O QUE PODE ACALMAR UM SENTIR ASSIM?
O QUE PODE ACALMAR UM SENTIR ASSIM?
O que pode acalmar
um sentir assim?
Uma imensa
angústia
que não dói
por nada sai,
por tudo implora,
estupora
e ainda entorna em mim?
Uma tristeza
que não corrói,
frouxa
como mole
é uma alga
e mesmo confortável
em água,
por demais
destrói,
salga?
Como explicar
em palavras
o que
um pobre coração
intui
quando bate
em tormento
sem motivação coerente
estando,
ao mesmo tempo,
algo tenso,
ali presente,
em inexplicável sofrimento?
É essa coisa
cortante sim
que nunca pude resolver...
O meu comumente
incomum
estranhamento
de viver.
A constatação
do fato
de “ser”
e, mesmo extasiado
por esta
infinda maravilha,
saber-me
a morrer,
dia a dia.
SONETO DE UM ALGO PURO
SONETO DE UM ALGO PURO
Basta o dobrar da esquina para ganhar o mundo
Basta um só passo bem dado, mesmo descalço
Para submeter qualquer alma a viajar profundo...
(Apenas o último andar investe-se ao cadafalso)
De nada adiantará o olhar enfurecido, iracundo
De nada servirá aquele objetivo meramente falso
Melhor é devanear pelas ruas sujas, errabundo...
(Mesmo que se estanque o tronco num rebalso)
Ainda descobrirei o sentido em que a roda gira...
Irromperei da garganta um rouco bramido imaturo
(Até mais fácil aceitar o porquê um homem pira)
Nesta vida não há nada que seja mesmo seguro
A gente acerta o que não vê, e atira, atira, atira...
(Pois há algo guardado em mim que ainda é puro)
EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO
EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO
Procurar no “eu”
Um “nós” latente.
Latir.
Latir certa voz.
Uma voz inconteste de “gente”.
Jamais deixar
De depositar confiança
No humano poder
(Do querer inerente).
Como vós
Ao quarto, quando,
A sós,
Latis
Ganidos de contente
Sabendo-vos, de todos, diferente...
Dane-se a febre pobre
De ser feliz
Adentro às grades
De canis.
Ser ou não ser cão...
Ser ou não ser coerente...
Porém reconhecer-se
N'algum sabor
A ser do próprio, o próprio senhor
Tornar-se, de si,
O ator,
A atriz
Sem atos falhos com falas falhas
Na ribalta apagada da noite farta
De olhar a lua fátua a se repetir...
Eis a ladração intermitente
D’um típico
Hamlet
Indigente
Até esta provação toda se ir
Por vozes em falsetes
Sem público
Sem tietes...
Em mim, em vós
Devem sangrar dos torniquetes
Poemas nada sutis
Longe dos modos gentis
De Sheakespeare
O MOMENTO PELO MOMENTO
O MOMENTO PELO MOMENTO
ama
o momento
pelo
momento...
sê inteiro:
ao mínimo
avançar
do ponteiro
ao navegares
teu ser
pelas vagas
do tempo...
sê bravíssimo:
pleno de ter
valido a pena
o exaurir
d'um
mísero
segundo
de te saberes
chama
ardente
ao calor
sublime
do momento
O JARDIM
O JARDIM
Dissolve da razão o impossível codinome da flor...
Apenas sossega as ondas no carinho de teu dedo
E afaga o botão, em segredo, na comoção d'um gesto
Manifesto à lisa seda carmesim das delgadas pétalas...
Põe dependurada toda dor em tom cinabre...
Larga-as lá, suspendidas à ponta do espinho
A suspirarem a beleza de tua carne tenra e grave,
Ao ar, feito flechas à pele; a errarem...
A flor misteriosa soprará tua vida, infinda, tão tua...
Essa flor robusta, brotada em tua terna acolhida
Enfim se abrirá, magnífica, garrida, desimpedida
Pelos caminhos claros e evanescentes da lua...
E a canção multisuave dum amor, desta flor, saltará ao coração
Galopando à montaria d’um alazão nas estrelas de prata...
Pousará manso, em sorrisos, ao prado da tua imaginação
Só para buscar-te, só para mostrar-te, num indelével improviso
Quão fantástico é o jardim onde nascem os teus sonhos
NOSSOS LÁBIOS, NOSSOS BEIJOS
Porquê te desprezar,
Se nada sei.
