dura lucidez

 
a manhã acende e o sol fulge na cal
branca das paredes, das casas
onde um dia houve vida,
há borboletas alegres abrindo asas,
e uma buganvília perdida.
as rosas vão desprendendo fragrância
por toda a aldeia,
lembro a dourada suavidade da infância,
a tarde morna, a hora da ceia
a vida é um instante
as memórias não morrem
só o tempo ficou distante!
a gota de água que floresceu e caiu
no ramo mais firme da roseira,
era lágrima furtiva, que ninguém viu
a dureza da alma, o final do estio,
chegando à minha beira.

apaga-se o ocaso
e a sombra ameaça
desvanece meu coração atormentado
a recordação me abraça
por perto o canto puro do rouxinol
e o sol, que fulgia nas paredes
brancas de cal
lembram a rapariga airosa, a tal
que hoje envelhece, desde então não vive
e no olhar já nada transparece.

natalia nuno
 
dura lucidez

Tu és luz

 
Tu és luz
 
Se o futuro a Deus pertence
e tudo está predestinado
é questão para dizer
de que serve o livre arbítrio?
se vendes a alma ao diabo!

A culpa é sempre do Karma
não aprendeste a lição
cometes os mesmos erros
faz de ti o seu escravo
por conta da ambição

Se escolheres ser feliz
afastas tudo o que é dor
Tu és luz, não és matéria
teu alimento é o amor!

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
 
Tu és luz

Filho d’alma

 
Filho d’alma
 
Oh, como gosto
de brincar com as palavras.
Criar, imaginar situações...
Coisas da alma aguçada
que não vê limites para fantasiar,
às vezes sorri o meu eu criador.
Das inspirações d'alma;
Das vísceras tal qual parir um filho.
Nasce não tem jeito,
o mais interessante é, que nem sempre
vivi e [ou] vivo o que escrevo.
Basta uma imagem para eu gerar,
da vida a um personagem.
Tornando-se tão real que levo o leitor
imaginar ser eu o personagem,
sim, em sua maioria, mas tantos
não o são dou vazão ao coração!

15/10/17
Guarulhos,
Às 01:49hrs
Mary Jun

Parabéns, poetas e poetisas pelo dia do escritor!
 
Filho d’alma

Nos céus da minha alma

 
Nos céus da minha alma
 
Recolho-me no mais ínfimo do meu ser
onde me encontro virgem e me deslumbro
onde permaneço fiel a mim mesma
mergulhando em ondas sensitivas
por entre os céus da minha alma

Através dos canais da minha essência,
percorro a gruta do auto-conhecimento
onde busco a paz que me energiza
e recupero o dom da sensibilidade
pelo qual rejo todo o meu viver

Neste lugar onde me encontro com a luz
numa acto de amor onde me aceito
parto à conquista de um novo mundo
que, nos meus sonhos, idealizo e é perfeito.

Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal
Email: nandaesteves@sapo.pt
 
Nos céus da minha alma

o esquecimento abre passagem

 
Corre o dia,
e uma luz coada entra pelas cortinas
antigas, a solidão me faz
companhia,
adensa a noite
e desarruma a minha mente
e assim a flor desfolha até às
pétalas finais, como o sol
que se apagou, derramando
um vazio que a destrói.
Transporto sonhos ante um inverno
que me espera, a solidão dói,
o esquecimento abre passagem
e cada lembrança é já indelével
imagem,
como casa desabitada, mofenta
arrasada, onde já ninguém responde
minha alma, anda não sei por onde!
Minha vontade, ainda
inventa versos como comida suculenta
que me faz bater o peito, e a saudade
traz-me de volta a menina
dizendo-me que sou a mesma d'outro tempo.

