TUA AUSÊNCIA ME DESALINHA
o meu certo é um desacerto
o teu torto era o meu conserto
a minha determinação se esvai
no desalinho do teu pensamento
o meu ponto de vista exato é nada
diante da tua improvisação
a matemática do pensamento
é pouco é nada frente à tua emoção
meus nós são sozinho e soturnos
diante do sol da tua presença
a tua ausência inquieta e desalinha
e o meu caminho se entorta
minha rota minha bússola embriaga-se
e navego na contradição
AINDA TROPEÇO NAS TUAS MARCAS
Suas marcas estão lá
Ainda tropeço nelas
Suas atitudes bruscas
Sua meia lua e um sol inteiro
Seu sorriso seu brilho
Único lume
Que ainda fresta meus escuros
Sua boca seu gosto
Seu rosto seus cabelos
Suas digitais
Ainda marcam meu corpo
Suas manias
Suas mentiras curtas
Aquelas manias tolas
Suas alegrias e molecagens
Ainda alentam-me
Seus seios
Seus meios
Ainda alimentam meu imaginário
Seu mundo confuso
As dívidas os traumas
As tramas
Você nua na cama
Seu calor seu corpo gostoso
Seus murmúrios
Seus gozos
Ainda me atordoam na noite
Seus papéis
Rascunhos
As gavetas confusas
Suas marcas ainda estão lá
E tropeço nelas
Toda hora te busco
Pego no telefone e desisto
Me toco
Resisto e calo-me
Na minha razão
Na minha rima
Cumpro sina e destino
Linhas transversais incertas e desvios
Caminhos tortos que nos levam
E depois nos abandonam o coração
UM COPO D'ÁGUA, URGENTE!
"traga-me um copo d'água eu tenho
sede e essa sede pode me matar"
(Dominguinhos)
Estou ficando louco/ estou ficando pouco/ daqui a momentos eu sumo/ já estou sem rumo/ talvez vire poeira e vá ventania/ talvez vire frangalho/ areia/ e acabe na praia.
Saio por ai/ sem violão/ sem tamborim/ em toda casa eu bato/ toda viela eu entro/ em todo gueto eu grito/ em toda roda eu paro e desafino o samba/ no seu encalço eu fico.
Se te ligo meu telefone fica sem linha/ te conecto e minha telepatia falha/ se bato tambor/ meu coração desanda/ se te mando sinais de fumaça você acho que é nuvem que é chuva
Se te mando poemas eles não rimam/ minha canção destoa/ minha prosa não te agrada/ minha estrada virou vereda/ desvio/ meu rio é o Tietê/ afasta-se do mar/ sem ti falta ar.
Assim eu fico sem tino/ desando/ e nem Freud dá jeito/ por isso te peço não me perca/ me acene/ me chame/ inflame/ me leve contigo pra fogueira/ me ame/ me leva pra praia
Se você quiser vou até aí/ seja no campo/ na roça/ na cidade/ solto rojões/ faço o alarde/vá logo me ache/ saia da caverna/ do casulo/ não me deixe bobo/ solto feito pipa no ar.
Estou árido/ sou deserto/ eu tenho sede/ faltam nuvens/ falta água/ tua boca pra beijar/ quero-te oásis/ o édem do teu olhar/ o úmido do seu corpo/ um copo d'água por favor.
JÁ ESTAVA FERIDO DE AMOR
Quebrei os copos,
esmurrei os cacos
e não senti nada.
Já estava ferido de amor.
Bebi todas,
arrumei intriga, brigas,
me feri, rompi, matei
Já estava bêbado de amor.
Fui preso, paguei caro,
perdi tempo, vida,
me fodi todo.
Já estava fadado ao amor
VOCÊ POR LONGO TEMPO
quero você
e não é para hoje
não é um pouco
quero o instante todo
da gênesis ao apocalipse
quero você
por longo tempo
até que se gaste
ao máximo
e não gasta-se o amor
eu sei
por mais que se use
quero que abuse
do meu corpo
que fique
quero fincar-me no seu íntimo
como nunca antes
que me faça seu
que sinta-se bem
sempre
que possível
comigo
quero correr perigo
contigo
ou viver no sossego
quero você
e isso me basta
e se no fim do caminho
o seu carinho
for tudo
é certo
isso nunca será pouco
é o que me basta
mesmo sonhando
com todas as conquistas
e glórias
tudo será nada
sem você ao lado
é o que acho
é o que vislumbro
seu abraço
seu cheiro
seu perfume
seu colo
sua intimidade
porto e mar
onde me finco e onde navego
A POESIA HIBERNA
Deixa mudar a lua
Cair a chuva
Soprar o vento
Vir as flores
Que a poesia hiberne
Que as folhas caem
Que os dias nublem
Que venha o inverno
E tudo se cale
Que o cadáver desça
E tudo seja lápide
Que os céus desabem
E o resto se mude
Que o pano caia
O público saia
A casa fique vazia
Nenhum burburinho
No quintal
Na sala
As crianças durmam
Os velhos chorem
Que as borboletas lagartem
Nos casulos
A neblina que caia
A inundação que tome
Que a vida se lave
Se neve
Que haja saída
Que o novo depois raie
E o horizonte se aclare
Na hora certa
No tempo medido
Que se salvem os feridos
Que o arreio se parta
