Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 089

 
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1

Moreno carpinteiro, meu amigo.
Tantas vezes perdido em meu caminho,
Na busca por um colo, um bom abrigo,
Julgara-me tristonho e tão sozinho.

Às vezes nem sei mesmo se prossigo,
Por outras, me sentindo um passarinho
Contando tão somente, aqui, contigo,
Recebo o Teu abraço, o Teu carinho...

Quando as carnes cortadas, chagas puras, Quando os olhos perdidos, sem ter rumo.
Nas esquinas da sorte, só torturas,

O sangue se esvaindo, pobres sumos.
Te percebo companheiro e camarada,
A vida se transforma, abençoada....


2

Monopolizaste Deus,
Teu escravo e teu Senhor.
Os meus pecados são meus
Nunca foste protetor.

Meus dias não são ateus
Não conheces minha dor
Tais poderes não são teus
Nem é luz sequer calor!

Queres traficar perdão!
Impossível te conter
Queres ter a primazia!

Não quero essa comunhão
Sou do Pai, um qualquer ser.
Me dás noite e quero o dia!
Marcos Loures


3

Monólito. É assim que vejo o amor
Que nada pode ao menos arranhar.
Tomado por encanto e por torpor
Indestrutível sonho a nos tocar

Num sentimento imenso eu acredito
Sabendo que jamais se romperá,
Distante da frieza de um granito,
Eu quero a intensa chama desde já

Vulcânica explosão que nos aquece
Derrama incandescências sobre nós
Mosaico de emoções nos enternece
Vencendo a tempestade mais atroz,

Fertilidade espalha sobre a terra
Na força insuperável que ele encerra...
Marcos Loures


4


Montado em meu cavalo ganho o céu
Levando na algibeira o teu retrato.
Quem dera galopasses teu corcel
Mostrando este sorriso, nosso trato.

Da boca desejosa escorre o mel
Que beija e que lambuza, raspa o prato.
Deitada em minha cama, tiro o véu
Morena sertaneja lá do Crato

Eu quero o teu desejo, rente ao chão,
Trotando teu cavalo sem parar,
Embola teu prazer neste alazão

Depois de ter matado toda a sede,
Mais gostoso é poder recomeçar
Toda essa montaria numa rede!

Marcos Loures


5


Montada num cavalo e seminua,

Em todos os meus sonhos, tu estás;

A mão ao me tocar, logo recua,

O desejo transtorna minha paz...


Donde vens? Amazona mais bonita,

Tua pele morena, olhos morenos...

A crina e o cabelo, tudo agita

Nos campos e nas relvas, mais serenos...


Ao seguir o teu perfume já me perco,

E penso que encontrei felicidade

De toda esta beleza que me acerco

Encontro profusão de claridade...


Porém o teu perfume me alucina,

E já te denuncia, m’a menina...



6



Momentos de prazer e de loucura,
Caminhos percorridos noite afora
Na rara plenitude da ternura
Meu corpo em tua pele se decora.

Depois de tanto tempo em vã procura
Vivemos cada gozo que se aflora,
Agradecendo sempre esta ventura
De ter quem tanto eu quero, sem demora.

Sabemos da magia deste instante
Que torna a nossa vida bem melhor.
O olhar que se debruça, fascinante

Acendendo o farol das emoções.
Num cenário divino, o bem maior
Explode, dominando os corações...
Marcos Loures


7

Momentos de grandeza em meio à lama,
Viscosas emoções entre louvores,
Assim ao proclamar nossos amores
Fortuna mais diversa, uma alma trama.

Ao encarar surpresas, o ser que ama,
Cultua sem saber frágeis andores,
E embarca em tais caminhos tentadores,
E, tolo, quer a paz, cultiva dores.

Desarmonias forjam falsos lumes
Que, opacos, se perdendo em tais estrumes,
Confundem este estúpido andarilho.

Na Gênese do encanto, um disparate,
Vendendo flores rudes, se combate
A imensa e rara luz com fátuo brilho...


8

Molhando, acende o fogo da paixão
E faz tal reboliço em minha vida
Que aos pouco vou perdendo a direção
A colisão se mostra divertida.

Perguntas sem respostas ou saída,
O mar em que embrenhando imensidão
Às vezes numa farpa recebida,
Vazio vai secando todo o chão.

Eu vejo o teu retrato no meu rosto,
Embora tantas vezes mal exposto
Amplia uma verdade que não sinto.

De todo bem que tenho em meu caminho,
Cedendo a força imensa de um carinho,
Inundo de desejo o teu recinto...
Marcos Loures


9

Moleque, mal sabia das proezas
Dessa moça escondida no quintal.
Seus olhos me comiam feito presas
De uma arapuca assim, fenomenal.

Depois fui perceber as tais belezas
Das pernas revirando o matagal.
As tardes se passavam mais acesas
Debaixo deste sol, suor e sal...

A moça disfarçada em clara estrela
Pulando uma janela já sabia
Que a noite iria ser louca e vadia.

Sem pejos de tentar ir convencê-la,
Um assobio simples bastaria
Dos grilos e dos sapos, cantoria...


8810


Moleque tão travesso nas calçadas
Olhando as pernas belas que passavam.
Desejos e vontades alcançadas
Nas noites que gentis se enluaravam.

Rasgando destemido, estas estradas,
As ruas sem limites se mostravam,
As carnes nas janelas desnudadas
Segredos infalíveis se contavam.

Namoros escondidos no jardim,
As ruas eram feitas de balão.
O mundo era pequeno para mim,

Tão grande, com certeza, o coração.
Agora a vida vem chegando ao fim,
Traz-me este gosto bom: recordação..


11

Moleque que se fez em desperdício
Bebendo a tempestade e rindo tanto.
Ladrando a noite inteira como um vício,
Morrendo em ironia, cada canto.

Beijando a moça bela, um precipício.
Salgando o velho mar lambendo o pranto.
No viço das morenas, meu ofício.
Meu karma se perdendo em desencanto.

Alcanço uma manhã como quem neva
Deixando o meu prazer na doce treva
Que ronda e não descansa a vida inteira.

Noctâmbulo fantasma; eu me alucino,
Uma alma vadia, meu destino,
Na bela meretriz, a companheira...

12

Moleque quando andava nas calçadas
Bem reparava a bela que subia,
As saias pelos ventos levantadas
Deixando a molecada em euforia.

As frutas dos vizinhos, se roubadas
Traziam para a turma uma alegria,
Depois nos campos- várzeas, as peladas
A gente foi feliz, disso eu sabia.

Agora uma barriga que é burguesa
Se lembra das lombrigas e cupins.
A mãe chamando a turma para a mesa,

Café com broa, pão, doce de leite.
Bermudas de Tergal, nada de jeans.
Viver era tão bom: doce deleite...


13

Moleque mais travesso e tão traquinas,
Criado em liberdade, sem juízo.
Olhando para as pernas das meninas,
Promessas de encantados paraísos.

Cavalo no galope, soltas crinas,
Na boca iluminando um bom sorriso,
Debaixo dos lençóis as mãos tão finas
No toque mais gostoso, assim, preciso.

