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A PLENOS PULMÕES

 
Tags:  SONETOS 2025  
 
A PLENOS PULMÕES

Puxava o ar co’a urgência de afogados,
Como estivesse a vida por um fio,
N’um respirar frenético e sombrio,
Ainda d’olhos vãos e esbugalhados.

Desabo sobre mim sem mais cuidados,
Arfando pelo chão feito um vadio.
Talvez olhasse a morte em desafio,
Reduzido a suspiros extenuados.

Mas, além de tudo isto, o coração…
Batendo acelerado em explosão,
Quase que já me saindo pela boca.

E esse sopro, momento após momento,
Pareceu-me a própria alma em movimento,
Quando o corpo a si mesmo se provoca.

Betim - 24 08 2025










Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 27/08/2025 18:12  Atualizado: 27/08/2025 18:13
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 A PLENOS PULMÕES p/ RicardoC
.
Aquilo de que gosto mais neste poema é o facto de não explicar o motivo para esse momento de um "respirar frenético e sombrio", que o eu experimenta e nós com ele.

Fica connosco a urgência desse impulso vital, o ato mais puro de encontro de um sentido para se sobreviver.

Acho que, neste contexto, não é descabida a referência a Anaximenes que, na busca das origens do universo como outros filósofos pré-socráticos, encontrou a resposta no Ar, como ficou registado neste fragmento: "Assim como a nossa alma, que é o ar, nos sustenta, a respiração e o ar envolvem o mundo inteiro".