E quem sabe
A poesia retorne
Que retome a jornada
Que as flores abram-se
Os perdões brotem
As mágoas cessem
E tudo se ache
AMOR QUE É AMOR SE DÁ E NÃO QUER TROCO
No amor a moeda deve ser a compreensão
Sem o troco da mágoa e do rancor
Sem aquele dinheiro miúdo da agressão
No amor não há troco
Há troca/ permuta/ entrega
Contenda sem vencedor
O amor que é amor resulta soma
Um embate que completa
Uma luta sã/ um afã/ entrega
Um leva e trás profícuo/ são
Não há dano não há dono/ disputa
É uma corrida sem podium
Sem troféu/ sem medalha
Amor que é amor se dá e não quer troco
poetry.poesia@hotmail.com
MÚSICA PRA TE TER
Música pra te ter/ pra te dar
Pra te trazer pra perto
Pra te trazer pra junto
Música pra fazer contato/ tocar você
Pra te acordar/ e te fazer dormir
Pra te deixar tranqüila
Pra rumar contigo
Pra alisar o umbigo
Pra te dizer baixinho
Pra falar ao ouvido: Amor
Música pra te abrir o riso
Te dizer: Preciso
Pra caminhar contigo
Pra te dar a mão
Passear na praça
Acompanhar teu passo
Fazer um fundo
Enquanto faz amor comigo
ESSE AMOR É O CONTRÁRIO DA DOR E DÓI
Esse amor me dói
Me corrói
É uma droga
Uma coca-cola
Que saboreio no deserto
Esse amor me abre janelas
E fecha portas
Me entorta
E descabela
Não dá trela ao coração
Esse amor é me joga no chão
E me põe no alto
Me faz dar salto
E ficar na moita
Na muda, sem onda
Essa amor é o inverso da dor
Mas dói
UMA CANÇÃO DE DESPEDIDA E RETORNO
Nosso amor pelas ruas da serra
Pelas quinas do muro
Pelas ruas desertas
Nos semáforos apressados
Está marcado nas minhas retinas
Para sempre, não descola mais.
O seu cheiro doce
Sua boca molhada
Seu corpo forte, sua pele, seu toque...
Os perigos do risco de apenas andar abraçados pelas ruas da cidade.
Que mundo é esse que nos separa?
Nos dividindo ao meio e determinando nossa sina.
Esses preceitos rígidos
De repente (um pouco) quebrados.
Nosso amor relâmpago
No banco do carro
Os beijos no restaurante
A sua roupa de classe
Seu porte elegante
A compra no mercado
Nosso amor ao volante
Os faróis ultrapassados
O passado sempre presente
E a ameaça de um futuro juntos
Pensado, truncado, sufocado
Nesse caminho para o trabalho
Nesse percurso, nosso carinho
Nosso amor de repente
Um flash, um raio capturado
Um sonho alado
Toda hora abatido pelo passado
Pelo presente
Um futuro à frente sempre ameaçado
Um amor pendurado no abismo
Como uma mão pedindo socorro
Um grito calado
Tudo isso ficou e está marcado
como tatuagem interna, que queima
E tudo está escrito nas baladas de Ana Carolina
No CD que me deu do Roberto Carlos
Naquela seleção de fados
Na canção da Tete Espíndola
Nossos gostos misturados
Isso e muito mais sempre tocarão em alarde
mesmo com o rádio desligado. Eu sei.
Nosso amor gritou no abismo
e ecoará no meu peito
Agora e depois
a despeito de qualquer desaponto, desconto, atraso...
Ficou com crédito e saldo intenso
Eu sei que sou o torto não por acaso,
que poderia não ter tentado
Ficado na minha
Deixado tudo certo, no errado
Mas meu coração foi na frente
Perdi o comando
Fiquei todo ferido, confesso, descompassado
Não teve jeito
A fissura foi larga
Mas também tenho pedras no fundo
Resisto (eu acho)
Mas não pense que estou caindo fora,
ou desistindo...
O nosso amor é lindo
Você faz parte de mim (um pouco) poderia ser todo (toda),
mesmo que tenhamos ido só até a primeira curva da estrada, não tenho dúvida.
Mesmo sob a tempestade,
tudo fechado e eu esteja meio sem sentido
Sentido, ferido
Mas nada que não se conserte
Com uma sutura
Ou um transplante...
Mas já sinto a falta dos seus torpedos
na madrugada
Suas ligações ao meio dia
Nossos risos, seu olhar de soslaio. Raio que me fulminou e fulmina, sempre.
Se eu chorar, te garanto
Ninguém verá
Você é meu secreto mais bem guardado
e será...
Nosso amor foi diferente
Quente
Querido e gostoso e me feriu rente
Teve gosto de alho
Pizza de gorgonzola
Aquela cerveja preta na noite
O sushi, e o primeiro beijo quente
no meio da tarde
Você não sabe, mas ainda me arde e queima por dentro
a mordida no cangote
o chocolate naquela manhã de domingo.
Eu perdido no trânsito,
sem endereço e sem saída, de repente.
Entenda!
isso não é uma despedida, nem desistência
Estou quase inteiro (eu acho)
Mas não vou ser "o chato" e insistente
Se achar que ainda valo algo, me liga que eu te acho.