O amor é para amar
E eu não errei.
Chorando no meu peito
Me dás amor.
Só o teu amor aceito
E não o rumor.
Tudo o que possam dizer
Me passa ao lado.
Eu contigo quero viver
Quero ser amado.
Te ter nos meus braços
Te ter sempre em mim
Fortalecer os laços
Feitos de cetim.
O nosso amor é forte
E nós sabemos.
Te amo sem pasaporte,
Assim viveremos.
Nossos lábios, nossos beijos
Se cruzarão.
Plenos de desejos
Vindos do coração.
Tudo o que possam dizer.
Me passa ao lado.
Eu contigo quero viver
Quero ser amado.
Te ter nos meus braços
Te ter sempre em mim
Fortalecer os laços
Feitos de cetim.
A. da fonseca
Protegido na SPA Lisboa
DESCANSOS EM TI
DESCANSOS DE TI
Sentimentos?
Pendurei-me em todos
O melhor do passado
Foi depois cerzi-los
Em poemas circunscritos
Pelas ilhas-veredas
Do meu peito-leito
Agora
Eles embalam o meu dormir
Na maciez das ondas
De dois travesseiros
Que arfam...
Dos versos?
Embora poucos,
Já houve tantos...
O suficiente
Para sabê-los insuficientes...
Deles, esqueci os melhores
Nos recantos mansos
Dos descansos em ti
(Versos estancos que não pari)
Pedi-os tanto de volta a mim,
Mais que à força atávica deles mesmos
Acho que é por isso
Que escrevo tão pequeno
O que me era grande,
Ganhei. Amei. Depois perdi.
Restou esse traço
Que agora me traduz
(De luz, um quase fiapo)
: Uma forma estabanada de sorrir.
Milagre!
Nascemos todos os dias,
Em contrapartida morremos
Todos os dias, para cada dia vivido,
Menos um no decorrer da vida.
Ao adormecer, não saberemos
Se tornaremos de uma noite
De descanso, ou se partiremos
Para um descanso eterno!
E quantos partem nas manhãs e tardes.
Jamais saberemos do amanhã...
Dessa forma façamos por merecer
Cada dia vivido, não desperdiçando;
Ao contrário ame-o, mesmo que haja
Espinhos no caminho, se sangrar?
Logo estancará,- não vereda pelo mesmo
Caminho, não se iguale aos espinhos...
Olhe para vida, como olhas uma rosa
Às vezes você ao admirá-la, segura
De qualquer jeito e ela te machuca,
Mas, mesmo assim. Você consegue ver
Sua beleza, sentir seu perfume...
Nunca adormeça sem entregar sua
Vida nas mãos de Deus, Ele é o dono
Da vida e da morte. Imagine você ir dormir
Cheio de ódio e rancor, faça as pazes antes...
Porque não saberemos se acontecerá uma
Nova oportunidade nas manhãs, tardes ou noites!
Mary Jun
15/02/2017
Barreiros,Pe
A ALMA DO VENTO
A ALMA DO VENTO
Por onde anda a alma do vento
Quando sopra rumo-sul
Longe de meus pensamentos?
Em que recanto te escondes
E não tocas minha fronte
Chamando-me a cantar?
Pois não demores!
Retorna teu acalanto
Mesmo que em leve brisa.
Alisa meus cabelos, eriça pelos
Fustiga meus lábios ao sorriso
Engasta-te em meus dentes
Bem dentre os frisos...
Resfria-me que seja,
Deixa-me doente!
Vem em ares benfazejos,
Tremula num beijo solene!
Inunda-me nos teus cheiros
Em fresca aragem ou bafejo,
Sopro, ventania ou furacão
Torna-te, em mim, perene!
"De mim..."
"De mim..."
Agrada-me o silencio.
Compreendo-me nele.
Gosto de ficar aqui.
Choro enquanto escrevo.
Rio das bobagens escritas.
Gosto de viver...
Mesmo que no anonimato.
Não me permito correntes...
Menos ainda fantasmas
assombrando meus dias.
Alimento esperanças.
E sonhos que me fazem voar.
Esses me protegem,
embalam e acariciam.
Os mesmos que pra sempre
me sustentarão.
Glória Salles