o tempo que vai e nada o pode deter
fica a palavra feita nada,
a vida voando para o poente
como a água, que não volta à nascente

natalia nuno
rosafogo
 
o esquecimento abre passagem

do pouco que resta

 
memórias transparecem
e deixam o poema a chorar,
onde houve fogo e calor
há escuridão,
e saudade a marear
fecho a alma e o coração
e se o amor quiser entrar
cuidaremos desse amor
que no dia de ontem esmoreceu,
sem doçura, nem desejo,
na lembrança, tudo o que se perdeu

sustenho a saudade do olhar teu
pedaços de recordações me seguem
agora, sem luz meu horizonte é
caminho indeciso, perdido o sorriso,
nostalgia do pouco que resta
o esquecimento já me sombreia,
a longevidade não é uma festa!
há sempre um nada, que me aguarda,
um curto pensamento, como o rumor
do vento, que o medo semeia.

natalia nuno
rosafogo
 
do pouco que resta

os famosos otarios

 
Os famosos otarios

Sao chamadas as pessoas que abrem mao de si em prol do proximo se desprender do egocentrismo abrir mao de si para o bem comum e uma virtude quase extinta no mundo sao raras as pessoas que tem essa qualidade mas sao chamados de otarios por pessoas pequenas que nao entendem a grandeza desse ato quando na verdade deveriam ser chamados de verdadeiros seres humanos
 
os famosos otarios

espera

 
Minha vida é esperar
(e o mundo sem razão)
minha vida é contar
quantas tábuas tem o chão.

E sol nasce
e sol se pôe
enquanto gente nasce
o amor depõe,

Redime

Todas as culpas
e desculpas
sem regime,
sem culpado.

[perdoa]

do pecado
de não ser-te ao teu lado.

por, apenas por:

A razão não ser pouca
embora a vontade, louca.
 
espera

O homem que nao tinha nada

 
Era um homem que nao tinha nada mais tinha um coraçao de menino
Ele andava a pe pelas calçadas e era forte apesar de ser franzino
Seu coraçao era forte guerreiro e sonhador
E ele continuava sorrindo apesar de seu caminho ser de sofredor
Ele nao tinha nada entao usava roupa usada
Ele so tinha um caderno e uma caneta que era o que sua alma precisava
Ele ali descrevia o por do sol e o nascer da lua
E onde todos so viam lixo ele ainda via cor nas ruas
Ele descrevia o sorriso da sua amada que era sua alegria
A distancia nao influia em nada ja que ela estava presente em sua poesia
O homem que nao tinha nada tinha conhecimento e sabedoria
E entre businas motores e apitos ele ainda ouvia da vida uma doce melodia
O homem que nao tinha nada dava um tapa com luva de pelica
A quem vivia de aparatos na ilusao e ele de pe no chao so exibia uma alma rica
 
O homem que nao tinha nada

Só o corpo...

 
Só o corpo...
 
Neste corpo que já não habito,
Que outros usam como se fosse o limbo,
Vivo como ar apenas me limito,
A observar, a enquadrar,
Pobres espíritos deixo entrar,
Para que me possa libertar,
A minha alma se espalhar… para outro lugar.

Neste corpo que empresto,
Que não falo, apenas observo,
Sou apenas mais uma que faz parte do manifesto,
Que na escravidão da vida me arrasto e conservo,
Para evidenciar, aclamar o meu resto…
Não tenho palavras, só almas… Um gesto!

Neste corpo vendido,
Dei o que sobrou de mim ao Carrasco,
Por caminho errados deixei o espírito perdido,
Não ouve um dia que fosse colorido,
Atirei-me dentro de mim para um penhasco,
Vendi o meu espírito por sentir tanto asco…

Neste corpo outrora meu,
Tudo o que escrevo apareceu,
Contado por outros que me recordaram,
O que vivenciaram, que sentimentos já passaram,
Pois nada disto aqui sou eu,
Apenas passei por mim e apanhei o que se perdeu…

Mas neste corpo em que vivi,
Um dia eu te vi e te conheci,
Mas ao falares e ao leres o que escrevi,
Lembra-te que não sou eu que estou para aqui!
Marlene ( Ghost)

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Só o corpo...