Menino que cresceu em águas claras,
Morrendo na velhice sem remédio.
Feridas se transformam em escaras,

As horas de prazer, amigo, raras,
De noite a mocidade faz assédio,
A vida em contraponto é puro tédio...


14

Moleque atrás de um sonho segue arisco,
E beija fartas luas sertanejas.
Na boca da manhã, maçãs, cerejas
O amor inda se esconde: é bom petisco,

E quando em saltos tolos, eu me arrisco,
Distante tu gargalhas, mas desejas
A queda insofismável e lampejas
Quebrando sem ouvir tal tosco disco.

Chispando pelos céus do interior,
Riscando em frágeis tons, matizes vários,
O canto persistente dos canários

O joio valoriza o plantador.
Colheitas no futuro? Não me importa,
Apenas adivinho atrás da porta...


15

Moldura em que minha alma se encontrou,
Criada pelas mãos de um ser supremo,
Ao lado de teus passos nada temo,
Caminho que esperança vislumbrou.

O Céu que em fantasias se desnuda
Persegue com seus brilhos as pegadas
Deixadas pela deusa nas estradas
E a natureza, pasma queda muda

Ouvindo a tua voz que me apascenta,
Paixão mesmo feroz e violenta
Amansa-se em teus olhos tão serenos.

Mergulho meus anseios em teu colo,
Semeio as alegrias em teu solo
E durmo em braços fartos e morenos...
Marcos Loures


16

Moldando um dia claro; enlanguescente
Uma alvorada em rara magnitude
Trazendo; ao nosso amor, plena saúde
Belezas deste prisma iridescente.

Carinho que se pede é o que se sente
Buscando ao fim da tarde, a juventude.
Amando, com certeza mais que pude
É certo que andarei sempre contente.

Sem medo de mortalha, véu ou luto,
A voz desse desejo; agora escuto,
O coração batendo em disparada.

Buscando conhecer cada fronteira,
Desbravador fincando uma bandeira,
Exploro cada ponto de chegada...
Marcos Loures


17

Moldando o nosso amor em vários ritos
Palavras já traduzem as vontades
Distante de ilusões, temíveis mitos
Aplaco nos teus braços, as saudades.

Amor com suas setas me atingindo,
Um alvo muito fácil, isso eu não nego,
No espelho de minha alma refletindo
Promessa em ventanias, de sossego.

Por vezes me pegando distraído
Amor se mostra audaz, noutras sereno.
Em calmaria acende uma libido
No gozo mais suave eu me enveneno.

Em meio a fartas trevas radiantes,
Perfaz Amor, caminhos intrigantes.
Marcos Loures


18

Moldando nossa vida em bons desejos
Quedando sobre nós carnais anseios.
No frêmito infinito, sigo os veios
E esqueço que já tive ou tenho pejos.

Ouvindo maravilhas em arpejos
Seguindo minha mão sobre teus seios
Eu deixo-me encantar pelos enleios
Num mundo mais sereno, nos cortejos

De estrelas que entrelaçam-se nos céus
Alvíssaras previstas, altaneiras.
Retiro de teu corpo os alvos véus

Em frágeis emoções tão verdadeiras,
Aqueço-me em teus lábios doces méis
E loucos, galopamos mil corcéis...
Marcos Loures


19

Moldando em maravilha todo astral
Aquela que se fez perfeita amiga,
Deixando bem distante todo o mal
Tramando a nossa sorte em forte viga.

Teu braço sempre forte e sem igual
Toda a felicidade enfim abriga
Permite que se faça triunfal
Unindo nossos sonhos rara liga.

Ao aniversariares companheira
A terra se colore por inteira
E faz do brilho intenso, seu matiz.

Pois saiba que decerto estou contente
Assim como bem sei que toda a gente
Encanta-se e se mostra mais feliz.
Marcos Loures


20

Moldando em glória o rumo que eu mais quero
Estendes os teus braços. Num mergulho
Esqueço do passado um ledo orgulho
Descubro a sensação que tanto espero

Sorvendo em tua pele, o bom tempero
Deixando para trás o pedregulho,
A solidão não passa de um entulho,
Cuidando deste amor com tanto esmero...

Estendo as minhas mãos buscando as tuas
Enquanto nesse sonho tu flutuas
Levito de prazer, e quero mais.

Estrelas coletadas no caminho,
Cevadas com palavras de carinho
Iluminando assim nossos bornais...
Marcos Loures


21

Moldando amor perfeito que declaro
Nos versos que eu te faço a cada dia,
Tomado pela luz da poesia
Encontro nos teus braços meu amparo.

O mundo que se fez outrora amaro,
Num apogeu promete esta alegria
Que há tempos esperança já dizia,
O espelho – mais tranqüilo- agora encaro.

Esplendidas manhãs que assim prometes,
Numa ilusão coberta de confetes
Estendes os tapetes da emoção.

E vivo tão somente por sonhar
Com o raro brilho expresso em teu olhar,
Na dádiva sublime da paixão.


22

Moldando a mais divina liberdade
Em meio a tantas pedras no caminho,
O canto de um amor em amizade,
Demonstra o caminhar ledo e sozinho
Daquele que sedento de vaidade
Esquece quão importa um bom carinho.

O amor na plenitude do perdão,
Permite uma amizade que se cante,
Deixando para trás a solidão,
O medo de viver queda distante,
Encontra a mais sublime perfeição
Vivendo lado a lado a cada instante.

Amiga, meu amor eu te ofereço,
Apoio mais seguro num tropeço...
Marcos Loures


23


Moldada por esparsos sentimentos
A poesia unindo corações
Exposta à profusão dos vários ventos
Trafega por diversas direções.

Às vezes calmaria, outras tormentos
Ao traduzir assim as emoções
Enquanto fere mostra bons ungüentos
Apascentando em plenos turbilhões.

Gerando e destruindo; reproduz
A escuridão disforme ou plena luz,
Mosaico indescritível e prismático.

A mão que a quem tropeça, cedo apóia,
Lapida tanto o podre quanto a jóia,
Por isso ser poeta é ser lunático...


24

Moldada em maravilha, sonho e estima
Vontade de chegar perto de ti,
Amor é muito além de simples rima,
É tudo o que sonhei, e quero aqui.

Atando nossos corpos, mãos além,
Roçando em fantasia cada poro,
Guiando o pensamento, o gozo vem,
No corpo que vasculho e já decoro.

Intenso fervilhar, dança febril,
Partilha que se busca sem demora,
O lábio mais audaz segue sutil,
Meu corpo flutuando nega escora

E vaga no infinito de teus seios,
Descobre em tuas sendas, ricos veios...



8825


Molambo de minha alma andando pelos becos
Rosnando em cada esquina, investe contra todos.
Movida ao nada tenho; apenas traz engodos.
Em outras almas busca a ressonância em ecos.

Andando sem destino, entre bares, botecos
Minha alma se embriaga e nunca tomo modos!
Depois numa sarjeta esfrega-se nos lodos
Jogada em algum canto, uma alma em cacarecos!

