Oco
Parece que estou
Num barco a remos
Numa lagoa sem margens.
Olho para o calendário
E conto os dias um a um
Num ritmo preocupante.
Quero adiantar o tempo.
Quero pôr o meu corpo
No meu sonho.
Mas só consigo ouvir o eco do meu passado.
V. Pompaelo
D.D.D.
Não sinto que não posso, mas…
Posso sentir o que não sinto.
Apenas basta estender o amor
Que há em nós. Tanta coisa nos diz
Para sermos bons, só que, para amar,
Tens de ser mau!
Não faz sentido sermos escravos
De nós próprios…temos de olhar no
Espelho, dizer-lhe na cara, não me importa
Nada, não me chateies!!
Por entre as brumas da nossa imaginação
Será que está lá alguém para
Nos enganar?
Celuço
Enquanto vivo, a estrada muda
Nada mais fica, nada perdura.
Mas algo me segue, me dá pistas,
Pois com esta arma persigo artistas.
Rastejo a escarpa do monte negro
Aguardando a chegada ao degredo.
Visto a honra e a farda lírica
Pois sei bem onde vai esta bela satírica.
Aperto o coração com uma força bruta
Pois daqui já não sai o filho da puta.
Consciente ou não apago as memórias agradáveis
Não faço mais disto passos indesejáveis.
De pé, aplaudindo a parada
Faço de mim, ao espelho, uma fada
Sem milagres, luxos ou efeitos
Arranco pela raíz todos os preconceitos.
.
Vasco Pompaelo
Publicada por vladnikdrac em 13:07
Sonho Seco
Encosto a cabeça à almofada
e percorro a tua estrada dubia
contemplando o espaço decorado de
falsos sonhos.
Não passam de nuvens que se
diluem enquanto caminho guardando
farpas de realidades miseras.
Não deixo entrar ninguém.
Isto não é para partilhar.
Egoísticamente faço desta situação
o meu purgatório intimo.
Olho fusco
Além do que aqui se
consome, pondo de
lado a estupidez,
procuro tocar no mais
doente e nojento verme.
Sou dependente do viscoso,
rugoso, proscrito.
Repugnante até para os mais
exemplares diminutos seres.
Mas vivo bem com isso.
Quando escavo os meus
sentimentos,
acabo num lugar esquisito,
frio, escuro, mas, único,... meu,
eu.
Tiro de lá aquilo que sou.
Aquilo que quero.
Onde me sinto bem.
Não quero companhia,
mas quem vier
da enxurrada não consegue
escapar.
Passando a mão no meu
cabelo, a mente acena
ao corpo e dá-lhe confiança
e sumo para esta loção.
Esta minhoca que rasteja por
aqui, mantém-se firme.
Até ao fim.
Não ditado por ti.
É o destino.
Quem vive para alguém,
não merece ninguém.
Atento, talvez até demais/Tormento, o caminho por onde vais
Expiraste. Tudo aquilo que podias ser,
já foi.
Não me parece que possas voltar atrás.
Mas porque é que fazes isto?
Não vês? Não sentes?
Será que não percebes?
A podridão dentro de ti abraçou-te.
Fez do teu corpo e do teu ser
uma ferramenta social.
É um trilho corrosivo aquele que
caminhas.
Fazes da tua vida um purgatório.
Tenta ao menos perceber
que apenas em ti está a
escolha.
Não é de ninguém.
Não vem de ninguém.
Não é para ninguém.
Apenas tua. Só tua.
Para te fazer bem.
Gostava de poder ser uma luz
para ti.
Mas como já devias ter percebido,
a minha vida é minha.
Para mim.
Não tua.
Para ti.
V. Pompaelo
Da me la chiave de tu amore
Ainda ontem encontrei um residúo
Do teu amor na minha cabeça.
Tentei apagá-lo, matã-lo.
Mas tudo que consegui foi resguardá-lo.
Mas hoje encontrei um tecido
Da tua dor na minha mesa.
Tentei remendá-lo,
Mas tudo que consegui foi…amá-lo.
Amanhã encontrarei um sentido
Desse amor na minha cabeça.
Tentarei emendá-lo mas so por ti…
…assim eu falo
Nobre Lugar
Lugar feito de acrílico
Iluminando a passagem do
Sangue do corpo para a alma.
Estética a balada do medo
Dança a confirmação do
Momento.
Apalpo o musgo na minha
Desnorteada mente, sinto-lhe
A frieza e
Falta de lógica.
Podando na diagonal o arbusto
Que rodeia a destreza
Luto contra mim.
Contra o que não quero.
Qual cabana no meio do monte
Envolvido por aragens
Húmidas, virtuosas e
Desconcertantes.
Obrigado, fico a compor uma
Nota á qual não posso, não
Quero, não vou…fugir.
Embalo-me com uma mão enquanto
Outra atrai momentos secos de vida
Como um cão atrai carraças.
Vou aguardar.
Sangue
Sangue, sangue, que coisa linda.
A uns lembra morte
A mim, vida.
Sem ele não sofremos
Sem ele não amamos.
Sem ele não percebemos
Tudo aquilo que conquistámos.
Revolta saturada
Aterrorizado o animal tenta
sair.
Está encurralado numa
desiquilibrada manta verde
feita de vento.
Inseguro como um coelho na
floresta, sobrevive.
Contorce-se só de pensar
que pode nunca mais sair
deste lugar fantasma.
Força, astúcia e muita
persistência são a chave.
Ladeando o meio que o
regula sabe que os seus
próprios obstáculos são maiores.
Um dia a felicidade sopra
e o céu azul como os
olhos de uma deusa ficará.
Subtis e finas lanças
de beleza branca com grinaldas
ofuscam a imensidão negra
que cobria o seu rosto.
Um servo de si mesmo
Que um dia se escravizou.