AFIANÇO!
AFIANÇO!
Que o Poeta está triste hoje
Poesia prestes a morrer em si
Pouco lhe resta a vida foge
Cansou de chegar até aqui.
Nega-lhe até o chão que pisa
Poesia prestes a morrer em si
Fecha-se a porta, a vida avisa
Aguenta, não sairás mais daqui.
Chegou ao alto da montanha
Sonolento, constrangido, ali
Onde fui arranjar força tamanha?
Pergunta o Poeta de si para si.
Ao seu encontro veio a saudade
Olhou para tras, ninguém era ali
O mundo o desprende com facilidade
Perpétua, só a Poesia nascida de si.
Agora nada mais existe que o vazio
Fica condenado a gritar só para si
Morrer não, a vida está por um fio?!
Pensa:
Porquê?!Se tudo dei e nada recebi.
rosafogo
Pequenos desassossegos dum poeta.
crepuscular
aquele círculo
de pássaros
aquela valsa
de cores
em festas
aquele céu
podando
dia
pra chegar
noite
sem arestas
UM FIM ESTÁ PRÓXIMO...
UM FIM ESTÁ PRÓXIMO...
Esse planeta circula fendido.
Ao meio dessa oca esfera
Quebra-a um portal equatorial intenso
Que, magnético, balança minha rede
E me sacode para pensar
Sobre essa fratura toda
Que deve ser a mesma de mil anos atrás
Nas ruas compridas de Constantinopla...
Tremores semânticos subscrevem-me
Mensagens sem rendição
Em versejos românticos
Recebo-os, desiludido, em docidão...
Esse embalo tântrico
Instiga-me à uma alucinante massagem
Numa clara violação de saciedade...
Quem diria
:Agora é tempo
De eu acolher
No pensamento
Essas vagabundagens...
De tão perdido de ti
Nesta terra resolvida à ruptura
Encaro a saudade de me derreter
Em teus seios plácidos e sadios
Quando isso era o tudo
Do tudo o que tinha de ser...
Eu lembro
:De resto eram toques e sorrisos...
:De resto eram beijos e desvarios...
:De resto, o resto
Do que ficou mesmo perdido
Do resquício do mais a me aborrecer...
Edifico
Um final feliz
Só para mim...
Desprende-se um sabor
Terrífico...
Manso, sem improviso
Reclamo por teu resgate
Impossível, mágico
Caído d’um teu
Dossel impreciso...
Olho o futuro
Com furor cego.
Estranho
:Nego-o e entrego-me...
Abraço-me só,
Ao ar, de braços erguidos
(Faço por merecer)
O fim está próximo.
(Um qualquer fim
Sempre está próximo)
Pressinto-te, morte
Pressinto-te Morte, em espasmos de pranto,
Numa dor que sangra em fogo
Pesado, que m’esventra
E insuportavelmente m’alegra
Na chegada tranquila,
Em passos que ceifam almas
À passagem, e avança lenta
Na minha direcção.
(ah meu amado, se viesses ainda
a tempo da salvação
com lábios de feiticeiro)
Sou corpo aniquilado
Com alma que jaz, oculta
Entre promessas de amor eterno,
E já moribunda, pronuncio
Teu nome e rogo-te afincadamente
Que me leves daqui,
Onde a vida m’esbofeteia
Em cada esquina
Sem lágrimas nem contemplações.
(e como as trevas são tão mais belas
e mais puras que a imundice
com que teus olhos m’enxergam)
Sorrirás perante a visão do cadáver
Em misto de alívio e conforto,
Num contentamento sublime
E merecedor, e a respiração
Segura caminhará nas portas
Do poema, escancaradas em ouro
Puro, para te receber
Com vénias serviçais.
Eu sou vácuo
A paixão foi platônica, a falta foi fato.
A falta de tua fala, do teu cheiro... Do abraço.
O som do silêncio ecoou pelo quarto,
a lacuna na cama ocupou todo espaço.
É só vácuo... Eu sou vácuo.
A ausência tem nome, tem forma, tem vida
que vibra pensando em teu sôfrego gemer
quando a língua vasculha sem pudor no teu corpo
os recantos da fonte onde jorra prazer.
