Poemas sociais

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares da categoria poemas sociais

Inconveniências

 
Inconveniências
 
Não quero ser arauto da discórdia
Nem postilhão de guerra inglória
Só mensageiro de bons presságios
Estafeta da alegria e da concórdia
Não quero ver a Pátria em estilhaços
Nem fazer vénias a troco de gorjeta
Não sou vassalo, nem lacaio
Nem moeda de troca no bolso dos ricaços

Já não suporto a lei do fazer de conta
Saber viver é o que custa nesta selva
E eu não consigo ser aquilo que não sou
Há todo um logro neste mundo que me afronta
A hipocrisia veste traje a rigor
Não bato a pala a quem me castra a liberdade
Pagam-me em pão um silêncio mutilado
Há muito que passei a ser inconveniente
Mas antes isso que chamado de otário



Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
 
Inconveniências

Vielas.

 
assisto a realidade:

casas empilhadas,
reboco ausente,
vielas, corredores,
escadas em caracóis...

no infinito,
visualizo caminhos
que levam homens
na direção do céu...
 
Vielas.

O Poema que tu mereces

 
O Poema que tu mereces
 
Pensei escrever qualquer coisa...
para alguém.
Mas para quem?
Não tenho ninguém para quem escrever.
Os que coabitam comigo,
não gostam de ouvir aquilo que escrevo,
fogem quando lhes digo
que fiz de novo um poema

Não faz mal, escrevo para mim!
E agora, de que vou falar comigo mesma?
Não há assunto na minha cabeça que eu não conheça,
ou será que sou desconhecida de mim mesma?

Vou falar de flores, de como são belas.
Não posso, fico com alergia só de pensar nelas.
E se for do mar?
É melhor não que posso enjoar.
Então e de amor?
Já passei da idade
e já nem sequer ligo muito à vaidade
prefiro falar de ti, de amizade...

E porque as palavras são como as cerejas,
falemos de ti de como desejas
que olhe para ti e te dê atenção
te dê um abraço, um aperto de mão.
De como os afectos importam para ti,
tal como as palavras
que hoje escrevi,
já não são para mim,
porque, felizmente,
aprendi contigo,
Amigo "diferente"
que posso chamar-te
quando precisar
de alguém para me ouvir
e me confortar.

Não fechem as portas
aos meus sentimentos,
deixem-me gritá-los
com papel e tinta.

Para ti Milton Carlos,
sempre tão atento,
são os desabafos
e minhas palavras
de agradecimento
por me ensinares
o que é ser Amigo!

Menção Honrosa no XIII Concurso da APPACDM de Setúbal

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
 
O Poema que tu mereces

SILÊNCIO DOS INOCENTES

 
Silenciam as palavras
Que não dizem
Gritam um grito
De silêncio mudo
Sofrem calados,
A dor que não choram
Soltam lágrimas
Que falam de dor
Contidas em gritos silenciados,
Doridos…
Remetidos ao túmulo da indiferença
Da fome, da dor, do abandono
Da morte…
Pobres inocentes…!
Que sofrem em silêncio…

Gil Moura
 
SILÊNCIO DOS INOCENTES

Existem culpados ou é simples engano

 
Rolem as cabeças
pelo chão,
descubram quem
são os culpados,
mas deixem-se
de evasivas!...
Humilhar é a
tradição,
na justiça são
os réus escutados
e as certezas
não estão vivas!...
Não se opta
pela razão,
nem se escolhem
os destinados,
mas as pessoas
ficam cativas!...
Amorfos pela
insatisfação,
perdoam-se os
degenerados
e curvem-se
as mentes altivas!...
A vida é
simples ilusão,
para os que
são regrados
e apresentam
forças activas!...
Jamais se
encontra a solução,
os ânimos ficam
exaltados e
as sociedades
desprecavidas!
 
Existem culpados ou é simples engano

Afastado dos pontos fulcrais

 
Resguardei-me da origem insultuosa,
escondido em naufrágios da mente,
nódoas de vivência assaz dolorosa...
refugiado como simples penitente.

Leve repulsa, ténue e amargurada,
difundida por teses lacunares...
temor reflectido na porta repudiada
por lacónicos e débeis versejares.

Absorto, isolado e depauperado...
à margem do movimento social
e dos seus tópicos... saturado.

Refúgio de maltrapilho, desigual,
sem efeito de projecto superado
e conotado de selvagem animal!...
 
Afastado dos pontos fulcrais

Momentos de prazer, vida de dor

 
Foi só uma vez…

Entreguei o meu corpo
Ao prazer do momento
E vida aconteceu
Invadindo-me o ser
E arruinando-me a existência,
Deixando-me podre,
Cansada,
E guardiã
De infecções oportunistas.

Foi só uma vez…

Partilhei a seringa
Repleta do branco
Que me alucinava a vida
E a tornava mais fácil,
Com o meu melhor amigo,
Num beco limpo
Da nossa secreta intimidade.

