Poemas, frases e mensagens de Sigmound

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Sigmound

Vejo as brumas no espelho embaçado

 
Entre as cãs acentuadas no espelho,
procuro um sinal que seja a senha,
e no reflexo embaçado pelo vapor
delineia-se tão nítida a sepultura.

As brumas da campa silenciosa
vejo-as com misteriosa devoção.
Morrer entre elas seria a celebração,
haveria até mesmo certa grandeza,
quão importante estaria esperando
a vinda derradeira anjo invisível.
O corpo arrastado para o necrotério,
parentes chamados de antemão,
despejado da vida sob um céu cinéreo,
num crepúsculo triste de uma tarde de verão.
 
Vejo as brumas no espelho embaçado

Procurar perguntas

 
Talvez devesse aceitar os conselhos,
ouvir a voz da experiência
e procurar as perguntas certas
para as tantas respostas que tive.
Localizar nas teias da memória
os feixes de luz branca
que marcaram acontecimentos extraordinários.

Deixar de estar às margens da vida,
obedecer ao instinto nato,
desconsiderando ponderações racionais,
mas evitando encontrar velhos rancores,
desviando-se de antigos amores,
todas as equações não resolvidas.

Suponho que então teria a paz,
deixaria de ver o céu vermelho,
guardaria a moeda de cobre,
para outras despesas mais urgentes.
 
Procurar perguntas

Implorando por mais um dia

 
Imagino-me sozinho no universo,
ouvindo em silêncio o barulho da chuva
dias e noites à luz do luar,
só às estrelas confidenciar problemas.

Não haverá portas, nem caminhos,
o fim dos dias chegará,
quando um anjo negro abrir as asas,
apontando-me o palácio de gelo.
Creio que ainda haverá montanhas,
onde poderei procurar
raios de sol entre os picos,
enxugar uma ou outra lágrima,
meditar sobre a vida fugaz.

Ainda sinto albores do sol
na manhã de primavera,
sabendo que terei um dia
que deixar a velha varanda.
Terei tremores nas mãos,
olhos dispersos e perdidos
como fixos no fundo do abismo,
implorando por mais um dia,
poder ver mais um amanhecer.
 
 Implorando por mais um dia

verso derradeiro

 
Todos dormiam, mas eu não sonhava
quando mais uma vez disse “ eu te amo”.
A idade me torna mais lento
até para expressar um sentimento.
Isso às vezes faz meu dia amargo,
pois sempre me esqueço de algum fato.
Não estou tão perdido, abro sorriso largo
ao encontrar em mim tanta vontade,
de dizer que é seu nome que chamo,
de confessar que “ eu te amo”.
De todas as lembranças que se apagarão,
que me permitam deixar gravado
- que se faça lei.
Meu verso derradeiro,
o mais verdadeiro
de todos que esquecerei.
“Eu te amo”
 
verso derradeiro

sonho com céu azul

 
sonho com céu azul
encosto a cabeça no vidro
vejo paisagem
cuspo caroço de ameixa

um pássaro voa baixo
vem de encontro à vidraça
talvez quisesse cantar
ou pousar na palma da mão

no final da rua
uma árvore é cortada
ramos e folhas
ficam espalhadas
pelo passeio sujo.

trem passa ruidoso
namorados trocam beijos
talvez ela tivesse perdido o trem
não embarcou
ele recebeu-a aos beijos.

um cachorro esponja na grama
risca o chão
marcando território.

sonhando com céu azul
balanço a cabeça
cismando:
há tanta vida fora da janela
sem lugar para mim.
 
sonho com céu azul

nota perdida

 
Numa sinfonia completa
vai faltar uma simples nota
escrita só para você.
Queria ter sido
o mais hábil compositor do universo,
conseguir a harmonia dos sons,
para não chorar
por uma nota que se perdeu
 
nota perdida

Sobre o primeiro dia da velhice

 
O primeiro dia da juventude é alegre
livrando-se dos trejeitos de crianças,
já tentando deixar as próprias pegadas
ao revés de seguir ás já traçadas.

O primeiro dia da maturidade é razoável
recordando a azafama do último dia da juventude,
deixando para trás róseos sonhos de alvíssaras,
deixado par trás a idealização de planos
assumindo a obrigação de realizar.

Mas o primeiro dia da velhice é sombrio,
recordando a amargura e tristeza eternas
pelo que deixou de fazer porque não quis,
pelo que fez incorreto por ter dúvidas,
pelo que não pode construir por impotência.

E quando sobrevier o ponto final
não haverá mais tempo para arrependimento,
nada saberia dizer sobre o primeiro dia da morte.
 
Sobre o primeiro dia da velhice

só peço mais tempo na caminhada

 
Mas, estou indo para você,
para a ternura do seu coração,
afeito aos efeitos dos cabelos brancos.
Sei que sentimentos
não podem temer a distância,
nem o decorrer dos anos banais,
mas já sabíamos há muito tempo,
juntos tivemos a sensação
que as pedras do caminhos
seriam mais que simples obstáculos.