Alma destrambelha e bebe da saudade
Recebe em fogaréu o vento da lembrança
Que queima devagar e aborta uma esperança.

Depois de ter caído em festa, gozo e dança,
Minha alma inda persegue alguma claridade
Posso contar então com a tua amizade?


26

Modéstia à parte, eu sei fazer soneto
E disso me envergonho ultimamente.
A poesia morre infelizmente
Nos braços sem calor de um poemeto.

Existem resistentes, frágil gueto,
Porém esta visão tão infreqüente
Traduz o amargo fim que se pressente,
Perdoe se algum erro; aqui, cometo,

Talvez seja somente teimosia
De um velho ultrapassado e sem talento.
Recolho algumas flores – heresia.

Convites para o féretro virão,
Ao fim da tarde o seu sepultamento,
Soneto – antes que emane podridão...
Marcos Loures


27

Mocidade, distante, leva o vento...
Um pálido retrato na parede...
Exponho toda a dor do pensamento,
Procuro meus amores, tenho sede...

Distante, vai ao vento a mocidade...
Ardendo nas fogueiras da beleza,
De um tempo que jamais será verdade.
Dos cantos de esperança, viva presa...

Fecho meus olhos! Nada mais terei...
O gosto deste orvalho, nunca mais...
Rocio de minha alma foi a lei.

Porém essa implacável, fria fera;
Responde: mocidade? Não, jamais!
Inverno destronando a primavera!


28

Mocidade vibrante, me estonteia...
Audácias e desejos são constantes.
Nas luas e nas ruas tece teia,
Viaja por planetas mais distantes.

A noite, nas delícias, incendeia,
Os raios do luar, simples amantes...
Nos cantos e motéis, noturna ceia,
Os corpos se entrelaçam, delirantes.

Mocidade... Faz tempo que não vejo...
Meus carinhos dormitam na incerteza,
O peito, démodé qual realejo,

Na visão de teu corpo se alucina...
És manto de pureza e de beleza.
Por que tu demoraste, Catarina?


29

Mocidade terrível fantasia,
Que nos leva a loucuras e delírios!
Dores e fantasmas numa orgia
Misturando cegueiras e colírios.

Vagando entre mistérios forja o dia
Amiga iluminada dos martírios.
Vencida nunca morre a maestria
Saber que podres águas brotam lírios...

Nascente de fantásticas canções,
Trazendo chocolate tão amargo;
Multiplica temores, aversões.

Se ri do que jamais soube enfrentar
E chora, do que sempre passa ao largo,
É noite que promete seu luar...
Marcos Loures


8830

Mocidade perdida nestes bares,
Nas lamparinas, tontas borboletas...
Voando livremente, buscam ares...
Nos céus vão navegando meus cometas...

A mocidade morta, velhos mares,
Nas bocas que beijaste, prediletas...
Estrelas e galáxias, constelares
Transcendem as cantigas dos poetas...

Quem dera a juventude desse bis,
Os medos não seriam companheiros...
À noite mariposas mais gentis,

Nos templos da saudade, meus parceiros.
No corpo da fogosa meretriz,
Amores que se foram, verdadeiros...
Marcos Loures


31

Moça num faça comigo
O que vancê qué fazê;
Meu amô num é castigo
Pois ele é tudim procê;

Sô sujeto que trabáio
E gosto de trabaiá
Nesses forró eu num cáio.
Pois nem prindi a dançá;

Mas eu quero seu amô
Eu quero tudim prá mim,
Venha cá faiz o favô
Eu pércizo di carim.

Tanta dô qui tem se cura,
Só na tua fermosura...


32


Moça bonita, quero o teu desejo
Te vejo a cada instante dentro em mim,
Se perco meu caminho, tanto pejo,
Vivendo por viver, te quero sim...

Tua pele que cheira igual jasmim,
Nau perdida, me encontro dentro em ti.
Achando esta esperança vou enfim,
Afim desta emoção que já perdi.

A cereja da boca da morena,
Açucena gostosa posso ver,
Amor vem devagar, vê se tem pena,
Apenas do teu lado vou viver.

Eu quero lambuzar tua boca,
Vem logo que a vontade é muito louca...


33

Moça bonita há tanto quero ter
O gosto destes lábios junto aos meus
A jardineira sem camélia? Adeus.
Não mais suporto a vida sem prazer.

Sem ter sequer motivos para crer
Meus olhos morrem sem teus céus, ateus.
Me afasto pouco a pouco deste Deus
Que cisma toda noite em te esconder

Entre as estrelas tão distantes; vago
Buscando tão somente algum afago
E nada encontro no horizonte frio.

Moça bonita; aonde posso, enfim,
Se o amor transborda e vai pesando em mim
Negando a luz; tornando o sol sombrio...


34

Momentos que sonhei. Somente o pó...
Sementes que joguei sobre os penhascos,
Vazios, encontrei seguindo só;
Quebrando sem cuidado, os velhos frascos.

Alheio ao que talvez fosse colheita,
Mecânica expressão de rima e verso,
A lua tão distante se deleita
Rondando sem descanso este universo.

Joguetes de nós mesmos. Nada temos
Sequer a solução, somente enganos.
Os barcos soçobrando sem os remos,
Os dias que vierem; desumanos,

Trarão esta resposta que buscamos,
O fogo irá queimando folhas, ramos...

35

Momentos que passamos lado a lado,
Certeza de ternura e de carinho,
Arando uma esperança, firme ancinho,
Premissa de um jardim tão bem tratado.

Primaveril cenário, belo prado,
As mãos cultivam flores, de mansinho,
Da glória em absoluto eu me avizinho,
Diamantino amor, dourado Fado.

Na intensa eternidade de um segundo,
Delírio abençoado; eu me aprofundo,
E vejo o tão sonhado Paraíso.

Minha alma de delícias já se inunda,
Certeza de uma senda que, fecunda,
Permite um caminhar claro e preciso...
Marcos Loures


8836



Momentos nossos. Sobraram lembranças
De um tempo tão feliz. Eu não sabia
Que a vida nos permite a fantasia
Imersa em luzes calmas, doces, mansas;

Mal pude acreditar que estas bonanças,
Morressem sem cuidado, dia-a-dia,
E quando percebi: noite vazia,
Deitando solitário sobre lanças...

Não vejo mais saída e; assim, perdido,
O amor que eu encontrei quase esquecido,
Apenas no perfume de uma flor

Deixada nalgum canto do jardim,
Invade derramando sobre mim
Os últimos tentáculos do amor...


8837

Momentos maviosos e diversos
Tornando uma emoção mais corriqueira
Meu canto contemplando os belos versos
Que fazes; minha amada e companheira.

Depois de tantos passos mais dispersos,
Razão para viver se mostra inteira.
Os dias não serão jamais perversos,
Na lua deste amor, mais verdadeira

Razão para seguir em noite imensa,
Depois de tanta treva, a recompensa
Dizendo bem mais forte para mim

O quanto é necessário poder ter
Felicidade em forma de prazer
Gritando em nosso amor, eterno sim...
Marcos Loures


8838

Momentos fascinantes, sem medida,
Desejos e delírios desfrutados.
Distantes dos castigos e pecados,
Seguimos pareados pela vida.

