Não jurarias p’la noite perfumada d’um amor só começado
Pois o sentimento adirá aos olhos humanos como um visgo
Não, não o dirias pela noite gritando em loucos megafones
Que o ozônio que se foi, ora aquece a terra, planeta risco
Não clamarias por outra arca da destruição num novo fim
Pois não viria um dilúvio, tudo sendo consumido pelo fogo
Eis que vez todos mortos, nos ditarão a nova tábua de leis
Sem os murmúrios e balbucios da escória a novos inventos
Será reinventada uma compaixão, feita apenas de empatia
Sem o arrastar de correntes, línguas antigas e sem punhais
Sem o cuspir das balas ao som inesgotável dessas matracas
Então serão lançadas fora as máquinas de triturar sonhos
Que poderiam ser livremente sonhados e quiçá realizados
Não haveria os bares nas esquinas das grandes metrópoles
Ânforas de cobre coletariam toda a água que se irá beber
Nos caules das rosas ou dos figos não nasceriam espinhos
E nas melancias os caroços e cocos teriam cascas macias
É quando, enfim tudo reiniciará sem essa monótona sorte
Toda lágrima secaria só amando, também, se nos amassem
Sem o risco de se apaixonar e, pior, até ser correspondido
Sem corações feridos, não mais se escreverá as cicatrizes
O poema enfim, seria escrito tal se manda nos dicionários
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)