No jardim onde os espelhos se quebram
flores nascem de raízes amargas
cada pétala carrega um segredo
cada aroma, um suspiro de farsa
As árvores cochicham em línguas de vidro
folhas afiadas cortam promessas
o vento, cúmplice do desprezo
sopra verdades que ninguém confessa
Há um rio que corre ao contrário
feito de lágrimas que nunca caíram
nele navegam barcos de orgulho
com velas costuradas em silêncio frio
E no centro, o trono da mesquinhez
feito de ossos de gestos esquecidos
coroado com risos que não têm alma
guardado por sombras sem nome, sem abrigo
Mas mesmo ali, entre ruínas e espinhos
um pássaro canta, desafinado, persistente
porque até no deserto da indiferença
a poesia insiste em ser semente.
Mário Margaride
Adoro a poesia. E tal como um pássaro, voo nas asas das palavras, no patamar do meu sentir, e das minhas emoções.