Tristeza há tanto tempo já se olvida,
Vislumbre de floradas, belos prados,
Por gozos e prazeres, irmanados,
No amor que tão constante, não duvida.

E vejo nos teus olhos a alegria
Que emana de minha alma sonhadora,
E enquanto se destila a fantasia

Bebemos a fartar desta aguardente
Te quero sem perguntas, nem demora,
Tomando num segundo o corpo e a mente...


8839

Na mansidão serena em que tu dormes,
Às vezes um momento faz lembrar
Os velhos sentimentos, que disformes,
Não deixam de ferir e de tocar.
Amores que se foram, tão enormes,
Qual fossem uma força elementar

Não deixam em sossego quem sofreu.
Assim como um cometa mais errante
Em ciclos retornando em treva e breu
Por mais que a vida siga pra adiante
As dores ancestrais num sonho teu
Retornam e ferindo a cada instante

Não deixam que caminhe e que prossiga.
Liberte-se; eu te peço, minha amiga...


40



Na maga sensação de ser feliz,
Nesta entrega sem medo e sem temor,
De cada novo dia quero bis
Em cada novo sonho, mais amor.

Prevejo em meu futuro amor que fiz
Certezas deste sonho tentador.
Minha alma, pele, corpo sempre quis
Brotar em rosa, lírios, beija flor.

No que pudera ser sou mais inteiro,
No que quisera ter sou companheiro,
Vivenciando em êxtase divino

O bem de ser contigo sem fronteiras.
As almas se entregando vão inteiras,
Decoram a menina em que me nino..



41

Na madrugada loucos em desfile...
Um procurando bar, leva a certeza
Que por mais que sua alma destile
Nunca mais viverá vital beleza.

Mas, tresloucadamente verte bile
Atacando qualquer que seja a presa.
Outro pensando estar em pleno Chile,
Declamando Neruda sobe à mesa...

A noite festival dessas loucuras,
Premeditadamente manda a lua...
Um pastor prometendo santas curas.

Os olhos vão brilhando são fanáticos..
Os cães estão ladrando em plena rua...
A mãe lua observando esses lunáticos...


42

Na madrugada fria, abro a janela,
Procuro teu amor que tanto acalma.
A lua me responde que é só dela,
Amor que tanto quis de corpo e de alma...

Vê que bela noite que se apronta
Estrelas e desejos se disfarçam.
A boca desta noite está bem pronta
Pr’a receber dois seres que se abraçam...

Mas o rigor da vida não se cala,
Janela mesmo aberta nada traz,
Espero neste quarto, nossa sala
A noite tão vazia, perco a paz...

Eu quero teu amor tão docemente,
Te espero meu amor, amar urgente!



43

Na luz que tão fantástica irradias,
Percebo uma emoção que já me afaga,
Trazendo para a vida melodias
E o brilho que jamais alguém apaga.

Nas mãos maravilhosas, alegrias
Cicatrizando em paz a antiga chaga
Espalhas pelo mundo as fantasias
Numa palavra mansa, calma e maga.

No teu aniversário, minha amiga
O coração em festa comemora,
A luz que nos tocando já decora

O mundo com pacífica ternura.
Que a sorte em tua vida assim prossiga
Proliferando a paz, amor, ternura...


44
Na luz que nos guiou até agora
Teu brilho foi mais forte que tu pensas.
A vida se passando sem demora
Tem na tua amizade, recompensas.

Na glória da existência, tu és anjo
Que Deus nos deu em forma de amizade.
Trazendo para nós em novo arranjo
O gosto tão sutil da liberdade.

Amiga, nada impeça teu caminho
Repleto de louvores e de luz.
Quem traz assim pra todos um carinho
Não sabe, mas à sorte nos conduz.

Por isso, minha amiga, tantos bens
Pedimos para ti. Meus parabéns!


45

Na luta pela paz mais verdadeira
À beira deste abismo que criaste,
Eu sou o que chamaste outrora, traste
Deitando o meu cansaço em tua esteira.

Sujeito que na sarjeta diz sujeira
A ter este destino que tramaste,
No fim sem serventia que me abaste,
Meus braços serão teus, queira ou não queira...

Mas sempre jogo limpo, não sou teu.
Nem quero ser teu ápice, apogeu,
Agente desta farsa que te basta.

Nasci para ser pária, nada além,
E quando a noite chega e o gozo vem,
Cadê a moça pura, ingênua e casta?
Marcos Loures


46

Na luta dos amargos pensamentos
Que volta e meia cercam meu destino.
Mudando a direção de tantos ventos
Eu quero o teu amor desde menino.

O tempo foi passando e nada veio,
Casada com alhures eu bulhufas.
Sem ter sequer destino, sem receio,
Plantei os meus amores nas estufas...

Nasceram deformadas criaturas
Que quase me assustaram de verdade.
Misturas de doçuras amarguras,
São puras sensações de fealdade.

Mas quero ter direito ao tonto amor,
Disforme ou bem conforme o que se for



47


Na louca sacanagem que nos doma,
Vontade de ficar a noite inteira
Até que desmaiando ou mesmo em coma
Perceba que esta história é verdadeira

Ouvindo o teu pedido: vem, me coma,
O mastro vai se erguendo e na fogueira
Desejo sem limite já nos toma
Do jeito que imagino que se queira.

Só peço, meu amor já não demores,
Eu quero em minha língua o teu clitóris
Chapado de alegria e de prazer

Roçando tua toca pequenina
Delícia que me encharca e me domina,
Eu quero, meu tesão, teu ponto G...


48

Na louca putaria em sedução,
Comendo a tua xana tão gostosa
Tomado por loucura e por tesão,
Fudendo esta mulher maravilhosa.
Botando em teu rabinho, tentação,
A gente, toda a noite em foda, goza.

Te quero bem tarada, uma cadela,
Lambendo o teu grelinho no chuveiro,
Caralho no teu rabo já se atrela,
A cama se transforma num puteiro,
Na foda desejada a minha estrela
No gozo que bem sabes, verdadeiro.

Sentindo da buceta se escorrendo
O mel enquanto sigo te fudendo...


49


Na louca fudelança, a bacanal
Que tanto desejei, safada orgia,
Tu chupas com vontade, lambe o pau,
E assim começa a nossa putaria

A tua bunda empinas,bem sacana,
Mostrando a tentação que é feita em gruta,
Metendo o meu caralho em tua xana,
Te quero uma rainha santa e puta.

Sorvendo minha pica com vontade
Teu grelo em minha boca, traz o gozo,
Que posso traduzir saciedade,
Assim o nosso amor, sempre gostoso,

Não deixa um só espaço assim vazio,
Queimando neste fogo feito em cio...


8850

Na louca embriaguez de teu perfume
Que inalo cada vez que nos tocamos
Nos ápices tocando, vou ao cume
Roçando as cordilheiras. Nos amamos...

Atravessando os vales de costume
Chegando ao mar, num êxtase sangramos...
Esqueça minha amada, o teu ciúme
Se lembre quando juntos, levitamos...

