Poemas, frases e mensagens de FrancisCorreia

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de FrancisCorreia

Eu Queria Ser Feliz

 
Eu queria ser feliz
Carregar um riso medonho
Brindar, como quem diz
Com ginjinha ou medronho

Sentir a vida crepitante
Engenhosa, mas mão certa
Tornar alegre e levitante
O dia a quem em redor desperta

Soltar vocábulo quente
Capaz de afagar o soluço
Réplica de Mãe, o ventre

Pelo menos seu peito quente
Ser feliz não é um arrufo
É mesmo um desejo ardente
 
Eu Queria Ser Feliz

Shhhh … É ENTRE UM homem E UMA MULHER

 
Vejo-te (/beijo-te) e não sou eu
E mesmo assim beijo-te (/vejo-te)
Merda!

Shhhh … …
Não vás por aí

Ordinário! Caminho que renego

Perdoo-te
Como quando foste sanguinário
Lembras-te?
Quando te apossaste do meu ‘Superego’
Fronteira antes sonegada
Por filigrana inviolada
Não há dúvida
Preparaste bem o trilho de outras
Que haverias de descobrir em mim
Melhor assim
Do que andares por aí “feito nim”
D’escafandro ou camaleão
Coração pardo do rateio

Astuta
Nunca te omitiste da labuta
Sempre manobraste a geografia dos teus lugares
Para que
Por entre cefaleias oníricas transpiradas
Fosses tu qu’eu visse ao chegares

Vem
Repousa em mim
A dislexia da tua retina
Ai, con(-)dor
Sim
Mas o sémen com que mitigas
A tua bicada de necrotério
- Em mais esta que p’ra ti se pariu
Não te aflijas!, é obra do teu magistério
Shhhh, usufrui
Não me dês palavras fatigadas,
Prefiro o silêncio

Shhhh, eu vejo-te, e sim, sou eu
E beijo-te.
 
Shhhh … É ENTRE UM homem E UMA MULHER

Sublimação

 
Morte, passagem universal
P’ra outra dimensão
Real, irreal
Porquê a preocupação?

Pode ser libertação
Purga nobre, celestial
Etérea renovação
Do cordão umbilical
 
Sublimação

Seria Mais Fácil?

 
Ser o poeta da alegria
Submeter a noite ao dia
-Sem truques, ilusoes ou magia
Eu queria
Ser a energia que contagia
D'emocao a pele arrepia
O coracao adere a cortesia
Tudo na mais sincera folia
Sem devaneios de alegoria.
Mas
Uma ilusao e uma ilusao
Em sonhos vale, na vida nao
Como o relampago sucede ao trovao
Nao e imaginario, elucubracao
Estremece-nos, prende-nos ao chao
Buscando uns etereo alcapao
Outros enfrentam, mudam de direccao
Com ambas ou uma so mao!
Ainda assim
Acredito no advento
(Da)Esperanca como sustento
Cafeina, morfina, fermento
Dos espacos, firmamento
Quem sabe
Dando sentido ao sofrimento
Daquele Outro que do alto, ao vento
Exprimiu como unico lamento
A nossa falta de atingimento!

Francisco Correia
 
Seria Mais Fácil?

Penso ... Falo

 
Penso, na brancura de altas montanhas
Pureza apetecivel
Frescura, saliva das entranhas
Inatingivel
Vejo, Condor
Para ele, trivial
Planar sobre aquele esplendor
Distinto, de um submundo bem mais animal!

Falo, de ti humana criatura
Da forma que herdaste e reverteste
Caricatura
Perdeste
Qual Sisifo condenado
Qual historia,
Dos teus facies estas agrilhoado
Vil memoria
Desespero sem boca
Isso, recua, ate aos confins da tua toca!

Penso num cao
Falo dum leao
Penso num gato
Falo dum macaco
Penso num macaco
Falo dum velhaco
Penso num lobo
Falo dum homem sem probo
Penso numa cobra
Falo de rasteira, manobra

Chega!

