Poemas, frases e mensagens de Pedra Filosofal

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Pedra Filosofal

Gosto mais de ler que escrever... Ler é o meu passatempo preferido, por me abrir janelas que, de outro modo estariam fechadas.

http://www.luso-poemas.net/modules/sm ... ction/item.php?itemid=398

Manipulação de leituras

 
Um dos fenómenos que se podem observar na maioria dos sites de literatura e, muitas vezes, nos próprios blogues é a manipulação, pelos autores, do número de leituras obtidas pelos seus trabalhos.
São postas ao dispor dos bloguistas, algumas ferramentas que permitem controlar quer as visitas diárias quer o número total de visitas nos seus blogues. E existem sites que premeiam os blogues que lá estejam registados e que obtenham o maior número de leituras em determinado dia. Lembro-me, por exemplo, da Blogstar que atribui, mensalmente, uma estrela dourada ao blogue que seja indicado mais vezes para a merecer.
Qualquer uma das ferramentas está preparada para considerar cada visita feita por determinado IP como sendo apenas uma visita, por determinado período (normalmente um dia). Ou seja, se determinada pessoa visitar um blogue, do mesmo computador, dez vezes no mesmo dia, conta apenas como uma visita (ou, no caso da blogstar, como apenas uma indicação). Os mecanismos de controlo funcionam, é um facto. Mas também é verdade que, para um conhecedor, estes mecanismos são bastante fáceis de contornar. E nem precisa de ser um profissional.
De acordo com a Wikipédia, IP é um acrónimo para a expressão inglesa “internet Protocol” (protocolo de internet) que é um protocolo usado entre duas ou mais máquinas, em rede, para encaminhamento dos dados. De uma forma clara, o nosso IP é o que identifica a nossa ligação à internet. Mantendo-se a ligação, mantêm-se o IP. Reside aqui um dos truques mais usados para manipular as estatísticas dos blogues (ou qualquer sistema que controle os IP’s, como sejam as votações on-line, etc).
Se desligarmos a ligação à internet, quando a voltamos a ligar, o sistema vai obter novo IP. Logo, se voltarmos a aceder ao site, é contabilizada nova leitura porque o IP ainda não está registado. Consegue-se assim, com muita facilidade, contornar as estatísticas, criando falsas visitas. Há ainda quem recorra a pequenos programas informáticos que permitem mascarar o IP, com o mesmo intuito, assim como sites de internet que funcionam como mascaras.
Nos blogues, este incremento de leituras (ou, em outra análise, esta falsificação de estatísticas) pode ter, como único intuito, enganar os visitantes, fazendo-os acreditar que o blogue em causa é muito visitado e que merece, por isso, ser acompanhado. Para além do incremento (falso) de leituras, pode-se também pretender receber prémios virtuais (como seja a estrela dourada da Blogstar).
Em sites de literatura, como é o caso do luso-poemas.net, o incremento das leituras ganha uma dimensão diferente. Como é um site frequentado por bastantes utilizadores, o número de leituras de cada texto será, á partida, sinónimo de qualidade. Naturalmente haverá tendência a se ler primeiro os textos mais visitados.
Também no luso-poemas, a falsificação das estatísticas está relacionada com o IP. IP’s diferentes, leituras diferentes… ou não. Porque, do acima exposto, já concluímos que se pode falsificar/mascarar o IP.
No entanto não é a única estratégia usada por alguns autores neste site.
Na página de abertura deste site constam as últimas entradas, por ordem cronológica, uma por cada autor. Colocado o texto com determinado titulo, espera-se que tenha leituras e/ou comentários. Se, passado um bom bocado, ainda estiver abaixo do nível esperado, podem-se tomar várias atitudes para manipular. Por exemplo, mudar o título. Quem sabe, um título mais apelativo chame a atenção. Ou, se o problema for falta de comentários e, se por acaso, se deixou alguma nota mais agressiva ou menos própria, pode ser que, retirando, então seja comentado.
Se ainda assim não resultar, passa-se o texto a rascunho, grava-se e, passado um bocado, voltamos a editá-lo e publicá-lo. Ao fazê-lo, o texto é (re)publicado com a hora em que o estamos a fazer (e não com a hora em que foi publicado a primeira vez). Como as leituras obtidas antes de o passar a rascunho estão contabilizadas (e o sistema não as coloca a zero), vamos ter um texto com algumas leituras (porque já as teve antes) no meio de textos acabados de publicar (e portanto com bastante menos leituras).
Suponhamos que, mesmo assim não resulta. Que se continua com pouquíssimas leituras. Então que tal enviar o link do texto a alguns amigos, seja pelo Messenger ou por mail, pedindo-lhes opinião. Ou mandar mensagens privadas a outros utilizadores a pedir-lhes que visitem o texto em causa e que dêem a sua opinião (aproveita-se e pede-se comentários, nada mais simples).
Há ainda quem recorra a outro expediente. A criação de outro utilizador, de modo a auto-comentar-se, aumentando o número de comentários recebidos.
A mente humana está cheia de expedientes. Por cada mecanismo de controlo utilizado, são descobertas formas de os contornar. A necessidade de se auto promover e de ser acarinhado pelos outros aguça o engenho, e leva a que se tomem atitudes que, quando detectadas pelos restantes utilizadores, fique denegrida a imagem inicial que se tinha de quem usou expedientes.
São, por isso, atitudes que se devem evitar. Quer porque não favorecem quem as usa, quer porque os resultados são falsos e porque não obtemos um feedback real do nosso valor.
E para terminar, resta apenas referir, para que não restem dúvidas, o que quase todos que andam nestas “andanças” esquecem – que, mais tarde ou mais cedo, tudo se sabe.
 
Manipulação de leituras

Vale a pena tentar?

 
Um dia perguntaram-me se valia a pena tentar. Sem saber a razão ou o objecto dessa pergunta, apenas questionei: vais prejudicar, conscientemente, alguém de alguma forma? Se a resposta for um simples não, então a minha resposta à pergunta se vale a pena tentar é… que sim, definitivamente sim, seja lá o que for que se vai tentar.
Desde que nascemos a nossa vida é feita de tentativas, umas vezes dão certo, outras nem por isso. Não temos de ter medo de tentar. É através das tentativas que vamos fazendo que aprendemos. E a vida é feita de aprendizagem, da nossa aprendizagem. Não podemos aprender pelos erros dos outros, temos de aprender com os nossos. Temos de errar, de ir fazendo tentativas até acertarmos. Quando nos surge uma oportunidade pela frente se não a tentarmos seguir o que vai acontecer é que vamos ficar a perguntar, para o resto da vida, o que é poderia ter acontecido se eu a tivesse seguido? Se a seguirmos teremos a resposta a essa pergunta e ainda podemos sair beneficiados.
Nunca gostei da ideia de imaginar o que é que poderia ter acontecido. Gosto mais de pensar que fiz o que tinha de ser feito. Não me arrependo de nada do que fiz, mas antes do que não fiz, por medo de tentar. Não gosto de pensar no que poderia ter sido, prefiro pensar no que foi. Os erros que cometi foram os meus erros, aprendi com eles, cresci por causa deles.
Nunca deixamos de aprender. Nem nunca deixamos de errar... então porque haveremos de deixar de tentar?
É claro, e como disse no início. Importa que não se ponha em risco terceiras pessoas (e já agora nem nós próprios), importa respeitar os outros, aceitar e respeitar que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros e não magoar ou prejudicar conscientemente as outras pessoas. Se estes princípios forem respeitados e se surgir alguma ideia ou alguma oportunidade... tentem.
Vale a pena tentar… Vale sempre a pena tentar ser feliz, tentar escrever… tentar amar ou ser uma mera aprendiz…
Um dia, partirei, com a consciência de que tentei…
 
Vale a pena tentar?