Ausência de teu cheiro me sufoca,
Vontade de te ter pra sempre aqui
O vento tão suave que te toca

É o mesmo que me trouxe até teus braços.
Sem teu cantar, querida me perdi.
Meus olhos vão ficando cegos, baços...


51

Na lira em que me inspiro e me declaro
As notas musicais do coração.
Amor, um sentimento nobre e raro,
Precisa dos acordes da canção.

Total eclipse forma nosso enredo
Que enreda e nos concebe mil desejos.
Não quero em nosso amor nenhum segredo,
Nem quero que se quebrem azulejos

Desta emoção criada a cada dia,
Aguada com ternura e com carinho.
Decerto nos trará tanta alegria
No dia em que for nosso esse meu ninho...

Amor corre ligeiro no meu peito,
Nesta taquicardia, satisfeito...


52

Na lipo-aspiração da fantasia,
Sobraram algumas páginas em branco,
Quem sabe uma vergonha estamparia
Se ao menos coração fosse mais franco.

Raízes dos meus sonhos; eu arranco,
E escuto sempre a mesma cantoria,
No passo quase trôpego, sou manco
Desfiladeiro a cada fim de dia.

Dedico uma oração; espero à toa,
Naufrágio é corriqueiro se a canoa
Há tanto está furada, isto eu garanto.

Chegar de manhã cedo e perceber
Que a noite se perdeu ao sol romper
Deixando tão somente o desencanto.


53

Na limpidez das almas que se tocam
Em clareiras divinas e sagradas
As almas que se tocam vão, aladas,
Distante dos temores que as deslocam

Para longe do prumo. Desembocam
Seus sonhos e desejos, perfumadas,
Em sendas de ternura, delicadas.
Pacíficas, amores sempre alocam

Sem sacrifícios torpes que destrua
Nem medos, fantasias, que a ofusquem.
Por mais que nossas almas não se busquem

Se encontram navegantes, mar ou lua.
Concebo, sendo assim, amor sincero
Além de vida e morte, assim espero..
Marcos Loures


54

Na lembrança do beijo que me deste,
O pensamento aos poucos se entregando.
Felicidade enorme que se ateste
No vento que nos toca, extasiando.

Olhares te procuram no infinito,
Alçando mil estrelas, clara lua.
No amor que a gente sente, tão bonito
Uma alegria imensa, continua.

Delícias que tu guardas no teu peito,
Decerto são as mesmas que carrego.
No gozo deste sonho, satisfeito,

Adentro as maravilhas desta vida.
O quanto te desejo e não sossego,
Explica a fantasia em paz, sentida...
Marcos Loures


55

Na lança que preparo em contra ataque
Por certo tu terás muita alegria
Eu não resisto enfim a teu achaque
E deixo-me levar com euforia...

Prometo não causar-te nenhum baque
Além do quem ama já queria
Não uso meu amor, nem penso em fraque
Um trovador caipira em rebeldia.

Mas posso te fazer tanto carinho
Que logo tu verás a tentação
Que emana com certeza de meu ninho

E rola a noite inteira na amplidão,
Chegando devagar, bem de mansinho,
Explode num luar qual do sertão...
Marcos Loures


56

Na insânia que se dá em lucidez
Tomando esta aguardente inebriante,
Do quanto em nosso amor, a luz se fez
Estampa delicada e fascinante.

Desejo num prazer manifestado
Amor que se faz grão, semente e luz,
Em paz e maravilha germinado
Num círculo infindável reproduz.

Do amor que gera amor e se alimenta
Do sonho, da alegria, e liberdade
A cada novo dia mais aumenta
E nele mesmo, amor, amor invade.

Assim perpetuamos fantasia,
O sentimento brota e se recria...


57

Na insânia e na loucura é mais capaz
O tempo de colheita se aproxima,
Amor que tantas vezes satisfaz
Mudando a velha trilha em farta estima.

Transformação dos ventos noutro clima
Especiarias várias o amor traz,
Ao mesmo tempo cega enquanto esgrima,
De um tímido ressurge a voz audaz.

Mestiços sentimentos, amor/ódio.
Vencidos, em lauréis, subindo ao pódio,
Das mágoas e das dores, nem sinal.

Um cântico louvando uma esperança,
Amor em passos trôpegos já trança
Um novo amanhecer em ritual...
Marcos Loures


58


Na imensidão do céu, voando uma ave
Liberta das misérias deste mundo...
No coração reflito branca nave
Na qual sem perceber vou mais profundo,
Soltando essas amarras, sem entrave
Circulo a liberdade num segundo...

Expando cada verso, em fogo, em facho,
Na luz que recebi dos olhos teus....
Ao ver uma ave livre, aqui de baixo,
Espero que jamais ouça um adeus
De quem amo demais e que não acho
Cansados nesta busca, os olhos meus...

Amada, por favor, volte pra casa,
Que a lua sem te ter, decerto atrasa...


59

Na imensa divindade de um desejo
Que cumpre a sua sina e nos fascina,
Eterna juventude que ora almejo
Encontro nos encantos da menina

Meu coração qual fora um realejo
Adivinhando a dor que me destina
Amor que sendo apenas um lampejo
Meu sonho – ser feliz, cedo extermina...

Não sei com escapar sem arranhões
Às garras afiadas das paixões,
Mas teimo em persistir buscando o encanto

Que doura a minha pele, e assim me queima,
Na insana persistência desta teima,
Apenas um estúpido helianto...



60


Na hipocrisia estúpida e boçal
Aonde se expressar é quase um crime.
Desértica cultura universal
Qual haste feita em junco, frágil vime.

Desfila-se ignorância sem igual,
Nem mesmo a fantasia mais redime,
Mediocridade reina, triunfal,
O sol sem ter sequer mais que o estime,

Deitando num sol-pôr que não se finda,
Não posso imaginar aurora ou luz.
Quem dera percebesse ao fim, ainda,

Um raio que trouxesse algum alento.
Às trevas dia-a-dia nos conduz
A agônica expressão do pensamento.


61

Na guerra que travei eu quis a morte
Não venha discutir mas estou triste
Porém que sempre sonha não desiste
E a força que me move hoje é meu norte...

Tentei nessa batalha ter o corte
Profundo ao qual jamais alguém resiste
Para minha tristeza a morte assiste
E não veio. Vontade foi tão forte

Mas trago meu destino malfadado.
O tempo se passou, tudo acabado
Não pude desfrutar desta certeza.

Agora que estou velho, nunca mais.
O resto dos meus dias, vou sem paz
Pois não verei Valquíra e nem beleza...
Marcos Loures


62


Na greta mais gostosa avanço o falo,
E nada me contendo, já disparo
Enquanto a língua usando assim me calo
E sinto teu tesão, desejo e faro.

Na festa prometida tanto embalo,
Embalo meu prazer em gozo raro
Nas mãos deste moleque tanto calo
Na coxa da menina, o meu amparo.

Tu sorves teu sorvete e vou sorver-te
Ao mesmo tempo insano que devoras
O rio que se mostra em quente lava,

Prazer que me encharcando se converte
Em mares onde em gozos logo afloras
Nas águas e no leite amor se lava...
Marcos Loures


63

Na glória imaginada e tão querida
Meu mundo se mostrando verdadeiro.
A sorte que se busca concebida
No toque da alegria, mais ligeiro.