Ouvido geme por teu obsceno sussurro.
Não me irrigaste de gozo, de ti, do teu sumo...
É só vácuo... Sou só vácuo
Já não te encontro nos meus sonhos,
nem desejo teu corpo a estremecer em meus braços,
não mais planejo loucuras, nem pecados inconfessáveis,
já não me inspira odisséias nem aventuras realizáveis.
É só vácuo... Eu sou vácuo.
Tudo parece estar num passado,
numa lembrança de imagem imprecisa,
foto amarelada, nuances sem vida.
É só vácuo... Eu sou vácuo.
De ti sobrou... o vácuo.
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BANHO-MARIA
BANHO-MARIA
A musa cozinha
Em banho-maria
Nas molestas linhas
Do meu apostema
Ela, nela se acaricia,
Se auto estima, se sublima
Corta nos olhos blandícia
Só dela. Libertina, se rima
Superestima ela mesma
Falseia um calor nos versos
Tal fosse este, o poema
A reclamar o seu amor
BANHO-MARIA (INVERTIDO)
A reclamar o seu amor
Tal fosse este, o poema
Falseia um calor nos versos
Superestima ela mesma
Só dela. Libertina, se rima
Corta nos olhos blandícia
Se auto estima, se sublima
Ela, nela se acaricia
Do meu apostema
Nas molestas linhas
Em banho-maria
A musa cozinha
La Vie, C'est Fini
Fui excluída de mim mesma.
Apagada por uma lâmina,
Sombreada por uma dor,
Que não se afasta.
Permanece ali,
Como se arrancar-me
A vida,
Não fosse já suficiente.
Esquarteja-me o som,
Rapta-me a alegria.
Aquela dor.
Sombria.
La Vie, C'est Fini...
Imagem: Google Imagens
O PASSATEMPO DO VELHO HERÓI
O PASSATEMPO DO VELHO HERÓI
Atira a faca depressa
No inseto que atravessa
A travessa da mesa
Acerta na mosca o centro
Do coração da alcachofra
Que lhe saliva o céu da boca...
O guerreiro aposentado
Guarda fidalguia e atino
E nunca fica de todo parado...
O passatempo do velho herói
Agora é caçar fragmentos
Do tempo que lhe corrói
Qual será o fim
Colho flores pelo jardim desse cosmo sem fim
rego de sonhos as rosas,acordo nos jasmins
dou por mim a Idear qual será o fim
se as rosas sem espinhos ou esses espinhos no jasmim
e assim fico por tempo indeterminado
não sei se ainda não comecei ou se já está tudo acabado
no limiar do olvido qual será o meu fado
Travessia
Só minha alma chorou...
Sentado à beira do portal
Pude constatar de forma escusa,
Sem a certeza louca.
O que era o meu mal.
A tristeza em minh’alma
Enegrecida de lágrimas contidas
Presas, sem saída...
Amarradas em minha garganta
calada e desesperada, dolorida.
De meus sonhos frustrados,
Minha solidão furtiva.
Minha morte espreitada,
Mas é esguia.
Não sei por que vivo.
Não sei porque não morro.
Um fim a tudo.
Sem pedir socorro,
Mas minha dor é algo incompreensível
Para outros... talvez compreensível,
Pra que gritar?
Lastimar para ser motivo de chacota.
Desprezado sem saber,
Sofrendo mais rindo de alegria,
Para se conter.
Dúvidas, tristezas, incertezas.
Ciúme, medo, solidão.
Crenças passadas, vida desperdiçada.
Sem consciência do que é ser,
Poder ou amar de verdade.
A consciência é doentia.
A tristeza é infinita.
A morte é certa, mas a fraqueza
É passageira.
Sentado na entrada do portal,
Abaixei minha cabeça e
Chorei, finalmente chorei
Pq já não tinha mais lágrimas
Nem corpo.
Só minha alma chorou,
Despejou o que prendeu
Por toda uma vida de amor
Sem amor. De tristezas e dor.
Na entrada do portal.
Levantei a cabeça e sorri.
Aliviado percebi,
Que já não estava nem mais aqui
Nem sonhando ali.
Atravessei o portal.
Setembro/99