Solidão é uma ilha com saudade de barcos

 
Solidão. Ai está um sentimento que se pode contradizer a ele próprio. Podemos sentir-nos sós no meio de uma multidão, ou acompanhados estando sozinhos. Depende apenas de nós, da nossa forma de ser e de estar… mas também da forma como lidamos com as diversas situações. Depende, por isso, muito mais de nós do que de quem nos rodeia.
Sinto-me só. Uma queixa ouvida vezes sem conta. Ao que eu respondo – que fizeste para te sentires mais acompanhado? A tua ilha terá espaço para os barcos atracarem? Ou será que te afastaste, ao longo da vida, de tudo e todos e agora, que queres companhia, ninguém te quer acompanhar? Esforças-te para estar com os outros, ou esperas apenas que sejam os outros a quer estar contigo, sem que lhes dês nada em troca?
Eu? Eu gosto de estar acompanhada. Sempre. Com a família ou com os amigos. Sou uma ilha com muitos portos, com barcos sempre a chegar e a partir. Não os obrigo a ficar, nem a partir. Ficam enquanto querem. Partem quando chega a hora de partirem, na certeza, porém, que podem voltar sempre que queiram.
Gosto também dos meus momentos de solidão. De não ter ninguém por perto. Só eu e os meus botões. Sem pensar em nada de especial, apenas e só no bom que é estar só.
Claro que muitas vezes a solidão pode ser provocada por circunstâncias menos boas. Basta ver a solidão a que os velhotes são obrigados por familiares sem escrúpulos que os deixam abandonados num qualquer lar, muitas vezes sem condições. Ou os doentes abandonados pelas famílias nos hospitais. Mas sabem, muitas vezes, esses mesmos doentes ou esses velhotes, tomaram atitudes que levaram a que as famílias não queiram saber deles. Mas isso daria outra crónica…

* O título desta crónica é da autoria de Adriana Falcão. Estou a tentar responder a um desafio da Amora, que me deu algumas frases desta autora para eu analisar. Esta é a primeira.
* Para que não haja dúvidas ou más interpretações, creiam que uso o termo “velhotes” com o máximo carinho. É assim que trato a minha avó, a minha mãe, o meu pai e os meus tios. Trato-os por velhotes com todo o carinho que eles merecem.
 
Solidão é uma ilha com saudade de barcos

A necessidade de escrever

 
Todos temos necessidade de escrever… nem que seja para enviar uma carta, preencher um cheque…

Para algumas pessoas essa necessidade chega a doer, têm uma necessidade visceral, estúpida de escrever, como se disso dependesse a sua sobrevivência... necessitam da escrita como que de pão para a boca ou mesmo de respirar. São escravas das palavras, mas numa escravidão positiva, benéfica para quem escreve, benéfica para quem lê.

Esta necessidade é como uma sede. Uma sede constante que não se consegue saciar. Quem escreve nunca se sente satisfeito com o que escreveu. O poema, o conto, o texto… tem sempre alguma imperfeição, alguma coisa que poderia estar melhor. E voltam a escrever. A demanda pela perfeição continua, sempre. Como quem bebe um copo de água interminável sem conseguir saciar a sua sede.

Como se de uma droga se tratasse, a escrita vicia. Quantos de vós já pensaram em fazer uma pausa, em estar sem escrever uns tempos… mas depois não conseguem, porque se sentem mal, sem ar, com fome. A sofrer por não poderem libertar o que vos prende.

Há ainda quem escreva apenas porque gosta. Um passatempo como coleccionar selos, ir ao cinema, passear... Há quem encare a escrita como um modo de estar e não como uma necessidade ou como um vício. Escrever por escrever, apenas.
Quem escreve, seja por necessidade, vício ou porque gosta – o escritor, em suma - consegue vestir-se de personagens que não são, sentir o que não sente, descrever locais que não conhece, numa ânsia apenas e só de se libertar, de partilhar.

A escrita pode revestir-se de várias capas... podem ser histórias que vivem na memória de quem as passa para o papel, poemas que começam por uma simples brincadeira, simples desabafos, respostas a uma frase que alguém disse, um pedido de desculpa, um carinho a alguém de quem gosta... Precisam apenas de ser palavras que se conjuguem, que se encontrem, se completem.

Eu gosto de ler. É essa a minha necessidade. Falta-me o ar, sofro, sinto-me presa quando não posso ler. Prosa. Poesia. Prosa poética. Preciso de ler. O meu espírito liberta-se quando leio. Vivo outras vidas, viajo, percebo outros sentimentos.

Obrigado a quem escreve por ajudarem a saciar a minha necessidade de ler.
 
A necessidade de escrever

Magia de Natal

 
Com a chegada do mês de Dezembro, chegou também a preocupação habitual do Pai Natal. O que oferecer às crianças? Nos últimos anos o Pai Natal tinha assistido, desanimado, que muita gente se tinha esquecido do verdadeiro espírito de Natal. Cada vez mais as pessoas se preocupavam com a quantidade de prendas que recebiam em vez de se preocuparem com os outros. Partilhar, estar junto dos amigos e da família, ajudar quem mais precisasse… tudo tinha passado, agora o importante eram as prendas, prendas caras de preferência para que, no dia a seguir, pudessem mostrar aos outros.
Sem saber muito bem o que fazer, nem como chegar a quem mais precisava, falou com Rudolph, Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donder e Blitzen, as suas renas. Amigas de longa data, afinal estavam com ele desde o início, resolveram ir dar um passeio. Enquanto passeavam iam falando sobre as preocupações para aquele ano, que todos partilhavam.
Depois de caminharem por um bocado começam a ver muitas borboletas. Tinham chegado ao reino das Borboletas Mágicas.
As borboletas, por serem mágicas, perceberam logo as preocupações do pai Natal e as suas amigas renas e então chamaram os dois príncipes do reino, que chegaram numa carruagem puxada por dois cavalos – o Amor e a Ternura.
Quando chegaram ao pé do Pai Natal convidaram-no a dar um passeio pelo campo de alfazema enquanto as renas e os cavalos conversavam um pouco.
O Pai Natal falou então aos dois príncipes sobre as suas preocupações. Explicou-lhes que, cada vez mais, as pessoas queriam apenas saber de si, só olhavam para o seu umbigo, sem qualquer preocupação pelos outros. Passavam o ano a virar a cara quando viam mendigos a pedir, quando se apercebiam de crianças a passarem fome. No Natal, fingiam-se interessados, faziam apelos, havia recolha de brinquedos e de alimentos, visitas aos mais necessitados com promessas de ajudas… Com a chegada do ano novo todas essas intenções eram enterradas com o ano velho e tudo voltava ao mesmo.
Ele, Pai Natal, queria ajudar as crianças mas que não conseguia, porque não sabia onde estavam todas elas.
Os príncipes, querendo ajudar, ofereceram ao Pai Natal uma bússola especial, feita de algodão doce azul.
Explicaram-lhe que aquela bússola, além de indicar o norte também mostrava onde o Pai Natal podia encontrar as crianças que, em vez de prendas, apenas queriam receber um pouco de amor e ternura.
Satisfeito por receber um presente tão útil, o Pai Natal agradeceu, porque assim teria oportunidade de ajudar ainda mais crianças.
Quando chegou ao pé das suas amigas renas o Pai Natal explicou-lhes que se tinham de apressar a chegar ao Pólo Norte porque a bússola estava com demasiadas luzes acesas e que tinham de ir buscar todos os duendes que estavam na fábrica de brinquedos para os ir deixar com cada uma daquelas crianças.
Tiveram muito trabalho, mas todo ele foi compensado por múltiplos sorrisos que nasceram na cara de cada criança. Uma épica sensação da época que o Pai Natal desejou prolongar por todo ano. Talvez um dia ofereçam essa prenda ao nosso querido Pai Natal…
 
