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Riscos da memória

 
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Vi o rigor da memória
No traço ténue das sombras

Uma lembrança inconstante, a parede esboroada
Cal de tempos já distantes a acusar cicatrizes
Sonhos ainda em dormência na casa já acordada
E o sol cru em incidências amanhecendo matizes
Afiguram-me da vida esboços de nitidez
Que eu ainda menina li no tempo que me fez
Ver o rigor da memória no traço ténue das sombras..

E vi rostos, vi caminhos, feitos não sei por que mão
Traços grossos, traços finos, sinais de chuvas intrusas
Desenhando voos livres na minha imaginação
Capaz de ver fino arbítrio em linhas mais que confusas.
Por entre as rendas de bilros da barra do meu lençol
Explorei ao som de chilros as andanças desse sol
Vendo o rigor da memória no traço ténue das sombras.

A esta distância agora, em viagem receada
Pergunto-me se ainda chora a parede do meu quarto
Se as taipas já despiram os restos de cal gravada
Com desenhos que dormiram comigo o sono mais grato
E sulcos que me iludiam cenas de um beijo de filme
Nessa luz que sempre iria continuar a distrair-me:
Há um rigor de memória no traço ténue das sombras.


Teresa Teixeira


 
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Sterea
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Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 01/12/2012 23:37  Atualizado: 01/12/2012 23:37
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Riscos da memória
Deliciada é assim que me sinto agora que acabei de ler esta pequena maravilha onde me revejo em cada linha, em cada traço dessas recordações sem preço!

Obrigada pelo momento

Beijo

Enviado por Tópico
fotograma
Publicado: 02/12/2012 01:47  Atualizado: 02/12/2012 01:47
Colaborador
Usuário desde: 16/10/2012
Localidade:
Mensagens: 1473
 Re: Riscos da memória
rigorosamente sombrio rs

sombras delineiam contornos, sombras alardeiam perigo, sombras protegem do calor, sombras despertam olhos para a luz

na caixinha de memórias, guardadas e lacradas, há sombras sem dúvidas...

Enviado por Tópico
missmarple
Publicado: 03/12/2012 22:34  Atualizado: 03/12/2012 22:34
Muito Participativo
Usuário desde: 04/07/2010
Localidade:
Mensagens: 60
 Re: Riscos da memória
"Vi o rigor da memória(...)
(...) a acusar cicatrizes(...)
(...)Que eu ainda menina li no tempo que me fez(...)
(...)A esta distância agora, em viagem receada
Pergunto-me se ainda chora a parede do meu quarto(...)"

O passar do tempo não apaga cicatrizes, pois não?
E as paredes, essas... já deixaram de chorar.
Nelas as sombras não têm memória...


Lindo o seu poema

Rita