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asterias rubens

 


. façam de conta que eu não estive cá .




queria escrever-te sobre o espaço contínuo onde um barco adormece o cais ao colo. tu sabes de que falo quando o silêncio se impõe entre os nossos corpos sós. é por ser de noite dentro das pálpebras e se ouvirem vozes caiadas de deserto fora da pele. queria descrever-te o barco feito por sal e gaivotas em vôos antecipados, tão quieto, um sorriso na proa à espera da maré alta ou do vento de sul. tão quieto. não há sobreviventes nesta imagem, só os meus dois olhos como buracos de luz que o horizonte evoca. falar-te-ei futuramente das estrelas, no mar cativas. esperam que as sereias as libertem. que um deus no mar afogue a escuridão e as falésias sejam pontos de abrigo. e é nas falésias que me nasce o coração quando te lembro. tinha tão pouco para te dar, sempre mais do que podia. hoje não vive em mim mais nada, só as partes do corpo que abraçaste.









 
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Margarete
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Enviado por Tópico
sampaiorego
Publicado: 04/06/2010 15:59  Atualizado: 04/06/2010 15:59
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2010
Localidade: algures virado para o mar com gaivotas
Mensagens: 1147
 Re: asterias rubens
é bom saber que se escreve nas imagens de um peito ferido - é um prazer enorme poder acompanhar a tua escrita – leio-te pendurado numa falésia que abraça um vento sul que nasce a norte

beijo

sampaio(r)ego