Meu último poema
Antes do cortar dos pulsos
do sangrar no papel
do último suspiro
do coagular do sangue
da rigidez da carne...
Sem despedidas
lágrimas vermelhas
pintam meu último
poema!
NEVE DE FOGO
Neste frio abrasador
eu venho dos céus para
te cobrir com o meu amor
Uma neve tão branquinha
como flocos de algodão
E de fogo para aquecer
o teu doce coração
Se entregue a mim agora
como um rio ao mar
eu venho dos céus
somente para te amar
Um barquinho de papel
Lá vai um barquinho de papel
dentro dele um coração tão pequenino
ele vai navegando num rio
Às suas margens uma flor orvalhada
corre em direção ao mar
pálido o rosto, negros os cabelos
Olhos marejados guardam um segredo
ela não sabe esquecer
apenas onde esperar...
Um sorriso que seduz
Oh! Doce amor de minha vida
Mesmo que meu Sol se apague
desatando os nós da partida
E me congele todo o sangue
Serei tua de corpo e mente
como são teus estes olhos
Que aguardam te amar loucamente
Ao despertar dos meus sonhos
No silêncio de montes verdejantes
Cobertos por fios de ouro e seda
Onde o Sol e a Lua são amantes
E onde me quero pousada na luz
Do teu lindo sorriso de jasmim
Que me fascina, me domina e me seduz
"Quem és tu que queres julgar,
com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?"
Dante Alighieri
Coração de amante
Durma devagarinho meu amor
Um vento morno vai invadir teu quarto
como um lençol cobrir-te o corpo
abraçar a rigidez da tua alma
E fazer-te brilhar mais que o sol
até as estrelas caírem dos céus
aquelas que recolho dos teus lábios
para iluminar os meus
Acorde meu amor, acorde...
A felicidade tem lugar nos corações
dos amantes!
NUA PARA TI
Eu não quero
saber quem tu és
sei teu nome
sei que existe
E isso é saber demais
Eu quero que venha
sentir comigo o calor
da minha alma nua e
renascida para te amar
É assim que eu te amo
simplesmente nua
Nua para ti
MÃOS ENSANGUENTADAS
Escrevo com a mão direita
Com a outra cravo uma lâmina afiada
no meu pobre coração
Quanto mais fundo ela penetra
mais intensamente meus versos jorram
Sinto-os quentes e borbulhantes
Sem rimas, brutos e inacabados
É por isso que escrevo
com as duas mãos
e de olhos fechados
Vendo apenas
a imensidão dos meus sonhos
Corroídos e malfadados...
Desagua em mim
Venha a mim como um rio ao mar
E desagua tuas águas mornas
Até a última gota
O mar é de sal
Tem sede
e quer viver!
Somente tu o acalmas
És doce
E sabe amar
Quando se come o próprio coração ?
Lí duas linhas negras
na ponta de uma espada
E caí de joelhos
numa terra de sal e fogo
que ardia em brasa
E chorei cinzas
Mas não morrí
Arranquei meu coração
e o comi ainda quente
Enquanto o sangue escorria
entre meus dedos roxos
fechei a porta da ilusão
procurando pela dor
que em mim não doía
Apenas me amargava a boca
o sangue que eu bebia
No escuro do meu quarto
Neste quarto negro e vazio
não há porta e nem janela
Um cobertor de fogo não aquece
meu corpo amorfo e rígido
Estou sozinha, tão sozinha...
Meus gritos ecoam nas paredes
e vem a mim como flechas
Um oceano não me mata a sede
minha boca tem sal e febre
Estou triste, tão triste...
A escuridão é minha luz
Tudo em mim são trevas
O sol não ilumina meu olhar
estou cega, caindo em sombras
Estou perdida, tão perdida...
Procuro por uma saída
tateando os cacos no chão
molhados em lágrimas de sangue
desespero, amor e paixão!
Estou indo, indo a procura de ti...