Magia de Natal

Navego nas ondas da fantasia

 
Teus olhos são doces, cor da esperança,
Que carregas nesse enorme coração
Teu sorriso, a luz
Que me ilumina nas noites sem fim
Tua boca, solene, saboreia o meu querer
Brotam timbres de quimeras
E as tuas palavras são cânticos
De sereias encantadas no oceano
Onde navego ao teu encontro.
Preciso do teu amor
Da fonte do teu odor
Tuas mãos trazem-me o mundo
E a paz que tanto procuro
No teu abraço sinto-me segura
Sou mulher… Sou sempre só tua!
Neste nosso mundo de perfeição…
Em que te criei, doce ilusão.
Quero voltar a sentir
Os teus lábios junto aos meus
E assim viajar
Para um lugar recôndito
Onde me esperas… sorrindo.

Não é um dueto. é mais um terceto!

Paulo Afonso Ramos & Vera Silva & Pedra Filosofal
 
Navego nas ondas da fantasia

Pais maus

 
Ser pai ou mãe não é ensinado nos livros. As crianças não trazem manual de instruções e não há uma fórmula de sucesso. Poderia haver se as crianças fossem todas iguais, sem diferenças de personalidade. Sendo que é o oposto que se verifica, que cada criança é única, na sua for-ma de ser e estar, então também ser mãe ou pai é também uma experiência única, que depende, em grande parte, da forma como a criança reage às atitudes dos seus progenitores. Se isto é verdade, e eu acredito que sim, também é verdade que há formas de agir mais ou menos correctas para se educar um filho.
Regras e disciplina. Duas palavras que assustam muitos pais e que poucos, hoje em dia, impõem aos seus filhos. Esquecem-se, provavelmente, que foi pela obrigação do cumprimento de regras e disciplina pelos seus próprios pais que hoje são adultos responsáveis. As crianças não gostam, é óbvio. Mas precisam que alguém as imponha para que se tornem adultos. Também não é preciso exagerar. E claro que, de vez em quando, se podem quebrar as regras. Bom senso é preciso.
Regra e disciplina fazem parte da boa educação que se pode dar a um filho. E não podemos, como muitos pais fazem, delegar a educação dum filho na escola. As escolas devem funcionar como complemento à educação dos pais e não como substituto. A escola deve servir para ensinar, os pais para educar. Tenho visto, porque faço questão de ser uma mãe presente na escola dos meus filhos, verdadeiras barbaridades ditas por pais que não mereciam esse nome. Desde uma mãe que se manifestou contra o seu filho ajudar na arrumação da sala de aula porque “o meu filho é um rapaz e os rapazes não têm de arrumar a casa”; a outra que acha despropositado o uso das palavras “obrigado” e “se faz favor” em crianças pequenas; um pai que, quando informado que o filho tinha batido num colega que respondeu “vocês sabem que ele é assim, tenham mais mão nele que eu não tenho”; e tantos outros casos que poderia aqui contar.
Sinceramente, e por amor aos meus filhos, prefiro ser uma mãe má a ser uma boa amiga. Amigos vão eles ter ao longo da vida e não vão ser os amigos que os vão educar. E também não será a escola que os vai educar. Contribuir para que os nossos filhos sejam adultos responsáveis, competentes, honestos e educados é a função principal dos pais. Que está esquecida por uma geração de pais, o que coloca em risco a sociedade como a conhecemos.

Crónica escrita a propósito do texto abaixo, da autoria de Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psi-quiatra

Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei-de dizer-lhes:
Eu amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
Eu amei-vos o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tiramos isto ontem e queríamos pagar”.
Eu amei-vos o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
Eu amei-vos o suficiente para vos deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
Eu amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque, no final, vocês venceram também! E, qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se os seus pais eram maus, os meus filhos vão lhes dizer:
“Sim, os nossos pais eram maus. Eram os piores do mundo... As outras crianças comiam doces no café e nós só tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes ao almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Nossos pais tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistiam que lhes disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nossos pais insistiam sempre connosco para que lhes disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata! Nossos pais não deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para que os nossos pais os conhecessem. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelo menos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam para saber se a festa foi boa (só para verem como estávamos ao voltar). Por causa dos nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em actos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa dos nossos pais! Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “pais maus”, como eles foram”
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há pais maus suficientes!
 
Pais maus

Esperança

 
Danço num palco de estrelas
Em tapete de relva macia
Que me acaricia os pés.
Ouço a música tocar
Enquanto flutuo nos teus braços
Que me envolvem
Num luar de silêncio
Fecho os olhos
Quero eternizar esta dança
Guardá-la no meu coração
E, quando o sol acordar,
Levo-te o sonho num beijo
Silencioso, terno e intenso
Com que te desperto
Para que juntos
Sonhemos o amanhã



