POR QUE NÃO SE ARRISCAR MAIS?
Por que não sair sempre da rotina
Navegar em novos mares
Nunca dantes navegados?
Por que se humilhar nas convenções
Se se pode simplesmente voar?
Medo de interpretar do teu modo,
Modo de interpretar do teu medo.
Abandone isso
O que importa se alguém disse de outro jeito?
Ele estava em outra época
Você está vivo agora...
Viva a via viva da vida
Via de descobertas
Que só é possível
Fora das cobertas
Este é o meu manifesto...
Viva até morrer...
Viver Sem Poesia
Pode-se viver sem poesia?
Podemos viver sem aquele estado poético?
Sim, porém, sem ele somos simples vermes
Rastejando, rastejando no chão.
A vida tem que ser poética
O ar inalado tem que vir rimado
O coração bater firme, ritmado,
Podemos então nos satisfazer.
Isso sim que é viver...
ÁLBUM DE FAMÍLIA
Meu avô derrubou árvores
Com machados de sonhos
Fez casa,
Construiu celeiros
Para que?
As árvores estão cobrando seu preço
Enquanto ele dorme entre elas
Todos mortos...
MINHA GATA
A minha gata é estranha,
Sempre me relembra
Que a comida ainda não chegou ao seu prato
E que é tão simples viver.
Quando não se é oprimido pela vontade.
QUANDO PRECISARES ....
Quando precisar chorar, chore!!!
Quando precisar gritar, grite!!!
Quando precisar prantear, pranteie!!!
A tristeza pode destruir,
Mas você pode ser forte!!!!
Mesmo quando a morte esteja às portas.
Mostre ao seu coração a realidade:
Não somos robôs, temos coração,
Não somos de pedra, temos carne,
Não somos mero número de mortos!!!
Somos incapazes de enfrentar a radiação cósmica,
A nossa fuga não é o espaço sideral.
A única saída é o que tínhamos sempre,
Só nos resta a fé, a esperança e o amor,
Mas o maior deles é o amor.
EM FRENTE À ESTAÇÃO SAINT-LAZARE DE HENRI CARTIER-BRESSON
Num instante
Homem sobre a escada
Um salto
É jesus andando sobre as águas...
Jacó vê e diz:
"Ele não vai a lugar nenhum..."
A escada está deitada no chão.
Para mim é um milagre...
NA VARANDA
Não tememos o que conhecemos, tememos o que conhecemos como terrível.
Sentados na varanda
Ouvimos sons na estrada risonhos
Indefinidos no passar da noite.
Na manhã seguinte de nada sabíamos
Talvez fosse alguém
A visitar a família
Indo pra casa
Um jovem a visitar a namorada
Todos passavam no caminho
Olhavam a varanda dos Abelardo
E nós olhávamos o invisível
Permanecia o mistério.
A velha casa foi tragada pelas chamas
E noutra estrada nos posicionamos
Nela ouvimos barulhos claros e audíveis
Sabemos exatamente o que é...
Outros caminhos se abrirão
E permanecerão a passar pelo caminho
Em sons claros e audíveis,
Sabemos o que passou.
Tudo é igual e sempre será...
Uma coisa, no entanto, não.
Não existe mais
Aquele antigo
Mistério.
28/02/2000
Aprendi.
Aprendi:
Falando, ensinando,
Andando, correndo,
Suando, rondando.
Aprendi.
Aprendi:
Que a vida é suave
Que a vida é amarga
Que o fel pode ser doce
Que o doce pode ser fel,
Aprendi.
Apendi
Que tudo é azul
Enquanto tudo não é negro
Que o negro é belo
E que o belo é azul
Aprendi
Aprendi
Que o cálculo calcula
Mas, o cálculo não copula
Caduco cálculo
Cálculo copula
Aprendi.
Aprendi
Que das fezes
Fazem casulo
Dos casulos borboletas
Das borboletas as flores
Das flores você
Aprendi.
Aprendi
Aprendendo
Ensinando, trabalhando
Falando, sofrendo,
Dormindo, comendo
Aprendi.
Aprendi
Que o poema
Não para nas palavras
Não para com você
Não para comigo
Vai aonde eu sigo
Que é onde você está
Aprendi.
Aprendi
Que este poema
Jamais pode ter fim
E se você que o lê
Quiser aumentá-lo
Escreva a frase
E depois
Aprendi.
Aprendi
Portanto,
Que aprender é tudo
Que aprender não é nada
Que cada dia aprendemos
Porque aprender é prender
E o que estamos prendendo
Aprendi.
Aprendi
Que te conheço
Aprendi que te quero
Aprendi que tropeço
Aprendi que te espero
Aprendi que te falo
Quando falo disfarço
Aprendi um abraço
O abraço me mata
Aprendi.
Aprendi
Que grande é a vida
E quão pequena é você
Quão falso é a vida
E quão grande é você
Quão sólida é a vida
Quão frágil sou eu
Aprendi.
Aprendi
Que as estrelas
Também caem do céu
Que você é descrito
Num simples papel
Que as estrelas me olham
E me vêem aqui
Em seguida me seguem
Aonde eu vou seguir
Aprendi.
Aprendi
Que uma prova
Não é aprender
Uma prova é uma prova
Que eu não vou saber
Mas se a prova é prova
Quão fútil ela é
Pois, prova a prova
É que o homem que aprova
Não aprova a prova
Aprendi.
Mares Encapelados
Dos mares encapelados
Surgem novos capitães,
Tão experientes quanto o próprio mar.
Das águas enraivecidas
Surgem seres corajosos,
E a alegria dos que suportaram a tormenta.
Oh, Dia. Oh, Dia.
Oh, dia. Oh, dia.
De prantos e lamentos
Nesta vida estribrilha
Os calados sofrimentos.
Sofre, sofre coração
Tudo, tudo é ilusão
Ai, rotas milenares
Que sujam mentes às milhares.
Oh, noite. Oh, noite.
Acabaste comigo
Pois fizeste comigo
O chão de sua casa
E o imundo se fez limpo,
Pisando em meu cadáver.
Fico, pois, calado
Distante de tal Condado
Da condessa de Manágua
Que à noite como que
Sofresse as ilusões óticas
De um moribundo sem água
Fez a mente em cálices.
Épocas e eras se passaram
Sem que a mim mesmo encontrasse
Covas secaram
Sem que a mim encontrassem.
Nestes sofrimentos atrozes
Surgem sempre pra mim
Que ruminam nosso ser
Faz nascer ferozes
Feras, a destruir o viver
Ah, grandes lamentos
Quo Vadis?
Oh mente?
Por que não aquietaste?
Por que não falas apenas?
A mim que sou teu escravo?
Por que pensas em reinar em minh'alma, oh, carne?
Em minh'alma te digo:
"Sinto com todas as forças.
Pois, se dominares
Dias piores virão.