saíram noite a dentro para a madrugada,
tais gatos, acasalados nos sonhos
esmeralda brilhantes nos verdes olhos!
lava, chama de fogueira, labareda
em curto pavio, a enfrentar o frio ...
tinham por casa, apenas a abóbada estrelada.
tinham nas almas, sons de flautas e harpas,
...sons finos, que ecoavam em miares felinos!
traziam dorsos luzidios e negros
e noites magoadas de tempos esperas
verdes olhos círculos esferas ...
saíram para a madrugada sem nada mais
que a certeza de que encontrariam juntos
no dobrar das vagas,
no dedilhar dorido d’uma guitarra,
ou simplesmente no trinar de mil cigarras,
notas ocultas e novas cartas, rotas a navegar.
saíram para a madrugada,
levavam nas costas tal estivadores,
sacas carregadas, pesadas de tantas dores.
saíram para a madrugada,
na senda da ilha encantada dos amores!
***
estavam estirados, lado a lado,
na praia deserta, perscrutando o ondular das vagas,
no bater oprimido, aflito, belicoso e inquieto
nas margens de pedra... as próprias margens!
estavam quedados, acalmados no
manto marmoreado rosáceo de meia-lua,
olhando a dança serena dos pontos vermelhos...
e, de seguida, cumprido o destino,
fundidos os corpos, joelhos flectidos n'areia,
ali instalados sob a abóbada, tal mágico nicho,
uniram-se patas e, gatos de gatas,
rezaram a prece na voz dos bichos ...
***
estavam assim (que eu bem os vi!),
de pernas cruzadas, híbridos sentidos...
eram budas, eram de bichos-almas ...
estavam assim ... descalços em palmas ...
sob a luz pontiaguda, da alvorada,
na eterna magia de um do alvorecer...
estavam assim e, de repente, no céu abobado,
uma nova estrela ou um planeta se quedou -
- num raio refulgente toda a madrugada iluminou.
saíram para a noite pega à madrugada,
em alquimia de mil palavras projectados
nos brilhos frios de todas as águas ...
estavam ali ... que eu bem os vi!
(felizes os gatos...)
Lx. 2006-10-02
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