Sentindo todo o bem de nossa vida
No canto mais amigo e companheiro,
Curando em alegria uma ferida
Pressinto da esperança o doce cheiro.

Festejo o teu aniversário assim
Florido amanhecer em meu jardim,
Marcado por perfumes e por cores.

Contigo caminhando lado a lado
Percebo o meu destino iluminado
No mais sublime e belo dos amores.
Marcos Loures


64


Na gélida paisagem dos meus dias,
A solidão tomando toda a cena.
As horas que passamos, ermas, frias.
Apenas o vazio ainda acena

Coberto pela neve da tristeza
O vento da saudade me castiga.
Minha alma sucumbindo como a presa
Que a vida, amarga fera, desabriga.

Buscando neste inverno algum alento,
Exponho-me ao furor de um frio vento,
Mas tento respirar, neste arrebol.

E vejo como fosse fantasia
Uma última esperança; em claro dia,
O raio derradeiro deste sol..


65

Na mira de um trabuco até confesso
O que jamais pensei em cometer,
Se a moça já desdenha do prazer
Nas cordas e cadarços eu tropeço;

Distâncias entre nós querida, meço,
E sei que no final nada irei ter
Sequer o que mais quer insano ser
Sem fios nem meadas, nada peço.

Apreço é na verdade coisa boa,
Que mexe com brotinho e com coroa
Sem dolo sem pecado e sem juízo.

A saia levantada pelo vento,
Durando a maravilha um só momento,
É tudo que mais quero e mais preciso...

66

Na minha mocidade imaginava
Amor como um presente merecido
Portanto a cada dia mais amava
Amor passou depressa, foi vencido...

Depois recompensava a ilusão
Sonhando com amor que nunca vinha
Perdendo meu caminho, em solidão
A tarde se passava tão sozinha...

Nas curvas deste rio, mergulhei
Sabendo que não pude nem nadar.
Vencido pelos medos eu passei
A mocidade inteira sem amar...

Agora que o outono bate a porta,
Percebo essa emoção quase que morta!


67

Na minha escura sorte procurara
Durante tanto tempo, sem ter sorte
A jóia que eu sabia cara e rara
Do amor que fosse guia e fosse norte.

Pois vindo deste peito já sangrante
O medo de saber-te mais calada,
Desmascarado o medo deste instante
Encontro-me contigo, minha amada.

Neste ansiado encontro o meu futuro,
A sorte se lançando num segundo,
Aguardo uma ilusão que negue escuro
E trague a sensação de sentir fundo

O gosto do prazer correspondido,
Que me deixou assim; tonto, aturdido...


68

Na mina em que se emana água potável
Não deixo de beber toda semana
Amor quando se mostra inesgotável
É fonte que se basta, soberana.
No quanto o nosso amor é invejável
Jamais a vida amarga e desengana.

Cacimba da esperança nunca seca,
A cada novo sonho, sempre aumenta.
Quem vive amor profano já não peca
A vida sem desejos segue lenta,
Menina que te quero mais sapeca,
No jogo que domina, tanto inventa.

Eu quero o que tu queres, nada mais,
Desejos e loucuras sem iguais...
Marcos Loures


69

Na mesma ventania que vieste
No mesmo fogo lento em que me queimas
Amor assim feroz, quase que agreste,
Em tantas tempestades, duras teimas...

Na copa deste amor, tão agridoce,
Carinhos e maus tratos se revezam;
Se veio ou se não veio pensei que fosse
As bocas que se mordem também prezam.

Eu quero nosso amor de qualquer jeito
Envolto em mansidão ou em tormenta.
Depois de te sentir rasgando o peito,
Barragem que em loucura se arrebenta.

Eu quero nosso amor sem poesia,
Que sangra e que me cura, todo dia...


70


Na mesma mão, andores, rezas, círios,
Enquanto em arma oculta se esbraveja.
Num ácido veneno, seus colírios,
Matando pouco a pouco, inda deseja.

O sangue se imiscui, lentos martírios
Embora uma esperança se preveja.
Na morte se confundem risos, lírios
E goles de conhaque e de cerveja.

De resto carregando para o túmulo,
A mão que acaricia e me maltrata.
Talvez a sensação, chegar ao cúmulo

De total lucidez, insanidade...
A fome que escarrando já retrata
Sucumbe à placidez de uma amizade...

71

Na menina dos olhos de quem amo,
Eu vejo minha imagem refletida
Ecoa minha voz quando te chamo
Minha alma na tua alma vai perdida...
Nós somos mesmo galho e um só ramo,
Atadas nossas luzes, mesma vida.

Nascemos um para outro, não duvido,
Juntando nossos corpos, somos um.
Vivemos deste sonho repartido
Não nos afastaremos, modo algum.
Meu passo sem teu passo, desvalido,
Tu sabes que sem ti eu sou nenhum...

E vamos, mundo afora em mesmo prisma,
Jamais em nossos dias, qualquer cisma...


72


Na margem deste rio onde me deito,
Ouvindo a cachoeira no seu canto.
Sentindo esse frescor, tão satisfeito,
Sabendo desta vida, puro encanto...

Nas águas deste rio em que mergulho,
Nadando uma esperança sem final.
Amor que tanto quero quanto orgulho,
Por certo é;nosso amor, celestial...

Eu quero o teu amor, mais verdadeiro,
Nas danças e promessas, tanta luz.
Amor que quando vem, é sempre inteiro.
E em meio a tantos brilhos, se produz...

As águas, as cascatas, este véu...
Só falta o meu amor pr’estar no céu!


73

Na mão que doce afaga aquiescente
Caminhos que apascentam minha vida,
A sorte já lançada e assim cumprida
Mostrando-se melhor na paz que sente

Um coração que um dia enfim pressente
Um mundo bem tranqüilo em que se olvida
A dor que maltratara e desvalida
Se perde em outra senda, de repente.

Deitando, meu amor, em teu regaço,
Depois de amor imenso, meu cansaço
Encontra lenitivo no carinho

Que sei ser inerente de quem ama
Professando alegria em bela trama,
Chegando com a noite, de mansinho...
Marcos Loures


74

Na mão que acaricia e me treslouca,
A sorte do viver vai decidida,
Se a dor já se anuncia audaz e louca,
Apenas vislumbrando uma saída;

Depois de uma ventura rara e pouca
Amor muda o sentido em minha vida,
Bebendo todo o mel de tua boca
Concebo esta alegria recebida

Nos olhos de quem amo, luz intensa,
Sabendo ser possível recompensa
De um dia mais feliz, manso e perfeito.

Quem tem amor por glória e redenção
Levado pelo gozo em sedução
Já sente o fogo ardente no seu leito.
Marcos Loures


8875

Na frágil sensação da realidade
Quem vive em desamor não pode crer
Que a vida tão cruel em falsidade
A outrem possa dizer de algum prazer.