Dueto com a Vera Silva
 
Esperança

Falando de preconceitos

 
Tenho tido oportunidade de acompanhar a colocação de textos sobre sexo em diversos sites ligados à literatura. Com opiniões contra e opiniões a favor.
Hoje decidi-me a expor a minha opinião sincera sobre este tema. A sexualidade e a literatura a ela dedicada.
Ao longo da nossa vida passamos por diversas fases... uma delas é a descoberta da nossa sexualidade. Todos, sem excepção, passamos por isso. E se uns descobrem que tem a tendência sexual dita normal, outros há que descobrem o prazer sexual com parceiros do mesmo sexo e que, por serem em menor número e se acharem anormais acabam por se esconder.
Lembro-me que, só quando o Freddy Mercury morreu e o mundo soube que ele tinha SIDA e que era gay é que se começou a falar no assunto. Só após a sua morte é que muitos gays tiveram coragem de se assumir como tal. E porquê? Porque a homossexualidade era vista como um tabu, como uma coisa a evitar, uma doença... casos houve em que os homossexuais se sentiam tão diferentes que tentaram o suicídio. Saber que Freddy Mercuri, Rock Hudson e Elton Jonh (só para mencionar alguns) eram gays veio ajudar muitos anónimos a aceitarem que o são.
Aliás, só depois da morte de Mercuri é que a SIDA começou a aparecer nas notícias de jornais, começou a ser estudada. Hoje é fácil de perceber que, caso ele tivesse assumido ser portador do Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, o estudo da doença teria iniciado mais cedo, mais cedo se saberia quais os veículos de transmissão...
Quero, com estes exemplos, mostrar apenas que cabe a cada um de nós fazer os possíveis para que os homossexuais se aceitem como iguais aos outros, diferentes apenas nas preferências sexuais.
Quanto à colocação de textos com a descrição de actos sexuais, independentemente das orientações sexuais dos envolvidos, poderem, ou não, estar num site de literatura... bem, nada como dar mais exemplos. Anais Nin, Marquês de Sade, Hilda Hist... quantos mais querem que escrevem livros eróticos e que vendem?
Há, efectivamente, uma diferença bastante grande entre erotismo e pornografia. A esse propósito, e para que fique claro, trago aqui duas definições da Wikipédia.
Erotismo é o conjunto de expressões culturais e artísticas humanas referentes ao sexo. A palavra provém do latim ‘eroticus’ e este do grego ‘erotikós’, que se referia ao amor sensual e à poesia de amor.
Pornografia é representação, por quaisquer meios, de cenas ou objectos obscenos destinados a serem apresentados a um público e também expor práticas sexuais diversas, com o fim de instigar a libido do observador. O termo deriva do grego πόρνη (pórne), "prostituta", γραφή (grafé), representação. Quase sempre a pornografia assume carácter de actividade comercial, seja para os próprios modelos, seja para os empresários do sector.
Para mim, e ressalvo que se trata apenas da minha opinião enquanto leitora, desde que os textos em causa sejam eróticos e que não recorram ao uso excessivo do calão... então, como não publicá-lo num site de literatura, ainda para mais classificado como tal?
Como leitora, quero é encontrar algo que possa ler, com qualidade e que seja uma mais valia para mim, independentemente do tema que se aborde. Não será assim para todos leitores?
 
Falando de preconceitos

Aprendi

 
É curioso. Passamos a vida a dizer que as crianças devem aprender com os adultos, mas não nos lembramos que também nós deveríamos aprender com elas.
Aconteceu-me, pelo menos por duas vezes, aprender com os meus filhos duas lições que, se calhar, eu, como mãe, adulta e que se considera responsável, já devia saber.
Primeiro foi com a minha filha. Um dia que o irmão estava mais irrequieto e que a magoou, ela zangou-se com ele. E ele, claro, pediu-lhe desculpa. Ela, do alto dos seus 5 anos, disse-lhe “as desculpas não se pedem, evitam-se”. E eu, que ia intervir, calei-me e, enquanto esperava pela reacção do visado, pensei com os meus botões – ora ai está. Porque não pensamos nós, adultos, nisto? Quantas vezes fazemos coisas que sabemos que estão erradas e depois tentamos, com um pedido de desculpas, que tudo fique sanado. Grande erro. Primeiro porque, lá está, as desculpas evitam-se. E depois porque, mesmo depois de pedidas as desculpas, as atitudes ficam. E já magoaram alguém. Que poderá perdoar mas dificilmente esquecerá. Sempre tentei pautar a minha vida por este princípio. Não fazer aos outros o que não gostava que me fizessem a mim. Agora, com a minha filha, aprendi a acrescentar que devo evitar ter de pedir desculpa.
O meu filho deu-me uma lição. Daquelas que eu tive de engolir em seco. É simples. Os meus filhos raramente jogam com a Playstation. Preferem brincar juntos. Mas apeteceu-lhe jogar. Só que a consola está, habitualmente, desligada. Só o pai a sabe ligar. Como o pai estava a dormir ele pediu-me que fosse eu a ligar. Eu respondi – não sei fazer. Tens de esperar pelo pai. E o meu filho, cheio de razão, disse-me: mãe, se não tentares não sabes. Fiquei sem palavras, sem reacção. Aliás, reagi sim, peguei nos cabos e fui tentar. Ora, porque não é sempre assim? Porque não tentamos sempre? Mais uma lição aprendida e que passará a fazer parte dos meus princípios. Creio que nunca mais terei coragem de dizer que não sei, sem tentar primeiro.
 
Aprendi

Uma história sobre o Inverno

 
Uma história sobre o Inverno
 
Era uma vez dois animais que dormiram muito tempo (hibernaram) e depois acordaram. Tinha chegado a primavera e com ela abraçaram-se muito. Foram dar um passeio ao parque e depois foram embora no comboio para casa.
Quando chegaram a casa foram descansar e depois foram jantar sopa de feijão, carne com batatas fritas e salada, arroz com ervilhas, beberam água e comeram fruta.
No fim do jantar foram tomar banho, lavar os dentes e vestiram o pijama. Depois foram dormir.
De manhã foram tomar o pequeno-almoço a um café e depois foram ao Jardim Zoológico e a seguir foram visitar um Jardim de Infância.
No fim foram para casa ver um filme.
Estes animais eram o ouriço e a tartaruga.

Esta história foi feita pelos meninos e meninas da Sala da Lua, no Jardim de Infância nº 3 do Barreiro. Um desses meninos é o meu filho, de 5 anos. De entre os desenhos que fizeram para ilustrar a história, foi escolhido o do meu rebento, o que me deixa muito orgulhosa (dai ter trazido aqui, quer a história, quer o desenho).
Vai ser publicado no jornal escolar do Agrupamento Padre Abílio Mendes. Este Agrupamento reúne alguns jardins-de-infância e escolas do Barreiro.
 
Uma história sobre o Inverno

Sentimentos escondidos

 
Já repararam que, na sociedade em que vivemos é, cada vez mais, raro ouvir alguém dizer “amo-te” ou “gosto de ti”? E que aqueles que o dizem, muitas vezes, fazem-no com receio de serem mal interpretados?
É claro que muitas vezes demonstramos, pelos nossos actos, que amamos alguém. Mas será que a outra pessoa o percebe? Será que não vai pensar que reagimos assim com todos os outros?
Não é fácil, eu sei e assumo. Gostava de ter a coragem necessária para ser a primeira a dizer: “Amo-te. Gosto de ti”. Parece fácil… Mas não é! Porque não sei o que vão pensar de mim, nem sequer sei se sentem o mesmo. Podem reagir assim com outras pessoas e eu ser apenas mais uma. Ou não... Enquanto não me dizem o que sentem, eu não terei a certeza. E com vocês, também é assim, não é?
Mas, pensem lá comigo… Se nós não o dissermos, também não vamos ouvir! Se não o dissermos não vamos saber se sentem o mesmo ou não!
Não temos de esconder o que sentimos a quem é o objecto da nossa afeição. Porque, se o fizermos, estaremos a esconder uma parte fundamental de nós a quem mais nos importa. E para quem somos importantes. E se não quiserem que o resto do mundo saiba, não interessa. Basta que os envolvidos saibam!
 