Foi só uma vez…

Eu zelava por mim
Com desvelo e lucidez
Mas achava-me imune…

Foi só uma vez
E aconteceu…

Porque a SIDA existe
 
Momentos de prazer, vida de dor

A nêga Zita

 
A nêga Zita
 
As vozes que se levantam
quando a “nêga” Zita passa,
a mulheres desta massa
são piropos que se cantam

Essa “criola” danada
tem a pele bronzeada
e o dom da sedução

Na anca ginga uma morna,
na voz uma coladeira
Sob os pés sempre descalços,
há todo um mar de sargaços,
dunas de sal e areia

Da vida nunca se queixa
De seu, nunca teve nada,
a não ser a formosura
e a cor da sua raça

Maria Fernanda Reis Esteves
55 anos
natural: Setúbal
 
A nêga Zita

O Amigo Certo

 
O Amigo Certo
 
Na caminhada da vida
demorei para encontrar
o que um dia distraída
descobri no teu olhar...

A cura do desencanto
pela natureza humana
que em mim provocou pranto
e uma apatia total

Mas, eis, o Amigo certo
aquele que nunca me falta
cujo beijo é tão sincero
e o abraço tão leal
e que desperta em mim
o lado que tenho bom

Iluminas tudo em volta
com a tua presença intensa
a tua aura comporta
sentimentos de pureza
que me confortam a alma
e me enchem de esperança

Sou feliz,
porque tu és meu Amigo!

Dedicado ao meu grande Amigo trissómico: Milton Carlos, que sabe o que é a verdadeira amizade

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
Secretária da Direcção da APPACDM de Setúbal
 
O Amigo Certo

Revolução (Fidel Castro)

 
Revolução (Fidel Castro)
 
É sentido de momento histórico;
é mudar tudo o que deve
ser mudado;

... é igualdade e liberdade plenas;
é ser tratado e tratar aos demais
como seres humanos;

é emancipar-nos por nós mesmos
e com nossos próprios esforços;
é desafiar poderosas forças

dominantes dentro e fora
do âmbito social e nacional;
é defender valores nos quais se crê

ao preço de qualquer sacrifício;
é modéstia, desinteresse, altruísmo,
solidariedade e heroísmo;

é lutar com audácia,
inteligência e realismo;
é não mentir jamais

nem violar princípios éticos;
é convicção profunda
de que não existe força no mundo

capaz de esmagar
a força da verdade e as ideias.
REVOLUÇÃO é unidade,

é independência,
é lutar por nossos sonhos de justiça
para Cuba e para o mundo,

que é a base de nosso patriotismo,
nosso socialismo
e nosso internacionalismo.

Fidel Castro Ruz (1926-2016), grande líder revolucionário cubano.
 
Revolução (Fidel Castro)

CATADOR DE PAPÉIS.

 
CATADOR DE PAPÉIS.
 
Catador de Papéis.

Pelas ruas ele vive andando
Empurrando o seu velho carrinho
O papelão, papel sempre catando
É ouro jogados no caminho

Não tem chuva ou dia ruim
Enfrenta qualquer contratempo
As intempérias aguenta firme sim
Precisa ganhar o seu sustento.

Uma profissão que na verdade
Exige tanto e quase nada a ganhar
Mas tem muita força de vontade
Com um futuro melhor vive a sonhar.

São homens e mulheres que labutam
E juntos vieram para somar
Igual a tantos brasileiros que lutam
Esperando que um dia possa melhorar.

♫Carol Carolina
 
CATADOR DE PAPÉIS.

Flores de Nós

 
 
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Flores de Nós

o centro doirado
duma margarida desprendeu-se
das suas pétalas branquinhas
que voaram!
a flor
metade no chão
a colorir as pedras
metade no ar
a perfumar a respiração
agoniava ainda quente
como uma criança perdida
no meio duma selva
sem amparo
e
sem pão...

Luíz Sommerville Junior, Eu Canto o Poema Mudo, 131220131510
 
Flores de Nós

Boatos, boatices e boateiros

 
Falar para
além do postigo,
sem medir
as expressões...
é como não
olhar o umbigo
e não filtrar
opiniões.
Empolgar
questões diárias,
sem definir
realidades...
é basear-se
em notas primárias
sem realçar
as verdades.
Palavras
ditas a eito,
sem o contexto
apurar...
é como faltar
ao respeito
e sua razão
não fundamentar.
Há muito quem
denegrir queira,
desta ou
daquela forma,
proferindo
tanta asneira,
que o ego
nos transtorna!...
 
Boatos, boatices e boateiros

Os olhos da revolução

 
Os olhos da revolução
 
Há um parto eminente nos meus sonhos
Uma placenta a romper os meus sentidos
As águas rebentam nos meus olhos
Nascem escorreitos os filhos bem paridos
Há um choro alegre na palavra liberdade
Uma criança que não conhece crueldade
Há um Abril feito de cravos envaidecidos
Um punho orgulhoso ergue-se da mão
Uma esperança nata, chamada revolução

Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
Natural: Setúbal
 
Os olhos da revolução

Vira casacas

 
Qual a rua da revolta?
Qual o beco do desencanto?
Da saudade que não volta
para consumir o teu pranto.

