Floresta imponente, concreto puro Chaminés com fumaça nas narinas Faz-se frio, sente-se a neblina noturna Aromas indecifráveis, talvez boninas
Num átimo de debilidade humana Vez em quando, vejo-me equilibrista Em meio à multidão na cidade insana É preciso ser artista para algumas conquistas
Ser um espécime feminino, tão delicado Frágil aos olhos másculos, que pecado! Um bibelô, louça inglesa, fina porcelana Só que sou cimento, areia, argila, alambrado
Faço minha guerra em crises de consciência Luto pelo diário desejo de ser eu o progresso Arregaço as mangas num trabalho decente E vivo carente, pois tu só vives em recesso!
À sombra dos desencantos Jaz um único pensamento Morte natural Tanto faz a lágrima Tanto faz a dor Impossibilidades ... Pode a folha caída Voltar ao ramo? Pode a chuva Recolher-se em detrimento De alguém? Banalidades... A futilidade, o desdém Chegou-me em carta expressa Rasguei-a ao vento Ouvi então um lamento: Morte natural!
Minhas póstumas escrituras Lavras utópicas de bel prazer Feelings em partituras Muito tenho pra dizer
Minha lápide ambrosia pura coberta por rubra rosa adscrever meu romanesco viver em lisuras qual cereja madura para sorver
Antes porém, vou destrambelhar desfilar nua pelo passaredo enterrar todos os meus medos
Em meio ao alvoroço vou gritar Recitarei as prosas, meus segredos Morrerei na poesia num dia azedo!
-------------------------------------- E de tanta arruça, pé quebrado Farei folguedos com papéis Culpa exclusiva dos menestréis que trouxeram a lira do passado
Sonetos remendados, mal cozidos em caldeirão de sensualidade onde figuram calcinhas e a idade da mente in (descente), empertigo
Jogarei as sílabas ao céu de arlequim Sem contar uma sequer, é o fim Bandeira negra, pintura a nanquim
E ainda perguntas qual o manequim? Mortalha não tem número e enfim um ataúde cheirando a jasmim!
Ora, cansei-me das lágrimas involuntárias De chorar esse pranto que não tem sentido Pois o amor é um embrulho de padaria Tem que ter pão quente todo dia, sortido.
Há quem me condene e me aponte na rua Uma cadela ser-lhe-ia mais fiel e submissa Daqui para frente é ser moderna, andar nua Sei que preferia ver-me santa numa missa.
Pois que rasguei os véus da pureza e indecente Pinto minha boca de vermelho incandescente Banho-me em um perfume barato. Dou as cartas
Então entras no meu jogo, porém sejas prudente Teu destino está em minhas mãos e pacientemente Entra ou sai, caso contrário, vá ao raio que o parta!
Desejo que me invade. Os olhos explodem. Minam carícias e beijos. Faz do querer um refugiado Em montes eretos que emergem De um território esbelto.
E nesse instante de furor, O amor é um soldado, Fiel servidor, Na guerra da paixão como pecado.
Sentimento que aprisiona a alma, Tira a razão e a calma. Perdição é o país conquistado, Onde a batalha só termina quando A bandeira branca grita: Eu me entrego!
Ora porque não diz somente a verdade Palavras encharcadas de puro amor Se teus olhos revelam, brilho traidor A euforia em tua face é a realidade
Dançavas só a nossa música, covarde Ias em passos suaves em sombra incolor As mãos presas em si mesmo por vaidade Porfia quando tão explícito é o topor
Finges ser absorto, mero expectador perfídia não é avatar de nobre bardo Saiba nem a lua cheia lhe dará o fulgor
Desejo, beijo, marca d'água em flor Carinho é maciez, pele de leopardo fazes graça sem pena de minha dor!
"A vida de um poeta é como uma flauta na qual Deus entoa sempre melodias novas." (Rabindranath Tagore)