Sentimentos escondidos

O Sol, a Lua e o Mar

 
Conta a lenda que o Sol e a Lua eram príncipes em reinos diferentes, cujos pais se odiavam. Quis o acaso do destino que se conhecessem e se apaixonassem. Por saberem que os pais não iam aceitar o casamento, casaram em segredo.
Logo que os pais souberam de tal feito recorreram a um feiticeiro. O feiticeiro não conseguiu anular o casamento mas condenou-os a viverem, para toda a eternidade separados – o Sol reinaria de dia e a Lua à noite.
Felizmente o Mar, amigo de ambos, conseguiu, com a força da sua amizade, anular parte da condenação, permitindo ao Sol e a Lua que se encontrem, por breves instantes, no fim de cada reinado.
Foi ainda, pela força da sua amizade, que se prontificou a servir de mensageiro entre o Sol e a Lua, e entre todos os amantes que estejam separados por alguma razão.

Esta lenda foi-me contada em miuda. Desconheco a sua origem mas achei que iam gostar de a conhecer
 
O Sol, a Lua e o Mar

14.135

 
Descobri hoje que nasci exactamente há 14.135 dias. Numa quarta-feira… bem, a parte de ter sido a numa quarta-feira eu já sabia. Os meus pais contaram-me. E também sei que nasci numa maternidade que já não existe, com uma médica fabulosa, chamada Laura Seixas. Mais tarde frequentei o Colégio Barreirense, que, curiosamente, era propriedade do pai da médica que me trouxe ao mundo
(entre os gritos da minha mãe que, dizem as más línguas, pedia que eu não nascesse – ao que a médica lhe respondeu – devias ter pensado nisso à 9 meses atrás.)
Ainda hoje me lembro do colégio onde andei até à 3ª classe e da professora que tive. A D Rogéria. Muito rígida, não admitia falhas mas era excelente a ensinar. Marcou-me pela positiva, afinal foi com ela que aprendi a ler e a escrever. Também me lembro do recreio, espaçoso, com sombras, árvores, amigos com quem brincar, vigilantes atenciosas e que não se importavam de brincar connosco … tudo o que precisamos para ser felizes quando somos pequenos. O meu avô, ou o meu pai, iam-me buscar ao colégio para poder almoçar em casa. Era feliz.
Quando tive de mudar para outra escola tive um desgosto que me marcou nos anos seguintes. Tudo estava, para mim, muito mal na nova escola. Fui para uns pavilhões pré-fabricados que, na altura, eram provisórios
(a minha filha, passados quase 30 anos tem aulas na mesma escola… nos mesmos pavilhões provisórios)
Nos anos que se seguiram, superei o desgosto, mas não a saudade. Mudei mais algumas vezes de escola. Nunca reprovei de ano, apesar de ter estado bem perto disso no 8º ano. Nunca foi uma aluna excelente. É curioso. Apesar de ter tido muitos professores diferentes a opinião deles sobre mim era sempre a mesma – demasiado faladora, muito inteligente, poderia ter melhores notas se estudasse.
Assim que pude, comecei a trabalhar no verão. Estar parada muito tempo não fazia (e ainda não faz) o meu género. Fiz muitas coisas nos verões da minha adolescência. Fui para a praia com as crianças duma creche, fiz inventário e vendi produtos de drogaria e materiais de construção civil, fiz contabilidade (foi aqui que ganhei o gosto pelo curso que tirei), numa papelaria, numa livraria, fui monitora num ATL de verão… foram diversos os trabalhos que fiz, todos com o gosto da descoberta e da aprendizagem. Todos eles foram úteis para me ajudarem a crescer profissionalmente.
Também entrei para os escuteiros. Um dia cheguei a casa e avisei a minha mãe que ia entrar para os escuteiros católicos e que ia ser baptizada. Não tinha sido baptizada em bebé porque os meus pais achavam que devia ser eu a decidir. Agradecerei sempre essa decisão, porque assim lembro-me bem da cerimónia do meu baptismo. Nos escuteiros aprendi ainda mais, sobre a amizade, civismo, educação. Sai uns anos mais tarde, regressei à poucos anos ao escutismo, mas sempre mantive os princípios escutistas como meus princípios pessoais. Foi também nos escuteiros que encontrei algumas amizades que, passados quase 25 anos, se mantêm com a mesma intensidade.
14.135 dias… já passaram pela minha vida vários amigos. Alguns que passaram pelos meus dias e que não ficaram, outros que passaram e foram ficando, outros que chegaram há pouco e valem tanto como os mais antigos. Todos eles, sem excepção, deixaram alguma marca.
14.135 dias depois de eu ter nascido, a família aumentou consideravelmente. Irmãs, marido, filhos, sogros, tios, tias, primos, primas, cunhados, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas… mas, infelizmente e naturalmente, também faleceram algumas pessoas. O meu avô, os pais do meu tio, o meu sogro. De todos sinto saudades, mas acima de tudo, sinto muita falta do assobio do meu avô, quando nos queria chamar para comer aquelas torradas que todos adorávamos.
Depois de acabar o liceu passei a trabalhar a tempo inteiro. Ainda estava a estudar na faculdade quando comecei a trabalhar. Depois duns primeiros meses em que não gostava do que fazia, tive a sorte de mudar para um serviço que adoro, que é um desafio permanente e onde, felizmente, tenho colegas com quem me dou bem. Um ambiente de trabalho fabuloso, o que ajuda bastante.
Trabalhei e estudei ao mesmo tempo. Os dias eram passados no trabalho, o princípio da noite na faculdade. Demorei a acabar o curso mas acabei
(se calhar os professores tinham razão… teria bastado estudar para ser mais rápido. Ou, se calhar teria sido mais rápido, se não estivesse estado envolvida na associação de estudantes, no conselho pedagógico, no conselho consultivo e no conselho directivo do Instituto)
14.135 dias… de surpresas boas e más, de amores e desamores, de alegrias e tristezas, de desgostos, medos, receios, sonhos… dias que valeram a pena, que me fazem desejar que possa viver outros tantos.
 
14.135

Nunca desistas dum sonho...

