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Maio,...até morrer

 
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como cantava Maio,
dizia de Zeca o que o povo
se esqueceu,
trazia o milho moído nas gargantas
secas da mães,
e fazia de um lagar de vinho,
o prazer acintoso das crianças
desviadas do amor,....

Maio cantava ao desbarato,
partia aos bocadinhos a sorte
invisível,
distribuía livros de páginas brancas,
recitava versos,
sem sentido e sem cor,...

como Maio cantou até morrer,
tudo acabou no arco íris
do estio,

com chuva

 
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pleonasmo
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 26/10/2019 17:03  Atualizado: 26/10/2019 18:17
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1940
 Re: Maio,...até morrer
Acerca de Primaverar, li recentemente num livro de José Tolentino Mendonça ("Que coisa são as nuvens", uma compilação de crónicas do expresso) o acto de, em qualquer idade, rejuvenescer marcando a existência de energia, juventude, de recomeços.
Este Maio personificado competentemente, cheira-me muito a esse verbo.
Se for um pouco mais rebuscado da minha parte, sendo Abril o mês da revolução (mesmo no fim aliás), Maio é o mês imediatamente a seguir, em que a poeira ainda não acabou de assentar, mas o perfume a sangue já é menos fresco.
O nome Zeca levou-me impreterivelmente para esse espírito.
O milho e o lagar, as mães e as crianças, colocam a leitura num ambiente tremendamente humano.
Apesar do amor em desvio.
A segunda estrofe, excessiva em tempos verbais, enchem o poema de movimento. E se na primeira parece o corpo que é visado, na garganta, nesta é o cantar, muito menos seco e começa a humidade a surgir com a partida e com a partilha.
Como as partes não acabam aí, surge o final.
Porque Maio Homem acaba, como tudo acaba, ao dia 31, num último suspiro, poetando até que a voz se extinga num misto de luz, que o calor de Junho já pressente.
Como ainda não é verão chove.
O arco-íris ainda nos transporta para a fantasia das cores, para os potes de ouro numa das pontas (princípio, fim?), para a riqueza das páginas por escrever de teorias, de cismas, de sonhos, de versos...

Gostei.
Tens uma linguagem correcta a vários níveis, mas sobretudo um sentido estético e recursos estilísticos nada básicos, a provocar o leitor a outras leituras e várias interpretações.

Nota: na primeira estrofe no quinto verso tens a proposição "da" no singular, onde aparentemente deveria estar no plural.
Mas posso estar enganado.

Abraço