Poemas : 

Um Poema Deste Natal (54ª Poesia de um Canalha)

 
Dói-me tanto chão ensanguentado de Jerusalém
Tingido pela hipocrisia dos profetas da desgraça
Dói-me o céu negro que leva nas asas Damasco
E lhe vende pobres almas tão longe e mais além
Dói-me cada ruína de Kiev que morta me abraça
A chorar o dia de amanhã nas mãos do carrasco

Todas as pedras carregam em si um último olhar
A marca de uma bala que nos roubava um irmão
O corvejar mórbido que embala tamanha loucura
Todas as pedras se perdem no silêncio deste mar
Num prazer de perdição que se gritou em oração
No tão triste amor desumano que morto perdura

Dói-me ser esta gente a matar gente indiferente
De mãos ocas e abertas, sós sem mais ninguém
Sem o destino do caminho que me leva tão leve
Dói-me estares aí e eu ser a dor assim de gente
De este peito sem coração e aberto para alguém
Sem horizonte aonde chegue e que leve me leve


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
beijadordeflores
Publicado: 21/12/2024 12:32  Atualizado: 21/12/2024 12:32
Da casa!
Usuário desde: 26/10/2024
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Mensagens: 464
 Re: Um Poema Deste Natal (54ª Poesia de um Canalha)
Gosto da profundidade e geometria desta descrição poética da nossa triste realidade atual.


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 21/12/2024 19:06  Atualizado: 21/12/2024 21:37
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2257
 Re: Um Poema Deste Natal (54ª Poesia de um Canalha)
4. Soneto Baleado


Tudo é dor, é tudo o que tenho,
que me tinge e atinge no peito
já não sangro, a bala aceito
acolho-a com um ardor estranho.

Duma agudeza, sem fim, eu venho,
destroços é meu último leito
nos quais, sem escolha, me deito.
Perdi a aura, o meu tamanho.

Sou um cordeiro num sacrifício,
um monte sujo e desfigurado,
apodreço, à espera duma vala.

Foi este o meu estranho ofício,
sem, jamais, o ter planeado,
ser destino, fatal, duma bala.


De cheiramázedo
In Dez Sonetos da Guerra na Crimeia