Que razões tu encontras...
para permaneceres aqui?
Que injustiças tu afrontas...
envoltas somente em ti?

Que sofismas ignoraste?
Que valores usurpaste?
Que atitudes tomaste?

Que ratoeiras montaste?
Que pessoas ludibriaste?
De quem te disfarçaste?...
 
Vira casacas

Qual é o preço?

 
Qual é o preço de uma criança
Em estado puro
Acreditando com esperança
Num melhor futuro

Qual é o preço de uma juventude
Que não consegue sonhar
Voa a baixa altitude
Falta-lhe combustível no ar

Qual é o preço de uma nação
Outrora deveras venerada
Comendo agora a ração
Dos senhores da entremeada

Qual é o preço de um povo
Amargurado e deprimido
Implorando por algo de novo
E alguém parece ter-se esquecido

Qual é o preço?
 
Qual é o preço?

Confissões de uma Vítima de Violência Doméstica

 
Sou um corpo que deambula ao acaso,
Que vive com medo todo o dia.
Amostra de ser mal amado
Sem conhecer felicidade e alegria.

Uma mulher constantemente criticada
Que chora apenas escondida,
Consciente que não vale nada,
E a imagem totalmente denegrida.

Escondo os hematomas como sei.
Habituei-me há muito a mentir...
Vivo uma vida como nunca pensei,
Com a maior parte do tempo a fingir.

Esta mão, assim queimada, e a doer,
É porque sou tão distraída...
Meti-a numa panela a ferver
E fiquei tão arrependida.

Tapo as nódoas negras com roupa
De Inverno, mesmo no Verão.
Apenas porque sou meia louca
Passo a vida a cair ao chão.

A boca, assim cortada,
Foi apenas porque sorri...
Não sei estar calada...
Apanhei porque mereci.

Quando parti o braço direito,
Foi porque me maquilhei nesse dia.
Mas afinal, foi bem feito,
Porque parecia uma vadia.

O meu corpo está tão cansado
Não aprendo a me comportar
Para viver bem com meu amado,
Que tudo faz por me amar.

Farta dos meus erros e maldade
Subo até ao vigésimo andar!
Salto, enfim, para a liberdade,
E já sou feliz... a voar!

Este poema já foi publicado aqui, a 29/06/2007.
A pedido de uma amiga, volto a (re)publicar hoje.
 
Confissões de uma Vítima de Violência Doméstica

Fana

 
Fana
 
Vou tentando perceber,
Que mensagem queres passar
Todo o dia em meu redor
Todo o dia a pedinchar...

Fana, Fana!
Tu tás bona?
Fana , Fana!
Como tás?
Dá-me um bolo!
Fana, Fana
Ou então, o que me dás?

Vai-te embora, Vera Lúcia,
Que eu preciso trabalhar!
Não te dou bolo nenhum,
Ficas gorda,
Faz-te mal!

Mas de novo, lá vem ela...
Toda muito redondinha,
Ar brejeiro e olhar doce
Com seu jeito de menina
Que vontade de apertar
A bochecha coradinha.

Fana, Fana!
Não te zangues,
Fico triste, vou chorar!
Não te zangues, Fana, Fana!
Que eu só te quero abraçar!

E ao sentir tanta ternura
Já consigo perceber
A razão porque tu estás
Presente na minha vida.

Foi para me ensinares,
Ou foi para eu aprender
Que uma amizade “diferente”
Tem raízes tão profundas
Que unem a Fana à Vera
Como se fossem só uma.


1º Prémio no Concurso de Poesia da APPACDM de Setúbal, ano de 2007 (Resultado da minha vivência e interacção diária com os utentes da APPACDM de Setúbal

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
 
Fana

Construir o sonho

 
Construir o sonho
 
Este é um sonho diferente…
Juntando apoios e esforços
Vontades e persistência
Tijolo a tijolo
Sustenta-se a esperança
De alicerçar o futuro
De cidadãos especiais
Com materiais de amor
Segurança e estabilidade
Num abraço colectivo
Em troca de um sorriso
O sonho que é de todos
Será uma realidade!

Poema para a campanha a favor do sonho da APPACDM de Setúbal- a construção do novo Lar Residencial/Residência Autónoma/Apoio Domiciliário

Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
 
Construir o sonho

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Doíam-me os poemas
nas suas páginas em combustão
alastrava a raiva dum fogo posto
Para o qual não havia água
Que o abrandasse
Lacrimejava-me o olhar
De tanto verso incendiário
- Quem é que via o meu sangue a arder ?

E se me perguntares:
Qual a razão desse impulso ardente
Dir-te-ei:
-Nunca soube em que ponto cardeal
O poema se cruza com a sua estrela ! ...

Luíz Sommerville Junior, Eu Canto O Poema Mudo, 120320141607

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