Poemas : 

testamento vital

 

Eu não quero que me chorem
(nem sei se alguém terá vontade),
nem que digam de mim
que fui um fiel defunto,
quero que falem dos meus defeitos
como se virtudes fossem,
porque o meu pecado é amar,
que a minha mortalha
seja do mais puro linho
bordado em versos que não escrevi,
porque quero que seja perfeito,
como a canção
que velava os meus sonhos pueris.
O caminho à minha campa não terá engulhos
como a vida que vos testemunho,
quero-a rasa sem pedras nem enfeites,
só o verde da relva que me perfuma os devaneios.
Quero na morte o riso que me falta,
bordado na lapela o amor que quis dedicar
a tudo… a todos…
e quase nunca fui capaz.
Quero um pardal cantador e altaneiro
a chilrear-me as manhãs de sol
que não mais me iluminarão o dia.
Na relva do meu repouso que nada se diga,
que nada se escreva,
quero me incógnito como a vida o foi para mim.
Viva, fascinante e enganadora,
em cada dia que passava mais perto ficava
da tumba que me reservava.
Não sei como estará o tempo nesse dia,
mas se chover…adiem.
Odeio lágrimas.
 
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jaber
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/09/2011 20:14  Atualizado: 21/09/2011 20:14
 Re: testamento vital
Gostei do poema este testamento poetico esta original parabens


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 21/09/2011 20:34  Atualizado: 21/09/2011 20:34
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 Re: testamento vital
Boa tarde Jaber, seu personagem defende que uma vez falecido ele seja sepultados sem alarde,para que seu espírito possa começar sua nova vida em paz, parabens pelo seu sapiente poema, MJ.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/09/2011 20:53  Atualizado: 21/09/2011 20:53
 Re: testamento vital
Olá poeta,
Da vida só levamos aquilo que guardamos no coração e na mente.
Gostei de ler...
Beijinhos.

Enviado por Tópico
AnaMartins
Publicado: 21/09/2011 20:57  Atualizado: 21/09/2011 20:57
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 Re: testamento vital
Lembraste-me um dos meus poemas preferidos "quando eu morrer" do Mário de Andrade, embora a tónica seja diferente: a do teu poema bem mais intimista, ao contrário do estilo cosmopolita do Mário.
E foi disso que gostei, do intimismo dessa carta aberta, em que pareces aceitar com alguma serenidade o inevitável.
Prometo que se ainda estiver por cá nessa altura, te farei um brinde, nunca uma lágrima.

Bj