Pensamentos e palavras em dissonancia cognitiva
Onda, revolta, cosmica, ostensiva
Quisera ser esforcada tocha, acendalha
E dificil por entre a bruma da cinza da borralha.
 
Penso ... Falo

De Passagem

 
Depois de chegar espero
Partir para outro lugar
Caminho de pedras severo
Quisera, mas não posso optar

Poiso, estação, oriente
Porta giratória de gente
Estará toda ela consciente
Que o dia de hoje é o presente?

Em precipitação ordenada
Ou calcanhares em delírio
Que embuste, confusão

A esperança ficou apeada
O futuro feito martírio
Voltar ao ventre a solução
 
De Passagem

LÍNGUA

 
Malabarismo biológico
Capaz do melhor
E do pior
Instrumento de prazer
Passado
Presente
Actual
Às vezes fria
- eslava
Outras … suave mel!
Desliza
Corpos errantes
Vocábulos desamparados
Atenção distraída
Em voo rasante;
O palato comprime-se
Numa vaga-recusa
Saliva
Onda profusa
De grunhidos abandonados à sua sorte.
A noite desliza, lá fora
Silêncio perplexo
Sílabas tónicas de outrora
Assomam à janela
Elodem a lama
Cristalizada
Pelas sombras húmidas
Lombas caminhantes
Trazem no seu dorso
Relatos
De alegres tertúlias
Até ao raiar da aurora
Retratos
Conseguidos
Sujeito-Predicado-Complemento
Resgatados
Ostentação?
Persistência?
Sei lá!
Está lá?!
Quem és tu? – para saber o meu nome marque 1, endereço, marque 2, …
Enfim, …

Improvável trama!

Consternação para uns
Desconcerto para outros
Tatuagem tribal
Em versão pack
Prozac sub-lingual

Triunfaremos
Com sorte
Retomaremos o rumo
A-prumo
A-polo … Norte!
 
LÍNGUA

TRAIDOR (é o que sou)

 
[Traí (e traio) a minha mulher]

Arranjei uma concubina

Travestida de douta gueixa

Pro bono da minha Fénix renascida

Não é, assim, uma qualquer

É a Poesia, ‘coisa’ fina.

E entumescido este Luso

Quand il arrive à la Poèmes

Vê que por quem se arrolou

De tantos é Musa e Ninfa

Que por momentos pensa confuso

Je me saisit de ‘La Bohême’!

E, permiti a confidência

Talvez até desabafo

Depois de reunido o oráculo

Ao redor do círculo quadrado

Como plateia vossa audiência

Cativa ao processo, agrafo:

Antes ser corno da ilusão
Do que marquês da obrigação!
VIVA A POESIA
 
TRAIDOR (é o que sou)

Só Gosto

 
D’escrever em folhas de papel

Debulhar as palavras

Como quem

Desnuda o corpo de uma mulher!

Capricho um sulco

Sigo o rasto de um veio

E as canetas e os lápis com qu’escrevo

São clítoris de esperança

Paixão abnegada de oleiro

Sobre um dorso recatado,

- Às vezes em pousio;

Cio

De palavras raivosas

Que se intrometem entre linhas já peneiradas

E que provocam

Retrocessos, regressos, excessos

Pelo seio

(De) riscos, ‘sarrabiscos’, ‘pontiscos’;

Circuncisões obrigatórias

Em prepúcios obstinados

Mas

Por vezes precipitados;

Nem sempre a pena obedece à mão,

A mão ao giz,

Que é como quem diz,

À cinestesia do juízo.

Mas no final

Do ponto, reticências ou exclamação

O prazer no desfalecimento

Do desejo retemperado

Ao ver do papiro assentimento

Como um filho desejado.
 
