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Breve tratado sobre "criar" (Parte I e Parte II)

 
Parte I

Ouvem-se músicas marcadas, que pertencem a todos os ouvidos, no quarto dos fundos. Enchem a alma bem mais que o espaço e transportam calma de uma forma que é díficil descrever a todos os terminais nervosos que existem em qualquer corpo. É deveras um ambiente de eleição.
O refúgio é parte integrante de uma necessidade bem saciada. É parte integrante de uma paz cada vez mais necessária à reflexão, que noutros locais é extremamente condicionada. As condicionantes nesses locais são quase sempre de origem exterior ao indivíduo, não se excluindo neste sentido a propensão maior ou menor para ser afectado.
A necessidade de uma envolvência, da criação de um ambiente confortável quase uterino, para conseguir um nível de concentração entre o aceitável e o muito bom, advem da procura contínua de artifícios para uma melhoria de desempenho num patamar criativo. Há uma busca de transe, de um estado de semi-hipnose que permite tempestades cerebrais de grande produtividade.
Se atentarmos à história conhecida, podemos verificar que os mais proeminentes eram, normalmente, considerados anormais, em virtude dos seus mais variados e extravagantes ambientes e refúgios de criação. Não se entendam as envolvências supra referidas em termos físicos mas, aquelas que são interiores e que transparecem nas mais variadas genialidades.
Mais do que descobrir qualquer obra ou rascunho, é consideravelmente muito atraente indagar sobre o útero de onde saiu.
Não é uma questão de esforço ou trabalho no sentido lato de ambos os termos. É-o sim mas no que se refere aos perliminares, sempre mais importantes do que o resultado final.
Em conclusão, a alma de qualquer criação e o que lhe dá sentido é todo o processo envolvente que decorre dentro da bolsa enquanto ainda é alimentada por um cordão umbilical. É tudo o que acontece antes de ser separada do seu autor e isso, está garantidamente em todas obras.

Valdevinoxis

Parte II

Linhas escritas de forma correcta
em lingua mãe sem erros,
por mão que tecla de forma escorreita
dando expressão a congeminações
provocadas por teimosos desterros
e outras contempladas motivações.

Delírios suportados e algo calculados,
premeditados ou nem por isso,
coisas e loisas de corações malfadados
com pouco músculo e falhos de compromisso.

Mostram-se paineis tripticos de sentidos
misturados sem qualquer critério
que se possa usar como exemplo
para dispôr palavras e latidos
com um sentido claro e sério.

Isto tudo em perfeita sincronia
com a vontade de ser melhor,
mostrar mais a toda a gente
e fazer surgir uma corrente
imparável, irrecusável de cor
que encha qualquer dia.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
JB
Publicado: 07/12/2006 10:33  Atualizado: 07/12/2006 10:33
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Usuário desde: 05/09/2006
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Mensagens: 531
 Re: Breve tratado sobre "criar" (Parte I e Part...
grande texto, intenso e perfeito na síntese das confusões (tempestades) que assolam qualquer cérebro Vivo. diria que desse ponto de vista, a tua poesia ganha à prosa.
Um abraço
JB