Estou indo ao seu encontro,
seremos as metades
que se reuniram outra vez
nosso destino nesse tempo
se ascende na nossa estrada
Só peço pelo menos ao Criador
por mais tempo nessa caminhada.
 
só peço mais tempo na caminhada

Nos caminhos da eternidade

 
Caminheiros,
errantes,
apenas visitantes...
transeuntes...
transitórios...
itinerantes,
buscando o melhor curso
nos caminhos da eternidade.
 
Nos caminhos da eternidade

farfalhando seu vestido

 
Furtivamente perseguir passos,
até a chuva bater à porta,
até a lua dar-me atenção,
piscando silhuetas nas ramas.
Apenas fragrância das flores,
você vestida de lua.
Vamos dançar no escuro,
deixar a noite esquentar.

Em silêncio,
farfalhar seu vestido
realizando meus sonhos.
 
farfalhando seu vestido

Ei! Não se apresse

 
Não deixe a vida tão apressada,
abreviar momentos extasiados,
depois de mais uma madrugada
de sonhos obsessos acuados.
Nem se iluda com o correr dos dias
ouvindo dele todas as melodias
fascinado com o arrebol,
quando nas imensidões amenas
surge a lua tão bela, argênteo farol
salpicando mais prata nas melenas.

Não se apresse! Se não correr,
se não cantou todas as canções,
sempre haverá mais um rosicler
como exorado no fervor das orações.
Não deixe que a velhice venha depressa...
Não se antecipe .... se não se apressar,
quem sabe, permeada de promessas
a vida poderá fluir com mais vagar.
 
Ei! Não se apresse

alma prostrada

 
hoje, ao meio-dia,
pesado fardo dos ombros,
frustrado, lembrei-me:
- já não há mais estradas

cansado e ombros curvados,
não mais piso em castelos
quando há sinais de relâmpagos.
olho toda sucata no lixo
por cima dos ombros
tomando cuidado
com os cacos de vidro.
é excesso todo conforto
para uma a alma prostrada
 
alma prostrada

Sobre vir ou não vir

 
Pergunto ao espelho,
dia após dia::
“- Será
que amanhã ela virá?”
 
Sobre vir ou não vir

Sorri com alívio

 
Uma vez dormi no meio do dia,
cabeça abaixada,
a respiração não se ouvia,
espumava-me a boca,
as sombras cobriam como capuz
não havia nenhuma luz.

Não me movia
as mãos frias como gelo,
o coração não batia,
da boca nenhum apelo,
olhos embaçados ornavam
o tom marmóreo da face.

Não me movia, meu Deus,
quando a luz surgiu,
tornou a pele cianótica.
Recobrei os sentidos
respirando outra vez,
sorri com alívio,
ainda um pouco ofegando
festejando a sorte:
achei que a morte
estava me só me testando.
 
Sorri com alívio

Martelo e faíscas

 
Sinto a vida como martelo,
sobre os ombros esmagando,
tão pesado flagelo,
dolorosamente rude,
quando não bate no peito
produzindo faíscas.
 
Martelo e faíscas

Talvezx tenha esquecido que esqueci que um dia vivi

 
O túmulo não me assusta.
Não posso sofrer dormindo
no silêncio do eterno frio,
participar com a vida em mim,
já esqueci como ser jovem,
o que significa juventude e sonhos.
Nunca soube ou tinha esquecido,
como odiar e amar
Quem perdeu o hábito de ter desejos realizados
despreza a necessidade de viver
Acho mesmo que esqueci
que um dia vivi neste mundo
 
Talvezx tenha esquecido que esqueci que um dia vivi

Através de olhos apaixonados

 
Mais uma primavera
anunciando o outono,
trouxe flocos de neve
aos meus cabelos...

Nãos os viu ...
Absorta estava
nos doces enlevos,
vendo-me ainda jovem,
através de olhos apaixonados.
 
Através de olhos apaixonados

Aproveito a velhice

 
Aproveito que sobreveio a velhice
para fazer todo o possível,
e mostrar às pessoas em volta de mim,
como a felicidade passageira,
é apenas um quociente
entre as riquezas mundanas
e o plenitude espiritual.

Pode escolher,
entendo que há na vida escala de valores,
e uma vez no inferno,
não há mais como cobiçar o paraíso,
quando em ar de desamparo
muitos ajoelharam-se aos pés da divindade
piamente crendo na remissão,
pedindo clemência, ajuda e misericórdia,
sem desenterrar enigmas do passado,
mantendo reclusas as maldições.

Recebido o beijo frio da terra,
tolhem-se as asas da liberdade.
A energia do amor é como oxigênio,
dando asas aos pensamentos fascinantes
da felicidade suprema e sedutora.
 
Aproveito a velhice

Direto para o céu

 
se a idade me dá prerrogativas,
não conhecerei as bordas do purgatório.
através do inferno, passarei direto para o céu,
vulcões da terra serão o repositório.
Lentamente, passos firmes, com zelo,
não haverá gemidos, queixas, nenhum apelo;
cumprir o destino será o meu destino,
inexorável tanto, se atemorizante é.
 
Direto para o céu

Não rezamos mais

 
Diante das agruras,
dos contratempos havidos,
não rezamos mais.
Argumentamos com Deus,
cobrando Dele soluções,
exigindo as atitudes
que nós deveríamos ter.
 
Não rezamos mais