu colo.
partilharei sem egoísmo
meu sono sereno,
minhas insônias,
meu repouso lascivo e passional,
meu corpo de santa,
minha mente marginal.
Partilharei contigo...
Te direi segredos e
revelarei mistérios,
serei relva, terra fértil,
e ao semeares alegrias no meu solo,
serei deusa.
Partilharei minhas inconstâncias
e certezas,
meus desatinos e abandonos,
mas te darei o afago e as mãos
acariciantes,
nas tardes findas de sol.
Te mostrarei minha aspereza e ternura,
minha força e fragilidade,
minha face verdadeira
e madura.
Serei pra ti, pouso etéreo,
serás pra mim, a tortura...
Aconchego
Meu corpo mal-acostumado
acostumou-se ao aconchego do teu.
A textura da tua pele
viciou meu bem-querer.
A ternura dos teus braços,
seguros deixaram os meus.
E a maciez da tua boca
meu corpo inteiro acolheu.
Tua ausência me rouba o sono
e teu cheiro se fez tatuagem
que jamais se perderá.
Meu corpo sedento do teu
desfalece ao ficar longe,
clama por teus carinhos,
quer saciar-se em teus afagos.
Tua carícia me trouxe à vida
e já não sei mais viver sem.
Visitei o céu nos teus braços
entreguei minha alma sem medo,
soltei-me como pétalas ao vento
sempre que acolhia-me em ti.
Quisera que tua ida
fosse um sonho ou um delírio,
pois ver que já não estás perto
é deixar minha alma partir...