Pobre vida em uma tela
Vista de dentro da cela
Podre prisão, uma aula
Que sela janela na jaula.
O humano se contenta
No rito que alimenta
Todo dia, se corrompe
E o ciclo nunca rompe.
Repete, e traça o mapa
Becos que nunca escapa
Igual ontem, a cada dia,
Inventa no vício alegria.
Mundo é medo, espanta
O ócio, desafia, encanta
Mas tudo é simples, fácil
Doce ao tornar-se dócil.
Dia passa, tempo breve
Quebra a grade, atreve
Busca leve a descoberta
O despertar não liberta.
Onde a certeza é prisão
Onde liberdade é ilusão.
Poucos curam tal ferida
Viciados escolhem vida.
Alguns furando a retina
Desligam própria rotina
Até a formiga estranha
Emaranhada artimanha
O cinza fúnebre acalma
Furtando cores da alma
Destino escuro sem vela
E no caixão, a vida vela.
Presentes corpos ausentes
Fantasmas fluorescentes
Existem mas não vivem
Respiram, não convivem.
Nascem os mortos online
Zumbis, prazos, deadline
Mas um dia a tela quebra
Alguém acorda e celebra.
Souza Cruz