Lamento quem se fez iniqüidade
E nunca aceitaria que outro ser
Pudesse ser feliz, pois na verdade
Não tem por que sonhar; a padecer.

Sinceridade? Escusa-me se eu tenho
O coração aberto à fantasia.
Enquanto houver a luz e a poesia

Suave manterei, decerto o cenho,
Uma alma sonhadora não se alinha
Com outra solitária e tão mesquinha...
Marcos Loures


76



Na frágil sensação da eternidade
Que apenas um momento em paz nos dá,
O amor que se traduz numa verdade,
É tudo o que desejo antes e já.

Quem sabe como é bom serenidade
Transporta a luz que sempre brilhará,
Na farta claridade que o invade
A sua realidade mudará.

E vendo que o futuro só depende
Do grão que se cevou no dia-a-dia,
Espalha sobre todos; a alegria,

Mesmo que num instante a vida pende
Pelas sombrias sendas do pecado,
Consegue iluminar a sebe, o prado...


77

Na foz de nossos sonhos, porto e cais,
Os seixos permanecem neste rio.
O quanto que enfrentamos vendavais
Em magistrais viagens fantasio.

Se eu crio o que deveras acredito,
Repito em cada verso o mesmo plano
Quebrando em maciez duro granito
Ao infinito chego e não me engano.

Arcano pensamento em realejo
Tentando adivinhar o meu futuro,
Apenas o que agora inda prevejo
O céu em que das trevas eu depuro.

Parede que se dá, cores, afrescos,
Mosaico feito em braços, arabescos...


78

Na força redentora da alegria
Botões de rosa expostos na nudez.
Sabendo o quanto amor traz poesia,
Espero ansiosamente a nossa vez.

Minha cabeça errando no seu mundo,
Aguarda uma resposta mais direta.
Eu quero ser feliz e já me inundo
Neste meu sonho, invejo-te poeta...

Quem dera poder ter a tua verve
Cantar assim a quem desejo bem,
Minha alma, na bandeja, amor já serve,
Procuro a noite inteira... Espero... Vem!

Pressinto que ela sabe quanto amor
Existe no meu peito sonhador...


79

Na força que me faz um sonhador
Não temo nem tempesta malfazeja.
A cada novo verso, o trovador
Moldura o que mais quer, o que deseja.

Meus versos vão pingando sem temor
Falando de um amor que já se almeja.
Sou simples e por ser um cantador
A lua enamorada já me beija.

Quem tem uma esperança companheira
Percebe que esta curva já tem fim.
A pedra se mostrando corriqueira

Permite que se salte, calmamente.
A rosa que plantei no meu jardim,
De espinhos se despindo totalmente.


80

Na força que domina e não se mede
O tempo vai mudando a minha história,
Carinho que se pede e se concede
Legado que carrego na memória.

Relembro o teu olhar que em mansidão,
Mostrara qual sentido prosseguir,
Pois, o vento mudando a direção
Não deixa nem mais rastros pra seguir.

À noite ou na temível madrugada,
A solidão reflete este vazio
Do quanto eu tivera sobrou nada,
Somente o desespero amargo e frio.

Saudades vão roubando toda a cena,
Lembrança deste amor, cura e envenena...


81

Na força libertária da Verdade
A intensa proteção contra os tufões.
Gerando com firmeza, a terna grade
Que impede a queda em meio aos turbilhões.

Negar tal fato, irmão; não sei quem há de,
Porquanto nas mentiras, alçapões,
Aos quatro cantos; tolo, aquel que brade
Guardando em vão sua alma nos porões.

A areia movediça dos falsários
Na qual; castelos frágeis são inúteis.
Os passos sempre trôpegos e fúteis


82

Na força feita amor que nos domina,
Eu tenho esta certeza dentro em mim
Da luz que se aproxima e traz, enfim
O brilho que decerto me alucina.

No rosto bronzeado da menina
A flor que desejei em meu jardim,
A boca delicada e carmesim
Mudando a cada beijo a triste sina

De quem pensara sempre em ser feliz,
Porém o dia-a-dia que desdiz
Deixara tão somente uma esperança.

Agora que te tenho aqui, comigo,
Encontro todo o sonho que persigo,
Em teus braços desejo e temperança...
Marcos Loures


83

Na força desta luz que nos invade
Encanto feito em glória se assomou
Meu corpo te buscando e na vontade
Que um dia em fantasia me tomou,

Entorno sem limites, saciedade,
De tudo o que aprendi, e agora sou,
Descubro- até que enfim – felicidade,
Na pele que em loucuras me tocou.

Do gozo mais perfeito que persigo,
Apenas junto a ti – amor – consigo
Saber que é bem possível a alegria

Atrelo cada verso ao paraíso
Que sinto no teu toque mais preciso
Além de simplesmente fantasia...
Marcos Loures


84

Na força de Teus braços meu alento
Na dura tempestade, ancoradouro,
Vislumbro sempre em Ti, maior tesouro,
Sentindo o meu sorriso e o meu lamento.

Das dores de minha alma, meu ungüento,
Amor que se mostrando duradouro
Eternidade traz do nascedouro
Cevando com amor cada rebento.

Erguendo o meu olhar, encontro os Teus
Trazendo a paz suprema, em glórias tantas,
No frio me acolhendo em Tuas mantas

A luz que guia, eterna em plenos breus.
Do amor inigualável, Tu me encantas
A perfeição encontro em Ti, meu Deus...
Marcos Loures


85


Na força da mistura esta beleza
Tão rara e indescritível desta raça,
Trazendo na plebéia tal nobreza
Que encanta a todo mundo quando passa.

Os olhos de esperança esmeraldinos,
A pele bronzeada, melanina,
Tomando logo as rédeas dos destinos,
O jambo desta tez cedo domina

E faz bater mais forte o coração,
Deixando toda a pele arrepiada,
Abençoando a miscigenação
Natura se mostrando extasiada

Desfila esta fantástica alquimia
Que enquanto encanta tanto, sonhos cria...


86

Na força da amizade verdadeira
Encontro o meu caminho sempre aberto,
Depois de conhecer duro deserto
Percebo uma esperança alvissareira.

Minha alma tendo a luz como bandeira
Andando com teu passo aqui por perto
Meu mundo não será jamais incerto,
Tua presença sempre companheira

Permite que eu conceba em passo forte
Um novo amanhecer, mudando o norte,
Tecendo um horizonte mais sereno.

Um passo quando é dado com firmeza
Ajuda a vislumbrar esta beleza
Do mundo que se mostra, agora, pleno...

87

Na força da amizade eu passo a crer
Sabendo quanto quero ser feliz.
O vento da alegria me faz ver
O quanto que tivera em cores cris

O mundo tão diverso dos meus sonhos,
Em quedas nos penhascos da existência
Abismos que encontrara tão medonhos
Criando e recriando a penitência

Quebrando pouco a pouco uma esperança
Trazendo a solidão depois de tudo,
O medo que me toma, vil herança
Deixando o coração cego e miúdo

Agora que eu percebo, finalmente
À luz desta amizade eu vou contente...
Marcos Loures


88


Na força da amizade é que percebo
O quanto é necessário caminhar,
Além deste universo que concebo,
Encontro uma esperança a navegar

Em sendas tão perfeitas que permitam
Voar pelo infinito sem fronteiras,
Que os erros cometidos não repitam,
Palavras devem ser as verdadeiras.

