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A Casa Em Ruínas

 
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Há medida que o amor passeava nas tuas mãos pelo meu corpo, os pedaços daquela casa iam caindo a pouco e pouco no chão. Fazendo pequenos ruídos, nós não ouvíamos, estávamos demasiado compenetrados em nós para ouvi-lo.
Tocaste-me suave nos seios, nas ancas, na voz e no olhar. Os meus suspiros gritavam a tua ira. Os meus suspiros iam destruindo, aos poucos, a casa antiquada onde estávamos deitados. Deleite, sofríamos dele.
Vagueei com uma flor no teu corpo, estremecias com o seu toque. A minha pele macia deitava-se sobre a tua num balancear carnal.
A casa ruía, nós não ouvíamos. O tempo, os sons, a música estavam mortos. A nossa mente concentrava-se em nós. A fome, um do outro, era mais forte que o estrondo cada vez mais baluarte da casa.
Continuávamos. Nada nos faria parar aquele momento. Nada era mais forte que nós, senão os nossos olhares ansiosos pelo instante que concebíamos. Acreditávamos no nosso feito, nas melodias psicológicas que criávamos ao amarmo-nos daquela maneira.
Ruído atrás de ruído. Os cacos da casa velha caíam agora sobre nós, sobre as nossas peles demasiado comprometidas pelo prazer. Tínhamos uma noção do que se passava, mas acreditávamos demasiado no amor.
Amamo-nos.
Son-omama.
As luzes apagaram-se. Um medo incerto apoderou-se de nós. Mas o momento continuou, nem o pânico era capaz de nos separar.
A casa ruía cada vez mais veloz sobre nós, o amor tornava-se mais veloz. Tremíamos agora, mas o receio sabia-nos bem, era estimulante.

Então, caiu. Sem luz, sem pedaço de Lua, sem qualquer perdão.
A casa caiu sobre o nosso amor, desfez-nos em pedaços de pele morta, osso e sangue.


les fleurs mortes.

 
Autor
Fleur
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1946
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