 
… se não o encontrares numa pastelaria, procura noutra. Esta frase foi-me enviada vezes sem conta nos últimos Natais. E é uma grande verdade. Os sonhos de abóbora, por exemplo, são fantásticos. Não se pode desistir dum.
Mas esta premissa não é válida apenas para este doce. É válida também para aqueles sonhos que temos. Que fazem o mundo pular e avançar como a bola colorida nas mãos duma criança.
Todos nós, como seres humanos que somos, temos sonhos. Mais ou menos concretizáveis. Fazer um cruzeiro de sonho, uns 15 a 20 dias num barco é o meu. Não sou exigente. Todos os dias me aproximo desse sonho. Viajo 20 minutos de cada vez, duas vezes por dia. Espero um dia poder alcançar o meu sonho. Vou sentir-me feliz no dia em que entrar num barco para um cruzeiro.
Mas há outros sonhos. Pintar um quadro que seja um sucesso, escrever e publicar um livro que seja lido por pessoas que não nos conheçam, dançar no teatro Bolchoi, cantar no Olímpia, ter um carro último modelo, uma vivenda de sonho… existem tantos sonhos diferentes, tantos quantas as pessoas que os têm. Porque cada sonho é único, é criado pelas nossas expectativas enquanto indivíduos.
Não é importante saber qual é o sonho. É importante saber o que fazemos (ou não) para o alcançar.
Porque a vida não é a preto e branco, porque há milhares de tonalidades, não podemos pôr as coisas na base de ou é ou não é. Mais vale pôr na base do tentamos ou não tentamos. Se temos medo ou não de tentar. E se tentarmos alcançar o nosso sonho e não conseguimos? Bem, a única solução é continuar a tentar. Sempre.
Se Rembrant ou Van Gogh tivessem desistido porque em vida não lhes deram o devido valor, como seria hoje o panorama da pintura mundial? Apesar das dificuldades, apesar de estarem na miséria, lutaram até ao fim pelo seu sonho – o de serem pintores reconhecidos.
Luís Vaz de Camões morreu na miséria, esquecido por todos. Enquanto foi vivo pouco valor se deu aos Lusíadas. Hoje é estudado e analisado por todos. Também não desistiu (e até conta a lenda que ele salvou a sua obra prima de se afundar).
Cervantes morreu sem o devido reconhecimento. Não desistiu.
A Microsoft e a Apple são os monstros que são hoje porque os seus fundadores não desistiram, apesar de terem começado a sua carreira como hackers, apesar de toda a gente lhes dizer para estarem sossegadinhos nas suas garagens e não incomodarem os gigantes… apesar de tudo isso lutaram, não desistiram.
Nem todos seremos reconhecidos depois de mortos, e seguramente que o reconhecimento depois da morte não nos serve para nada. Também acredito que nem toda a gente conseguirá alcançar a fama e a fortuna que Bill Gates e Steve Wozniak têm hoje.
Mas… e quem sabe se não podemos mesmo alcançar o que sonhamos? Se desistirmos de lutar por isso, se temos medo de o fazer… então de que vale termos tido esse sonho? Quando temos um sonho lutamos por ele. Não deixamos de o fazer. Os sonhos não se alcançam com facilidade, caso contrário não eram sonhos. Não se acorda um dia e o nosso sonho foi concretizado. Se o deixamos de parte, então o sonho também nos põe de parte e nunca mais o encontramos. Nem ele a nós.
Bem sei que já falei mais ou menos disto no “Vale a pena tentar?”. Eu sou da opinião que vale sempre a pena tentar (a menos que essa tentativa seja contra a lei, os bons costumes e que possa eventualmente magoar terceiras pessoas). Este texto de hoje não é sobre tentar. É sobre lutar por algo que se deseja, por um sonho. E nasceu porque cada vez mais vejo pessoas à minha volta que desistem com demasiada facilidade de o fazer. Pessoas que querem acordar um dia com o sonho concretizado, fazendo pouco por isso. Ou que não fazem nada por ele e que querem que o sonho se concretize. Ou que fazem por alcançar o seu sonho mas que desistem ao fim de pouco tempo… Podia dar tantos exemplos. Fico-me por estes.
O nick que uso, Pedra Filosofal, foi escolhido porque, para mim, o sonho comanda mesmo a vida. E quem me ajudou a escolher este nick sabia e sabe disso. Só que o sonho não se realiza sozinho. Precisa da nossa ajuda para isso. Ajudem os vossos sonhos a tornarem-se realidade. Se não desistirem de lutar pelo vosso sonho também o sonho não vai desistir de se tornar realidade.
Por isso não desistam do vosso sonho… Eu não vou desistir do meu.
 
Nunca desistas dum sonho...

Os três pães

 
Tal como a lenda que vos contei anteriormente, também esta história me foi contada há muito tempo. Não é original, de todo, mas penso que, no mundo de hoje, é importante mostrá-la a quem não a conhece, e relembrá-la a quem dela se esqueceu.



Um dia, numa padaria, entrou um senhor, mal vestido e que se notava que passava por dificuldades, mas que, ainda assim, pediu 3 pães. O padeiro, vendo que o senhor estava a contar o seu dinheiro, na tentativa de os conseguir pagar, perguntou-lhe: Amigo, porque leva 3 pães em vez de um só?
Ao que o senhor responde: Porque um é para mim, outro para pagar um empréstimo, e o terceiro para emprestar.
O padeiro, sem perceber as razões, pediu-lhe que se explicasse. E a resposta não se fez esperar:
- Os meus pais, enquanto eu era pequeno, cuidaram de mim para que nunca passasse fome, mesmo que eles a tivessem. Hoje estão velhos, não podem trabalhar, estão doentes… um pão será para lhes pagar por tudo o que fizeram por mim. Nunca conseguirei saldar essa dívida, sem eles não seria quem sou hoje. Tenho filhos pequenos, o outro pão é para eles, para que, um dia, quando eu for mais velho e não possa cuidar de mim, eles o possam fazer, como eu faço hoje pelos meus pais.
 