Amigo, rara estirpe em extinção,
Extirpe as falas falsas do caminho,
Nem deixe-se levar por ilusão,
Senão é bem melhor andar sozinho.

Mas se encontrares, cuide da amizade
Como quem conheceu preciosidade...

89


Na fonte tão gostosa de beber
Mergulho a minha sede e me inebrio
Derramas sobre mim teu bem querer
Realizando assim, divino cio.

O vício de deitar amor insano
Cobertas e lençóis vão pelo chão
O tempo se mostrando soberano
Na cama esta divina inundação.

Eu sinto que o poder do amor transgride
Por ser tão libertário nada teme,
Decerto minha amada não duvide
A vida nos teus braços, remo e leme

Desejo feito amor, é força incrível,
Tornando o coração quase invencível.
Marcos Loures


90

Na fonte que não cessa e não se esgota
Mergulho sem limites, vou bem fundo.
Perdendo nos teus braços rumo e rota
Amor vai me tomando num segundo.

Amar é não saber se existe cota
Vivendo sem temor eu me aprofundo
E sorvo com vontade cada gota
Espalho o sentimento em todo o mundo.

Amor que não me farta e não me cansa
É tudo o que eu queria, e nada mais.
Voltando novamente a ser criança

Encontro em teu retrato sedução
Invado mansamente o belo cais
No porto dos amores, coração.
Marcos Loures


91

Na fonte dos desejos eu te vi,

No espelho; refletida nos meus olhos,

De tanto amar demais eu me perdi,

A solidão colhida quase em molhos.


Mas veio um vento doce que me disse

Se todo grande amor termina assim,

Qual fosse triste sina que cumprisse;

-Resista amor imenso, até no fim!


Meu canto no teu canto se propaga

A chama que nos queima não termina,

Apenas determina; não se apaga,

Acende no teu fogo. Uma menina


Que sabe muito bem o que bem quer,

Na cama me fascina: Que mulher!


92

Na fonte da amizade me inebrio
E bebo gota a gota até o fim,
Vencendo o que vivera mais sombrio
Agora o sol renasce dentro em mim.

Um mundo alucinante; fantasio
E vejo renascer em meu jardim
A flor desta amizade neste estio
Que aquece o que foi neve; num festim

Aonde ser feliz é o que me importa
Abrindo da alegria sala e porta
Aporto cada verso neste cais

Vivendo neste belo ancoradouro
Sabendo que encontrei raro tesouro,
Nos braços da amizade, eu quero mais!

93

Na fome que se espalha
Em grandes plantações
No corte da navalha
Escravos, borbotões

Futuro se avacalha
Esquecem-se lições
A vida vira tralha
Emergem podridões;

A morte na tocaia
Espreita cada presa,
Cavalo que sem baia

Levado em correnteza,
A vida não ensaia
Sequer uma surpresa...


94

Na fome que se espalha pela terra
Na violência estúpida, sem nexo.
Em cada uma esperança que se encerra,
Num torpe emaranhado tão complexo.

Na mão dos poderosos que desaba
Esmagando os famintos, flagelados,
Na vida que mal nasce e já se acaba,
Nos sonhos que se morrem, desgraçados.

No parque da miséria exposto a todos,
Nas trevas que insistimos em não ver,
Nos mangues, nas charnecas, podres lodos,
Na fonte tão injusta do poder.

Amor tão verdadeiro é claridade,
Na qualidade imensa da amizade...


95

Na fome que se espalha no sertão,
Nos lábios ressequidos da criança.
Em meio a tão terrível procissão
Na busca insaciável, esperança...

Naqueles que comandam, coronéis
As facas, as tocaias miseráveis.
Amarras nestas pernas são cordéis,
O gosto destas lamas intragáveis.

O resto deste pão que vai cuspido,
As moscas que te beijam, camarada...
Depois deste cenário, ser carpido,
Da fome noutra fome escancarada...

Eu vejo este destino a se cumprir,
Enquanto um miserável existir!


96

Na flor que trouxe espinhos, a distância.
Não quero me ferir nem magoar.
Amor não se permite em discrepância
Fazendo do carinho seu penar...

Eu sinto que te quero a cada dia,
Espero que não queiras mais batalhas.
Vivendo nosso amor em poesia,
Não quero estar no fio da navalha.

Vivendo celebrando o nosso canto,
Que, espanto, nunca foi de maltratar.
Assim talvez encontres tal encanto
Que sempre me impeliu, tanto, a te amar...

Não quero ter ternura que conforte,
Eu quero teu amor, até a morte!


97

Na flor mais olorosa amor mais que perfeito...
Na dança, uma promessa, a tal felicidade!
Amor quando sincero, escusa-se de alarde.
Espero por teu colo, aguardo no meu leito...

Embora verdadeiro, escondo meu defeito.
Não venha me dizer que é pura falsidade.
É que paixão não deixa a tal sinceridade
Ser plena como quero. Amor é desse jeito!

Mas eu posso dizer que te amo plenamente,
Pois em todo esse jogo, a gente sempre mente!
Em toda a minha vida eu quis essa morena.

Agora, a primavera explode num verão
A dor, antiga fera, em plena solidão!
Total felicidade: abraço-te Lorena!


98

Na flama que se entorna, verdadeira
De um jeito mais audaz eu vejo a vida,
Serena e tantas vezes feiticeira
Pegando a solidão desprevenida.

Distante das pendengas e litígios
Agora vamos juntos noite afora.
Do quanto que sofremos, nem vestígios
A força feita amor nos revigora.

Quasares e pulsares, luz intensa
Nas vias siderais, nossos caminhos.
Amor já prometendo a recompensa
Encharca de desejos, camas, ninhos.

No todo se mostrando em vibração,
Trazendo para a vida a sensação.
Marcos Loures


99

Na festa prometida em noite bela
O tempo em que se faz felicidade
Aos poucos, fantasia nos revela
Sublime sensação de claridade.

Eu tenho esta certeza de poder
Sentir tua presença benfazeja
Amor que nos permite agora crer
Na paz que se procura e se deseja

Após a tempestade que tivemos,
Vencidas as quimeras, vamos nessa
No barco de meus sonhos nossos remos
Além de simplesmente uma promessa

Ou mesmo o que se quer feito conquista,
Traduz esta esperança tão benquista...
Marcos Loures


8900

Na festa em que completas mais um ano,
As danças que teremos de alegria,
Deixando o que se fora em desengano
Prometem nos trazer em fantasia

O quanto nosso canto já dizia
Fartura de presentes. Quando explano
Meu sonho de tentar, talvez um dia
Amor que sei em ti, mais soberano

Percebo ser audaz meu pensamento
E calo-me num canto desta sala.
Porém ao ver chegar neste momento

Beleza sem igual meu peito fala
E chama para a dança essa donzela
De todas as que vi, és a mais bela!


Marcos Loures
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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