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Caderno verde de dezembro

 
Friday, 08 de dezembro de 2023 – Feriado santo municipal – Dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de uma igreja no bairro do Monte Castelo, onde todos os anos tem seu festejo.
Continuou na velha e ensolarada Los Angeles no final dos anos 40 com o grande detetive Marlowe, criação do genial Raymond Chandler em um caso bem complicado em “O longo Adeus” – é o segundo livro dele que leio, o primeiro foi “Uma Janela para Morte” – sempre ouvi e li a seu respeito, como um dos melhores escritores policiais da literatura americana, discípulo de Dashiel Hammett com o seu celebre “Falcão Maltês” ( que nunca li) é considerado uma perola do gênero.
Assistir “Lagrimas de Sol” indicado por Little Fat.
Gostei muito de “O anti-herói americano” que conta a história de Harvey Pekar, um judeu arquivista de um hospital para veteranos em Cleveland, que criou uma revista em quadrinhos em parceria com o grande desenhista Robert Crumb. Baseado em seu cotidiano e fez muito sucesso. Depois encarei “Uma babá Quase Perfeita” com Robin Williams .
- Olha o peixe! Olha o peixe! – anuncia timidamente o carroceiro puxando a burra pelo cabresto, na carroça uma caixa grande e encardida de isopor e uma enferrujada balança de pratos – aos poucos sua voz vai sumindo na ladeira.
O filme é cômico e triste ao mesmo tempo, um tema que vivenciei, a separação do filhote ainda menor – o meu tinha doze anos, quando sai de casa numa triste noite de sábado em dezembro de 2006 – Foi uma barra, fui refugiar-me na casa de Tio Willi na distante Cidade Operaria. Quando revi aquela cena, dele despedindo-se de seus filhos, cortou o meu coração e verti lagrimas. Na sessão da tarde assisti “De repente uma família” – estava com os nervos derretendo como os relógios de Dali. Adoro Dali e seus quadros surrealistas, o considero mais gênio que seu conterrâneo de Málaga Picasso. Ele foi amigo íntimo do poeta andaluz Frederico ( uma pausa e brigar com a memória para lembrar o sobrenome dele) Garcia Lorca, autor do belo poema, que gosto muito “Prantos por Ignacio Sanchez Meijas” – um jovem toureiro que morreu na arena pelando com um touro: “Eran cinco horas de la tarde”.
Primeiro habitué foi o pequeno Val que veio dar um tempo até a hora do expediente no CB-450 e justamente no momento que escrevia os versos inicias do poema, fui interrompido pelo sr. Fox, que me alugou por alguns longos minutos com seu papo anti-Lula e sua camarilha. Todos estão surpresos de vê-lo andando a pé ou de ônibus, nesses trinta e poucos anos de Vila Embratel sempre teve seu carro. Os curiosos falaciosos se perguntam: O que houve?
Ontem tirei o pé do freio e depois de vários dias mamando litros e litros de vinhos, resolvi encarar um litro de vodca, que apanhei no Pére Cardin, aumentando o meu debito existente para cem ‘dólares’. Abri o litro e despejei um pouco numa gorotinha até enchê-la e guardei-o o resto no fundo da oficina. Comecei mamando socialmente e ao meio-dia subi para a pensão. O sol ofuscava a minha vista fudida da esquerda.
Eran onze horas de la mañana, quando o poeta sorveu seu primeiro trago e ela desceu rasgando-lhe as entranhas, obrigando a fazer uma careta na sua cara feia. O vizinho do lado batia fortemente em alguma coisa metálica e do outro Seu Costa, o barbeiro e seu trabalho de Sisifo, molhando o asfalto quente com um papeiro. Chandler gostava de uma birita, assim com Hemingway, Fitzgerald, Sinclay Lewis e meu querido James Joyce – todos gênios na arte da escrita. Kerouac, o autor de “Pé na Estrada” bêbado cochilou num sanitário em uma espelunca qualquer e despertou encharcado de urina.
Quando o sol esquenta, a vista piora. Reabasteço a gorotinha até a metade, restando apenas meio-litro que entoco debaixo de umas roupas sujas no fundo da oficina.
Já entornei umas quatro doses e recebi surpreso a visita inesperada do poeta Janaike.
-Cinco para as doze – disse o baixinho moreno pasteleiro ao passar.
Seu Costa já fechou o salão, o odor gostoso de uma carne assada de panela que vem da cozinha vizinha, deixa-me inebriado de fome. Antes de fechar, o poeta encheu um litrinho de Fanta, colocou no bolsa da camisa, tiorou as chaves dos cadeados e as guardou no bolso traseiro da bermuda, os dianteiros estão furados. Depois de subi o morro sem gravata, deixou o litrinho de Fanta e o livro de Chandler na pensão e saiu a caçar no mercado umas doses.
De volta aos meus aposentos – a vodka com sabor esquisito de Fanta.


 
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efemero25
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