Pela porta entreaberta, sorrateiro,
Invadindo o que não tenho de espaço,
Um raio feito por nenhum compasso,
Meus pés pisou e me tomou inteiro.
Sem cor, nem gosto, afago nem cheiro,
Afastaste-te já de mim um passo,
Queres tu, pois, saber se me desfaço,
Na tua indiferença de coveiro?
Na tua sombra veio a pandemia,
A dor, o luto, a fome, a doce azia,
Dar uma facada na humanidade.
E tu, raio, minúsculo e inseguro,
Escapaste pela fenda do muro,
Deixando-me com a minha saudade.
26 de Abril de 2020
Viriato Samora