Os três pães

Agradecimento

 
Começo esta minha intervenção por vos agradecer a todos por estarem aqui presentes.
Este é um dia especial para mim, dia que realizo um sonho que nunca tive. Passo a explicar…
Nunca foi minha pretensão editar um livro. Na verdade, até há cerca de dois anos, nem sequer pensava em escrever ou publicar textos meus, fosse em blogues ou onde fosse. Acompanhava alguns blogues, lia aqui e ali textos que me interessavam e lá deixava a minha opinião, quando me apetecia.
Estão aqui hoje, neste auditório, algumas das pessoas que me levaram a dar os primeiros passos nesse sentido.
A Vera Sousa Silva foi talvez das primeiras pessoas a fazê-lo, quando me disse, numa livraria aqui bem perto, que gostava de ler os comentários que eu deixava nos textos publicados no site luso-poemas e que tentava lê-los a todos, tendo terminado a perguntar-me porque é que não tentava escrever um texto independente. Lembro-me, na altura, de pensar que esta conversa não fazia sentido algum, porque, ao contrário da Vera, eu não escrevia.
Hoje, dois anos mais tarde, a Vera continua a ser quem mais força faz para que eu continue a escrever, apoiando-me incondicionalmente e corrigindo os meus textos. Vera, soa a muito pouco dizer-te obrigado, quer pela amizade que nos une, quer por tudo quanto fazes.
Aqui ao meu lado, está sentado o Paulo Afonso Ramos. Antes de ser editor, é, e será sempre, um amigo. Um amigo daqueles com quem se conta desde a primeira hora. Também ele é um dos responsáveis pelo iniciar, do meu percurso literário (se é que se pode chamar assim), cabendo-lhe a árdua tarefa de, em conjunto com a Vera, fazer a correcção dos meus textos e de me incentivar a escrever. Obrigado Paulo porque, sem ti, não estaria sentada nesta mesa como autora.
Para poder estar aqui hoje, neste lugar, há muita gente a quem devia agradecer. Pessoas que acreditaram, antes de mim, que ainda tenho dúvidas, nas minhas capacidades para a escrita e que me diziam que, um dia, ainda haveria de editar um livro. É quase impossível nomear toda a gente, por isso que me perdoem aqueles que não mencionar.
Quero ainda agradecer ao António e à Manuela. Primeiro porque, num domingo qualquer, há onze anos atrás, estiveram uma tarde na minha casa a instalar o modem de acesso à Internet no meu computador, bem como alguns programitas. Dei, nesse dia, os meus primeiros passos nesse mundo maravilhoso que serve de base ao meu livro. Foram também eles que me deram o apoio imprescindível para que este livro saísse das minhas mãos com o que eu entendia ser fundamental. Ajudaram-me na minha pesquisa e corrigiram-me sempre que foi oportuno.
A internet é um mundo maravilhoso do qual, hoje em dia, quase todos usufruem. Em 1998 ainda não era assim. Foi nesse ano que, através da internet e dum programa chamado ICQ, conheci o autor da foto da capa, Miguel Pais. Obrigado marido pela tua paciência e por teres conseguido fazer a capa perfeita. Só a foto da capa, para mim, já vale o livro todo. O Miguel é, comigo, co-autor de duas crianças lindas, a Margarida e o Martim, que estão aqui hoje e a quem mando um beijo especial.
O mundo gigantesco da Internet não pára de surpreender. Umas vezes de forma negativa (e lembro-me aqui, por exemplo, de que foi por e-mail que soube da morte dum amigo, real e virtual, que tinha conhecido através do ICQ, o Paulo Pires, que, acredito, gostaria de estar aqui hoje) e outras vezes de forma positiva. Isto para vos dizer que foi também através da internet, e por um feliz acaso, que conheci o Ivo, que apresentou, de forma magistral, o meu livro. Logo que o conheci, pedi-lhe que fizesse esta apresentação porque, tal como o João Sortudo, também eu acredito que, "quando um coelho está numa encruzilhada deve procurar a opinião de outros coelhos com mais experiência e sucesso no assunto em causa”. Foi o que fiz. Deixem-me aqui abrir um parêntesis para vos explicar que o João Sortudo é um coelho e que é a personagem principal do último livro do Ivo – Um Coelho Cheio de Sorte – cuja leitura recomendo vivamente. Obrigado Ivo.
Ao Pedro Batista, também conhecido por Xavier Zarco, amigo e editor, apesar de ausente, tenho também de lhe agradecer por ter acreditado neste projecto e por não o ter deixado cair no esquecimento. Obrigado Pedro porque, sem ti, não estaria aqui sentada nesta mesa, como autora.
Implicitamente, e ao agradecer aos dois editores, o Paulo e o Pedro, estou também a agradecer à Temas Originais. Uma editora nova mas que se tem estado a afirmar no panorama editorial português. Passo a passo, dando oportunidade aos autores de realizarem o seu sonho, vai espalhando, por livrarias em quase todo o país, o resultado desses sonhos. São livros excelentes, a maioria em poesia, mas que também conta, no seu catálogo, com outras vertentes literárias.
Toda a minha família, avós, pais, tios, irmãs, soube sempre da minha paixão pela leitura, que nasceu ainda muito nova, quando frequentava a primária. Tenho de lhes agradecer terem incentivado essa minha paixão, porque, se hoje escrevo é porque também leio. Já agora, e porque falo na família, agradeço também às minhas irmãs, Mónica e Marta, e às minhas tias Lucília e Isaura pelo cocktail de hoje. Ainda na vertente familiar, faço aqui uma menção especial a duas pessoas que já não se encontram entre nós. O meu cunhado André que ainda soube que este livro ia nascer mas que, infelizmente, faleceu antes de o poder ver, e o meu avô Manuel, falecido há sete anos, e cuja história de amor, com a minha avó, serviu de mote ao primeiro texto que escrevi – Momento Oportuno. Sei que ambos ficariam satisfeitos de aqui estarem hoje. Sei que eu gostaria que aqui estivessem.
Este livro, como facilmente percebem pelo título, é sobre um pouco de mim e de nós, os que desfrutamos desta mais-valia conhecida como Internet.
“Vida na Internet” nasceu dum desafio. Porque não passar a escrito as minhas experiências enquanto internauta e visitante assídua de blogues e sites. Aceitei fazê-lo mas quis que, além da minha visão enquanto utilizadora, o livro tivesse informações que permitissem, a quem se sente quase infoexcluido, perceber do que se fala, quando se recorre a termos como posts, sites, blogues, etc.
Tentei também abordar temas polémicos, quer na Internet, quer no chamado mundo real, como o plágio e o sexo, assim como temas mais consensuais, como os blogues e o mundo que os rodeia.
O meu objectivo foi tentar juntar as informações úteis que já referi, com algumas histórias vividas por mim e por amigos meus, enquanto internautas, na esperança de conseguir cativar o leitor para que leia esta “Vida na Internet” com entusiasmo e que encare a utilização da internet como um factor positivo.
Sinceramente, diverti-me enquanto o escrevia. Espero que também se divirtam a ler.

Este foi o meu discurso de ontem, dia em que lancei o meu primeiro livro. Aproveito a oportunidade, aqui e agora, de agradecer também a alguns luso-poetas.
Ao José Torres, porque sempre acreditou que eu sabia escrever, mesmo antes de eu o fazer. Insistiu tantas vezes para que o fizesse de uma forma criativa e não para comentar os textos dos outros e transcrever lendas antigas, que acabei por o fazer.
À Fly, ao António MR Martins e à Luísa Martins, porque sempre acreditaram que eu iria editar um livro, antes mesmo de eu própria acreditar.
À Rosa Maria Anselmo, Sandra Fonseca e Amora por me incentivarem a escrever.
E a todos os que me lêem, obrigado por o fazerem.
 
