NÃO SEI
Hoje sou outro
Não sei porquê
Mas sou outro
Não sei quem sou agora
Não sei
Mas vou descobrir
Algo em mim mudou
Mudou e ficou esquecido
Vou descobrir quem sou
Descobrir o sol
As cores, o som e a vida
O desabrochar de uma paixão
A carícia de um amor
A paz de um respirar fundo
Os locais de um novo mundo
Quem sou
Não sei
Mas vou descobrir
AQUILO QUE MAIS TEMES
Beija-me com os teus lábios gelados
Abraça-me com os teus braços cansados
Olha-me com os teus olhos em lágrimas
Sente-me com o teu coração partido
Ama-me com a dor que só uma mulher sente
Sou aquilo que mais temes secretamente
Para ti sou o caos e a destruição
Sou a tormenta que te devora a alma
O herói que mata a guerreira que há em ti
Pois a tua guerra a mim nada me diz
Para ti sou a palavra mais dolorosa
Sou a tua submissão e prisão
A tua espada não me trespassa
O teu escudo não me repele
Perante mim a tua força cai por terra
Sou o teu verdadeiro medo
Aquilo que mais temes
Aquilo que mais te dói
A destruição chamada felicidade
MELODIA ROUCA
Perdido neste momento solitário
Levo esta harmónica à minha boca
Gentilmente os meus lábios a tocam
Como se um beijo carinhoso lhe desse
E tal como um beijo sai espontâneo
Sem ensaio improviso uma melodia
Uma musica que sai do meu sopro
Por entre o tom morno da harmónica
Nascem acordes de tristeza e alegria
As notas tocadas contam uma história
Falam de sentimentos escondidos
De loucas aventuras vividas
Amores perdidos e paixões ardentes
De desejos ocultos no olhar…
Disperso nesta melodia rouca
Vou desenhando novos sons
Falando de mim ao mundo calado
Beijando esta harmónica de tom morno
Improvisando uma estranha melodia
Perdido neste momento solitário
LUZ ESCONDIDA
Os teus olhos enganam-te
Pois vêem como te disseram para ver
As opiniões não são tuas
São da pessoa que te ensinaram a ser
Presta atenção aos pensamentos da noite
Pois neles podes encontrar alguém que conheças
E na escuridão vais ver uma voz
Essa voz que diz: Eu sou tu…
O teu coração sem poesia
Preso dentro do sonho de alguém
Demasiado perto duma fogueira ardente
Mas frio e insensível com a dor
Essa febre fria que quer ser destruída
Levada pela corrente de um rio
Correndo para o mar lavando a mágoa
Encontra a salvação nessa voz na escuridão
Dentro de ti existe essa voz
Uma voz que não se ouve mas vê
É como uma luz escondida
Que ilumina a tua verdadeira vida
Se fechares os teus olhos vais ver a tua vida
Uma verdade nua e crua revelada
Sonhos que nunca viveste
Feridas que nunca sararam
No meio da escuridão vais ver
Essa voz que é uma luz
Uma luz que te leva para uma nova realidade
Onde estarei à tua espera
Tudo isto vais ver
Se apenas fechares os teus olhos
Se nunca pensaste que isto fosse possível
Uma resposta às tuas orações esquecidas
Esquece a mágoa do passado
Agora fora da escuridão
Cada vez que o teu coração bater
Será a tua vontade a fazê-lo
NÃO SEI PORQUÊ...
Ela cativou-me e por isso aceitei o seu convite.
Há muito que não me deixava cativar, talvez por isso me tenha entregado tão rápido.
Não sei como, mas ela conhece os segredos da magia. Ela cativou-me e eu deixei-me cativar.
- “Entra no Sonho comigo, leva-me à Lua e daí onde tu quiseres”… - disse-me ela ansiosa. Ela sabia sonhar… Não sei como, mas ela sabia sonhar.
Ela cativou-me e eu levei-a à Lua, o seu Santuário, longe do mundo. Vi a sua beleza. Vestia de negro e na sua mão tinha uma fita branca coberta de magia. Estava feliz, vi no seu sorriso.
Revelei-me então. Pedi que amarrasse a sua mão à minha com a fita mágica, não sei porque, mas quis-me sentir seu prisioneiro. Abracei-a procurando a sua fragilidade.
Não sei porque, mas também me vesti de preto e ela questionou-me o porquê…
- “É apenas poder”. – respondi. Mas porque precisava eu de poder?
Chegou o momento e abri as asas, negras, magnificentes… Abri de tal forma que o vento produzido moveu as estrelas.
- “Um anjo negro”. – murmurou emocionada.
Sim, um anjo negro…
QUEM SABE?...