adormeço nos tentáculos de m’alma

 
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite

escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão

e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido

entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas

aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
adormeço nos tentáculos de m’alma

Basta saber-me viva

 
Basta saber-me viva
 
BASTA SABER-ME VIVA

Meu coração é uma gaiola dourada
Nela se solta o Amor e a Amizade
Branca, como o branco desta folha intocada
Nela um pássaro vai chilreando saudade.
Hoje lhe abri as portas
E a felicidade andou pertinho
E as lembranças já mortas?!
Fui deixando p'lo caminho.
Mas na verdade me doeu
E na garganta um nó ficou
Nas lembranças,também habitava eu
Se por lá fiquei, agora quem sou?

Apago-me como flor sem sol, tanta vida lá atrás
Já pouca coisa resta, o silêncio sobre mim se deita
Nesta descida entre a saudade e o frio, tanto faz!
Mastigo incertezas, já que a Vida não é perfeita.

Deixo-me a pensar com meus botões
Enquanto cai uma chuva enfadonha
Basta saber-me viva de ilusões
Minha alma malferida, ainda assim,sonha
Insistem os chilreios em meu coração
E há largueza por onde entra a claridade
Mas quando já não restar emoção?!
Serei como raiz sem apego, sem lugar
Morrerei de saudade...
Levada p'lo tempo, deixando-me por ele apanhar.

rosafogo
 
Basta saber-me viva

Alimento da Alma

 
"Alimentar nossa Alma
Com coisas boas da vida
É feito bater da palmas
Ao contemplar final do dia".
 
Alimento da Alma

Sonho ou pesadelo

 
Sonho ou pesadelo
 
SONHO OU PESADELO?

Desenlaça-se da tua a minha mão
Ficam para trás os sorrisos
A dor chega ao coração
A saudade vem sem avisos.

Desfazem-se os ùltimos abraços
A despedida é lenta e dolorosa
Já ao longe ouço passos
O gemido duma alma silenciosa.
Sufocam-se os gestos
Ao rubro emoções
Só nos sobram restos
Prevejo angústias e provações.

Olho os retratos a sépia de outrora
Recordo momentos p'la vida fora
E a vida a nos deixar, bem chegando a hora.

Pesadelo, que me castiga com maldade
Ou sonho onde desfolho lembrança!?
À minha alma chega o bálsamo da saudade
Enquanto me debruço na janela da infancia.
Uma gota de àgua faz transbordar
Uma nuvem cinzenta do meu interior
E as minhas faces ela vem regar
Levando-me ao meu infantil frescor.

Não sei do meu tecto,
do meu chão
O meu silêncio é tudo o que sei
Nem onde perdi afectos,
onde tenho o coração
Sei apenas da saudade, esta que guardei.

rosafogo
 
Sonho ou pesadelo

Só de pirraça

 
    Só   de pirraça
 
A saudade vem e me abraça
Sem que eu a chame
Nem a palavra declame
Surpresa fico sem graça

E, só de pirraça
Eu canto entediada
Uma melodia mesclada
Sem tino, sem graça

Transparente vidraça
Minha alma é assim
Presa na lembrança sem fim
Embaraçada e sem graça

Em pé:-manga arregaçada
Enfrento o dilúvio
Respiro eflúvios
E sorrio com graça!

Nereida
 
    Só   de pirraça

Mais um dia morreu

 
Mais um dia morreu
 
MAIS UM DIA MORREU

Segue minha alma sózinha
Cansada de mais um dia
Estranha esta vida minha
Ora feliz, ou feita de melancolia.
A tarde caíu!
È noite fria, escuridão cerrada.
Chora a saudade,
Que em mim sentiu
Hoje ser lembrança pouco amada.

Escondem-se as estrelas
Também elas sentidas
Choro eu e choram elas
Lágrimas p'las nossas vidas.

Meu coração está em pranto
Saudoso de claridade
Seu desespero é tanto?!
Que já nem cabe nele a saudade.
Triste anda a Natureza
Tão cansada quanto eu!
Andam nuvens desesperadas no céu
Em mim por perto a tristeza.

