Crónicas : 

O meu melhor texto

 

Estava a escrever um texto, o melhor texto da minha vida, não quero com isto dizer que fosse um texto por aí além, mas era meu, e era o melhor. Pensava que o pc estava a carregar a bateria, mas não, e este senhor decidiu desligar-se de repente tirando-me o prazer supremo de escrever o melhor texto da minha vida. Isto fez-me lembrar quando a Adelaide prometeu numa tarde que me ia mostrar as maminhas lá em casa que os pais não iam estar. Nesse dia ao deslocar-me de bicicleta para casa dela a toda a brida, veio um bruto fora de mão, fez-me cair e parti um braço, ainda hoje sinto essa dor porque como eu não fui, a Adelaide nessa mesma tarde começou um novo namorico com um vizinho, despeitada pela minha falta, que ela tomou como desleixo meu. Nunca mais vi as mamas da Adelaide. Que coisa! Custava ter esperado um diazinho? Eu mesmo de braço ao peito no dia seguinte de certeza que faria uma perninha… e quem foi que perdeu? Fui eu, claro, como perdi agora a porcaria do texto o que me deixou perfeitamente furibundo, da mesma forma que fiquei bruto elevado ao cubo quando o Sr. António me apanhou no pomar com os bolsos cheios de laranjas que eu dizia ter comprado na mercearia da D. Prazeres, mas ele não foi de cantigas e zurziu-me as nádegas com uma vergasta que ainda hoje lhe sinto os vergões enquanto corria pelo meio da horta, pisando tomates e batatais na fuga à inclemência do vestuto pau.
A insatisfação é parte da vida e a frustração as suas unhas que me coçam a realidade com a ausência de compaixão com que a vara me massacrou ou a falta de pena com que a Adelaide me presenteou trocando-me por outro. Conviver com a frustração é quase um exercício diário mas não é isso que faz de mim frustrado ou resignado. Com a Adelaide aprendi que além de ter de andar de bicicleta com mais prudência, não devo ter nunca nada como certo e com a vara do Sr. António aprendi que devo ser mais lesto perante a adversidade e acima de tudo que me devo esconder melhor.
Assim só fico feliz de ver umas mamas quando elas estão ali à mão de semear, e só roubo laranjas quando tenho a certeza que o dono do pomar não está, mesmo. E quanto a ter perdido o texto, que se lixe, amanhã escrevo outro. E quanto a vocês que estavam á espera de outras conclusões filosóficas, aproveitem e vão comentar outros, como leitura chata já levam esta, assim escusam de ler os que vão comentar, até vos fiz um favor, viram? E não se preocupem que não vos vou bombardear com PMs a perguntar porque faz tanto tempo que não me comentam. Quem é amigo, quem é?
 
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jaber
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Enviado por Tópico
luciusantonius
Publicado: 20/05/2010 22:31  Atualizado: 20/05/2010 22:31
Colaborador
Usuário desde: 01/09/2008
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 Re: O meu melhor texto
Pena é que o supra-sumo tenha ido para o maneta, mas tranquilize-se que se desembaraçou bem. Quanto às maminhas da Adelaide, estou certo de que entretanto Adelaides ouve muitas e quiçá mais bem torneadas. Isso é o que eu imagino.
Vá-nos brindando com as suas bem trabalhadas crónicas.

Um abraço
antonius

Enviado por Tópico
JoséCorreia
Publicado: 20/05/2010 22:44  Atualizado: 20/05/2010 22:44
Usuário desde: 17/03/2009
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 Re: O meu melhor texto
Caraças jaber. és O tal!

Abraço

Enviado por Tópico
zakastraszkas
Publicado: 20/05/2010 22:57  Atualizado: 20/05/2010 22:57
Participativo
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 Re: O meu melhor texto
Boa noite Jaber, é a primeira vez que o comento e, deixe-me dizer-lhe que, de chato, nada tem este texto. E quanto às questões filosóficas, cada um que as tire, que as há neste texto.

Abraço.
zakastraszkas

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2010 23:07  Atualizado: 21/05/2010 14:47
 Re: O meu melhor texto
Quem passou parte da infância como eu numa aldeia, roubar fruta, ir aos ninhos, fazer tantas outras maroteiras, era o pão-nosso de cada dia, e nem era considerado "pecado" - muito poucos donos da fruta vergastavam um miúdo só por isso(sei de alguns que até se escondiam para que os "ladrões" não sentissem vergonha por serem apanhados).
Só é de lamentar que a Adelaide tivesse tanta pressa em mostrar os seus dotes, e não soubesse esperar.
Mas enfim, tais frustrações superam-se com outras Adelaides ou Marias ou Manuelas, ou etc. (Fico na dúvida se com o etc. se supera seja o que for - rs.).
Gostei de ler e de comentar.

DM

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2010 23:12  Atualizado: 20/05/2010 23:12
 Re: O meu melhor texto
Não é um texto chato, é bem humorado e muito bem escrito, como todos os seus textos!
Levo comigo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2010 23:44  Atualizado: 20/05/2010 23:44
 Re: O meu melhor texto
chato, mesmo chato, deve ser quando o tempo muda e as dores nesse braço te levam às mamas da Adelaide, eternamente por ver. quanto ao resto, também este já foi o teu melhor texto, mesmo antes desse que deves andar agora a escrever.

abraço

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 21/05/2010 04:11  Atualizado: 21/05/2010 04:11
Colaborador
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 Re: O meu melhor texto
creio que não perdeste ,essencialmente as unhas que a Adelaide te incentivou a malandrar na bicicleta...a ausência do sr "António" das laranjas é sempre bem vinda...também fui um tal como tu meu caro..acredita.
fomos...

abraço.

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 21/05/2010 23:15  Atualizado: 21/05/2010 23:15
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: O meu melhor texto
Jaber
Mesmo que esse tal teu melhor texto tenha ido com os porcos, deixa lá que este também ficou bem fixe!
A chatice é querer comentar muito e ter de perder uma data de tempo a ler os teus textos(que diacho... são enormes! )

Olha que eu sei de um, que na sua adolescência, junto com os compinchas dele, até tinham um mapa da fruta...
Ou seja, bastava seguir o mapa para saberem onde é que havia laranjas, pêras, pêssegos, cerejas e por aí adiante. E de noite faziam a recolha

Quanto às mamas da Adelaide, pois... foi mau! Hehehehe...

Beijo