Só Gosto

Poeta

 
O Poeta não é um mago das palavras
Antes possuidor
De um indómito sentimento
Inspiração
Transpiração, também
Sei lá!
Mas eu vou por aqui
As mãos abanam um pouco
Às vezes
Como se combatessem uma quebra nos níveis de cafeína
Céus
São tantas as ideias
As palavras pululam
Como sombras arredadas de um sonho vespertino
- já nem sei onde pousar a vista
Outras vezes o Poeta
Sente-se o epicentro da bifurcação da civilização
Os pulsos estremecem de angústia
Sente o crepitar da electricidade
Qual condenado na cadeira da redenção
Mas eu não vou por aí
Outras vezes mais
O Poeta sente-se desmultiplicado
Sim, eu vou por aí
Introspecção
Eu vou por aí
Exaltação
Eu vou por aí
Questionar, porque não
Eu vou por aí
Jubileu de criança
Sim, eu vou por aí
Sei lá, eu vou por aí!
Mas, real ou fingimento
Natural ou sofrimento
Eu só vou por aí
Contigo aqui
Mulher
Sim, eu vou por aí
Eu vou por aí
 
Poeta

Pónei

 
Eu queria ter um pónei
De crinas aladas
E de que cor?
Pêlo aparado? – Não.
Macho ou fêmea?
Assim-assim?
(pensava que só houvesse dois)
Registado?
Referenciado?
Sei lá!
Céus
Fantasias juvenis
Metáforas.ponto.com-e
Nada de birras
Eu só queria ter um pónei…
Crinas aladas,
Crinas aladas,
Crinas aladas?!

Tradução no divã

Entre o sonhar
E o arfar
Melhor será mesmo
- apaga a luz –
Navegar!
- click.
 
Pónei

Corpo De Rua

 
Corpo que habitas a rua
Sem triar quem por ti clama
Ignoras a moral que te autua
cruzas-te, amiude, com ela na cama.

E os prepucios mais snobes
Que nao porfiam na tua sebenta
Buscam retemperados algozes
Em fina cartilha, melhor, ementa.

Estranho caminho, nirvana
pel'as palavras nao da para discernir
O corpo fica refem do dissentir

De pe ou desnudo na trama
Brota de si o animal
Qu'importa o rotulo, afinal?

Francisco Correia
 
Corpo De Rua

Mulher Volante

 
Vai descendo a calçada
Mantém postura de pé
Cabeça alvoraçada
A vida é o que é

Coração em clausura
Aproveita na aragem
Arredada a formosura
Nu em despistagem

Quem vê não estranha
Contorna ao redor
Pensa, sorte patranha
Finge que partilha a dor

O Sol além voltou
Há que seguir adiante
Emplastro descolou
Quedou-se mulher volante
 
Mulher Volante

Acordar

 
Falta de ar
Amordaçado por um pé pesado
«Bom dia» - alguém alvitra
Estupro linguístico!
Reinvente-se a Língua, já!
Cansaço
A malta parte
Esfoliada
Imberbe, c’est avant-garde
Art nouveau ou nouveau sem arte?
C’um raio
Globalização
Melting pot, miscigenação
A Lua persiste
O Sol ainda insiste
Um verde aqui e acolá
Lousa de vida!
- pelo menos era palpável
Quimera pueril
Agora vive-se em ondas
Que se cruzam, também se atropelam
Hora de ponta, déjá vu
Jantar já era, e logo hoje que era fondue
Vou por ali, vou por onde?
Esqueceram-se do atalho, password
Espera aí, alguém penetrou
Ouve lá «deixa-me rir, esta história não é tua»
É verdade
Não é minha!
Vou comprar uma passagem para a máquina do tempo
- só de ida
Levo comigo a saudade
Sou Português, não faz mal
Mas acima de tudo
A vontade
De recomeçar a-final
 
Acordar

Trajecto

 
As palavras falam comigo, a toda a hora
Castidade desinibida, antes temperada
Pena quente, que o aço frio desflora
Criação mundana em liberdade desenfreada.

Esta orla que me trouxe aqui
Será bordejada a pesponto
Abrindo as casas em que vivi
Não importa o estilo, mas o que conto.

Ofegante esta aventura
Charamba de cor e alegria
Conseguirei ordená-la com mesura?

Seguirei a minha estrela
Peregrino in-segura via
Em frente, sem pranto, saberei reconhecê-la.
 
Trajecto