I. A GRAMÁTICA DO AMOR
Amar é verbo transitivo.
Será o amor intransigente
se age de modo reativo
mesmo quando é displicente?
Verbos sempre nos enganam
Criando sintaxe do peito:
Todos eles positivam
Se o sentimento é perfeito.
Eis que surge a gramática
impossível delimitar
A indomável semântica
que nos aquece ao abraçar.
Conjugam-se os verbos da alma
em tempos que não existem,
Presente que nunca se acalma,
futuro onde dois coexistem.
II. ESSÊNCIA DO AMOR
Amor, mesmo indiferente
Busca cuidar de quem se ama
E assim o é para toda gente
Cujo desejo já inflama
Amor busca e faz proteção,
Pois é refúgio e é perigo,
É bússola, é barco e direção
É tanto amigo e um abrigo
Dois nós se atam num só laço,
são dois seres na mesma lida,
É o que refaz mesmo traço
É caminho, busca e partida.
Essência que o multiplica
São mil formas de resistir,
Uma força que nada explica
Na perda, insiste em persistir
III. O AMOR COMO ENCONTRO
Quando os olhares se seduzem
E reconhecem sua sede,
As almas enfim se conduzem
tecendo uma mesma rede
Amor que encontra resposta
floresce em mútuo jardim,
E cada gesto é proposta
de uma primavera sem fim
Porém, quando um ama sozinho
e a pessoa amada, distante,
Marca um triste e só caminho
marca o coração mendicante.
Rompem os fios, mas inda restam
são nós que o tempo não desfaz,
Dois que se foram, reencontram:
amor que morre e renasce.
IV. O AMOR COMO NATUREZA
Coração que livre espera
se entrega sem devolução
no mar, o vento supera.
vencendo a arrebentação
E mesmo estando em águas turvas
seu sentimento persiste,
É rio que mesmo nas curvas
e não há pedra que resiste.
Assim flui o rio eterno
que nem o mau tempo consome,
igual fogueira no inverno
segue acesa, sem quem a dome.
É terra que espera a semente,
É o fruto tenro que cai,
É o vento que sopra, insistente,
é a chuva que vem e que vai.
V. O AMOR COMO RESISTÊNCIA
Amor, primavera constante
floresce sendo igual ternura
Mesmo ao suspirar distante
Persiste na fé, sem censura
Se o tempo tenta arrefecer
calor que pulsa desta chama
Mais forte ele faz renascer
o sentimento de quem ama
Em meio a dor ou na alegria
firme anda, com o olhar atento
Dá cor e vida a poesia
abrigo se no desalento
Amor derrota o denso medo,
ecoa a voz em cada fenda;
volta do distante degredo,
e do sofrimento faz lenda.
VI. O AMOR COMO PROTEÇÃO
Quando a noite é só cansaço
E quando o receio arde fundo,
Amor busca criar o espaço
para criar um novo mundo
O amor protege o frágil ser,
o aquece no peito, no frio,
faz do pranto um doce viver
É luz no silêncio sombrio.
Tece o fio, instiga prudência
Faz seguro o passo a guiar
Possui própria inteligência
traz o corpo para amparar
Quando quer apenas dormir
e sonha sem ser exigente;
levanta, insiste em existir
céu de dia claro, fluente.
VII. CICLOS DO AMOR
Nasce o amor como aurora
que tímido então desponta,
Cresce em cada nova hora
que a vida sempre reconta.
Maduro fica como vinho
que o tempo faz mais suave,
Conhece cada caminho,
E possui sua própria chave.
Na memória se eterniza
passado que permanece
No futuro se desliza
o que se espera e acontece.
Amor que nasce, envelhece
mas mantém a sua beleza,
É o tempo que permanece
Para além de toda certeza.
VIII. O AMOR COMO CRIAÇÃO
Da ternura cria esperança
brota nos lábios a sorrir
e do riso gera a mudança
do campo que insiste florir
Do encontro que nasce o desejo
Semeia mais cor e alegria
Transborda no mais puro beijo
e cria no peito a euforia
É água da fonte a escorrer,
É chuva que semeia no mar.
É silêncio que fala e que vê,
E mesmo ao dia faz um luar.
Amor que completa e divide,
que se unem sem nunca prender,
É força que sempre reside
bem íntimo de cada ser.
IX. CONCLUSÃO
Ser feliz é ser amado
Amar a quem te ama
É nada ter a temer
Quando o amor tece a trama
É sempre o novo amanhecer
Renascendo em sua dança
Que ensina a compreender
Amor como esperança
Longe e sempre lado a lado
É maior poder que inflama
Mais forte que toda vaidade
Que o dinheiro e a fama
Mais que o verbo: é sentir
Viver construindo a vida
A quem se ama, permitir
Felicidade acolhida
Souza Cruz