Porquê? Porquê tanto desespero!?
Nesta noite a horas mortas,
A escuridão me tráz o frio
Já à saudade fechei portas.
Deixei seu lugar vazio.

Já não sei o que quero
Nem tão pouco o que não quero.
Agora já só espero
Vencer da vida as revezes
Sorrir-lhe, ainda que em segredo.
Mas sorrir-lhe muitas vezes.

O recomeço é a força de viver.
Enfrentarei o amanhã se vier!

Cansei do escurercer.
Encontro o repouso me deito.
Se ao repousar morrer?!
Será um morrer perfeito.

rosafogo
 
Mais um dia morreu

Ao toque dos sinos

 
Ao toque dos sinos
 
AO TOQUE DOS SINOS

Numa vida onde nada se passa
Olho o papel com os olhos do coração
Tudo o que p'lo pensamento perpassa
Deixo escrito, mas nem todos me saberão.
As semanas se somam incessantemente
E eu marco passo
Na memória agasalho a esperança repetidamente
Retendo tudo o que faço e não faço.

Todos os instantes
De encantos e desencantos
Apago meus sustos, deixo-os distantes!
Obrigo o destino a torcer
Às vezes me olho de soslaio
Lembro que parar é morrer
E nesse marasmo não caio.

Me surpreendo e me recuso
Fico com a nostalgia a rondar-me a alma
Exorcizo fantasmas, das forças abuso
Calo a tristeza e me fico, calma.

Calo a saudade que me invade
Me deixa cansada e de voz rouca
Pego na caneta com mão suave
Desdobro detalhes, que são coisa pouca.
Inspiro-me nas badaladas do sino
E torço, torço o destino.

rosafogo
 
Ao toque dos sinos

Transparente demais

 
Transparente demais
É água pura e calma
Num mar de fundos irreais
Onde a alma penetra
Como luz branca
Na cor dos corais.

Arco-íris de sentidos
Em dimensões astrais
Viagens ascendentes
Em múltiplas espirais
Voos independentes
Mas tão iguais.

Almas transparentes
De loucuras transcendentais
Pairando rasantes
Por mundos ancestrais
Vivendo eras diferentes
Em tempos reais.

Amizades, Amores, Paixões
Positivas Energias
No Universo sintonizadas
(Devorando as (des)ilusões)
Nas mentes ávidas e polarizadas
Na busca das respostas
Ás mais complexas Questões
Colocadas por Mentes não conformadas…
 
Transparente demais

tudo é plenitude

 
hoje ouvi o canto quebradiço
dos grilos, na ladeira
já a sombra ameaça, a fogueira
do sol que abrasa.
agora é doce a cadência da brisa
traz o perfume do eucalipto
tudo é plenitude
tudo quanto a alma precisa

alcança-me a flecha da lembrança
banho-me nas águas no açude
sou de novo criança
e o tempo fugitivo
a criar em mim inquietude

vai vem de sombras outonais
multiplicam-se no pensamento,
brincos de cerejas e outras coisas
mais,
uma ânsia de ternura,
um estado de frenesim

e o mar da noite em mim.

natalia nuno
rosafogo
 
tudo é plenitude

Alma ao vento

 
Nos alimentamos de tão pouco
as vezes um verso rouco
é o bastante para saciar.

Pensamos tanto, um pensar louco
que as vezes um ouvido mouco
é muito bom para acalmar

A alma, esta velha senil
que de tão vivida e gasta
já não lembra dos portos que já partiu.

Muito menos dos destroços
de uma vida que há muito ruiu.

Velha alma modorrenta
senil e atenta
em busca de algo que ainda não viu.

Quem sabe uma pandorga de cor
com cauda de versos de amor
de um amor vivo que ainda não sumiu...

Agarra-se a velha alma
na esperança de voar junto
mesmo que apenas presa por um fio.
 
Alma ao vento