Agradecimento

A minha filha

 
Faz hoje sete anos que fui mãe pela primeira vez. Depois de uma gravidez um bocadito atribulada, em que fiquei a tratar a sanita por tu, e onde andava na rua a marcar o meu espaço, e depois de alguns alarmes falsos, com dia marcado, nasceu a bebé mais linda do mundo e arredores. Notem bem. A bebé mais linda. Porque o bebé mais lindo nasceu cerca de dois anos mais tarde. Sim, claro. Os meus bebés foram os mais lindos. Pelo menos para mim que sou a mãe.
A decisão de ter um filho estava tomada desde sempre. Sempre soube que queria ser mãe. E fui abençoada com duas crianças lindas. Ela é a mais velha, ele o mais novo.
Dele vos falarei quando for o dia de anos dele.
Dela falo-vos hoje. Com orgulho. Com carinho. Com muito amor.
A Margarida nasceu num dia de chuva. Lembro-me de estar no quarto à espera de vez para a cesariana e de olhar para a rua e só via água a escorrer pelos vidros. Quando sai da sala de partos e voltei a olhar estava um sol lindo. Só podia ser um bom pronuncio. Nos primeiros dias era comer e dormir. E sujar fraldas, pois claro. Muita fralda se mudou naquela casa. E o meu marido, que era alérgico a pegar em bebés, “medicou-se” e passou a ser sempre ele a tratar dela quando estava em casa. A mim cabia-me alimentá-la. Rapidamente passou a estar mais horas acordada que a dormir. Sempre com aqueles olhos lindos a olhar para nós, sempre muito atenta a tudo quanto a rodeava.
Enquanto ela crescia, também o nosso amor por ela cresceu. Sim, desenganem-se se acham que o amor de um pai ou mãe pelos filhos é logo completo à nascença. Não é. Vai crescendo na mesma medida em que eles vão crescendo. Uma das causas da depressão pós-parto, segundo os entendidos, é mesmo as mães acharem que amam pouco os seus filhos quando eles nascem.
A minha filha sempre foi uma criança obediente, meiga q.b., mas com personalidade forte. Lembro-me que não era preciso ter os detergentes fechados, nem cuidados excessivos lá por casa. Bastava dizer-lhe que não duas ou três vezes que ela nunca mais lá mexia. Ainda hoje é assim. Posso, por exemplo, contar-vos que, quando vai acampar com os escuteiros, é preciso dar-lhe autorização expressa para se sujar. Assim como não é capaz de pedir ou aceitar alguma coisa em casa de conhecidos sem que nos pergunte primeiro. Por outro lado, se as coisas não são feitas como ela quer ou como acha correcto, amua (ou prende o burro como lhe costumamos dizer).
Desde que começou a sua caminhada escolar que demonstra uma avidez pelo conhecimento, colocando-nos, a todos, numa situação, por vezes delicada, porque nem sempre sabemos responder como ela quer. Prefere ver programas sobre animais, sobre como fazer as coisas, sobre o espaço, enfim, programas educativos a desenhos animados. Agora que aprendeu a ler e a escrever obrigou-nos a um trato. Só faz os trabalhos que traz da escola e os que lhe dão no ATL, durante a semana. Ao fim de semana pode fazer uma ou duas fichas dos livros de exercício que seriam para as férias – e que ela acabaria, em duas semanas se deixássemos.
É uma criança extremamente sensível, e que não se esquece das coisas com facilidade. O meu avô morreu quando ela tinha 18 meses. Ainda hoje ela fala dele e diz que gostava de o ter de volta. Muitas noites fui dar com ela a chorar porque sentia a falta do bisavô.
Carinhosa. Muito. Sempre que se deita gosta de nos dizer, a mim, ao pai e ao mano que nos ama. Intervalado com muitos beijos.
Acima de tudo, e apesar de lhe reconhecer defeitos e virtudes, amo-a mais do que à vida. Tal como amo o meu filho. Sejam eles da forma que forem, com o feitio que tiverem, o importante, é que eu os amo, aos dois, e que apenas lhes desejo que sejam felizes.
 
A minha filha

Homem e mulher

 
Um amigo deu-me a conhecer um texto com este título, da autoria de Jacques Leclercq. É filosofia, diz-me ele.
Depois de ler o texto, fiquei com pele de galinha e com uma enorme vontade de gritar aos sete ventos que homens e mulheres são exactamente iguais, o que muda é a pessoa em causa.
Ele há homens que não mexem uma palha em casa e que esperam que lhes caia do céu tudo feito… mas também há mulheres assim. Há mulheres que tiveram filhos para não lhes ligar nenhuma… e homens que lutam contra tudo e contra todos para terem os filhos com eles e para lhes darem a atenção que merecem. Homens que não deixam a mulher se pronunciar sobre a educação dos filhos e mulheres que recusam que os homens participem na vida das crianças. Mulheres bastante decididas, quer na vida pessoal, quer na vida profissional e homens que nem sequer a cor dos boxers conseguem decidir. Homens que prestam atenção a detalhes… e mulheres que nem sabem o que são detalhes, quanto mais prestarem-lhes atenção…. É preciso continuar?
Concordo, quando o autor diz que “para que a união se realize plenamente, cada um deve ter o cuidado de dar ao outro aquilo de que tem necessidade” – mas sem pré determinação de que a mulher quer isto e o homem quer aquilo. Nem todos os homens querem ser responsáveis ou protectores assim como nem todos se sentem constrangidos quando falam dos seus empregos com as mulheres. E nem todas as mulheres querem ser protegidas ou mimadas enquanto esperam que o homem seja viril e que traga o dinheiro para casa embrulhado em atitudes brutas.
Acho também um tremendo disparate (mas quem sou eu?) quando, neste texto, é defendido que a infidelidade da mulher é mais prejudicial que a do homem. Mas então um casamento não é construído a dois? Não têm de estar os dois empenhados? Então quase que se reconhece o direito à infidelidade no homem, mas à mulher já não?
Convenhamos e sejamos honestos. Não há homens perfeitos nem mulheres perfeitas. O que tem de haver é interesse de ambas as partes em adaptarem-se, sem que esteja pré determinado qual o papel do homem e qual o papel da mulher. Partilhem responsabilidades e sejam vocês próprios, sem se deixarem prender pelos papéis “consagrados” aos homens e às mulheres e ai sim, poderá haver entendimento.

Podem consultar o texto de Jacques Leclercq em http://familia.aaldeia.net/amorhomemmulher.htm
 
Homem e mulher

Indigentes

 
Todos os dias, no caminho para o meu emprego, passo por uma das zonas de Lisboa onde vivem mais indigentes – pessoas a quem a vida não sorri e que se vêem obrigadas a viver na rua.
No Terreiro de Paço, mesmo por debaixo das arcadas, lá estão eles. Nas suas camas feitas de cartão, ou, nalguns casos, com sacos-cama ou cobertores, já roçados e gastos de tantas noites, por certo, mal dormidas.
Todas as manhãs, algumas pessoas fazem a distribuição do pequeno-almoço. Uma sandes e uma garrafa com leite ou chá. Para muitos deles está será a única refeição do dia. À hora que passo está a distribuição a meio. E se alguns se mantêm nas camas enquanto comem, outros levantam-se, tentam fazer a sua higiene pessoal com a água que recolheram em garrafas de plástico e arrumam os seus poucos pertences dentro de caixas, antes de se sentarem, com a dignidade que lhes resta, para comer.
Tentam, quase todos eles, apesar das condições adversas em que vivem, fazer uma vida dita (quase) normal. Há quem vá buscar os jornais gratuitos para poder ler e saber o que se passa no mundo, há quem jogue às cartas e até quem ouça música num qualquer leitor portátil – quem sabe se não será o único bem que tem da vida anterior.
Uma das pessoas que por lá está é uma senhora de idade que pouco anda. São então os restantes que a ajudam a chegar para a sombra quando é preciso, ou lhe vão buscar alguma coisa que necessite. A solidariedade entre o grupo é espantosa. Ou pelo menos assim parece a quem passa.
São pessoas sem outros bens que não sejam aqueles que têm consigo. Alguns, não materiais, que normalmente em outras circunstâncias se esqueceriam, tal como nós nos esquecemos que os temos. São pessoas sem rendimentos que não sejam as esmolas que lhes vão deixando. No entanto, tentam, por todos os meios, manter-se limpos e arrumados.
Quando passam, na televisão, casos de pessoas pobres que vivem em casas sem condições, muitas vezes o que me salta à vista não são as faltas de condições da casa mas sim a falta de limpeza. Falta de limpeza, como me mostram todos os dias os indigentes que vivem no Terreiro de Paço, não significa pobreza. E o inverso também é verdade.
Cada dia que passo pelo Terreiro de Paço renovo a lição que aprendi no primeiro dia que os vi – podemos perder tudo, menos a dignidade. Essa não há quem nos tire.
E é, também, com a realidade destes indigentes que ganho forças para lutar, agir e contemporizar. Onde na memória se grava que a dignidade não tem estatuto social.
 
Indigentes

Stone
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Pedra Filosofal
O sonho comanda a vida...


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