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Rogério Beça | Publicado: 26/10/2019 17:03 Atualizado: 26/10/2019 18:17 |
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Re: Maio,...até morrer
Acerca de Primaverar, li recentemente num livro de José Tolentino Mendonça ("Que coisa são as nuvens", uma compilação de crónicas do expresso) o acto de, em qualquer idade, rejuvenescer marcando a existência de energia, juventude, de recomeços.
Este Maio personificado competentemente, cheira-me muito a esse verbo. Se for um pouco mais rebuscado da minha parte, sendo Abril o mês da revolução (mesmo no fim aliás), Maio é o mês imediatamente a seguir, em que a poeira ainda não acabou de assentar, mas o perfume a sangue já é menos fresco. O nome Zeca levou-me impreterivelmente para esse espírito. O milho e o lagar, as mães e as crianças, colocam a leitura num ambiente tremendamente humano. Apesar do amor em desvio. A segunda estrofe, excessiva em tempos verbais, enchem o poema de movimento. E se na primeira parece o corpo que é visado, na garganta, nesta é o cantar, muito menos seco e começa a humidade a surgir com a partida e com a partilha. Como as partes não acabam aí, surge o final. Porque Maio Homem acaba, como tudo acaba, ao dia 31, num último suspiro, poetando até que a voz se extinga num misto de luz, que o calor de Junho já pressente. Como ainda não é verão chove. O arco-íris ainda nos transporta para a fantasia das cores, para os potes de ouro numa das pontas (princípio, fim?), para a riqueza das páginas por escrever de teorias, de cismas, de sonhos, de versos... Gostei. Tens uma linguagem correcta a vários níveis, mas sobretudo um sentido estético e recursos estilísticos nada básicos, a provocar o leitor a outras leituras e várias interpretações. Nota: na primeira estrofe no quinto verso tens a proposição "da" no singular, onde aparentemente deveria estar no plural. Mas posso estar enganado. Abraço |