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Quem Matou Salomas Salinas? -VII

 
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Um bando de andorinhas sobrevoara uma parte do cemitério, densas nuvens plúmbeas impediam a passagem dos raios solares, dando um clima tétrico de tristeza. Todos com olhares vazios no chão em busca de respostas, quando toda a atenção se concentrou na entrada, o cortejo fúnebre vinha lentamente, o ataúde carregado por seis circunspectos amigos e na frente o seu único irmão segurando uma das alças. Não havia mais dúvidas, era o grande Salomas no esquife. Senti com atingido por um raio que dilacerou todo o meu ser e meus olhos moirejaram, assim como os de Karl. Um frio esquisito percorreu todo meu corpo. Todos silenciaram. Os coveiros pegaram as pás e enxadas e foram cavar a sepultura.
- Sió, o bacana (Pequeno Defeito) vai ajudar a botar o clube de paraquedismo para funcionar. Mandou confeccionar as camisas com a logomarca do clube e adivinhe quem teve a idéia de um circulo formada por bonequinhos? – Estava radiante, finalmente iria realizar um de seus grandes sonhos, o Clube de Paraquedismo Icarus. Tinha tantos planos um deles era uma festa para arrecadar fundos, o Parareggae num aeroporto do Paço do Lumiar. O homem era só alegria. – Mestre e você vai lá dar uma força. E realmente me levou ao local e depois fomos ao Parque Independência onde iria montar um stand do Clube na Expoema.

Os moleques do Goiabal empinavam alegremente suas pipas emperiquitados no muro encardido da velha necrópole. Algumas senhoras acendiam velas no cruzeiro redondo e sujo de cera derretida. Uma bela estatua de um anjo em mármore branco. Ao ver-me Fernandim, o único irmão mais novo saltou a alça que foi segura por um rapaz que eu não conhecia e veio na minha direção, com os olhos vermelhos e muito emocionado, abriu os braços e nos abraçamos.
- É seu Raimundo, o nosso irmão foi embora – balbuciou com dificuldade. quase chorando e ao perceber que o féretro entrava na capela, correu e barrou a entrada e gritando roucamente:
- Na capela não – e fez sinal para leva-lo – Ele não era cristão. Era judeu e vamos logo enterra-lo.
Tentei agarrar uma das alças, mas ferir-me levemente no dedo. Fernandim na frente guiando o cortejo com seu andar peculiar com os ombros largos empinados para o alto.
- Esse é o meu irmão Fernadim – apresentou-me no inicio da tarde na sala de jantar depois do café e antes de um baseado - ´E publicitário.
- Muito prazer – disse estendendo a mão que apertei calorosamente.
- Seu Raimundo tem uma oficina de ferreiro e estar precisando de uma força – explicou ao irmão que me olhava de esguelha com uma pasta executiva na mão, óculos fundo de garrafa.
- Muito bem, vamos ver o que podemos fazer – levantou-se da mesa, desculpando-se que estava atrasado e depois conversaríamos melhor.

- Eu sou circuncisado, uso o kipá, mas ele não é Pai de Santo. É como meu primo Salomão não aceitam a religião dos nossos antepassados. Orgulho-me muito de ser judeu. No Rio tenho uns parentes de pai bem de vida, são industriais com casa em Angra dos Reis e Petrópolis. São doidos para me levarem pra lá. Vou nada.


 
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efemero25
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