Poemas : 

Os poetas, os bastardinhos e as parideiras

 

Rasteja a língua molhada,
ensalivada,
viscosa
deixando o muco translúcido
amarelecido pelo parir diário de trigémeos,
limite máximo de bastardos
permitidos na parideira.
Vêm acometidos os bastardinhos
de doenças múltiplas
acentuados pela falta de higiene das línguas,
suínas,
aziagas
que lhe sorvem a placenta peganhenta ao nascer.
Em cada dia que novos bastardinhos nascem
de roupas usadas os vestem,
no repulsivo acto de banho tomado
e cuecas sujas vestir.
Perde-se na memória os bastardinhos nascidos
e quando se repetem
as águas da bolha que lhe rebenta pelas coxas,
ninguém nota que sobre aquela ponte
as mesmas águas
vão mover os mesmos moinhos.

 
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jaber
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/11/2012 16:12  Atualizado: 23/11/2012 16:12
 Re: Os poetas, os bastardinhos e as parideiras
Cruel metáfora da repetição pela repetição, em língua portuguesa. Pobres trigêmeos, certamente feitos nas coxas*. Águas velhas, de moinhos, melhor seriam, se fossem de vento, viveriam dos sonhos de um qualquer Quixote.

* Demorei anos para descobrir, numa visita à Ouro Preto (Cidade histórica, da época colonial) que o termo "feito nas coxas" se refere às telhas que os escravos moldavam, com o barro, literalmente nas suas coxas, ficando, portanto umas diferentes das outras, e mal feitas. Antes, andava pensando "bobagens" rsrsrs

O Jaber se vale das fontes possíveis, do sonho à realidade mais crua. É ao meu ver o pleno exercicio literário.

Bj.