Gostava que compreendessem a minha solidão
Que aceitassem a minha necessidade de me isolar
De ficar só comigo mesmo para esquecer o mundo
E ao esquecer o mundo talvez o compreenda
Quem sabe até sinta falta dele na sua confusão
Até porque eu faço parte do mundo na sua insanidade
Mas preciso desta solidão para ser eu mesmo
Para me encontrar, libertar, purificar, encontrar paz…
Uma paz tão doce, tão terna, tão serena que me recria
E eu renasço nesta solidão livre que me apazigua
Gostava que não me julgassem e respeitassem
Preciso destes momentos solitários para me libertar
Talvez seja diferente quem sabe?… Pois que seja!
Se sou diferente dos outros, peço que aceitem
Que respeitem a diferença pois nela está a beleza
Se quero estar só, deixem-me, para que seja eu
Deixei-me ser eu, na minha diferença e solidão
Deixem-me mergulhar na serenidade e encontrar Paz
Para que quando voltar… Vos leve essa Paz também…
MORRES PARA O SONHO
No calor da noite,
Iluminada pela lua cheia.
Gloriosa e bela.
No seu esplendor iluminado,
Assisto à cerimónia,
Do fim da tua aventura sonhadora.
Carrego o teu corpo belo.
Quase no fim das tuas forças,
Lutas para manter os olhos abertos.
O fim dos teus sonhos,
Dão-te uma beleza transcendente.
Deito-te no altar do fim da tua fantasia.
Contempla a beleza,
Deste templo magnifico.
Delicio-me com a visão do teu rosto pálido,
Quase sem emoções.
Mesmo antes de fechares os olhos,
Dou-te um último beijo,
Provando a doçura dos teus lábios,
Uma última vez,
Enquanto ainda estão quentes,
Mesmo antes de gelarem,
Sem o calor dos sonhos.
Um ultimo beijo sonhador.
E afasto-me,
Enquanto observo os teus olhos fecharem.
Uma lágrima solitária que cai do teu rosto,
Enquanto o teu corpo gela,
E os sonhos te abandonam,
E a tua vida se torna morta.
Eu afasto-me,
De volta ao gelo quente da minha fantasia.
Talvez um dia te acorde,
Te traga de novo à vida,
Te devolva a força de sonhar,
Com um beijo ardente,
Nos teus lábios gelados,
Te devolva um sorriso sincero,
E o calor ao coração.
NOITE QUENTE
O sol adormece calmamente
Lentamente desce no horizonte
Após um dia transformado em séculos de luz
O oceano fica calmo e avermelhado
O mundo acordado pelo sol descansa agora
Para os meus sonhos guardei a minha vida
Mas para os meus desejos guardei esta noite
O meu espírito revela-se nestas trevas ansiadas
Esqueço a firmeza que o sol me deu
Eis-me aqui perante mil luas
Observando o sol criar esta noite imortal
Séculos de luz transformados em dias sem fim
E nós apenas desejamos esta noite aconchegante
Um momento de inspiração para os poetas
Até que se esgotem as palavras que descrevem felicidade
Por vezes desejava que esta noite fosse eterna
A escuridão à nossa volta
É a praia de um mar de luz
Por vezes desejava afundar-me juntamente com o sol
Mergulhar na escuridão
Protegido nos teus braços
Enquanto o mundo fica coberto por esta noite eterna
MOMENTOS
Às vezes encontro a serenidade
Dou-lhe a minha mão
E juntos vagueamos por entre as nuvens
Brincamos como crianças inocentes
Esquecemos que a maldade existe
Damos realidade ao sonho
Fugimos assim durante um tempo
E por momentos…
…regresso à inocência
SOPRO DE ZÉFIRO
O vento começa a soprar
Criando uma melodia épica
É hora de partir novamente
Dirijo-me para a proa no navio
Aponto em frente com certeza
Na direcção do desconhecido
O sopro de Zéfiro enche as velas
Solto um grito de guerra
E com a espada aponto o caminho
Rápido vai o navio de guerra
Zarpa para terras desconhecidas
Em direcção à glória da vitória
Não conheço a rota que sigo
Mas foi essa mesma rota de ousadia
Que me trouxe aqui
Foi aonde o vento me guiou
Olho para trás para reter uma lembrança
As muralhas de Ilíon continuam de pé
Imponentes e majestosas
Visíveis mesmo ao longe
Criadas pelas mãos de um Deus extravagante
Afinal quem sou eu sem um passado?
Um rio sem uma nascente?
Mas o momento é de festejar
Pois comando este navio para longe
Para terras desconhecidas
Brindo com um trago de cerveja
A Zéfiro que sopra forte
E na oração do guerreiro
Rogo-lhe por novas paragens heróicas
Força no aço da minha espada
E glória por toda a Terra