Crónicas : 

O DOUTOR EBREU DANDO DURO

 

O dia estava muito bonito. Estávamos em plena primavera. Porã-Cuitá era todo esplendor. Os dias naquele sertão eram agradáveis de serem vividos durante a primavera. Até no escritório do DIALGRO parecia que as coisas ficavam mais floridas.
-Bom dia doutor Ebreu! – Cumprimentava ao chefe dona Neny, fiel escudeira, padecendo com o chefe do mesmo misere, já há bastante tempo, mas sempre agradável e prestimosa.
-Bom dia dona Neny! A senhora podia fazer o favor de me servir aquele cafezinho que só a senhora sabe fazer?
-Infelizmente doutor o pó de café acabou.
-Então faz um mate, dá no mesmo.
-Mas, doutor, mate há muito tempo que não aparece aqui no escritório!
-Está bem, às vezes esqueço que sou funcionário do DIALGRO... Chame, por favor, o Olindo, preciso falar com ele.
Com a barba por fazer, trajando uma roupa costumeiramente surrada, atende prontamente ao chamado do chefe, o auxiliar de veterinário. Homem, extremamente trabalhador, pai de cinco filhos e convivendo com o Ebreu, desde a fundação do DIALGRO naquela cidade.
-Bom dia doutor!
-Bom dia Olindo! Hoje vamos para o campo, temos que vacinar um gado na Estância Caiçara. Como é que está o carro? Será que agüenta mais essa saída?
-Olha doutor, gasolina não tem.
-Não, isso não é problema o dono da propriedade se encarrega do combustível, ele sabe como é a carência por aqui... Eu quero saber é da parte mecânica?
-Vou dar uma olhadinha, num instante digo pro senhor.
O jipe que o Olindo ia revisar não era um veículo como outro qualquer, era um carro famoso na região, não pelos anos de uso e sim pelo padecimento que muita gente já tinha passado montado nele. Exemplo desta triste fama são esses dois episódios que me vem à memória: em determinada ocasião o doutor Ebreu quase fraturou o crânio, quando a capota do bendito veículo desabou sobre sua cabeça. Em tempos passados, um grupo de veterinários aficionados por trabalho burocrático, quase tiveram deslocamento da coluna, numa viagem mais demorada com este carro.
- olha doutor, o carro não está lá estas coisas: os pneus estão bem carecas, radiador está com um furo, também existe vazamento de óleo da caixa de mudança, não é muito, mas... O motor de arranque continua só funcionando com pancada, a bateria, também, não inspira lá muita confiança; agora se chover estamos lascados, a capota está parecendo uma peneira! Existem outros pequenos problemas com o jipe, porém não são de preocupar. Acho que já fomos para o campo com o carro em piores condições. No fim das contas, temos é que contar com a sorte...
-Então se você acha que dá pra sair, coloque tudo que vamos precisar no carro, não se esqueça de avisar a família que vamos passar uma semana fora.
Do escritório a Estância Caiçara eram três horas de poeira, por estrada bastante acidentada. Neste período do ano a viagem era mais agradável, não fazia tanto calor e as flores estavam por toda parte, aliviando, bastante as agruras da viagem. Na primeira hora tudo transcorreu sem maiores problemas-
-Olindo esse jipe tem alguma coisa de milagreiro. Estamos a quase dez anos andando com ele por estas estradas e o danado continua resistindo!
Foi só elogiar... Na primeira subida mais íngreme, o jipe começou a mostrar ares de cansaço, em seguida veio a síncope.
Depois de muito mexe daqui, empurra dali, o jeito foi abandonar o barco.
-Não adianta doutor, está geringonça não vai a lugar nenhum. O jeito é colocar a tralha nas costas e ir andando por aí, até arrumar uma carona; amanhã arrumamos uma maneira de rebocar este estropício.
No fim da tarde, finalmente, conseguiram retornar ao escritório. O doutor Ebreu com meio palmo de língua pra fora, com os pés que eram só bolhas, com aparência de quem tinha dado a volta ao mundo no lombo de um burrico.
-mas, já! Pensei que iam passar uma semana!-Estranhava dona Ney, terminando de arrumar a sala do doutor Ebreu.
-A praga do jipe enguiçou lá no pé da serra. O pior é que só conseguimos carona, já quase na cidade, andamos bem uns vinte quilômetros!
E. Parece que a caminhada não fez muito bem ao doutor Ebreu,pelo caminho veio comendo umas besteiras e o intestino, como sempre, não responde bem a certos exageros. Instantes depois se ouvem impropérios vindos do banheiro.
-Dona Neny, não tem papel nesta m...



Segundo capítulo da saga do Dr.Ebreu.
 
Autor
Frederico Rego Jr
 
Texto
Data
Leituras
821
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.